terça-feira, 24 de julho de 2007

Relato 04 a 09/06/07

Dia 04/06/2007 - segunda-feira – Ivânia conseguiu ligar para o Sandino e ficou mais um pouco com a Juliana, colocou argila em sua cabeça, depois nos despedimos. Fomos também fazer uma gravação com o presidente do sindicato, senhor Afonso, que falou de seu empenho em benefício dos trabalhadores, como demonstração, estava a estrutura de alojamento do sindicato, que abriga a todos os trabalhadores que necessitem. Completa que o STR tem hoje uma das melhores estruturas para realização de eventos desta cidade. A tarde fomos saber de uma informação de um barco que sairia de Januária para Juazeiro da Bahia, carregado de cachaça de um certo armazém, e que poderia nos dar uma carona, mas ficamos sabendo que fazia poucos dias que ele havia partido de viagem, e só faz isto uma vez por mês, possibilidade descartada. Passamos e-mail já avisando que estamos apressando a viagem, queremos chegar até o final do mês por vários motivos: desde a necessidade de se fazer a reimplantação das sementes, discutir este assunto, como também questões de saúde dos filhos. É como disse um companheiro “necessidade de chegar e vontade de não apressar”.

Dia 05/06/2007 – terça-feira – Saímos enfim do STR para retomarmos o trajeto do Ciclovida. Tínhamos marcado para se encontrar com seu Antônio alfaiate, de uns 90 anos de idade na beira do cais, mas chegamos uns 15 minutos atrasados e não o encontramos. Este homem testemunhara muitos fatos na beira do São Francisco, e nos interessava conversar com ele. Mas encontramos outro senhor com quase a mesma idade, antigo pescador, que nos deu uma boa aula sobre aquela região. Pudemos observar que naquela região é muito comum encontrar oitetões e noventões andado de bicicleta pela rua. A noite anterior encontramos Seu Antônio em sua bicicleta, que nos chamou atenção, percebemos nesta região sinais significativos de longevidade com bastante lucidez. De lá fomos para a colônia de pescadores. Onde conversamos com os diretores da colônia, que também estão processando a Votorantim pele matança de peixes no rio. Lá falaram de outra pessoa, um diretor de escola filho de pescador, que seria bom que o procurássemos. Fomos para sua escola, ele não estava, fomos encontrá-lo no colégio agrícola, e lá encontramos mais outras pessoas com quem conversamos bastante. Dali saímos procurando algo para comer, pois todos já estavam saindo para o almoço, e nossa condição estava de insegurança. Fomos comprar pão com bananas para comer, lembramos do que ocorreu conosco numa escola agroecológica no Paraguai, passamos quase o dia conversando com uma diretora e não fomos convidados para comer, e tivemos ainda que ir fazer. Após isto saímos pela estrada rumo ao Fabião I, onde encontraríamos a Eterna e o Joventino Paixão. A vegetação cada vez mais parecida com a do Nordeste estamos cada vez mais nos aproximando da Bahia. Chegamos a tardinha no Fabião I, no posto do Ibama, de lá nos informamos sobre a casa da Eterna, que apesar de termos causado um pouco de espanto, fomos bem acolhidos pelas pessoas que encontramos: Eterna e suas filhas: Indira e Indiana. Conhecemos a Andreia e filh@s: Quetsal e Arandé. Gostamos de conhecer o pessoal, nos identificamos em muitas coisas. Lá almoçamos e jantamos tudo ao mesmo tempo e dormimos em nossas barracas armadas na área e terreiro da casa.

Dia 06/06/2007 – quarta-feira – saímos para a fazenda Quilombo onde mora o Joventino Paixão, chamado de Jovem Paixão ou simplesmente Jovem. Chegamos lá quase meio dia na casa de Socorro, sua irmã, que nos convidou para entrar em sua casa, depois fomos para a casa do Jovem, visitamos algumas grutas e a noite o Jovem disponibilizou suas duas motos, e fomos visitar algumas pessoas, entre elas , dona Novinha uma paraibana. Lá escutamos um dos vários ruídos e tremores de terra que ocorreram naquela região. Voltamos e fomos dormir.

Dia 07/06/2007 - quinta-feira - fomos visitar o rio Peruaçú, esta comunidade fica localizada no Vale do Peruaçú, onde está projetada a reserva ecoturística, Visitamos as comunidades centenárias, do vale em que estão ameaçadas de serem removidas caso saia o projeto. Passamos em Vagem Grande, Arassá e Quilombo, encontramos pessoas com cem anos de idade como o Seu João, esposo de Dona Edília. Visitamos mais outras famílias. Voltamos e fomos dormir no Jovem.

Dia 08/06/2007 – sexta-feira – Saímos da casa do Jovem após visitarmos a horta de suas irmãs e sua companheira. Chegamos a tarde na casa da Eterna. Fomos visitar as hortas da sogra de Andreia, depois voltamos, conversamos bastante e fomos dormir.

Dia 09/06/2007 – sábado – Despedimo-nos após o café e rumamos para São João das Missões, antes paramos em Itacarambi, onde se entra para o Projeto Jaiba. Chegando em Itacarambi, fomos ao STR (Sind. dos Trab. Rurais), não encontramos mais ninguém, indicaram-nos procurar o Josué do Sindicato, não acertamos e fomos até perto da casa do Nilton, e a vizinha falou que ele havia saído, para a roça (sua vazante) do outro lado rio. Ela nos ensinou como chegar na casa do Josué. Ficamos conversando com esta vizinha que se chama Elza de Sousa, mãe de Ítalo e Fabiele. Elza nos ofereceu arroz com feijão e peixe, almoçamos bem, agradecemos e depois que encontramos a casa do Josué, deixamos nossa bagagem e saímos rumo ao famoso Projeto Jaiba. Saímos 5 km da cidade para pegar a balsa, como era sábado, encontramos Seu Romeu que vinha da feira de Januária e estava esperando também a balsa para terminar de chegar em sua casa, na agrovila do projeto. Foi-nos oferecida uma carona no mesmo caminhão da feira que ele (Romeu) vinha, assim chegamos juntos á sua moradia no projeto, com as bicicletas na carroceria. Seu Romeu mora há 13 anos neste projeto com sua companheira e sete filhos. Ele denuncia outro fato interessante: que veio para cá, saindo de um acampamento de sem terra, porque o governo declarou que a terra ocupada não podia ser desapropriada, transferindo os acampados para cá. “Somos uma espécie de colonos menos favorecido” (de segunda categoria?). Diz também que quando esses acampados vieram para cá, o governo desapropriou a área, montado outro projeto, que, segundo ele, não favorece aos trabalhadores. Ele diz que em tese, o Jaiba seria para melhorar a vida dos pobres desta região do norte de Minas, que é também sofredora das intempéries climática do nordeste do Brasil, mas na pratica só tem favorecido aos grandes. Os pequenos ficam condicionados a uma forma de produzir orientada pela indústria do agronegócio. “Os gastos da produção aqui é muito caro. Você paga a água do canal, energia, aração de trator, fertilizantes e venenos e o financiamento que é um enforcamento, devo R$ 60.000,00, resultado de um resto de conta de menos de R$3.000,00, que vinha negociando, me faltaram condições e ela cresceu” e foi crescendo, desproporcional ao seu ritmo de produtividade, tornando-se incontrolável por conta da aceleração dos juros. Disse que vai deixar ver no que vai dar. O senhor Romeu ainda não teve condições se quer, de construir uma casa de padrão mínimo, mora ainda num espécie de barraco, numa mistura de tijolo e tábuas. Como ele, existem muitos outros. Este é também um projeto de transposição, embora de porte menor do que poderá ser a transposição do rio São Francisco, é uma comparável demonstração da tragédia que pode ocorrer com a transposição deste rio. Tivemos que nos acomodarmos fora, em nossas barracas, pois sua casa não nos cabia juntos com as pessoas da casa. A situação de miséria que ele e muitos outros atravessam neste projeto, é denunciada por ele mesmo. Ele fala sem tabus, da sua situação, diz que não tem o que esconder e nem mais o que perder, que há muito de aparências, mas muita gente ali vive do bolsa-família, programa social do governo federal. Ficamos impressionados ao visitarmos vários pontos do projeto. Terra boa, muita água, Seu Romeu ressaltou a eficiência infra-estrutural do projeto. Ele disse que enfrenta problemas com a família, que não consegue entender aquela situação de contraste , de muita estrutura e pouca fartura ou miséria mesmo! A culpa recai sobre ele, que termina também não entendendo, aliás, diz: “entendo mas não entendo”. Prescindimos, enquanto movimentos sociais, de discussões e debates destas questões, por haver uma grande lacuna de conteúdos políticos em nosso posicionamento frente a realidade agrária e a estratégia do capitalismo no campo hoje. para daí tirarmos encaminhamentos de atuação, conjunto ou não. Poderemos está corroborando, conscientes ou não, com o projeto da classe dominante. Com esse grilos entramos em nossas barracas: Ivânia Jorge e Inácio, intrigados, comentando aos sussurros, aquela situação.

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