quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Da estrada (16/11 a 20/11)

16/11/2006 quinta feira – juntamos no quintal da casa algumas sementes de jabuticaba e pitanga, nos despedimos do companheiro, e por um pequeno erro de percurso passamos pela vila Fátima Paulista, fazendo uma grande volta de 6 km por estradas de chão, retornamos quase ao mesmo lugar de partida e prosseguimos passando pelo trevo de Jales e fomos sair em Pontalinda, onde tivemos vontade de descansar, mas como achamos cedo ainda fomos até Auriflama, onde tivemos que nos adentrar 8 km fora da rota, e dormimos na rodoviária com permissão da vigilância.

17/11/2006 sexta feira – saímos cedo, e rompendo a estrada margeada por fazendas de cana e gado, avistamos uma pequena chácara e nos aproximamos para beber água, era de uma Nordestina que avia comprado com algumas dezenas de anos de trabalho duro, essa nos ofereceu café com macaxeira (mandioca) cozida, agradecemos e às 10 horas estávamos a beira do rio Tietê, fazendo comida, a 20 km de Araçatuba. Às 15 horas saímos, passamos em Araçatuba e fomos dormir em Bilac. Esta noite foi a primeira mais tensa de toda a viagem. É que na rodoviária, onde fomos dormir não tem vigilância, e quem é desconhecido ali se sente num inseguro esmo no deserto da cidade, e passamos ali à noite entre dormindo e acordado, temendo ser abordado, ora pela polícia, ora a galera da vida noturna.

18/11/2006 sábado – sem muita novidade, margeados pelas continuas fazendas, a diferença deu-se pelo fato de ser a estrada mais acidentalizada pela incidência de muitas ladeiras, chegamos em Rinópolis, onde encontramos um galpão, local onde os bóias-frias esperam os transportes para os canaviais, ali armamos a barraca e dormimos.

19/11/2006 domingo – enfrentando a mesma rotina de autos e baixos da estrada e canaviais chegamos à entrada da Vila Escócia, para onde resolvemos entrar para darmos uns telefonemas, mas como já estava anoitecendo decidimos por pernoitar ali, depois de tranqüilizados por algumas pessoas que ali moravam, de que era um lugar extremamente pacato. Quando tudo se “acalmara” armamos nossa barraca encostada à igreja católica. Mas logo percebemos um grupinho de vigilantes voluntários que curtia seus ópios de cada noite, na inércia da madrugada adentro. Percebemos que era inoportuna nossa presença ao ouvirmos os sussurros de insatisfação que iam se tornando cada vez mais freqüentes e ofensivos, chegando a nos xingar, então resolvemos nos aproximar do e esclarecer sobre nossa atividade.Um deles, o Danilo resolveu nos defender, tornando-se nosso escudo para qual se encaminhou à fúria dos outros. Percebendo nosso dilema, Danilo nos convidou para irmos com ele para a casa de seus pais onde lá podíamos dormir. Mas o problema, é que um dos xingadores era seu irmão e descordava da disponibilidade do Danilo. Mas o Danilo impunha-se decisivo, e insistentemente queria nos levar para sua casa sob os protestos do irmão.Em meio ao fogo cruzado entre irmãos, onde nenhum um dos dois sóbrios, nós tínhamos que tomarmos uma posição. Tentamos fazer com que o Danilo desistisse de nos levar para sua casa; dizíamos que não era fácil seus pais acolherem desconhecidos àquela hora da noite, mas fomos obrigado a concordar em ir com ele, pois ele desfazia nossos argumentos dizendo que seus pais eram bons e acolhedores. Dissemos então que íamos, mas voltaríamos para a praça. Acordo feito e aceito também pelo irmão rival. Realmente nos deparamos com duas pessoas maravilhosas que nos ofereceram o que estava em seu alcance... Bem não terminamos o bate papo o irmão rival chega já ameaçando botar para fora de sua casa, o que nos fez bater em retirada. O Danilo nos acompanhou até a praça onde dormiríamos, mas assim que ele voltou para sua casa resolvemos prosseguir estrada a fora pela madrugada, tivemos que sair para nos proteger e não sentindo segurança em pousar na beira da estrada percorremos 25 km rumo a Martinópolis. Uns 8 km antes de chegar a cidade já não agüentando o cansaço encontramos um grande espaço limpo que nos chamou atenção para armarmos a barraca e quando começamos desamarra-la percebemos pelo reflexo de um carro que tratava-se da entrada de um latifúndio, mais uma vez nos retiramos por precaução e temendo os cachorros que já avisava a presença de estranhos. Fomos parar na entrada da cidade de Martinópolis onde encontramos uma guarita de ônibus e dessa vez não armamos mais barraca, dormimos ali mesmo no banco já eram 3 da manhã.

20/11/2006 segunda feira – acordamos com sol alto, procurávamos um assentamento, mas nos informara que este estava a uns 10 ou 15 km fora da nossa rota, e que mais perto estava um acampamento, sendo para onde nos dirigíamos após darmos uma volta na cidade para resolvermos algumas questões tais como a revelação das fotos, quando tivemos a grande decepção: pois os filmes tinham sido mal colocados na máquina, não dando certo nenhuma foto desde Brasília. Ali colocamos outro filme, e agora esperamos que não estejam errados ou a máquina não dê problemas. Chegando no acampamento Barrinha nos identificamos e ali fomos acolhidos pelos companheiros acampados.Ficamos no barraco com Francisco e família e ali fomos tomando da realidade daqueles companheiros, de anos afio vivendo em barracos sob o descaso dos que governam em conivência com o latifúndio. Durante a tarde foi articulada uma reunião com os acampados onde partilhamos informes e preocupações cantamos musicas de animação da luta, quase todo o acampamento estava presente e animados se comprometeram de ver o que havia de sementes para partilhar no dia seguinte.

Da estrada (12/11 a 15/11)

12/11/2006 domingo – visitamos mais famílias e meio dia fomos para outra parte do assentamento, onde estava acontecendo um torneio de futebol, fomos de carona no gol de Jose Pereira, sua companheira Balduina, sua neta Anita Geovana e Josefa a companheira do Carlito. Lá encontramos mais pessoas entre a secretaria filha de Balduina ao final retornamos para a sede, casa do Carlito, que nos mostrou todo o processo de desapropriação daquela fazenda e o quanto tiveram que ser ágeis para não perder a terra. Denunciou também que houve incidências de morte de três companheiros na época do acampamento por contaminação pela água, por não poder usar água potável que estava na fazenda. Após tantas manifestações carinhosas daquele pessoal, que inclusive nos ofertaram fotos da resistência deles para levarmos como lembranças.fomos dormir já com saudades porque dia seguinte partiremos.

13/11/2006 segunda feira – Despedimo-nos de todos e saímos de carona no carro que leva o leite e descemos na casa de seu Tinoco e dona Maria, estávamos no outro assentamento a 20 quilômetros de Iturama - MG. Passamos o dia com a família, trocamos algumas sementes, conhecemos Dinamarquês (filha do casal) que nos mostrou “rodas de água” (essas rodas de é que faz bombeamento para abastecer as casa e irrigação). Observamos que atividade principal e também a pecuária, e a noite fomos presenteados com uma noitada de viola caipira oferecida por seu Tinoco.

14/11/2006 terça feira – saímos para fazer algumas visitas, percebemos as casas, um tanto isoladas por conta do loteamento da terra, cada casa se distancia da estrada imitando fazendas, onde o gado forma a principal povoação, andando sobre o tapete de capim, chegando vezes, uma assentado possuir ate mais de 100 cabeças, que para mantê-las tem que alugar o lotes de outros companheiros de assentamento, e outros que mantêm-se do aluguel de seus lotes. Fomos ate a noite em visitas, por fim paramos no lote de Conceição onde fomos convidados para esperar o jantar, nessa recebemos algumas sementes de pimentas, e nos informou que metade dos assentados já havia vendido seus lotes. Eles falaram da complicação que dá a venda de lotes: os que compram são pessoas descompromissadas com a causa dos sem terra, reproduzindo uma desigualdade social e causando o enfraquecimento da luta. Saímos de lá as 10 horas da noite temendo passar por uma pequena reserva onde se comentavam sobre aparecimentos de onças; atravessamos com a solidariedade de um companheiro em seu carro, que alumiava nossas bicicletas ate o final da travessia, e assim chegamos na casa de seu Tinoco para dormir.

15/11/2006 quarta feira – Acordamos cedo, arrumamos as cargas nas bicicletas e saímos. Lanchamos água de coco já em Iturama na barraca de um baiano, prosseguimos em frente, paramos a 2 km nuns restos de barracos que já havia sido antes acampamentos de sem terra, e que agora é moradia de sem tetos, que ate sugeriram que morássemos num desses, mas explicamos nosso projeto e que estávamos de passagem. Prosseguindo, paramos no posto de gasolina onde ficava a entrada de acesso ao estado de São Paulo, que já estávamos a 12 km da divisa MG/ SP. Há 2 km do posto fiscal da divisa paramos para tomar água numa casa na beira da pista de baixo de um mangueiral, encontramos uma jovem mulher, cujo marido trabalhava plantando vassoura e o mesmo as montavam para seu patrão. Ali chupamos mangas, bebemos água e conversamos com aquela companheira, que nos falou que se chama Luciana, que era casada pela segunda vez, que seu primeiro companheiro morrera em conseqüência de um raio de relâmpago em Mato Grosso, num acampamento de carvoaria, pois ele fazia carvão para um patrão, que ele havia chegado nessa região com 17 anos e ainda não tinha feito dinheiro para visitar a família, que sempre prometia para a companheira que a levaria para conhecer sua família no Nordeste, que ele era do Ceará e se chamava Antonio Ferreira Serafim, filho de Francisco Ferreira Campos e Ana Serafim Campos, nascido em 21 de janeiro de 1978, na localidade de Trussu, entre Acopiara, Catarina e Iguatu que ela havia tentado entrar em contato com a família e não tinha conseguido. Ele morreu em Cassilândia, Mato Grosso do Sul, enterrado em 20 de abril de 2005, na cidade de Chapadão do Sul, há 100 km de Cassilândia. Hoje a Luciana trabalha com seu segundo companheiro para o “Toinho”, seu patrão atual. Logo na frente encontramos a ponte do Rio Grande da mencionada divisa. Aqui estamos, há um passo à frente: São Paulo, e há um passo atrás: Minas Gerais. Nesse momento nos despertamos para bater umas fotos. Nossas bicicletas carregadas, nos fazia parecer com vendedores de peixe. Foi assim que uma senhora, mulher de um médico que estava em família a admirar aquelas paisagens. Essa companheira convidou seu companheiro para se aproximar dos peixeiros (que seríamos nós), mas ao se aproximarem de nós, viram que estávamos batendo fotos, logo lhe pairou o dilema: “nunca se viu vendedor de peixe batendo fotos!” Aproximaram-se, mas para se oferecerem para nos ajudar na “tiração” de nossas próprias fotos. Depois que se certificaram do que estávamos fazendo, o companheiro que se chamava Márcio, que era médico, que estava dando passeio por ali com a família: Leily sua comp., Ricardo seu cunhado, a filha Izabelle e o filho Cesare. Márcio disse que estávamos fazendo algo que ele sempre sonhava fazer, e perguntou se podia ajudar, respondemos que ficasse à vontade, ele então nos deu R$ 50,00 e sua camisa de torcedor do Juventus da Itália. Nos encheu de felicitações e foi embora, e nós também. Às 16 horas estávamos chegando na entrada de Turmalina – SP, onde nos com duas fileiras de mangueiral ás duas margens da estrada que dá acesso a pequena cidade, paramos ali observando os 3 km de mangas pelo chão que a margeava, e como não havíamos ainda almoçado, largamos das bicicletas e enchemos a barriga de manga, chamando a atenção de tantos quantos passassem por ali, logo seguimos para essa cidade e ao chegarmos não deixávamos de causar espantos àquela população, fomos a internet, depois que checamos e-mails ali mesmo nos informamos da existência de galpão de feira, que podíamos armar a barraca e dormir, sugeriram que antes comunicássemos a policia local, o que fizemos, e essa nos autorizou dormir no dito galpão, falando também que já havia recebido dois telefonemas dando conta da existência de dois estranhos na cidade. Após informar da nossa atividade e de onde vínhamos de bicicletas, o delegado ainda admirado nos pediu um favor: que quando voltássemos a Fortaleza tentasse localizar seu pai biológico que estava com 80 anos de idade e ele havia descoberto que o mesmo (seu pai) residia naquela cidade (Fortaleza). Ainda saímos para procurar um cartão telefônico para nos comunicarmos com nossos filhos, quando encontramos alguns jovens numa mesa de cerveja, e como nos observavam resolvemos nos aproximar e explicar o que fazíamos. Depois do dialogo, um deles ofereceu a chave de sua casa para dormirmos nela, que estava apenas com seus pertences, mas ele não dormia lá, o que aceitamos prontamente, ate porque tinha banheiro e a gente estava precisando.

Da estrada (08/11 a 11/11)

08/11/2006 – quarta-feira – Acordamos cedinho, Ivânia, meio adoentada, seguimos para Campina Verde, Paramos ao meio-dia na entrada de Monjolinho, há 20km de Campina Verde, Passamos a hora quente e seguimos, chegamos no Acampamento Terra Santa às 17 horas, onde encontramos Arivaldo e Lene. Nos explicaram que aquele local, é de costume montar-se acampamentos e no momento estava com pouquíssimas pessoas, embora tivessem bastantes barracas, “as pessoas querem ganhar terra, mas não querem acampar”, observam.
Falamos de nossa viagem, e seus objetivos e ali nos acolheram aquela noite. Conversamos bastante com Arivaldo e Lene, uma valente baiana e um companheiro (seu José), riograndense do norte, pessoas muito acolhedoras, otimistas e alegres, com quem partilhamos idéias e preocupações, e falamos como e onde dormimos na noite anterior, e eles falaram que havíamos dormido na boca da onça. Contaram-nos a história de uma criança que o pai deixou naquelas proximidades esperando o transporte escolar, e só meio dia é que se veio dar conta que a onça a havia comido. O pai saiu no rastro de sangue da filha, encontrando a onça, a matou e ainda hoje está preso há oito meses, enquadrado na lei de crime ambiental, contam. Nos falaram de outro exemplo, onde outra criança foi morta por um onça, nas mesmas proximidades e o pai também a matou, este não foi preso porque a população não deixou, mas está respondendo em liberdade pelo mesmo crime. O que nos faz entender que isto acontece pelo fato, de não existir mais víveres para os animais silvestres, e nem mais florestas, e com tantas pistas que se cruzam, estes animais não teme mais os barulhos de carro, e arriscam a própria vida, porque tem que buscar alimentação seja lá o que e onde for. O que muito encontramos nas pistas são animais mortos. As auto-estradas cortam regiões inteiras, deparando as comunidades biodiversa, cujos membros estão condenados à morte na primeira ultrapassagem, e como atua ali a lei de proteção animal e defesa ambiental?

09/11/2006 quinta feira – Acordamos no acampamento trocamos algumas variedades de sementes, eles nos repassaram vários tipos de sementes de pimenta, quiabo, feijão, bucha de metro, mamão (carne vermelha e carne amarela) abóboras diversas e ipê roxo... Mas reclamaram a falta de pimenta cumari. Estávamos de saída para visitar um assentamento há uns 12 quilômetros dali, quando chegaram dois homens se dizendo ser da imprensa local, e nos entrevistaram, mostrando-se bastante curiosos... Saímos após o almoço e andamos 12 quilômetros de subidas e decidas enfrentando areal. Quando íamos vimos uma placa identificando um lote e contendo na placa que a principal atividade agrícola pimenta cumari. Depois que percorremos o assentamento, retornamos já ao anoitecer e passamos por reservas florestais do assentamento que ainda se mantinha bastante densa que nos fez arrepiar os cabelos e apressar o passo com medo das onças, empurrando as bicicletas por estar escuro com muitas subidas e areia. Ao passarmos pelo lote das pimentas cumari, pedimos umas mudas e sementes que levamos aos companheiros do acampamento, batendo a porta do barraco de Arivaldo e Lene a 11 horas da noite, repassamo-los as mudas de pimentas e ali dormimos mais uma noite.

10/11/2006 sexta feira – saímos de Campina Verde atravessando estradas de chão e o deserto do latifúndio rumo a Iturama, nesse ínterim encontramos um acampamento onde tomamos água, café, e tivemos boas conversas com o pessoal alem de escutar uma sanfona bem tocada ao estilo sulista, 3 quilômetros a frente encontramos o assentamento Peroba Sanharão. Dirigimo-nos ao mesmo e nos informaram onde morava o presidente. Lá encontramos o Carlito, sua companheira a Josefa, sua mãe dona Tereza, entre outros familiares e companheiros. Falamos da atividade do ciclovidas fomos acolhidos por todos aquele pessoal simples e alegre e a noite trocamos idéias e cantamos nossas musicas e ouvimos musicas locais cantadas por eles. Ficamos na casa do Carlito e família.

11/11/2006 sábado – visitamos varias famílias e nos informamos mais daquele assentamento.
Área: 3.974 ha; 123 assentados; atividade principal é a pecuária; 2 poços artesianos mais de 100 pequenas represas; nascentes diversas, além de duas rodas de água. O leite, principal produto, é vendido para industria de laticínio. À noite trocamos experiências, cantamos, recebemos o carinho das crianças do assentamento materializado nesta poesia/canto que eles no ofereceram:
EU VIM DE LONGE PARA ENCONTRAR O MEU CAMINHO
TINHA UM SORRISO, E UM SORRISO AINDA VALIA
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI
EU VIM DEPRESSA, MAS NÃO VIM DE CAMINHÃO;
EU VIM DE JATO NO ASFALTO DESSE CHÃO
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI.
EU VIM POR AQUILO QUE NÃO SE VER
VIM NU, DESCALÇO SEM DINHEIRO E NA PIOR...
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI!
EU TIVE AJUDA DE QUEM VOCÊ NÃO ACREDITA
TIVE A ESPERANÇA DE CHEGAR ATÉ AQUI
VIM CAMINHANDO PARA ESTÁ FELIZ AQUI
(crianças do Assentamento Peroba Sanharão, Campina Verde, Minas Gerais) após tudo isto, fomos todos dormir.

Da estrada (01/11 a 07/11)

01/11/2006 quarta feira – despedimos da comunidade e partimos chegando em Centralina - MG, a 25 quilômetro pegamos uma carona de caminhão que nos deixou na cidade de Prata-MG, dirigimos para o STR que nos foi permitido pelo presidente daquele sindicato,Jose Heleno fazer o almoço onde nos informamos da existência de um assentamento rural em Nova Cachoeirinha no rumo de Uberlândia não dando para ir no mesmo dia por conta da chuva e já estava anoitecendo fomos checar e-mail e tivemos a triste noticia da morte do bebê de Margarida antes de nascer por negligência medica. Telefonamos para o Diassis avisando que estávamos enviando as sementes pelo pai do Sergio (de Brasília). Colocamos na internet uma carta de solidariedade de Oaxaca e apos isso procuramos a rodoviária onde armamos a barraca onde fomos dormir com a permissão do vigia que e pai do presidente do sindicato. Cenas intrigantes, nós presenciamos durante a noite na rodoviária: os chamados trecheiros que também partilhavam aquele espaço conosco, amargavam suas realidades de verdadeiros cães, quase que literalmente falando, ora eram espancados pelo vigia e até pelos bebuns que tinham uma situação mais privilegiada perante esse (vigia); ora comiam carnes cruas que conseguiam nos açougues, jogadas ao chão, que disputavam entre si enquanto os “normais” assistiam estarrecidas, as degradantes cenas.

02/11/2006 quinta feira – saímos para o assentamento Nova Cachoeirinha as 14 horas e de ônibus por que continuava chovendo.Chegamos no assentamento e localizamos Wilson um dos coordenadores que nos recebeu muito bem, nos apresentando a outras famílias como João e a Branca entre outras. Trocamos muitas com Wilson que nos falou de seus projetos a serem implantados após o loteamento da terra que já esperam a 2 anos apesar dê serem imitidos na posse.Aquelas famílias vivem ainda sob a lona a espera da liberação de recursos e o loteamento.Um dos projetos do Wilson é uma comunidade alternativa fundamentada em três princípios filosóficos: vegetarianismo, espiritualismo e anarquismo, onde se faria também recuperação de menores.Wilson espera que pessoas interessem-se por essa causa e forme parceria com ele. E após cantarmos algumas canções de movimentos fomos dormir em seu pequeno barraco.

03/11/2006 sexta feira – passamos o dia em bate-papo sobre aquela realidade.

04/11/2006 sábado – passamos o dia na casa de Branca e João Batista e conhecemos familiares seus que vieram de Uberlândia para passar o fim de semana ali.

05/11/2006 domingo – Participamos de uma assembléia ordinária onde falaram de novas promessas para o assentamento, mas sem merecer muitos créditos da parte daquela comunidade. E nos foi permitido expor os objetivos de nossa caminhada. A tarde encontramos dona Maria (uma cigana assentada) que nos deu informações interessantes como mortes que aconteceram no assentamento que daria para responsabilizar o governo desde de pessoas que morreram com problemas estomacais que podem serem decorrência de anos sobre a lona quente e ate acidentadas por estar na beira do asfalto morando nos barracos.A dona Maria também falou de produção agrícola que antes existia mais fartura, mas que acabou a partir da invenção das maquinas quando a terra deixou de fornecer os alimentos.Ela falou que o beneficiamento dos grãos era artesanal o arroz, por exemplo, era polido com monjolo aproveitando correnteza de água (ela nos foi mostrar um desativado).Fomos visitar os barracos dos ciganos assentados e conhecemos: Armando, Vanderlei ,Dolores , Maria Alice,Irene,Nilza , Dienes (14 anos) Jane (14 anos) foi lá que fizeram a denuncia dos três ciganos que morreram: Adimuro com diarréia e vomito em 17/04/2005 Eurípides Machado em 24/09/2004 e Valdenir Dias da Silva em 18/05/2005 com pneumonia filho de dona Derversina Dias da Silva. Nesse assentamento existem 11 famílias ciganas e apenas 9 assentadas. Nesse dia almoçamos com os ciganos, findamos a tarde brincando ciranda com as crianças ciganas.

06/11/2006 segunda feira –levantamos cedo e fomos para a Prata onde encontramos Wilson na Lan House, que nos ajudaria a por em dias o relatório do Ciclovida, que depois de 4 horas de digitação perdemos com uma pane no computador.

Dia 07/11/2006 – terça-feira – Fomos esperar Wilson retirar um dinheiro que a Bartira havia enviado pela sua conta corrente das contribuições resultadas da campanha do CMI. Feito isso, almoçamos na rodoviária (comida que fizemos no STR) conversamos mais com Wilson e partimos as 16 horas de bicicletas rumo a Campina Verde. No primeiro posto de gasolina que encontramos na estrada pedimos espaço para armar a barraca, como não permitiram, armamos numa parada de ônibus à 500 metros.

Da estrada (24/10 a 31/10)

24/10/2006 – Terça-feira – Este foi o ultimo dia em Goiânia. Inácio passou quase toda a manhã separando sementes para serem levadas em parte para o Nordeste. Estas sementes serão levadas por Bartira, que vai voltar até Brasília, é que ela resolveu ficar um mês na casa do Santxier, na Reserva Sagrada dos Pajés, na asa norte... Antes do almoço o Léo e Jerfeson foram conosco para a feira do troca ,onde Bartira e Ivânia trocaram suas bicicletas e fizemos de freios .voltamos para a Pricila e em seguida fomos deixar Bartira na rodoviária ,compramos a passagem mais deu uma confusão por que o ônibus não queria levar sua bicicleta por menos de 20reais a mais da viagem [30reais]e pedimos a devolução do dinheiro e ela partiu em um carro pequeno pagando só a passagem .logo mais Inácio Ivânia partiram dando procedimento a atividade da estrada e saímos as 17 horas de Goiânia rumo ao triangulo mineiro chegamos a noite em Aparecida de Goiás pedimos para pernoita no auto posto Aparecidão da rede marajó,que não permitiram que pernoitamos no cetro da cidade na área de bar noite de bastante chuva.

25/10/2006, quarta feira -saímos de aparecida passamos Hidrolandia terra das jabuticabas, lá encontramos a Maris e seu filho vendendo pequis e na beira da estrada a frente encontramos Raimundo vendendo jabuticabas e compramos 2 litros por 5 reais seguimos a rodovia Br 156 com dificuldades de transitar por estar em obras e fomos dormir 20 quilometro após a cidade de Professor Jamil na área de proteção do bar de seu Jose,onde fizemos comida que dividimos com um trecheiro que conhecemos na estrada.

26/10/2006 quinta feira -partimos nas mesmas dificuldades da estrada horas sem acostamento horas sem asfalto e chegamos em Rancho Alegre e pedimos para fazer comida no pátio do posto rodoviário federal. A essa altura a atividade das sementes estava triste por que apenas fazendas hotéis e posto de gasolina povoavam a região. Chegamos em Morrinhos cidade encima da serra, sentimos ate calafrios ao percebermos que era a morada dos latifundiários com tudo fomos acolhidos por um posto de gasolina que nos cedeu banho e local para pernoitarmos.

27/10/2006 sexta feira- decidimos pegar o ônibus para atravessar o deserto do latifúndio e ultrapassamos um trecho de 70 quilômetros e chegamos na ultima cidade de Goiás, Itumbiara onde fizemos checagem de e-mail , pesemos cartas no correio e fizemos almoço na beira do rio que divide Minas e Goiás, e em seguida fomos para o acampamento Celso Furtado a 5 quilometro voltando para Buriti Alegre onde encontramos varias pessoas entre elas Adão e Baiana que nos acolheram depois que falamos nosso objetivos aprendemos muito de estradas com seu Adão de 84 anos de idade que já fora caminhoneiro por 50 anos.

28/10/2006 sabado - fomos a cidade de carona com seu Adão e Baiana onde conhecemos Ângela filha do casal que trabalha no sindicato dos funcionários da saúda de Itumbiara,e conhecemos Salete presidente do STR que nos contou a emocionante historia da construção daquele sindicato:que veio um grupo de trabalhadores da Bahia no objetivo de fundar o sindicato e tiveram que se infiltrar como bóia frias para entrar em contato com os trabalhadores locais e convencê-los dessa necessidade,passando por duras provas de represarias por parte dos patrões.Após isso fizemos consertos nas bicicletas depois o Inácio passou e-mail para Margarida sua filha para ver como estava a espera do bebê que seria domingo 29/10/06 ultimo dia de prazo.

29/10/2006 domingo - dia da eleição segundo turno para presidente fomos com Adão e Baiana para a cidade onde justificamos o voto.

30/10/2006 segunda feira –passamos a manhã visitando as famílias do acampamento e a tarde fomos verificar e-mail e nos deparemos com a triste noticia do assassinato de Brad Will em Oaxaca no México ao dar cobertura de mídia independente a luta de resistência popular Indígena naquele país.

31/10/2006 terça feira-lavamos roupas, arrancamos argila na beira do rio, ribeirão de Santa Maria. E a noite convençamos sobre sementes trocamos Idea sobre as realidades e diferenças culturais observamos que a uma cultura campesina ainda bem acentuada nesses habitantes,com costumes de fabricar produtos caseiros tais como,sabão ,gorduras ,etc.evitando comprar de tudo.

Da estrada (17/10 a 23/10)

Terça-feira, dia 17 de outubro de 2006, chegamos em Goiânia pela noite. Chegamos, a partir Abadiânia, com as bicicletas no gavetão do ônibus, para nos apressar, por conta de que, o companheiro Diego, que vinha documentando com uma filmadora, só teria até quarta feira para estar conosco; por conta de expiração do seu tempo de folga no trabalho, teria que retornar à Brasília, e queríamos muito que chegássemos juntos à Goiânia, que assim nos apresentaria aos compas daquela Capital. Logo à noite encontramos com vários companheiros que já nos aguardavam. Passamos até meia noite conversando, nos inteirando reciprocamente e tomando pé na realidade. Fomos dormir na casa de Tiago e Eliza, do movimento libertário de Goiás, ligados a viabilização da comunicação.

Dia 18/10 – quarta-feira - foi mais de descanso e conversas descontraídas e de informações recíprocas.

Dia 19/10 – quinta-feira - montamos as bicicletas que estavam desmontadas desde que trouxemos há dois dias no ônibus, de Abadiânia a Goiânia, depois saímos nas tentativas de trocá-las nas bicicletarias, Ivânia e Bartira pretendiam outras que se adaptassem melhor aos seus gostos. Passamos o dia nessa tentativa, não deu certo fazer nenhuma troca, porque ofereceram muito pouco em valor pelas bicicletas, “nem mesmo o nosso apelo ao valor histórico dessas bicicletas, por terem resistido tanto, no percurso, Fortaleza/Goiânia, sensibilizava os donos de bicicletarias e negociadores”. Pela noite fomos para uma reunião no espaço da Igreja católica para ´programarmos o dia da democratização da comunicação`, e ao retornarmos, fomos para o apartamento de Pricila para dormir, e demos de cara com o porteiro, que, por ordens superiores não queria aceitar nossa entrada com as bicicletas, o que só seria permitido aos moradores do prédio. Não baixando a cabeça e falando mais alto, ela (Pricila) fez valer seu direito de ser solidária. É nessa circunstância que ficamos em seu apartamento por alguns dias com nossas três bicicletas.

Dia 20/10/2006 (sexta-feira) – Fomos para a UFG (Universidade Federal de Goiás), Onde teria dois sarais de poesia: um pela manhã e outro pela tarde, e teria uma reunião para debater a democratização da comunicação. Planejamento cumprido no transcorrer do dia, não acontecendo apenas o saral da manhã. Fomos (Ivânia, Bartira e Inácio) para UFG e voltamos para o apartamento de Pricila de bicicleta.

Dia 21/102006 (sábado) foi o primeiro dia da programação da rádio, que fizemos em conexão com as rádios comunitárias de Brasília. Nó participamos desta programação juntos com vários companheiros e coletivos, abordamos vários temas como: Passe Livre, Democracia, Eleições, Naturalismo e Saúde; catamos músicas variadas dos movimentos, etc. Foi um dia de encontro com muita gente lutadora do movimento libertário.

Dia 22/10 – Domingo – segundo dia de programação da rádio comunitária. Fizemos programa com Victor, companheiro estudioso da macrobiótica sobre: Alimentação, Saúde e Nova Relação com a terra. Lá encontramos também o Vinícius, que por sinal usa muito a bicicleta, e faz retratos das pessoas na hora H, isto é seu trabalho. Estávamos também com o Léo do CMI. Depois fomos para a casa da Pricila e encontramos também o Igor (o animal), encontramos também a Pilar. Conhecemos Jerfeson, um companheiro músico que é de Fortaleza, Ceará, que está morando em Goiânia, e que curte também uma bicicleta.

23/10/2006 – Segunda-feira - Convivemos com esses compas na casa de pricila

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Direto do pedal, via e-mail (11/12)

Ciclovida escreveu:

Passamos dois dias empenhados em fazer o relatório da viagem. Ainda bem que tivemos a ajuda do companheiro Lourival da secretaria do MST de Peabiru, aqui do Paraná. Olha cara, soubemos que as sementes já devem ter chegado no Ceará (...) Depois enviaremos o resto do relatório. Devemos sair amanhã daqui, rumo a Foz do Iguaçu.

Notícias da Estrada (21/11 a 22/11)

Ciclovida escreveu, um pouco atrasado :)

21/11/2006 terça feira – acordamos tarde para tirar o acumulo do cansaço de 25 kg de medo da noite anterior. Às 9 horas foi a troca de sementes, várias pessoas chegavam com sementes outras que não tinham vinham na busca de alguma para quando conquistar a terra plantar a sementes naturais. À tarde conversamos com alguns acampados e escutamos o relato de um atentado que sofreram há 4 dias atrás esse mesmo acampamento estava na fazenda Abrumados, dia 12/11/2006, domingo a noite, apareceu um fogo cercando todo o acampamento, todo o pessoal do acampamento saiu na tentativa de apagar, mas encontrando muita dificuldade, avisaram aos bombeiros que também não poderão vir pois estavam apagando um outro incêndio que apareceu misteriosamente o que leva a suspeitar da intenção criminosa desses incêndio. Quando os bombeiros vieram chegar já era madrugada e sem ter material para apagar o fogo e o povo tentava salvar o gado da fazenda. Esta fazenda estava em negociação com o Incra desde janeiro. Suspeita-se que alguém tenha soltado o gado propositadamente para serem atingido pelo fogo e a culpa recair sobre os acampados para facilitar a remoção ou despejo do acampamento e assim o povo foi despejado e hoje se encontra ali na Barrinha. Tornamo-nos ali, amigos de todos aqueles companheiros, que em nome de todos os outros, os citamos aqui estes: Francisco e Maria, e filhos e netos, que são: Amaurílio Moisés (faz curso de técnica agrícola na Escola Paulo de Sousa em Martinópolis), Yara Cristina, Grezielle Regina (também faz o mesmo curso junto com o pai), Francielle Jasmim e Drielle Francisca. Tem também a família do filho mais velho de Francisco e Maria: Lucas Emanuel, sua família: Elaine Cristina, Jéssica Eliza e André Francisco. Alem, tinhas os companheiros: Lega o coordenador, Cicinato e Rosecley com seus filhos Daniel, Miriam e Daniele; o Cicinato nos deu um facão e uma lanterna, nos deixando equipados para acampar. Pela tarde fomos tentar tirar argila medicinal e pegar bambus para fazermos barracas. Recebemos sementes de guandu branco grande, fava branca, milho pipoca branco, maracujá melão, de seu Valério e dona Enerdina. Recebemos de dona Maria dos Santos, uma castanha de indaiaçu e milho canjica.

22/11/2006 quarta feira – dali partimos sentido Mirante do Paraná Panema, passamos em Indiana, e Regente Feijó, logo parou um carro pampa e perguntou para onde íamos e após nosso ouvir nos ofereceu carona ate Anhumas (este homem era de uma pastoral social e assistência aos migrantes). Chegando, agradecemos a carona e paramos na frente para pedir água, ali tinha um caminhão carregando de tabuas, depois de saber de nosso destino, o motorista falou que nos daria uma carona se fosse a noite para driblar a policia rodoviária. Pedimos-lhe informação sobre um acampamento à frente e esse nos informou, agradecemos a boa intenção e prosseguimos. Antes de atravessarmos toda a cidade, o dito caminhão parou e nos deu a carona até o acampamento Vitória II, em frente ao Assentamento Santo Antonio II, entrada de Nova Pátria, município de Presidente Bernardes. Ali no acampamento nos identificamos para os companheiros e companheiras, falamos das referências de nomes que nos foram dados pelos acampados de Martinópolis, que era Moura e Frangão depois de um bom tempo nos convidaram para entrar, e logo sugerimos uma conversa com os acampados sobre a atividade que fazemos. Tivemos uma conversa rápida, mas dando para expor basicamente nossos objetivos. Conhecemos a companheira Fátima, mulher guerreira e forte, que encara de cabeça erguida os estigmas impostos aos portadores do vírus HIV (ela e seu companheiro são portadores há 20 anos), embora não tenha se desenvolvido os sintomas da AIDS. Estes estão acampados e não dão sinais de fraqueza ou desânimo.

Notícias da Estrada (16/11 a 20/11)

Ciclovida escreveu, com um pouco de atraso :)

16/11/2006 quinta feira – juntamos no quintal da casa algumas sementes de jabuticaba e pitanga, nos despedimos do companheiro, e por um pequeno erro de percurso passamos pela vila Fátima Paulista, fazendo uma grande volta de 6 km por estradas de chão, retornamos quase ao mesmo lugar de partida e prosseguimos passando pelo trevo de Jales e fomos sair em Pontalinda, onde tivemos vontade de descansar, mas como achamos cedo ainda fomos até Auriflama, onde tivemos que nos adentrar 8 km fora da rota, e dormimos na rodoviária com permissão da vigilância.

17/11/2006 sexta feira – saímos cedo, e rompendo a estrada margeada por fazendas de cana e gado, avistamos uma pequena chácara e nos aproximamos para beber água, era de uma Nordestina que avia comprado com algumas dezenas de anos de trabalho duro, essa nos ofereceu café com macaxeira (mandioca) cozida, agradecemos e às 10 horas estávamos a beira do rio Tietê, fazendo comida, a 20 km de Araçatuba. Às 15 horas saímos, passamos em Araçatuba e fomos dormir em Bilac. Esta noite foi a primeira mais tensa de toda a viagem. É que na rodoviária, onde fomos dormir não tem vigilância, e quem é desconhecido ali se sente num inseguro esmo no deserto da cidade, e passamos ali à noite entre dormindo e acordado, temendo ser abordado, ora pela polícia, ora a galera da vida noturna.

18/11/2006 sábado – sem muita novidade, margeados pelas continuas fazendas, a diferença deu-se pelo fato de ser a estrada mais acidentalizada pela incidência de muitas ladeiras, chegamos em Rinópolis, onde encontramos um galpão, local onde os bóias-frias esperam os transportes para os canaviais, ali armamos a barraca e dormimos.

19/11/2006 domingo – enfrentando a mesma rotina de autos e baixos da estrada e canaviais chegamos à entrada da Vila Escócia, para onde resolvemos entrar para darmos uns telefonemas, mas como já estava anoitecendo decidimos por pernoitar ali, depois de tranqüilizados por algumas pessoas que ali moravam, de que era um lugar extremamente pacato. Quando tudo se “acalmara” armamos nossa barraca encostada à igreja católica. Mas logo percebemos um grupinho de vigilantes voluntários que curtia seus ópios de cada noite, na inércia da madrugada adentro. Percebemos que era inoportuna nossa presença ao ouvirmos os sussurros de insatisfação que iam se tornando cada vez mais freqüentes e ofensivos, chegando a nos xingar, então resolvemos nos aproximar do e esclarecer sobre nossa atividade.Um deles, o Danilo resolveu nos defender, tornando-se nosso escudo para qual se encaminhou à fúria dos outros. Percebendo nosso dilema, Danilo nos convidou para irmos com ele para a casa de seus pais onde lá podíamos dormir. Mas o problema, é que um dos xingadores era seu irmão e descordava da disponibilidade do Danilo. Mas o Danilo impunha-se decisivo, e insistentemente queria nos levar para sua casa sob os protestos do irmão.Em meio ao fogo cruzado entre irmãos, onde nenhum um dos dois sóbrios, nós tínhamos que tomarmos uma posição. Tentamos fazer com que o Danilo desistisse de nos levar para sua casa; dizíamos que não era fácil seus pais acolherem desconhecidos àquela hora da noite, mas fomos obrigado a concordar em ir com ele, pois ele desfazia nossos argumentos dizendo que seus pais eram bons e acolhedores. Dissemos então que íamos, mas voltaríamos para a praça. Acordo feito e aceito também pelo irmão rival. Realmente nos deparamos com duas pessoas maravilhosas que nos ofereceram o que estava em seu alcance... Bem não terminamos o bate papo o irmão rival chega já ameaçando botar para fora de sua casa, o que nos fez bater em retirada. O Danilo nos acompanhou até a praça onde dormiríamos, mas assim que ele voltou para sua casa resolvemos prosseguir estrada a fora pela madrugada, tivemos que sair para nos proteger e não sentindo segurança em pousar na beira da estrada percorremos 25 km rumo a Martinópolis. Uns 8 km antes de chegar a cidade já não agüentando o cansaço encontramos um grande espaço limpo que nos chamou atenção para armarmos a barraca e quando começamos desamarra-la percebemos pelo reflexo de um carro que tratava-se da entrada de um latifúndio, mais uma vez nos retiramos por precaução e temendo os cachorros que já avisava a presença de estranhos. Fomos parar na entrada da cidade de Martinópolis onde encontramos uma guarita de ônibus e dessa vez não armamos mais barraca, dormimos ali mesmo no banco já eram 3 da manhã.

20/11/2006 segunda feira – acordamos com sol alto, procurávamos um assentamento, mas nos informara que este estava a uns 10 ou 15 km fora da nossa rota, e que mais perto estava um acampamento, sendo para onde nos dirigíamos após darmos uma volta na cidade para resolvermos algumas questões tais como a revelação das fotos, quando tivemos a grande decepção: pois os filmes tinham sido mal colocados na máquina, não dando certo nenhuma foto desde Brasília. Ali colocamos outro filme, e agora esperamos que não estejam errados ou a máquina não dê problemas. Chegando no acampamento Barrinha nos identificamos e ali fomos acolhidos pelos companheiros acampados.Ficamos no barraco com Francisco e família e ali fomos tomando da realidade daqueles companheiros, de anos afio vivendo em barracos sob o descaso dos que governam em conivência com o latifúndio. Durante a tarde foi articulada uma reunião com os acampados onde partilhamos informes e preocupações cantamos musicas de animação da luta, quase todo o acampamento estava presente e animados se comprometeram de ver o que havia de sementes para partilhar no dia seguinte.

Notícias da Estrada (12/11 a 15/11)

Ciclovida escreveu, um pouco atrasado:

12/11/2006 domingo – visitamos mais famílias e meio dia fomos para outra parte do assentamento, onde estava acontecendo um torneio de futebol, fomos de carona no gol de Jose Pereira, sua companheira Balduina, sua neta Anita Geovana e Josefa a companheira do Carlito. Lá encontramos mais pessoas entre a secretaria filha de Balduina ao final retornamos para a sede, casa do Carlito, que nos mostrou todo o processo de desapropriação daquela fazenda e o quanto tiveram que ser ágeis para não perder a terra. Denunciou também que houve incidências de morte de três companheiros na época do acampamento por contaminação pela água, por não poder usar água potável que estava na fazenda. Após tantas manifestações carinhosas daquele pessoal, que inclusive nos ofertaram fotos da resistência deles para levarmos como lembranças.fomos dormir já com saudades porque dia seguinte partiremos.

13/11/2006 segunda feira – Despedimo-nos de todos e saímos de carona no carro que leva o leite e descemos na casa de seu Tinoco e dona Maria, estávamos no outro assentamento a 20 quilômetros de Iturama - MG. Passamos o dia com a família, trocamos algumas sementes, conhecemos Dinamarquês (filha do casal) que nos mostrou “rodas de água” (essas rodas de é que faz bombeamento para abastecer as casa e irrigação). Observamos que atividade principal e também a pecuária, e a noite fomos presenteados com uma noitada de viola caipira oferecida por seu Tinoco.

14/11/2006 terça feira – saímos para fazer algumas visitas, percebemos as casas, um tanto isoladas por conta do loteamento da terra, cada casa se distancia da estrada imitando fazendas, onde o gado forma a principal povoação, andando sobre o tapete de capim, chegando vezes, uma assentado possuir ate mais de 100 cabeças, que para mantê-las tem que alugar o lotes de outros companheiros de assentamento, e outros que mantêm-se do aluguel de seus lotes. Fomos ate a noite em visitas, por fim paramos no lote de Conceição onde fomos convidados para esperar o jantar, nessa recebemos algumas sementes de pimentas, e nos informou que metade dos assentados já havia vendido seus lotes. Eles falaram da complicação que dá a venda de lotes: os que compram são pessoas descompromissadas com a causa dos sem terra, reproduzindo uma desigualdade social e causando o enfraquecimento da luta. Saímos de lá as 10 horas da noite temendo passar por uma pequena reserva onde se comentavam sobre aparecimentos de onças; atravessamos com a solidariedade de um companheiro em seu carro, que alumiava nossas bicicletas ate o final da travessia, e assim chegamos na casa de seu Tinoco para dormir.

15/11/2006 quarta feira – Acordamos cedo, arrumamos as cargas nas bicicletas e saímos. Lanchamos água de coco já em Iturama na barraca de um baiano, prosseguimos em frente, paramos a 2 km nuns restos de barracos que já havia sido antes acampamentos de sem terra, e que agora é moradia de sem tetos, que ate sugeriram que morássemos num desses, mas explicamos nosso projeto e que estávamos de passagem. Prosseguindo, paramos no posto de gasolina onde ficava a entrada de acesso ao estado de São Paulo, que já estávamos a 12 km da divisa MG/ SP. Há 2 km do posto fiscal da divisa paramos para tomar água numa casa na beira da pista de baixo de um mangueiral, encontramos uma jovem mulher, cujo marido trabalhava plantando vassoura e o mesmo as montavam para seu patrão. Ali chupamos mangas, bebemos água e conversamos com aquela companheira, que nos falou que se chama Luciana, que era casada pela segunda vez, que seu primeiro companheiro morrera em conseqüência de um raio de relâmpago em Mato Grosso, num acampamento de carvoaria, pois ele fazia carvão para um patrão, que ele havia chegado nessa região com 17 anos e ainda não tinha feito dinheiro para visitar a família, que sempre prometia para a companheira que a levaria para conhecer sua família no Nordeste, que ele era do Ceará e se chamava Antonio Ferreira Serafim, filho de Francisco Ferreira Campos e Ana Serafim Campos, nascido em 21 de janeiro de 1978, na localidade de Trussu, entre Acopiara, Catarina e Iguatu que ela havia tentado entrar em contato com a família e não tinha conseguido. Ele morreu em Cassilândia, Mato Grosso do Sul, enterrado em 20 de abril de 2005, na cidade de Chapadão do Sul, há 100 km de Cassilândia. Hoje a Luciana trabalha com seu segundo companheiro para o “Toinho”, seu patrão atual. Logo na frente encontramos a ponte do Rio Grande da mencionada divisa. Aqui estamos, há um passo à frente: São Paulo, e há um passo atrás: Minas Gerais. Nesse momento nos despertamos para bater umas fotos. Nossas bicicletas carregadas, nos fazia parecer com vendedores de peixe. Foi assim que uma senhora, mulher de um médico que estava em família a admirar aquelas paisagens. Essa companheira convidou seu companheiro para se aproximar dos peixeiros (que seríamos nós), mas ao se aproximarem de nós, viram que estávamos batendo fotos, logo lhe pairou o dilema: “nunca se viu vendedor de peixe batendo fotos!” Aproximaram-se, mas para se oferecerem para nos ajudar na “tiração” de nossas próprias fotos. Depois que se certificaram do que estávamos fazendo, o companheiro que se chamava Márcio, que era médico, que estava dando passeio por ali com a família: Leily sua comp., Ricardo seu cunhado, a filha Izabelle e o filho Cesare. Márcio disse que estávamos fazendo algo que ele sempre sonhava fazer, e perguntou se podia ajudar, respondemos que ficasse à vontade, ele então nos deu R$ 50,00 e sua camisa de torcedor do Juventus da Itália. Nos encheu de felicitações e foi embora, e nós também. Às 16 horas estávamos chegando na entrada de Turmalina – SP, onde nos com duas fileiras de mangueiral ás duas margens da estrada que dá acesso a pequena cidade, paramos ali observando os 3 km de mangas pelo chão que a margeava, e como não havíamos ainda almoçado, largamos das bicicletas e enchemos a barriga de manga, chamando a atenção de tantos quantos passassem por ali, logo seguimos para essa cidade e ao chegarmos não deixávamos de causar espantos àquela população, fomos a internet, depois que checamos e-mails ali mesmo nos informamos da existência de galpão de feira, que podíamos armar a barraca e dormir, sugeriram que antes comunicássemos a policia local, o que fizemos, e essa nos autorizou dormir no dito galpão, falando também que já havia recebido dois telefonemas dando conta da existência de dois estranhos na cidade. Após informar da nossa atividade e de onde vínhamos de bicicletas, o delegado ainda admirado nos pediu um favor: que quando voltássemos a Fortaleza tentasse localizar seu pai biológico que estava com 80 anos de idade e ele havia descoberto que o mesmo (seu pai) residia naquela cidade (Fortaleza). Ainda saímos para procurar um cartão telefônico para nos comunicarmos com nossos filhos, quando encontramos alguns jovens numa mesa de cerveja, e como nos observavam resolvemos nos aproximar e explicar o que fazíamos. Depois do dialogo, um deles ofereceu a chave de sua casa para dormirmos nela, que estava apenas com seus pertences, mas ele não dormia lá, o que aceitamos prontamente, ate porque tinha banheiro e a gente estava precisando.

Notícias da Estrada (06/11 a 11/11)

Ciclovida escreveu, um tanto com atraso :)

06/11/2006 segunda feira –levantamos cedo e fomos para a Prata onde encontramos Wilson na Lan House, que nos ajudaria a por em dias o relatório do Ciclovida, que depois de 4 horas de digitação perdemos com uma pane no computador.

Dia 07/11/2006 – terça-feira – Fomos esperar Wilson retirar um dinheiro que a Bartira havia enviado pela sua conta corrente das contribuições resultadas da campanha do CMI. Feito isso, almoçamos na rodoviária (comida que fizemos no STR) conversamos mais com Wilson e partimos as 16 horas de bicicletas rumo a Campina Verde. No primeiro posto de gasolina que encontramos na estrada pedimos espaço para armar a barraca, como não permitiram, armamos numa parada de ônibus à 500 metros.

08/11/2006 – quarta-feira – Acordamos cedinho, Ivânia, meio adoentada, seguimos para Campina Verde, Paramos ao meio-dia na entrada de Monjolinho, há 20km de Campina Verde, Passamos a hora quente e seguimos, chegamos no Acampamento Terra Santa às 17 horas, onde encontramos Arivaldo e Lene. Nos explicaram que aquele local, é de costume montar-se acampamentos e no momento estava com pouquíssimas pessoas, embora tivessem bastantes barracas, “as pessoas querem ganhar terra, mas não querem acampar”, observam.
Falamos de nossa viagem, e seus objetivos e ali nos acolheram aquela noite. Conversamos bastante com Arivaldo e Lene, uma valente baiana e um companheiro (seu José), riograndense do norte, pessoas muito acolhedoras, otimistas e alegres, com quem partilhamos idéias e preocupações, e falamos como e onde dormimos na noite anterior, e eles falaram que havíamos dormido na boca da onça. Contaram-nos a história de uma criança que o pai deixou naquelas proximidades esperando o transporte escolar, e só meio dia é que se veio dar conta que a onça a havia comido. O pai saiu no rastro de sangue da filha, encontrando a onça, a matou e ainda hoje está preso há oito meses, enquadrado na lei de crime ambiental, contam. Nos falaram de outro exemplo, onde outra criança foi morta por um onça, nas mesmas proximidades e o pai também a matou, este não foi preso porque a população não deixou, mas está respondendo em liberdade pelo mesmo crime. O que nos faz entender que isto acontece pelo fato, de não existir mais víveres para os animais silvestres, e nem mais florestas, e com tantas pistas que se cruzam, estes animais não teme mais os barulhos de carro, e arriscam a própria vida, porque tem que buscar alimentação seja lá o que e onde for. O que muito encontramos nas pistas são animais mortos. As auto-estradas cortam regiões inteiras, deparando as comunidades biodiversa, cujos membros estão condenados à morte na primeira ultrapassagem, e como atua ali a lei de proteção animal e defesa ambiental?

09/11/2006 quinta feira – Acordamos no acampamento trocamos algumas variedades de sementes, eles nos repassaram vários tipos de sementes de pimenta, quiabo, feijão, bucha de metro, mamão (carne vermelha e carne amarela) abóboras diversas e ipê roxo... Mas reclamaram a falta de pimenta cumari. Estávamos de saída para visitar um assentamento há uns 12 quilômetros dali, quando chegaram dois homens se dizendo ser da imprensa local, e nos entrevistaram, mostrando-se bastante curiosos... Saímos após o almoço e andamos 12 quilômetros de subidas e decidas enfrentando areal. Quando íamos vimos uma placa identificando um lote e contendo na placa que a principal atividade agrícola pimenta cumari. Depois que percorremos o assentamento, retornamos já ao anoitecer e passamos por reservas florestais do assentamento que ainda se mantinha bastante densa que nos fez arrepiar os cabelos e apressar o passo com medo das onças, empurrando as bicicletas por estar escuro com muitas subidas e areia. Ao passarmos pelo lote das pimentas cumari, pedimos umas mudas e sementes que levamos aos companheiros do acampamento, batendo a porta do barraco de Arivaldo e Lene a 11 horas da noite, repassamo-los as mudas de pimentas e ali dormimos mais uma noite.

10/11/2006 sexta feira – saímos de Campina Verde atravessando estradas de chão e o deserto do latifúndio rumo a Iturama, nesse ínterim encontramos um acampamento onde tomamos água, café, e tivemos boas conversas com o pessoal alem de escutar uma sanfona bem tocada ao estilo sulista, 3 quilômetros a frente encontramos o assentamento Peroba Sanharão. Dirigimo-nos ao mesmo e nos informaram onde morava o presidente. Lá encontramos o Carlito, sua companheira a Josefa, sua mãe dona Tereza, entre outros familiares e companheiros. Falamos da atividade do ciclovidas fomos acolhidos por todos aquele pessoal simples e alegre e a noite trocamos idéias e cantamos nossas musicas e ouvimos musicas locais cantadas por eles. Ficamos na casa do Carlito e família.

11/11/2006 sábado – visitamos varias famílias e nos informamos mais daquele assentamento.
Área: 3.974 ha; 123 assentados; atividade principal é a pecuária; 2 poços artesianos mais de 100 pequenas represas; nascentes diversas, além de duas rodas de água. O leite, principal produto, é vendido para industria de laticínio. À noite trocamos experiências, cantamos, recebemos o carinho das crianças do assentamento materializado nesta poesia/canto que eles no ofereceram:
EU VIM DE LONGE PARA ENCONTRAR O MEU CAMINHO
TINHA UM SORRISO, E UM SORRISO AINDA VALIA
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI
EU VIM DEPRESSA, MAS NÃO VIM DE CAMINHÃO;
EU VIM DE JATO NO ASFALTO DESSE CHÃO
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI.
EU VIM POR AQUILO QUE NÃO SE VER
VIM NU, DESCALÇO SEM DINHEIRO E NA PIOR...
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI!
EU TIVE AJUDA DE QUEM VOCÊ NÃO ACREDITA
TIVE A ESPERANÇA DE CHEGAR ATÉ AQUI
VIM CAMINHANDO PARA ESTÁ FELIZ AQUI
(crianças do Assentamento Peroba Sanharão, Campina Verde, Minas Gerais) após tudo isto, fomos todos dormir.

Notícias da Estrada (02/11 a 05/11)

Ciclovida escreveu, meio atrasado:

02/11/2006 quinta feira – saímos para o assentamento Nova Cachoeirinha as 14 horas e de ônibus por que continuava chovendo.Chegamos no assentamento e localizamos Wilson um dos coordenadores que nos recebeu muito bem, nos apresentando a outras famílias como João e a Branca entre outras. Trocamos muitas com Wilson que nos falou de seus projetos a serem implantados após o loteamento da terra que já esperam a 2 anos apesar dê serem imitidos na posse.Aquelas famílias vivem ainda sob a lona a espera da liberação de recursos e o loteamento.Um dos projetos do Wilson é uma comunidade alternativa fundamentada em três princípios filosóficos: vegetarianismo, espiritualismo e anarquismo, onde se faria também recuperação de menores.Wilson espera que pessoas interessem-se por essa causa e forme parceria com ele. E após cantarmos algumas canções de movimentos fomos dormir em seu pequeno barraco.

03/11/2006 sexta feira – passamos o dia em bate-papo sobre aquela realidade.

04/11/2006 sábado – passamos o dia na casa de Branca e João Batista e conhecemos familiares seus que vieram de Uberlândia para passar o fim de semana ali.

05/11/2006 domingo – Participamos de uma assembléia ordinária onde falaram de novas promessas para o assentamento, mas sem merecer muitos créditos da parte daquela comunidade. E nos foi permitido expor os objetivos de nossa caminhada. A tarde encontramos dona Maria (uma cigana assentada) que nos deu informações interessantes como mortes que aconteceram no assentamento que daria para responsabilizar o governo desde de pessoas que morreram com problemas estomacais que podem serem decorrência de anos sobre a lona quente e ate acidentadas por estar na beira do asfalto morando nos barracos.A dona Maria também falou de produção agrícola que antes existia mais fartura, mas que acabou a partir da invenção das maquinas quando a terra deixou de fornecer os alimentos.Ela falou que o beneficiamento dos grãos era artesanal o arroz, por exemplo, era polido com monjolo aproveitando correnteza de água (ela nos foi mostrar um desativado).Fomos visitar os barracos dos ciganos assentados e conhecemos: Armando, Vanderlei ,Dolores , Maria Alice,Irene,Nilza , Dienes (14 anos) Jane (14 anos) foi lá que fizeram a denuncia dos três ciganos que morreram: Adimuro com diarréia e vomito em 17/04/2005 Eurípides Machado em 24/09/2004 e Valdenir Dias da Silva em 18/05/2005 com pneumonia filho de dona Derversina Dias da Silva. Nesse assentamento existem 11 famílias ciganas e apenas 9 assentadas. Nesse dia almoçamos com os ciganos, findamos a tarde brincando ciranda com as crianças ciganas.

Notícias da Estrada (27/10 a 01/11)

Umas notícias "retrô" que o Ciclovida escreveu:

27/10/2006 sexta feira- decidimos pegar o ônibus para atravessar o deserto do latifúndio e ultrapassamos um trecho de 70 quilômetros e chegamos na ultima cidade de Goiás, Itumbiara onde fizemos checagem de e-mail , pesemos cartas no correio e fizemos almoço na beira do rio que divide Minas e Goiás, e em seguida fomos para o acampamento Celso Furtado a 5 quilometro voltando para Buriti Alegre onde encontramos varias pessoas entre elas Adão e Baiana que nos acolheram depois que falamos nosso objetivos aprendemos muito de estradas com seu Adão de 84 anos de idade que já fora caminhoneiro por 50 anos.

28/10/2006 sabado - fomos a cidade de carona com seu Adão e Baiana onde conhecemos Ângela filha do casal que trabalha no sindicato dos funcionários da saúda de Itumbiara,e conhecemos Salete presidente do STR que nos contou a emocionante historia da construção daquele sindicato:que veio um grupo de trabalhadores da Bahia no objetivo de fundar o sindicato e tiveram que se infiltrar como bóia frias para entrar em contato com os trabalhadores locais e convencê-los dessa necessidade,passando por duras provas de represarias por parte dos patrões.Após isso fizemos consertos nas bicicletas depois o Inácio passou e-mail para Margarida sua filha para ver como estava a espera do bebê que seria domingo 29/10/06 ultimo dia de prazo.

29/10/2006 domingo - dia da eleição segundo turno para presidente fomos com Adão e Baiana para a cidade onde justificamos o voto.

30/10/2006 segunda feira –passamos a manhã visitando as famílias do acampamento e a tarde fomos verificar e-mail e nos deparemos com a triste noticia do assassinato de Brad Will em Oaxaca no México ao dar cobertura de mídia independente a luta de resistência popular Indígena naquele país.

31/10/2006 terça feira-lavamos roupas, arrancamos argila na beira do rio, ribeirão de Santa Maria. E a noite convençamos sobre sementes trocamos Idea sobre as realidades e diferenças culturais observamos que a uma cultura campesina ainda bem acentuada nesses habitantes,com costumes de fabricar produtos caseiros tais como,sabão ,gorduras ,etc.evitando comprar de tudo.

01/11/2006 quarta feira – despedimos da comunidade e partimos chegando em Centralina - MG, a 25 quilômetro pegamos uma carona de caminhão que nos deixou na cidade de Prata-MG, dirigimos para o STR que nos foi permitido pelo presidente daquele sindicato,Jose Heleno fazer o almoço onde nos informamos da existência de um assentamento rural em Nova Cachoeirinha no rumo de Uberlândia não dando para ir no mesmo dia por conta da chuva e já estava anoitecendo fomos checar e-mail e tivemos a triste noticia da morte do bebê de Margarida antes de nascer por negligência medica. Telefonamos para o Diassis avisando que estávamos enviando as sementes pelo pai do Sergio (de Brasília). Colocamos na internet uma carta de solidariedade de Oaxaca e apos isso procuramos a rodoviária onde armamos a barraca onde fomos dormir com a permissão do vigia que e pai do presidente do sindicato. Cenas intrigantes, nós presenciamos durante a noite na rodoviária: os chamados trecheiros que também partilhavam aquele espaço conosco, amargavam suas realidades de verdadeiros cães, quase que literalmente falando, ora eram espancados pelo vigia e até pelos bebuns que tinham uma situação mais privilegiada perante esse (vigia); ora comiam carnes cruas que conseguiam nos açougues, jogadas ao chão, que disputavam entre si enquanto os “normais” assistiam estarrecidas, as degradantes cenas.

Notícias da Estrada (22/10 a 26/10)

Ciclovida escreveu, meio retrô:

Dia 22/10 – Domingo – segundo dia de programação da rádio comunitária. Fizemos programa com Victor, companheiro estudioso da macrobiótica sobre: Alimentação, Saúde e Nova Relação com a terra. Lá encontramos também o Vinícius, que por sinal usa muito a bicicleta, e faz retratos das pessoas na hora H, isto é seu trabalho. Estávamos também com o Léo do CMI. Depois fomos para a casa da Pricila e encontramos também o Igor (o animal), encontramos também a Pilar. Conhecemos Jerfeson, um companheiro músico que é de Fortaleza, Ceará, que está morando em Goiânia, e que curte também uma bicicleta.

23/10/2006 – Segunda-feira - Convivemos com esses compas na casa de pricila

24/11/2006 – Terça-feira – Este foi o ultimo dia em Goiânia. Inácio passou quase toda a manhã separando sementes para serem levadas em parte para o Nordeste. Estas sementes serão levadas por Bartira, que vai voltar até Brasília, é que ela resolveu ficar um mês na casa do Santxier, na Reserva Sagrada dos Pajés, na asa norte... Antes do almoço o Léo e Jerfeson foram conosco para a feira do troca ,onde Bartira e Ivânia trocaram suas bicicletas e fizemos de freios .voltamos para a Pricila e em seguida fomos deixar Bartira na rodoviária ,compramos a passagem mais deu uma confusão por que o ônibus não queria levar sua bicicleta por menos de 20reais a mais da viagem [30reais]e pedimos a devolução do dinheiro e ela partiu em um carro pequeno pagando só a passagem .logo mais Inácio Ivânia partiram dando procedimento a atividade da estrada e saímos as 17 horas de Goiânia rumo ao triangulo mineiro chegamos a noite em Aparecida de Goiás pedimos para pernoita no auto posto Aparecidão da rede marajó,que não permitiram que pernoitamos no cetro da cidade na área de bar noite de bastante chuva.

25/10/2006, quarta feira -saímos de aparecida passamos Hidrolandia terra das jabuticabas, lá encontramos a Maris e seu filho vendendo pequis e na beira da estrada a frente encontramos Raimundo vendendo jabuticabas e compramos 2 litros por 5 reais seguimos a rodovia Br 156 com dificuldades de transitar por estar em obras e fomos dormir 20 quilometro após a cidade de Professor Jamil na área de proteção do bar de seu Jose,onde fizemos comida que dividimos com um trecheiro que conhecemos na estrada.

26/10/2006 quinta feira -partimos nas mesmas dificuldades da estrada horas sem acostamento horas sem asfalto e chegamos em Rancho Alegre e pedimos para fazer comida no pátio do posto rodoviário federal. A essa altura a atividade das sementes estava triste por que apenas fazendas hotéis e posto de gasolina povoavam a região. Chegamos em Morrinhos cidade encima da serra, sentimos ate calafrios ao percebermos que era a morada dos latifundiários com tudo fomos acolhidos por um posto de gasolina que nos cedeu banho e local para pernoitarmos.

Notícias da Estrada (17/10 a 21/10)

Umas notícias "retrô" que o Ciclovida escreveu:

Terça-feira, dia 17 de outubro de 2006, chegamos em Goiânia pela noite. Chegamos, a partir Abadiânia, com as bicicletas no gavetão do ônibus, para nos apressar, por conta de que, o companheiro Diego, que vinha documentando com uma filmadora, só teria até quarta feira para estar conosco; por conta de expiração do seu tempo de folga no trabalho, teria que retornar à Brasília, e queríamos muito que chegássemos juntos à Goiânia, que assim nos apresentaria aos compas daquela Capital. Logo à noite encontramos com vários companheiros que já nos aguardavam. Passamos até meia noite conversando, nos inteirando reciprocamente e tomando pé na realidade. Fomos dormir na casa de Tiago e Eliza, do movimento libertário de Goiás, ligados a viabilização da comunicação.

Dia 18/10 – quarta-feira - foi mais de descanso e conversas descontraídas e de informações recíprocas.

Dia 19/10 – quinta-feira - montamos as bicicletas que estavam desmontadas desde que trouxemos há dois dias no ônibus, de Abadiânia a Goiânia, depois saímos nas tentativas de trocá-las nas bicicletarias, Ivânia e Bartira pretendiam outras que se adaptassem melhor aos seus gostos. Passamos o dia nessa tentativa, não deu certo fazer nenhuma troca, porque ofereceram muito pouco em valor pelas bicicletas, “nem mesmo o nosso apelo ao valor histórico dessas bicicletas, por terem resistido tanto, no percurso, Fortaleza/Goiânia, sensibilizava os donos de bicicletarias e negociadores”. Pela noite fomos para uma reunião no espaço da Igreja católica para ´programarmos o dia da democratização da comunicação`, e ao retornarmos, fomos para o apartamento de Pricila para dormir, e demos de cara com o porteiro, que, por ordens superiores não queria aceitar nossa entrada com as bicicletas, o que só seria permitido aos moradores do prédio. Não baixando a cabeça e falando mais alto, ela (Pricila) fez valer seu direito de ser solidária. É nessa circunstância que ficamos em seu apartamento por alguns dias com nossas três bicicletas.

Dia 20/10/2006 (sexta-feira) – Fomos para a UFG (Universidade Federal de Goiás), Onde teria dois sarais de poesia: um pela manhã e outro pela tarde, e teria uma reunião para debater a democratização da comunicação. Planejamento cumprido no transcorrer do dia, não acontecendo apenas o saral da manhã. Fomos (Ivânia, Bartira e Inácio) para UFG e voltamos para o apartamento de Pricila de bicicleta.

Dia 21/102006 (sábado) foi o primeiro dia da programação da rádio, que fizemos em conexão com as rádios comunitárias de Brasília. Nó participamos desta programação juntos com vários companheiros e coletivos, abordamos vários temas como: Passe Livre, Democracia, Eleições, Naturalismo e Saúde; catamos músicas variadas dos movimentos, etc. Foi um dia de encontro com muita gente lutadora do movimento libertário.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Notícias da Estrada (05/12)

Ciclovida escreveu:

Nós chegamos ontem numa experiêcia do MST, é uma escola técnica em parceria com a UFPR (Universidade Fed. do Paraná) com prioridade para Agroecologia. Para cá vem muitos filhos de assentados de partes do Brasil, principalmente do Paraná. Encontramos até um paraibano aqui, de Sousa, é o Denilson. Vamos ficar aqui até amanhã. Estamos indo para Cascavel, há uns 400 km rumo a Argentina, lá veremos outras experiências interessantes, principalmente a escola agroecológica, na fazenda que era da Agroindústria Syngenta, esta fica em São Miguel do Iguaçu. Até agora vamos vendo duas experiências mais coletivas, que foi a Copavi, de onde saimos ontem e esta que estamos hoje. E o resto eram todas individuais. Visitamos toda a região de Pontal do Paranapanema e lá também predominam os lotes individuais com a predominância da criação de gado. Esta realidade vem desde Minas Gerais.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Notícias da Estrada (03/12)

Ciclovida me escreveu:

Estamos há uns 500 km de Foz (do Iguaçu). Estamos andando devagar por conta de muitas experiêcias que estamos visitando. Conversamos com uma porrada de pessoas envolvidas no racha do Pontal de Paranapanema. Visitamos o assentamento de Zé Rainha, O Assentamento "Che Guevara", e alguns acampamentos organizado por ele. Falamos com o Zé e com a Diolinda. (...) Agora achamos que vamos levar uns 10 dias para chegar em Foz de Iguaçu. Hoje estamos, desde sexta-feira, numa das experiências bem mais sucedidas do MST. O município é de Paranacity, no estado do Paraná, e devemos visitar bem mais que estão no rumo que seguimos. Dizem que há escolas e cursos diversos de agroecologia, quando chegarmos lá, informaremos mais. Queríamos que você colocasse informações sobre nós, é que agora não estamos conseguindo por o relatório em dias. Com a Bartira era mais fácil. Mas ela ainda está em Brasília.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Notícias da Estrada (24/11)

Ciclovida escreveu:

24/11

Chegamos hoje na cidade do Mirante do Paranapanema, região reducionista do MST e Zé Rainha e de muitos assentamentos e ocupações de terra. Estamos perto do Paraná, devemos está chegando ainda esta semana em Teodoro Sampaio. O caminho se fez totalmente diferente do planejado. Tem sido muito bom. Quanto as sementes ainda faltam algumas espécies, mas que segundo algumas pessoas nós vamos encontrar no Pontal de Paranapanema, onde já estamos. Estamos visitando muitos assentamentos e acampamentos. Temos encontrado sementes com mais frequência nos acampamentos.

Deveríamos estar com o site em dia, mas aconteceu que nós passamos cinco horas no computador e quando estávamos concluindo, deu uma pane, então perdemos tudo. Estamos tentando recuperar a história, depois atualizaremos. (...) Devemos muito logo chegarmos em Foz do Iguaçu. Dia 10 (dezembro) deste devemos estar em Santa Catarina para um encontro.

(...)

Um abraço de Ivânia e Inácio.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Notícias da Estrada (28/10, 01/11 e 18/11)

Ciclovida Escreveu:

28/10
Olha cara já estamos Itumbiara, divisa de Goiás com Minas Gerais. Desde Ontem chegamos aqui, estamos num acampamento de s/terra e devemos ficar até depois de amanhã. Nos comunicamos, tá?

01/11

Estamos agora em Prata, uma codide do Triângulo mineiro, Vamos amanhã para um assentamento rural. (...) Abraços.

18/11

Oi Philipe! (...) Já estamos na metade do estado de São paulo, Já estamos em Araçatuba. Não fomos por São josé do Rio preto. Estamos há uns 100 km de Presidente Prudente Prudente, que já fica relativamente perto de Paraná. A rota foi mudada em função da nossa preferência de passar nos assentamento rurais. Vamos tentar passar por regiões de bastante assentamentos, que é o pontal de Paranápanema onde tem muitas experiências. Olha, a nossa falta com a página a um erro que cometemos no computador. Depois de 5 horas que um companheiro nos ajudou digitando, o computador deu uma pane e nós perdemos tudo. Vamos tentar mais na frente. Mas você pode colocar na página onde estamos. Abraços de Inãcio e Ivãnia.

Notícias da Estrada - direto do e-mail (26/10)

Ciclovida escreveu:

Oi cara! Chegamos agora às 5 da tarde na cidade de Morrinhos - Go. Há uns 150 km de Goiânia. Saimos de Goiânia terça-feira às 4 e meia da tarde. Esta região é foda, é só fazenda, hotéis e postos de gasolina. A disputa é grande com as carretas, e o pior é que a estrada está sendo duplicada e a construção compromete os acostamentos. daqui estamos saindo para Itubiara, limites de MG com Goiás. De lá devemos está indo para São José do Rio Preto- SP, SAindo em Marília e Londrina, de lá vamos estudar os casos que se apresentarem. Olha, dizem que pelas regiões mais agitadas. caso São Paulo, Curitiba, é fácil serem tomedas até as bicicletas pelas barreiras policiais, pois alí está feita só para veículos automotores. Mas no geral a viagem vai se fazendo viajando. Sempre tem pessoas que dizem por onde é melhor, e assim se vai fazendo.

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Notícias da Estrada 08

Narrado pelo Ciclovida:

Olá companheiros! Quantas saudades!

Para nós, vocês são construtores deste projeto, mesmo não estando na estrada de bicicleta conosco, já vivem na estrada dos movimentos sociais em busca de uma sociedade libertária. Esta nossa atitude é apenas uma maneira, isto é, uma forma de buscar a transformação social.

Estamos na estrada resgatando as sementes de revolução! Seja bem vindo conosco, você e todos que estão na construção da estrada da vida destruindo a estrada da morte! Esta que não será uma obra de poucos, mas de milhões por esse imenso mundão de tantas estradas e de tantos caminhantes. Esta caminhada não tem sido fácil, é graças a força de tant@s que estamos conseguindo superar muitas forças contrárias.

O exemplo dessas dificuldades é o que tem atravessado a companheira Ivânia. Houve investimentos pesados negativamente por parte de seus familiares para ela desistir da viagem, mas como ela está segura do que quer, voltaram-se para os seus filhos (Camilo e Sandino), as inversões afim de chantageá-la.

Os meninos que são acostumados pegar estrada conosco (tantas vezes cumprindo trajetos de bicicleta para: Sertão central – 150km; Barra do Leme – 70km; Acarape – 50km; Rio Grande do Norte – 300km e etc.), hoje rechaçam tenazmente a idéia, decidindo-se não seguir conosco, rumo a Argentina nessa campanha de resgate das sementes crioulas.

Em reunião recente tiramos um encaminhamento consensual de que não é possível andar com alguém contra sua vontade. Já vamos com muito peso, com mais uma carga de constrangimento e desânimo torna-se insuportável e o nosso ciclo pode não resistir.

Difícil também ficou para nossa companheira, que procura encontrar meios para conciliar sua ida com uma resolução satisfatória para a questão dos filhos. Esta questão reduzia-se anteriormente ao problema do tratamento de Sandino, que diante deste, todos compreendemos. Depois de resolvido, apareceu um outro, o da desistência dos mesmos de pegar a estrada de bicicleta.

Dia 24 de maio de 2006, era ultimo prazo estabelecido para a viagem, como Ivânia não podia partir naquele dia, em função de questões relativas aos filhos: uma prótese na arcada dentária do Sandino, ademais, ele queria concluir o semestre letivo, nesse caso só viajaria em julho, e o Camilo começou demonstrar uma certa indisposição, mas tudo levava a crê que fosse pelo fato de não está bem recuperado de uma virose.

Assim mesmo resolvemos partir, apenas três pessoas: Bartira, Bruno e Inácio. Ivânia e Camilo acompanhariam o restante do grupo com uma semana depois, indo de ônibus, levando as bicicletas e voltaria à Fortaleza para buscar o Sandino só no final do semestre. Com esse encaminhamento partimos, como consta no relatório de viagem. Ivânia realmente foi de ônibus com o Camilo até a cidade de Senador Pompeu, à mais de 200km, levando as “bikes”, aonde já se encontravam os três e de onde se daria continuidade a atividade do Ciclovida na Estrada.

Tivemos que nos demorar em Senador Pompeu por uma razão justificável. Razão esta decorrente da ida de Bartira e Bruno que foram de Senador Pompeu até Natal, Rio Grande do Norte, para participar de uma discussão sobre questão de gênero. Quanto a questão da Ivânia e das crianças, ocorreu que: quando a Bartira voltou de Natal, o Camilo estava numa consternação depressiva, sem querer falar com ninguém e sem querer opinar sobre nada. Procuramos saber e não foi difícil entender que dizia respeito a viagem, que já estava em contagem regressiva para a primeira pedalada na estrada, isto para ele, porque para outras pessoas já haviam começado há dias.

O companheiro Danúbio que nos acompanhara desde Quixadá à Senador Pompeu, presenciou nossos momentos de angústia e de impotência para resolvermos sozinhos o problema, e ao voltar para Quixadá comunicou para Joana e o André que se prontificaram a ir até Senador Pompeu para discutir o assunto conosco, o que fizeram, indo dia 14 de maio e a noite nos reunimos. Ao final percebemos o quanto ele (Camilo) estava rejeitando a idéia da viagem, tiramos outro encaminhamento de convidá-lo para uma conversa com todos nós, para discutirmos com ele mesmo a solução para o seu próprio caso.

A conclusão é que, a decisão do mesmo é a de ficar. Mas onde? A Joana e o André prontificaram-se a ficar com ele. Simpática proposta, inclusive para ele que aceita ficar com ela (joana), o Felipe e a Daiana, que moram em Quixadá, com a visita constante do André que mora em Fortaleza.

No caso da Ivânia, a mesma teve que voltar para Fortaleza com o Camilo para encaminhar sua volta para a Joana. Ao chegar em Fortaleza se deparou com outra questão: Sandino também não estava mais disposto a viajar de bicicleta. Bombardeada por conselhos e apelações dos familiares e vizinhos, e até ameaças de acionar conselhos tutelares, posicionando-se contra a ida dos meninos e dela própria.

Ivânia, sentindo-se impotente para resolver sozinha esse dilema, pediu para o companheiro Inácio voltar (já tinha chegado na Paraíba com a Bartira) para lhe dar uma força nestes obstáculos rumo a uma resolução, podendo ser até mesmo, a não continuidade dela na viagem, o que veio preocupar o restante do grupo.

O Inácio voltou, chegando dia 24 de junho, com um mês exato de viagem e a Bartira foi ao Crato, onde fica com familiares enquanto se resolve as questões pedentes e o Bruno continua em Fortaleza resolvendo também seus problemas pessoais. Mais um caso a resolver, o do Sandino.

Conversamos com o mesmo sobre a solução do seu problema e surgiu a proposta de o mesmo ficar na casa de Auri (mãe das filhas do Inácio), no Assentamento Rural Barra do Leme, em Pentecoste, onde estávamos morando até viajarmos. Sandino concordou com a idéia, faltava agora consultá-los (Auri e De Assis), o que fizemos dia 03 de julho/2006. Fomos no assentamento e os mesmos nos deram a resposta positiva.

Temos agora que resolver questões pendentes dos dois meninos, como escola e consultas odontológicas, caso do Sandino. Esperamos que em uma ou duas semanas tenhamos resolvido toda estas questões e estejamos prontos para a retomada da estrada, pelo que já estamos bastante ansiosos.

O trajeto que fizemos até agora foi de 500km de Fortaleza até Cajazeiras, na Paraíba, e o que encontramos de sementes foram apenas 02 (dois pimentões). As pessoas que nos deram afirmam ser naturais e já repassamos para algumas pessoas (inclusive do Acarape) plantarem, para fazermos um teste. Tivemos notícias de que podemos encontrar sementes de tomates e de outras culturas numa comunidade em Icó, aqui no Ceará, devemos passar por lá quando formos retomar a estrada.

Abraços dos companheiros do Ciclovida!

Acreditamos que vamos superar os obstáculos que têm se atravessado em nosso caminho e que a síndrome do desenvolvimento e do sedentarismo burocrático da civilização não deve nos abalar ou se ocorrer, vamos relutar!

Ciclovida.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Notícias da Estrada 07

Narrado pelo Ciclovida:

Décima primeira parada – 29/05/06, Domingo - São Luiz de Ibaretama. Meio dia. Localizamos a casa de Izinha e Valdeneide através de um telefonema para Joana em Quixadá. Essas são companheiras de outras épocas e amigas de Joana, Inácio e Ivânia. Com elas falamos do Ciclovida. Izinha nos ofertou um pimentão maduro de sua própria lavra, dizendo ser natural, que havia recebido de um amigo da serra, que plantava desta semente há anos. Será esta a primeira semente natural? Vamos testá-la! Depois de almoçarmos rumamos à Quixadá, eram 14 horas do domingo, dia 29/05/2006.

Décima segunda parada – 29/05/06, Domingo - Quixadá, as cinco horas da tarde entramos em Quixadá e logo encontramos, na entrada da cidade, jovens perto do Liceu praticando pulos mortais e ciclismo numa bicicleta de causar admiração, esta tinha dobradiças sem travas que necessitava de muita habilidade para se andar nela, porque fica se jogando para os dois lados e hora os pneu estavam andando em paralelos, nos enturmamos um pouco com eles e partimos para acabar de chegar na casa da Joana.

Chegando na casa dela, encontramos além do pessoal de casa: Joana, Daiana, Felipe, Dona Maria, e o companheiro Danúbio e Ivânia e o Camilo que se juntarão ao ciclovida na estrada (que são também ciclovida), Margarida, filha de Inácio e seu namorado, o João Paulo, que fazem parte do Acarape também nos tem dado apoio significativo nesta jornada. Estas pessoas tem sido de grande importância para a construção do Ciclovida, articulando debates, nos acompanhando, e principalmente no envolvimento com suas realidades como eles fazem.

O pessoal de Quixadá: Joana e sua filha Daiana, o jovem companheiro Danúbio, as pessoas que compõem a diretoria do Sindicato dos Servidores Públicos (Graça, Luciene, Alexandre...) estiveram conosco sempre desde as primeiras vezes que estivemos em Quixadá falando do Ciclovida, programaram até campanha de finanças para viabilizar o projeto, juntamente com companheiros jovens estudantes da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – FECLESC em Quixadá: Marquinhos e Marcondes e professores como o Edisom, entre outros. Os jovens Belchior e Rute e o companheiro Osvaldo deram apoio irrestrito, divulgando a atividade realizando com os integrantes do ciclovida: entrevistas, filmagens etc. O SINDSEP além do mais publicou o livreto de Literatura de Cordel, "O Processo de Cura Natural ou O Nascimento da Cura no Pacto com a Natureza", de autoria de Inácio do Ciclovida, nos oferecendo uma edição de 500 cordéis, que serão vendidos para dar suporte financeiro para a viagem. Nós, do Ciclovida, levamos no coração todos que estão solidários com esta caminhada e que só a Natureza, poderá agradecer a todos nós, quando perceber os efeitos das nossas ações se ainda chegarem a tempo.

Em Quixadá, o ciclovida reuniu-se mais uma vez para discutir encaminhamentos relacionados com nossa atuação política na estrada. Como havia entre nós companheiros que defendiam que o ciclovida deveria realizar ações de militante, como protestos, pichações, etc. tivemos que discutir o assunto, decidiu-se que:

1- o Ciclovida não tem centralismo e não é uma organização de militantes e sim uma atitude voluntária de pessoas que unificaram sua afinidades no objetivo de fazer um levantamento e resgate, das sementes naturais (crioulas ou caboclas) de bicicleta pelo Brasil e além fronteiras;

2- quaisquer decisões serão tomadas por consenso;

3- com relação as eleições o ciclovida vai ignorar total;

4- enquanto movimento social, no momento nos limitamos a discutir e a partilhar nossas preocupações com indivíduos e coletivos interessados e/ou que venham a se interessar pelo assunto, no campo e na cidade que é o levantamento das sementes, sua coleta e incentivo a sua distribuição através da troca entre plantadores, sua preservação e discussão sobre a Nova Relação com a Terra, numa campanha contra a modificação genética dos vegetais pela indústria do agro-negócio, o patenteamento dos seres, contra as sementes TERMINATOR (suicidas), por um mundo livre de queimadas e de transgênicos;

5- outra coisa é que, quem fizer ação isolada sem discussão interna não pode envolver o grupo.

Em Quixadá foram realizados dois debates: um pela manhã do dia 31/05/06, terça-feira, e outro pela noite do mesmo dia na FECLESC, sobre as atividades do ciclovida, enfocando temas diversos, além das sementes, mas imanentes à questão, como: reforma agrária, movimentos sociais, mercadoria e educação na reforma agrária. Dia 01/06/06, foi passado o documentário, A CARNE É FRACA na sede do Sindicato dos Servidores Públicos de Quixadá – SINDSEP, onde assistimos com a diretoria do Sindicato.

Décima primeira parada – 29/05/06. Às Uruquê, chegamos na Churrascaria de um senhora chamada Fátima, que a pedido de Bartira permitiu que fizéssemos um cuscuz de massa de milho, que logo após comermos feito farofa, saímos...

Notícias da Estrada 06

Narrado pelo Ciclovida:

Oitava parada – dia 28/05/06, sábado. Churrascaria na estrada de Quixadá, vizinho ao posto da polícia rodoviária, onde lanchamos mais ou menos 11 horas e o Bruno pediu dois pauzinhos que sustentava um estandarte de propaganda de preços, que serviria para brincar de “malabares”. A filha da dona (que era funcionária) não fez questão, mas quando o Bruno foi tirar, a mãe (dona do comércio) não deixou, irritando a filha, que se chama Vanusa, após a mãe dar as costas, rasgou o estandarte e entregou os pauzinhos para o Bruno, dizendo: “eu mostro como você os leva”. Agradecemos sua ação e partimos...

Nona parada – Às 13 horas paramos nas proximidades da Placa de Zé Pereira, encontramos uma banquinha de venda de produtos da roça: milho cozido, jerimum, castanhas assadas, café, entre outros. Comemos umas castanhas com milho e café e batemos um bom papo com as pessoas dali sobre sementes e sobre saúde com uma senhora de quase oitenta anos. Ela nos falava sobre seus problemas de saúde e os potentes medicamentos que tomava e de sua alimentação que era composta de muitos industrializados, enquanto mostrávamos a contradição: por ironia, a banca de produtos naturais (da roça) era do seu filho e ao entender tal contradição, a mesma senhora (dona Amélia) já preferiu para si aqueles alimentos expostos à venda para os transeuntes da estrada (turistas). E escutamos uma confusão para dentro da casa, que até parecia ser da família que certamente não tinha gostado nada da nossa interferência. A velhinha agradecida, nos deu milho verde, café e saímos amigos, menos da família.

Décima parada – Às 17 horas no Piranji, ali jantamos num pequeno restaurante, que nos cobrara três jantas por R$ 8,00, dormimos na calçada de um armazém de milho sobre nossos colchonetes saímos após o café, dia seguinte...

Notícias da Estrada 05

Narrado pelo Ciclovida:

Sétima parada - Dia 27/05/06, sexta-feira - Acampamento Uruanan, propriedade da agroindústria Cione em Chorozimho, imediações do Triângulo de Quixadá. Chegamos às 10 horas da manhã. Ali éramos aguardados pelos companheiros, principalmente por Rodrigo e Leidiane. Chegando, fomos apresentados ao acampados com quem trocamos idéias sobre a nossa atividade de ciclovida e o Bruno e a Bartira brincaram com “malabares”, atraindo a atenção de crianças, jovens e adultos e enfim falamos também de, além das sementes, de questões de gênero e sobre a loucura, que é um assunto abordado por Bartira na sua monografia na conclusão do seu curso de ciências sociais e a mesma pretende discutir esta questão pelos caminhos do Ciclovida, o que já iniciamos neste acampamento.

Falamos da loucura como uma produção sócio, política e cultural, onde alguém pode interditar alguém por contrariar seus interesses ou simplesmente para se beneficiar sócio, político ou economicamente. A loucura pode ser usada como forma de neutralizar pessoas/problemas que possam vir a causar empecilhos às pretensões ambiciosas de outrem. Alguns exemplos citados dão conta de que existem em manicômios pessoas marcadas por sofrimentos extremos, vitimadas por atos extremamente injustos, há pessoas traumatizadas por terem sido violentadas ou extorquidas por pessoas do seu próprio entorno: vizinhos ou familiares como maridos, filhos etc. e depois internadas como loucas. Assim estas pessoas perdem as forças de relutância e sua recuperação não é desejada pelos beneficiários de sua loucura e o sistema de tratamento mental torna-se apoio aos “vitimadores” e não para os vitimados.

Nós, os integrantes do Cilovida sofremos também discriminações e preconceitos muito parecidos, falam que estamos fazendo uma loucura, e xingam nossas atitudes de “porra-louquices”. A história dos movimentos sociais são também recheados desse tipo de tratamento dado pela ideologia da classe dominante e sua pedagogia com intuito de imprimir um preconceito sócio-cultural, arma camuflada de grande poder de combate a luta política dos oprimidos. Indo um pouco atrás na história, época do massacre de Canudos, Antonio Conselheiro teve sua cabeça aberta depois de morto, para se saber que tipo de anomalia podia existir na cabeça de um sujeito que inquietava tanto um sertão tão passivamente pacífico, a ponto de se armar contra o poder.

Este discurso do ciclovida é resultado de sua metodologia de ação, o de atuar unificando as afinidades na luta de resistência pela vida dentro de um mundo culturalmente biodiverso. A discussão sobre as sementes mexe com todo um mundo de diferenças, mas interligado pela vida.

Notícias da Estrada 04

Narrado pelo Ciclovida:

Quinta parada – Dia 25 de Maio, quinta-feira - Acarape. As 11 horas, encontramos com a presidenta do sindicato dos servidores públicos de Acarape e Barreira, que há um mês atrás havia se comprometido de contribuir com o Ciclovida na compra de 50 reais de literatura de cordel, justificando não ser possível por não ter como encontrar hoje a pessoa responsável pela liberação de recursos, despachando por sua conta uma mini cesta de alimentos no valor aproximado de 15 reais.

Encontramos em seguida com Fran derlan e Sandra num carro do ESPLAR que nos convidaram para passar na comunidade, precisamente na vila dos Guilherme, município de Chorozinho, onde estão construindo cisternas pelo programa “1 milhão de cisternas” para conversarmos sobre sementes. Os mesmos levaram nossas bagagens até a dita comunidade e nos esperariam a noite. Logo mais fomos convidados para um almoço oferecido por Margarida e João Paulo. Almoçamos juntos com a galera do Grupo Alternativo da Juventude de Acarape ( GAJA): Margarida, João Paulo e Francisco seu irmão, Cássia, Katiane e Sharlon. Este grupo desenvolve atividades libertárias junto a juventude do Acarape, além de apoiar a luta sócio-ecológica do Grupo Autônomo do Assentamento 24 de Abril, desse município e outras lutas como a do ciclovida. As duas horas da tarde caímos na estrada rumo ao Chorozinho.

Sexta parada – Lagoa dos Patos, às 5 horas do mesmo dia. Chegamos à Vila dos Guilherme, encontramos com o Fran e a Sandra, que nos apresentaram ao pessoal que construía as cisternas em forma de mutirão e confeccionava as bombas de puxar água das cisternas. Logo à noitinha fomos convidados a expor os objetivos da caminhada do Ciclovida, o que fizemos, colocando que buscamos realizar uma tarefa, a de fazer um levantamento sobre as sementes naturais, partilhando uma preocupação com os rumos que estas estão tomando sob a ofensiva da dominação da indústria do agro-negócio e suas metas de em pouco tempo controlar de todo o processo produtivo do setor agrícola a partir da apropriação das sementes.

Hoje ainda restam algumas sementes como o milho, feijão, arroz, entre outras que fazem parte do cotidiano dos plantadores. As sementes mais ameaçadas hoje são as das hortaliças, que já receberam um tratamento de enfraquecimento genético para que não se reproduzam nas mãos de quem as plantam. Falamos da contradição que pode ser uma Reforma Agrária, onde o agricultor toma posse da terra ao mesmo tempo em que perde a posse das sementes, que significa também a perda da autonomia frente ao processo produtivo no campo agrário. Falamos também que não é possível realizarmos ocupações de cunho econômico, mas de cunho sócio ecológico, travando discussões políticas de produção e apropriação, pois nosso produtivismo aumenta a força política com que a classe dominante nos massacra.

O desaparecimento das sementes das nossas mãos é uma situação que temos que contornar, do contrário, teremos no campo uma situação incompatível com a vida e com os próprios interesses históricos dos explorados, arriscando de ficarmos completamente impotentes (com risco de irreversibilidade do possesso) se não tomarmos desde já uma atitude com relação a tudo isso. Relutar para não perder a posse das sementes naturais e por uma nova relação social de produção e do ser humano com a terra é uma condição, “sine qua non” para buscarmos a reversibilidade do reequilíbrio da vida na terra. Conhecemos, entre outras pessoas, o Sr. Chico Rufino e o companheiro Bosco, este último escreve poesias ressaltando os lamentos da terra e da natureza, cantando em forma de música. Este pessoal é também muito sensível à questão das sementes. Depois que nos ofereceram um jantar, deram-nos uma casa para dormir, onde dormimos: Inácio, Bartira, Bruno, Fran e Sandra depois de conversarmos e cantarmos as músicas do Ciclovida até aproximadamente meia noite.

Notícias da estrada 03

Narrado pelo Ciclovida:

Dia 24/05/06, quarta-feira.

- Saída da Comunidade dos Trapeiros Movimento Emaús (quase 10 horas).

- Presentes na despedida: João Elias, Sabrina, Elizabeth, Decklé Renan.

- Acompanhantes: Ivânia (até a entrada de Acarape), João Paulo, Margarida (até o Acarape). Batemos fotos.

Primeira parada - 11 horas, na Monguba, há aproximadamente 10 quilômetros de caminhada. Casa de Zenilda e Raimundo da Viola e família, onde almoçamos, descansamos o sol do meio dia e partimos às 14 horas;

Segunda parada - 15 horas, há 2,5 km para chegar a Guaiuba, 20 quilômetros de caminhada, onde tomamos água, café e ganhamos 4 laranjas naturais que as levamos para tirar as sementes e repassar por aí;

Terceira parada - Riachão do Norte, 35 quilômetros de caminhada, casa de Zé Chagas e Tânia, onde tomamos café e conversamos muito sobre sementes e o mesmo (Zé...) falara de suas pretensões políticas de puxar um movimento de protestos às eleições, como greve de votos... Deixamos uma laranja com ele que se comprometeu plantar suas sementes;

Quarta parada - Assentamento 24 de Abril, Acarape, 45 quilômetros de caminhada, onde foi palco de muitas lutas e discussões sobre a nova relação com a terra, onde enfrentamos muita resistência contra as ações depredadoras do capital, representado pela cúpula da associação local do assentamento e técnicos do Estado (INCRA) e empresas locais como a Ypióca e Yamacon, surgindo o Grupo Autônomo, como forma de resistência aos desmatamentos e vendas das madeiras para estacas e da água do açude, isto defendido como meio de criar condição de sobrevivência na terra, respondendo compromissos de dívidas, inclusive bancárias e outras necessidades. Esta dar-se de 1999 até nossos dias.

Chegamos na casa de Bosco e Zélia onde jantamos, conversamos pouco porque o mesmo e seus dois filhos encontravam-se caídos de virose, repassamos três laranjas para o Bosco que se comprometeu em plantá-las. Dia seguinte pela manhã tivemos a visita de Cássia, Katiana e Sharlon do Grupo Alternativo da Juventude de Acarape (GAJA) e partimos para o Acarape (há 2 km) após um banho do açude do assentamento.

domingo, 11 de junho de 2006

Ciclovida no Mídia Tática

O boletim do Mídia Tática publicou em seu sítio a carta de apresentação do Projeto Ciclovida.

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Notícias da Estrada 02

O Ciclovida chegou em Senador Pompeu nos últimos dias e pretende ficar a semana por lá. Em breve mais detalhes da viagem e da chegada em Senador Pompeu. Percurso: Fortaleza - Acarape - Quixadá - Senador Pompeu.

domingo, 4 de junho de 2006

Foto do Título



Fotos da saída no Emaús

Saída, 24 de maio, de Fortaleza.
Do Emaús para a Argentina...
Já na estrada...

Trecho de "Passe Livre Sem Limite"


"Catraca só em bicicleta
O resto vai pra marreta
Vamos quebrar qualquer uma
Que em nossa frente se meta"

Manoel Inácio do Nascimento

(Cordel) Os Pacotes Econômicos no Brasil de Sarney à Fernando Henrique Cardoso e a Estratégia Burguesa desde o Consenso de Washington

Autor: Manoel Inácio do Nascimento

Desde trás, de muito sedo
Que engrossaram nossas peles
Com Saiad e com Dorneles
Que assumiria Tancredo
Vem antes de Figueiredo
A luta contra a inflação
O povo sem direção
Para uma via de fato
Sempre é quem pagou o pato
Iludido com eleição

Representatividade
Sempre pregaram as esquerdas
Foram inúmeras as perdas
Dessa retrógrada vaidade
Que teve sua validade
Vencida pela história
Volte um século na memória
Se encontre com Conselheiro
Está aí meu companheiro
Sem dar mão à palmatória

Uma Comissão se senta
Lá nos Estados Unidos
Foi mais ou menos nos idos
De oitenta e nove à noventa
E um grande pacote inventa
Pra oferecer diretrizes
Pra governos de países
Que dívidas internas e externas
Os amarram pelas pernas
Intensificando as crises

Chamam Consenso de Washington
Ou de acordo informal
Onde o Banco mundial
E o FMI apostam
Que aquilo que eles encostam
Servem pra o terceiro mundo
Propõem esse plano imundo
A união aduaneira
Onde eles metem a madeira
Pra arrebentar nosso fundo

Para nós pobre povão
Consenso de Washington é
Onde os grandes metem o pé
E você pensa que é a mão
Dizendo que a intenção
É melhorar o país
Mas daquilo que se diz
Para aquilo que se faz
Já temos provas demais
Desse consenso infeliz

Pois toda a América Latina
Levando assim a pior
Com a medida “Open door”
Foi grande a carnificina
No México e na Argentina
O clima ficou hostil
Pra o povo a situação vil
Fome e repressão pesada
O diabo é que esta charada
Chegou também no Brasil .

“Open door” é abrir portão
Para os mais desenvolvidos
Usam vários apelidos
Pra confundir o povão
Pois esta medida cão
Em pacote se desdobra
E muito caro nos cobra
O preço que a gente paga
E o peso dessa praga
Para as costas do pobre sobra

A união aduaneira
Com o Collor se inicia
Onde a “tecnologia”
Entra aqui sem ter barreiras
Atravessando fronteiras
Sem respeito à realidade
Sem pesar desigualdade
Que isto acarretaria
A Social Democracia
Deu-lhe essa autoridade.

Se alimentando de emprego
As máquinas sofisticadas
Logo em poucas mastigadas
Nos deixou no desemprego.
A massa em desassossego
Caminha léguas e léguas
E mais sem dias de tréguas
Dados pro Collor e PC
Ficamos eu e você
Sem nada assim feito uns éguas.

Sarney, o Plano Cruzado
Mandou na nova república
Foi grande a vergonha pública
Onde tudo é congelado.
Pra manter fiscalizado
Todo mundo se mexeu
Quando a panela ferveu
Esquentou inflação subiu
Ligeiro o plano caiu
E o povo foi quem perdeu.

Em oitenta e seis, mesmo ano
Lá vem o diabo de novo
Doido pra enganar o povo
Mas caiu no desengano
Pois no diabo deste plano
Ninguém creditou mais
Petróleo subiu demais
A classe média sobrou
Nesse ninguém se engajou
E o Plano ficou pra trás

O plano Bresser Pereira
No ano de oitenta e sete
Foi o plano canivete
Chegou passando rasteira
De forma vil traiçoeira
Corta em miúdo o salário
No slogan o ideário
Era o combate à inflação
Mas produziu recessão
Sacrificando o operário.

Parecendo uma avalanche
Lá vem o Plano Verão
Grande do tamanho do cão
Sem que em nada se enganche
Arrebatou nosso lanche
Saiu feito um furação
Levou três zeros na mão
Dolarizando o cruzado
Como um ente endiabrado
Subiu levando a inflação...

Plano de tudo resolve
Até a vida de Sarney
Pois do jeito que ele “vei”
Dele ninguém se comove
Veio tirar fora os nove
Subido a taxa de juro
Deixando ao povo um futuro
De custo de vida alto
A divida interna dá salto
Pra um amanhã obscuro.

Lá vem mosquito com tosse
Valei-me São Gavião
Ressacando com o verão
Lá vem um plano precoce
Ainda antes da posse
Receita do F.M.I.
O homem de Canapi
Do Estado das Alagoas
Trazendo “ novas e boas”
Medidas pra nós aqui.

O papocado então veio
Com a volta do cruzeiro
Pois quem guardava dinheiro
No banco perdeu foi feio
No outro dia o bloqueio
Com a cobertura da Globo
Com PC planejou o roubo
Até não poder com as rédeas
Derrubou a classe média
Fez todo mundo de bobo.

O Collor com o seu arranco
Culminou com o seu Impeachment
Tentando pousar de vitima
Escapuliu do barranco
Assumindo Itamar Franco
Continuísmo se vê
Depois de Collor e PC
Continua a mesma história
Com as medidas Provisórias
Do ministro F.H.C.

Venha cá se mesmo fique
Lembre-se de Itamar Franco
Quando com maior “arranco”
Chegou o Fernando Henrique
Criando com maior pique
A tal da URV
Que fez o F.H.C
Garantir sua eleição
Provocando recessão
Fazendo o real nascer.

Bem no final do cruzeiro
Foi o maior alvoroço
Lembro que botei no bolso
Uma porção de dinheiro
Esse fluxo foi ligeiro
Não deu nem um mês direito
Pra o engano ser desfeito
E o dinheiro foi sumindo
E a gente ficou sentindo
Na panela o seu efeito

O dinheiro eles levaram
Do bolso do cidadão
Pra tampar o buracão
Dos Bancos que eles quebraram
As estatais leiloaram
Acabando o que era doce
Só muita miséria trouxe
As medidas assassinas
Desde a venda da Usiminas
A Vale do Rio doce

Enquanto na Previdência
Do Brasil era um sufoco
Era fraude, era papoco
Escândalos sem precedência
Na Argentina a decadência
Econômica estava um rolo
Mas para o nosso consolo
Aproveitando o embalo
Lá o ministro era Cavallo
E o daqui era Cutolo.

Quando as bolsas de valores
Nas cidades principais
Onde estão os capitais
Dos grandes investidores
Causam espantos e horrores
Quando elas sofrem uma queda
O investidor se arreda
Pois o que temem é confisco
De economias de riscos
Na qual é presa á moeda .

Bolsas internacionais
De Hong Kong ao Japão
Passam por grande pregão
Em dois dias cruciais.
Oito bilhões de reais
O Brasil queimou num traque
Pra o real não ter um baque
Pegou reservas do saco
E pra tampar o burraco
Manda um Pacote de ataque.

Chamam Ancora Cambial
Esse saco, meu irmão,
É que dá sustentação
Pra manter vivo o Real
As verbas do Social
Têm uma finalidade:
Manter lucratividade
Dos que saboreiam o céu
E cobrem o real com o véu
Da própria fragilidade

A bolsa Internacional
Cai mas sobe de repente
Deixando muito doente
O “pobrezim” do real
Da reserva cambial
Comeu logo oito por cento
Os juros tiveram aumento
E a medida desumana
Produziu numa semana
Mil anos de sofrimento.

Montando em nosso cangote
Vem ai à revelia
Pois já tá chegando o dia
De a gente dar o pinote
O peso desse pacote
Quer nos deixar os destroços
Engole os empregos nossos
Quem já comeu nosso ouro
Nossa carne e nosso couro
Só falta roer os ossos.

Arrocho salarial
Aumento de desemprego
É o presente de Grego
Do governo federal.
Ao morrer este Real
Vai dar esperneação
Alimentando ilusão
Este governo de novo
Vai tentar ganhar o povo
Pra sua reeleição.

Plano inconstitucional
Que desrespeita o Brasil
Demite trinta e três mil
No Serviço Federal.
É um insulto frontal
Que se abre aos quatro ventos
Os números são violentos
Na demissão que haverá
Porem só no Ceará .
São quatro mil e seiscentos.

Reduzindo a passos largos
Os cargos comissionados
Muitos estão condenados
A não subir mais de cargos
Passam momentos amargos
Terão que apertar os cintos
Satisfazendo os instintos
Dos donos dos capitais
Cargos públicos federais
São setenta mil extintos.

Vão órgãos nacionais
Como o inss
Vai o F.N.S
Que tem servido demais
E vão-se os estaduais
É o Real mostrado a face.
Vão acabar com o IDACE
Junto com ele a IOCE
E um chamado SEPROCE
A CEDAP e a EPACE.

E um corte nas Estatais
De dois virgula um bilhões
Em Autarquias e Fundações
São empregos que não vem mais
E acelerando atrás
Vai a privatização
Em noventa e oito vão
Aumentar a nossa cruz
No telefone, água e luz
Subindo a tarifação

Para mais de dez por cento
Irá o imposto de renda
Com esta medida horrenda
Só o flagelo tem aumento
Quem tem pensão ou aposento
Estão cento e cinqüenta mil
Na mira da foice hostil
Do Fernando Henrique Morte
Que quer acabar de um corte
Com o aposento no Brasil.

Vem descendo uma tragédia
Para um bem próximo futuro
Pra fazer cair do muro
O resto da classe média.
O governo tem a rédea
Forçando sua decisão
Desde impostos á extinção
Dos seus cargos ocupados
Resta pra um dos dois lados
Ela fazer opção.

F.H.C. fez um jogo
Seu pacote foi enfático
Quer fazer um recuo tático
Ao se ver brincar com fogo
Populista e demagogo
Disse que vai abrir mão
No numero de demissão
Disse um governista a esmo
Que o resto do plano mesmo
Vem depois da eleição.

Porém o capitalismo
Hoje entra em contradição
As forças de produção
Dobram -se ao mercantilismo
A fase do Imperialismo
Já é coisa do passado
O que está sendo pregado
É a globalização
E o bode de expiação
É o peso do Estado.

Dezembro/1997