terça-feira, 24 de julho de 2007

Relato 18 a 20/05/2007

Dia 18/05/2007 – sexta-feira - seguinte, depois de escutá-los sobre a situação: problema da água, que ainda por cima, fizeram um curso para receber um kit água (caixa e encanamento de uma nascente), falam que não é fácil viver ali, com relação a produção, que na região é muito forte a cultura do carvão, ali quase à beira do rio São Francisco. Fomos visitar outros assentados, como o Orlando, com 10 filhos, lamentando também da má situação, que não tinha nem café para tomar e oferecer para as visitas. Chegamos enfim na casa de Zé Foguete, onde almoçamos, e recebemos algumas sementes dele e de seus familiares: Bia, sua cunhada e a sobrinha Vanessa. Lá percebemos que não podíamos honrar o compromisso com a Arlete, como marcamos, para nos encontrarmos ao meio dia, e ainda estávamos ali no assentamento, e remarcamos para dia seguinte à tarde. Fomos andar mais, passamos na casa do Carlinho, que não estava em casa, mas ainda falamos com sua filha, a Carla, que inclusive percebemos e ela confirmou, que tinha um problema idêntico ao do Sandino ( filho da Ivânia), e, como o Sandino, também já sofrera cirurgias e já estava corrigido seu problema. Pegamos umas sementes de pimenta e prosseguimos rumo a casa do Wilson, que tínhamos conhecido na estrada de vinda para o assentamento, que nos convidou para irmos em sua casa. Andamos uns 8 km de pés , quase a noite acertamos sua casa. Foi um bom encontro, passamos parte da noite conversando, ele denunciou sua situação de dívida com o Banco do Brasil pondo a responsabilidade na prefeitura de Buritizeiro, que passou o trator acima da estrada causando um assoreamento que cobriu de areia suas mandiocas e o plantio que estava destinado ao pagamento do empréstimo. Não está sendo levado em conta pela instituição financeira esse crime cuja culpa deveria estar sendo assumida pela prefeitura. Ele fala que já vendeu o gado e agora está sem nada, e continua devendo, morando com um filho. Lá jantamos, tomamos uma cachacinha com bunilha e fomos dormir.

Dia 19/05/2007 - sábado – Filmamos pela manhã a situação do seu roçado. Fomos visitar para frente, outras partes daquelas terras, que está divida em assentamento e uma parte que é ainda posse. Há grileiros com os olhos em cima. Existem deles que já receberam dinheiro do governo para deixar as terras, e ainda continuam nelas depois de 6 anos, e por cima ameaçando de retirar os moradores que vivem há anos no local, desde quando falira a empresa de plantio e corte de eucalipto, que mantinha empregado aquele pessoal, que tal empresa, além de não pagar direitos, ainda ficou devendo a muitos, sem falar de pagar. Estes injustiçados estão morando na terra desde esta propagandeada falência. Uma parte da fazenda foi desapropriada e hoje é assentamento e a outra parte está só em regime de apossamento. Foram estas as informações que colhemos nas andanças. Voltamos pelo Wilson, onde almoçamos e fomos para a casa do Chicão, lá fizemos uma gravações de áudio com ele , e partimos para a cidade de Buritizeiro, onde encontramos Arlete, e ela nos apresentou uma família muito especial, a de Welington e Janda com seus filhos e filhas: Máira, Jaqueline, Wesley, Walisson onde ficamos a partir de hoje.

Dia 20/05/2007 – Domingo – Acordamos na casa de Welington e Janda, era aniversario de uma das filhas do casal, a Máira. Fomos visitar a feira de Buritizeiro. A tarde fomos para uma reunião de mulheres, das comunidades chamadas Gerais dos Calistos, que pretendem criar uma associação, com vistas a criar melhores condições para o desenvolvimento de atividades produtivas e para a melhoria da comunidade sóciobiodiversa. A Arlete acompanha estas atividades com homens e mulheres, e faz juntamente com el@s, a Janda e Welington o aproveitamento dos frutos do cerrado, fazendo recheios de bombons de chocolate, valorizando as espécies nativas para também estimular o espirito de preservação e salvação deste biomas. Arlete também nos falou da existência do CAA (Cooperativa da Agricultura Alternativa), há uns 40 km depois de Montes Claros, que faz esta atividade de beneficiamento dos frutos do cerrado, em maior escala, com vários outros programas como educativo e de incentivo a preservação das sementes. Foi a partir daí que resolvemos ir por Montes Claros, para passarmos na CAA, antes pensávamos de descer o rio São Francisco direto, de Pirapora até Juazeiro da Bahia, se possível de barco em sua maior parte, visitando as comunidades ribeirinhas, e as ações de conservação e revitalização do rio, como também as lutas de resistências e anti-transposição. Na reunião das mulheres falamos de nossos objetivos e cantamos algumas músicas nossas. Foram-nos cedidos os computadores da associação, a serviço do Ciclovida, voltamos em seguida para casa de Janda e Welington e a noite fomos para apresentação de folias de reis. São momentos contagiantes. Welington e Janda são freqüentadores e dirigentes também dessas folias, bem como o avô da Janda e sua mãe. É uma tradição das pessoas ligadas a religiosidade campesina. Lá conhecemos: Salomão (mestre de guia); Arnaldo preto; Zulmira; Ana; Pelé; o senhor Júlio, (segundo mestre); e depois fomos todos partilhar do jantar da folia.

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