terça-feira, 24 de julho de 2007

Relato 15 a 17/05/2007

Dia 15/05/2007 – Encontramos várias pessoas, muitos jovens, que vieram de várias regiões de Minas e da Bahia para cortar cana e apanhar café. Um desses jovens, de Montes Claros, norte de Minas, confessava que chega-se a desmaiar no trabalho, como aconteceu com ele mesmo, sendo levado desacordado de ambulância para um hospital, pediu que não divulgássemos seu nome para não comprometê-lo. Encontramos também o Júnior e o David, que diziam estar vindo de Manga, norte de Minas, em busca de trabalho, sendo os mais prováveis: o café e a cana-de-açúcar, maior exploração da região. Eles estavam com um problema para ficar ali, é que não havia mais vagas nos alojamentos, o que costuma ocorrer em tempo de colheita de cana e café. Eles estavam a ponto de voltarem para casa depois de andarem mais de 500 km para chegarem ali, e por cima estavam sem mais dinheiro. Chegavam de uma região rica de água, de propaganda de prosperidade e de grandes investimentos, estavam vindo da beira do Rio São Francisco - e o mais incrível - das proximidades do Projeto Jaiba, no norte do estado de Minas. Eles (David e Júnior) nos informaram (por cima) o que era este projeto, que despertou nosso interesse de conhecê-lo. Falaram que é uma gigantesca estrutura de irrigação. Que Jaiba é a segunda deste porte no mundo: e que a primeira fica na Califórnia, Estados Unidos. Convidamos os jovens manguenses para almoçar conosco, comemos o que havíamos feito ali. Após isto, nos despedimos, Lia pegou o ônibus voltando para São Paulo, levando sua bicicleta, e tendo que fazer uma baldeação em Patos de Minas, por não ter ônibus direto de Varjão para São Paulo. Ficamos agora na estrada; Jorge, Ivânia e Inácio, rumo a Buritizeiro e Pirapora, beira do Rio São Francisco, para onde nos dirigíamos desde Uberlândia, quando renunciamos a passagem por Brasília, onde haveria algum evento, reencontro com os companheiros e a busca das sementes que foram enviadas para lá. Paramos num trevo chamado JK, que liga Brasília a Belo Horizonte, ali nos aprontamos para fazer comida e dormir, encontramos um senhor de nome João Paraíba, que nos informou muito sobre a região quanto ao tráfego intensivo de carvão e a realidade dos transeuntes que chamam de trecheiros, falava também (muito mal) de uma mulher “trecheira”, que esta perturbava muito, que inclusive a polícia, e até ele mesmo, já havia expulso ela dali, para fora da vila, dizia que se ela chegasse por ali “botasse para sair”. Armamos nossa barraca debaixo de uma árvore pertinho do triângulo (ou trevo). Pela madrugada esta trecheira encostava perto de nossas barracas, ouvíamos seus lamentos, que diziam: “eu só queria comida, e eles me bateram! Por que? Eu estou com fome!” Como nós havíamos feito comida de sobra (sempre fazemos assim, que pode servir para o dia seguinte, ou para atender casos assim, de alguém faminto, como muitas vezes também fomos atendidos), abrimos nossa barraca e perguntamos seu nome, e se queria comer. É claro que quis! Respondeu-nos que se chamava Verinha, Mostrou-nos os hematomas do seu corpo. Ela nos contou que costuma ser espancada por muitos ali, temia aquela noite, e não sabia como ia dormir. Convidamos para dormir aquela noite conosco... e sem problemas dormimos bem o resto da noite, numa mesma barraca: Ivânia, Inácio e a “trecheira” Verinha. Ela falava que tinha um filho (Marquinhos) com o conselho tutelar de Buritizeiro, falou que queria ir para lá ou para qualquer lugar, ou seja queria sair dali.

Dia 16/05/2007 - Fizemos comida para levar para estrada , demos um pouco para um transeunte da região, que perguntamos seu nome, e disse que era Toni, perguntamos como tinha chegado ali, respondeu que foi de jato (sabe-se lá que tipo de jato!). Fomos tentar encaminhar a saída da Verinha, como preço de passagem que nos prontificamos pagar, temendo que ela fosse gastar com outras coisas e não ir, garantimos para ela que pagaríamos sua passagem pelo cartão mas não podíamos dar dinheiro. Nesse caso ela recusou a passagem, dizendo que ficaria ali mesmo. Conversamos com a população para entendermos um pouco sua situação, nos disseram que há muitos anos que sua vida era aquela, mas, segundo afirmam, ela tem ajuda das pessoas do lugar. Encontramos um outro viajante, que estava também de bicicleta, o Francisco, que estava indo para Piracicaba – SP, de bicicleta, e ficou lá com a Verinha, enquanto nós, o Ciclovida montamos em nossa bicicletas e prosseguimos na estrada rumo a Buritizeiro e Pirapora, ainda em Minas Gerais. A noite caiu, e a bicicleta do Inácio furou o pneu, então tivemos que arrumar uma clareira na beira estrada, arrumamos as barracas e dormimos.

Dia 17/05/2007 – levantamos, fizemos merenda, merendamos e saímos, vendo muito eucalipto e um pouco de vegetação nativa, já estávamos nas micro-bacias do vale do São Francisco. Acabamos de chegar em Buritizeiro, passamos no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, como algumas vezes fazemos para obter um mapa das comunidades de trabalhadores da região. Fomos informados sobre um assentamento naquelas proximidades, de uns 10 km. Fomos informados também que havia uma pessoa que atua na cidade realizando atividades ecológicas, chamada Arlete, ligamos e marcamos compromisso para dia seguinte. Partimos para o assentamento, tendo como referência o presidente, que não encontramos, e fomos parar na casa de Chicão e família que nos receberam prontamente. Tornamo-nos amigos de todos (Chicão e Fátima, com @s filh@s Liana, Irnanda, Josimar e dois pequeninos). Depois de muito conversarmos pela noite adentro, dormimos.

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