terça-feira, 24 de julho de 2007

Relato 10 a 13/06/07

Dia 10/06/2007 – domingo – demos mais uma volta no projeto e filmamos algumas coisas, voltamos para sua casa, nos despedimos dele e de suas filhas e filhos e voltamos pela vila, procuramos frutas nos supermercados vizinhos ao projeto, grande produtor de frutas e verduras, mas não encontramos nada da região, e as frutas que encontramos estavam mais caras do que noutras regiões mais distantes de projetos famosos. Voltamos para Itacarambí, depois que tivemos de merendar biscoitos. Andamos 8 km de estrada de terra até chegarmos na balsa, quando atravessamos o rio, andamos 1 km, e há 4 km da cidade, olhando para as vazantes na beira do rio, resolvemos parar numa delas, lá encontramos Seu Raimundo, de 83 anos de idade. Disse que a família mora na cidade, mas ele trabalha aqui, vem todos os dias e dorme na cidade, 4 km, ida e volta, porque o aconselham de não dormir sozinho aqui. Diz que hoje tem apego à este lugar e as atividades de plantar e colher na vazante, onde sempre fez o que comer aqui e criou toda a família com o que produz na beira do rio. Não atende aos conselhos conformistas de que a aposentadoria já basta para ele viver, que podia aproveitar para descansar em casa. Seu Raimundo e tantos outros vazanteiros do rio São Francisco nunca souberam o que é empréstimo agrícola nem orientação técnica e outras assessorias, dali mesmo supria suas necessidades. Vivendo da relação de troca mútua com a terra e os vizinhos, sem provocar os impactos sócio-ambientais que são causados para a implementação dos grandes projetos que só atendem os interesses dos grandes, cujos meios de alocação de recursos para sua implementação, são passivos de questionamentos. Por trás do financiamento destes projetos podem estar os interesses escusos travestidos de justificativa da contenção da situação de miséria do povo nordestino. Tecendo comentários e questionamentos com este conteúdo, seguimos “vagarinho” para acabar de chegar de volta a cidade de Itacarambi. Chegamos na casa de Josué ás 16 horas, onde jantamos e fomos telefonar para o assentamento Barra do Leme – Salgado, falamos com Maira, Margarida, e Martinha (filhas do Inacio); falamos também com Auri, Lurdes e Mundinha. Fomos alojados no prédio do Sindicato. Passamos até madrugada conversando com o pessoal da direção do STR e um rapaz do CIMI, (pastoral indígena da igreja), Biu . Fizemos comida para o dia seguinte.

Dia 11/06/2007 – segunda-feira – seguimos para São João das Missões. Dizem que a população dessa cidade é composta em sua maioria, de índios da nação Xa-Kriabá, inclusive o prefeito é um deles. Esses possuem por direito quase todas aquelas terras daqueles arredores de Itacarambí e São João das Missões, pegando inclusive o Vale do Rio Peruaçú, nas regiões ocupadas por posseiros, onde mora o Joventino Paixão, e onde o Ibama quer criar a reserva ecológica. Andamos 10 km na estrada um pouco estragada de buracos, paramos numa casa, na intenção de comprar ovos de galinha caipira, As pessoas que encontramos na casa nos deram três ovos que fritamos num foguinho à lenha, na beira da estrada, e enquanto comíamos o pessoal da casa estavam ali conversando conosco, nos informamos um pouco onde ficava uma ocupação indígena, antes de São João. Chegamos a tarde no acampamento indígena que eles chamam de “retomada”. Depois de muito tempo esperando fomos convidados para entrar e falar com o cacique. Este nos mostrou a situação em que vivem, sob ameaças dos fazendeiros, com suas terras nas mãos dos grileiros que são mais de 40.000 hectares. Aquela ação de ocupar a terra eles chamam de ‘retomada’, dizendo que é diferente dos sem terra que lutam para conquistar a terra, mas a terra já fora tomada dos índios, restando a esse fazerem a retomada. O cacique espera que os antropólogos da FUNAI revejam melhor seus pareceres; num desses relatório há pontos fracos que podem favorecer o inimigo, portanto apelamos aos companheiros de luta mais empenho. Fomos ver como o pessoal está resistindo, fazendo adobes para construir sua casinhas, a situação de água é um ponto crítico. O cacique nos contou o massacre realizado à mando do prefeito de Itacarambí que ocasionou a morte de Rosalino. O prefeito atual de São João das Missões é filho do Rosalino que foi morto no massacre, ele estava com 9 anos de idade na época, e foi obrigado a arrastar o pai para os assassinos verificarem se ele estava morto mesmo. Neste massacre morreram 4 pessoas e sua mãe foi baleada.

Dia 12 /06/2007 – terça-feira –Levantamos cedo, tomamos café com o cacique e demais índios, e partimos para São João das Missões, lá não encontramos o prefeito, estava viajando, não quisemos esperar, estamos contando os dias para chegar em casa, a situação aperta e o tempo urge. Falamos assim mesmo com alguns funcionários da administração, filmamos a igreja construída sobre o cemitério indígena, filmamos também a prefeitura e partimos. Andamos 20 km de estrada esburacada e muita areia, chegamos na cidade de Manga, a terra dos dois jovens que encontramos em Varjão de Minas: Júnior e David, há quase um mês, dia 15/05, querendo trabalhar com a cana ou café. Foram os primeiros a nos falarem do projeto Jaiba. Dissemos para eles que passaríamos em sua cidade e visitaríamos o projeto. Agora aqui estamos, 28 dias depois, já visitamos o Jaiba e já chegamos em sua cidade. Não sabemos portanto se eles estão trabalhando lá ou se voltaram para sua terras. Fomos acolhidos pelo STR daqui. Fizemos comida, lavamos roupas. Conhecemos uma terapeuta naturista, que deu R$ 50,00, contribuindo com a viagem e um material literário sobre dieta alimentar pelo grupo sangüíneo. Nesta região, norte de Minas Gerais. Observamos que freqüentemente encontra-se terapeutas naturistas fazendo acompanhamento médico nas sedes dos sindicatos de trabalhadores rurais.

Dia 13/06/2007 – quarta-feira – saiamos a procura de embarcação o que também não encontramos, desde Pirapora que dizem que era para termos encontrado, procuramos, e ainda não encontramos, dizem que podemos encontrar em Bom Jesus da lapa. Ao meio dia fomos para a rodoviária, agora temos que apresar, vamos chegar até o dia do aniversário do Sandino (filho de Ivânia), e o mesmo tem que fazer uma cirurgia, os médicos só estão esperando por ela, é o que se sabe. Vamos agora tentar um transporte para Malhada ou Montalvânia. Tentamos pela rodoviária, mas as bicicletas não couberam no gavetão. Avisaram-nos que tem transporte do outro lado do Rio para Malhada e sairia dentro de meia hora, quase isto era só para atravessar o rio de balsa. Corremos para lá, encontramos a balsa já saindo, colocamos as bicicletas com a balsa já se afastando da terra, quase não dando mais tempo. O mesmo acontecia com um senhor que ia pegar o mesmo transporte, ele falou que este carro só está esperando por ele. Por sorte chegamos ainda à tempo... Descemos a noitinha em Malhada depois de 4 horas de estrada de chão, muitos buracos e poeira. Pegamos outra balsa para Carinhanha, de onde sairia um ônibus ás 5 da manhã para Bom Jesus da Lapa, Bahia. Dormimos na rodoviária. Batemos um bom papo com o vigilante, que contou da aventura de um ciclista daquele lugar que viajou sozinho com poucos recursos. Foi por vários estados do Brasil inclusive São Paulo e tantos outros..

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