terça-feira, 24 de julho de 2007

É COMPANHEIRADA!

ESTAMOS AQUI, CHEGAMOS DE UMA VIAGEM EM FORMA DE ATIVIDADE OU DE UMA ATIVIDADE EM FORMA DE VIAGEM. FECHAMOS ESTE PRIMEIRO GRANDE CICLO, QUE APESAR DE TANTOS RISCOS CONSEGUIMOS CHEGAR COM VIDA. HOUVE MOMENTO EM QUE AS PALAVRAS MAIS APROPRIADAS PARA NOS CONSOLAR ERA: “NÃO TEMOS A OBRIGAÇÃO DE CHEGARMOS VIVOS”.

Chegamos! Foram 12 meses de distâncias, angústias, alegrias, saudades e ansiedades, de encontros da caminhada e desencantos chorados solitários quando Inácio esperava a notícia de nascimento do primeiro neto Antônio Manoel, filho de Margarida, é-lhe comunicado que veio à óbito por negligência médica (deixar passar um dia após os 10 dias depois) de Redenção e Acarape (Ceará). Engolir a revolta no silencio da impotência, o silêncio da impotência engolido por dois dias e uma noite de chuvas na rodoviária de Prata, no Triângulo mineiro. Tendo que, ainda engasgado, engolir a dor da morte do companheiro João Elias (que nunca foi engolido por tantos), que abraçou com vida o projeto do Ciclovida, contribuindo no máximo que podia para que a atividade fosse realizada, e esperava também nossa chegada para realizarmos juntos a reimplantação das sementes. Estávamos para chegar em Santa Catarina, quando tivemos noticias da sua morte súbita, foi também numa noite de chuva. Ficamos inconformados por não ter como partilhar o João, como também com a Preta (companheira do nosso assentamento que faleceu de ‘eclampse’ durante o parto, 4 dias antes de nossa chegada). Temos também coisas boas para brindarmos, que nos motivam a continuar na luta pelo que acreditamos e ter certeza de que essa luta vencerá. Por isso, comecemos a brindar esta recepção feita por esta comunidade, este belo jantar com uma cachacinha, partilhando a alegria de estarmos juntos nesta luta, e se a Preta estivesse aqui estaria brindando este momento conosco; brindemos estas crianças da comunidade sem esperar que chegássemos continuaram mantendo o CARICULTURA, que vieram nos esperar, e de hoje por diante não vamos esperar mais por ninguem para fazermos algo, vamos fazer sempre, porque quem não está aqui está fazendo ali ou allá. Vamos brindar dois insurgentes que estão chegando em meio aos nossos desafios para nos darem força, dizendo-nos que não é hora de fraquejarmos, e vamos escutar suas mensagens e o que têm para nos dizer. Estes são os dois Bebês: o da Bartira (que deve estar nascendo agora em Brasília) e o da Margarida (filha do Inácio) que está no segundo mês de gestação.

Chegamos! Aliás, chegamos ou voltamos? Quem chegou? Quem foi? Para onde foi? Quem voltou? Várias pessoas simpatizaram com a idéia de fazer, juntos conosco este trajeto de bicicleta, inclusive nossos filhos. Acolhemos inicialmente todos os simpatizantes com idéia. Aprontávamos para sair, nunca sabíamos quantos seríamos na estrada, mas continuamos dizendo que o mundo é furado, e a ação de cada um tem a forma e o conteúdo da sua convicção.

Não foi de uma hora para outra que tomamos a decisão. Já fazíamos planos com nossos filhos e filhas, de dar uma volta por aí, de bicicleta, por um bom tempo, sem definir por onde e nem o que fazer precisamente, mas com um eixo central: A Nova Relação com a Terra. A partir deste eixo iríamos acrescentando á este eixo, elementos que encontraríamos na estrada. Por várias razões não foi possível implementarmos em tempo desejado, mas chegou o dia, o dia em até ali, ainda não sabíamos quantos seríamos na estrada. Preparamos 6 bicicletas e saímos 4 pessoas estavam realmente decididas: Bartira, Bruno, Inácio e Ivânia.

---- A Bartira é uma companheira com quem já temos há um bom tempo um diálogo, envolvendo um conjunto de idéias, discussões e práticas sócio-filosófica-política-ecológico e cultural. Foi de interesse mútuo atuarmos juntos esta atividade, a das sementes. Claro! Ela já tinha seus planos, inclusive de fazer também uma viagem com um projeto de intervenção cultural abordando temas interessantes e polêmicos, como a loucura enquanto algo de interesse mercantilista ou a industria da loucura terminamos unificando estas motivações e enfrentando juntos os desafios da estrada, nas atividades, tanto das sementes como abordando a temática que a Bartira já tratava na monografia para o término do seu curso de ciências sociais, e em estágios que fizera em manicômios, etc. Fomos nesta juntos até Goiânia. Sua animação nos fortaleceu neste trajeto, ora brincando com a juventude e a criançada das comunidades ou simplesmente procurando sementes diversas, ou mesmo na sua determinação de atuar na desconstrução da loucura, contrapondo-se a conceitos geradores de tratamentos preconceituosos tão comum na relações entre as diferenças sociais. Ela está concluindo conosco esta etapa do ciclovida com o seu companheiro, o Rhafa (Bruce) e seu filhinho que de está nascendo agora (filho do ciclovida), juntos com o índio, Pajé Santxiê e aquelas lindas crianças lá na comunidade Reserva Sagrada dos Pajés, perto do plano piloto de Brasília. Agradecemos ao Rodrigo Nacif pela grande consideração ao projeto ciclovida, de partilhar conosco este achado. Ali se faz também uma atividade de recuperação de sementes, onde Bartira e Bruce mantém uma atuação conjunta com o Santxiê, em Brasília.

Emaús de Pajuçara, em Maracanaú até Senador Pompeu (300 km). Decidiu fazer a viagem da noite para o dia, embora já conhecêssemos suas intervenções nas lutas sociais urbanas. Insistimos que deveríamos ter um pouco de mais de conversa entre nós, para melhor entrosamento com a atividade. O tempo que andamos juntos trouxe aprendizado mútuo. Com ele aprendemos lições de vida muito importantes, uma delas é a autenticidade: ser o que é em qualquer canto que esteja. Nós observamos fraternalmente que devemos levar em contas as diferenças, respeitá-las ou pelo menos tolerá-las, principalmente quando estamos apenas de passagem. O Bruno não continuou, ao nosso ver, pela sua formação cultural, de origem essencialmente urbana, que não permitiu de imediato seu encontro sem atritos ou traumas com a realidade adversa, a rural, com a qual se deparou. Faltando de sua parte uma preparação prévia para esse diálogo. Ele mesmo poderá fazer seu comentário a respeito. Assim falamos, com sinceridade e fraternalmente. Ele também faz o Ciclovida. Um abração dos que chegaram.

---- Diego – nos-divertiu e se divertiu com o Ciclovida, de Brasília até Goiânia. Ele registrou em sua câmera e está registrado no diário da nossa vida. Até o encontro com os compas de Goiânia. Busca fortalecer os movimentos sociais com suas habilidades em mídia independente.

---- Mateus – O primeiro a registrar em suas investigações libertárias, o conteúdo de A Nova Relação com a Terra (New Relation with the Earth), quando nos visitou no Acarape, num momento em que convergiam apoios para uma situação de confronto que enfrentávamos com o governo e o agronegócio. Quem nos animou a ir até Argentina, quando nos falava tão familiarmente do companheiros piqueteiros, dos MTDs (Movimento os Trabalhadores Desocupados) de Buenos Aires, sendo mais conhecidos: La Matanza; Solano e Guernica. Passamos quase um mês visitando esta companheirada com os quais muito nos identificamos. Mattheo Feinstein do coletivo do “A GoGo” fez conosco o trajeto de Foz do Iguaçu até Buenos Aires. Destes companheiros recebemos apoios em todos os sentidos, inclusive material, que possibilitou a realização da grande tarefa no combate ação criminosa do agronegócio, com sua revolução verde. Depois seguíamos de Montevidéu até Curitiba, onde encontrávamos o Jorge. Num comentário para o nosso Blog, alguém perguntava: é o Jorge Ota? Agora respondemos - ééé! O Jorge ficou sabendo desta atividade por ocasião de um encontro de mídia independente que participou em Goiania, quando conheceu o Diego, que lhe falou do projeto. Ele já entrava em contato conosco quando ainda estávamos no Rio Grande do Sul, oferecendo acolhida. Ao passarmos pela sua casa fomos bem acolhidos por ele, sua mãe Sueli e sua irmã Dome. O convidamos para a estrada e sem alteração (sem demonstrar empolgação), respondeu: “vou um pouco com vocês, até onde me sentir bem”. Não sabemos o que é para ele “um pouco” nem “se sentir bem”. Já iniciamos com o Jorge a plantação das hortas com as sementes naturais.

Em São Paulo, quando já estávamos de volta, encontramo-nos com a Lia, companheira que desde Fortaleza já nutria a vontade de adentrar na viagem e somar com a atividade, e por força dos acontecimentos entre outras viagem e vontades, ela acompanhou o Ciclovida até Varjao de Minas corajosamente entre trancos e barrancos, superou muitos desafios, visíveis para nos que já estávamos acostumados com as intempéries da estrada, num dado tempo (um mês) acabou pegando a estrada de ônibus voltando a São Paulo, dizendo que tinha coisas a vivenciar como a “vida” cultural da megalomica cidade e os estudos.

De volta, dias 28 e 29/07/2007, estaremos discutindo encaminhamentos futuros do Ciclovida. Se fôssemos fazer aqui um lista agradecimento aos apoios, os acolhimentos, as forças que recebemos, desde quando saímos até a volta, escreveríamos muitas páginas e ainda cometeríamos injustiças com tantas e tantos que foram tão amáveis com o Ciclovida na estrada... mas citamos grande parte no diário do site, site que não fosse o dedo do Philipe Ribeiro, que presenteou ao ciclovida, junto com muita força, fazendo campanha de ajuda sempre que precisávamos, além de ir contatando apoios nos roteiros que tomávamos. Gravando CDs e vendendo, foi apoio técnico, político e logístico... fez conosco esta atividade. Fazendo uma viagem como esta que fizemos, de bicicleta, em sua maior parte, desmascaramos a campanha da imprensa da classe dominante. A campanha do medo entre as pessoas. Criando uma ilha cercada de medo por todos lado servindo de muro. Quebremos os muros! Quebremos os medos! Libertemos a VIDA!

Aguardem os informes do encontro dos dias 28/07/2007 – sábado e domingo.

2 comentários:

Cascão disse...

BOas Lutas e colheitas.
que essas Sementes materializem a resistência que deve brotar todos os dias
Abraços
e muita Saudade.

Ota cadê você? volta?

Fractal disse...

Impressionabte liçao de ciadania. Muito obrigada por essa semente de esperança que virtualmente plantara em meu coraçao. Portas abertas em Florianópolis! Salve!