quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Notícias da Estrada (06/11 a 11/11)

Ciclovida escreveu, um tanto com atraso :)

06/11/2006 segunda feira –levantamos cedo e fomos para a Prata onde encontramos Wilson na Lan House, que nos ajudaria a por em dias o relatório do Ciclovida, que depois de 4 horas de digitação perdemos com uma pane no computador.

Dia 07/11/2006 – terça-feira – Fomos esperar Wilson retirar um dinheiro que a Bartira havia enviado pela sua conta corrente das contribuições resultadas da campanha do CMI. Feito isso, almoçamos na rodoviária (comida que fizemos no STR) conversamos mais com Wilson e partimos as 16 horas de bicicletas rumo a Campina Verde. No primeiro posto de gasolina que encontramos na estrada pedimos espaço para armar a barraca, como não permitiram, armamos numa parada de ônibus à 500 metros.

08/11/2006 – quarta-feira – Acordamos cedinho, Ivânia, meio adoentada, seguimos para Campina Verde, Paramos ao meio-dia na entrada de Monjolinho, há 20km de Campina Verde, Passamos a hora quente e seguimos, chegamos no Acampamento Terra Santa às 17 horas, onde encontramos Arivaldo e Lene. Nos explicaram que aquele local, é de costume montar-se acampamentos e no momento estava com pouquíssimas pessoas, embora tivessem bastantes barracas, “as pessoas querem ganhar terra, mas não querem acampar”, observam.
Falamos de nossa viagem, e seus objetivos e ali nos acolheram aquela noite. Conversamos bastante com Arivaldo e Lene, uma valente baiana e um companheiro (seu José), riograndense do norte, pessoas muito acolhedoras, otimistas e alegres, com quem partilhamos idéias e preocupações, e falamos como e onde dormimos na noite anterior, e eles falaram que havíamos dormido na boca da onça. Contaram-nos a história de uma criança que o pai deixou naquelas proximidades esperando o transporte escolar, e só meio dia é que se veio dar conta que a onça a havia comido. O pai saiu no rastro de sangue da filha, encontrando a onça, a matou e ainda hoje está preso há oito meses, enquadrado na lei de crime ambiental, contam. Nos falaram de outro exemplo, onde outra criança foi morta por um onça, nas mesmas proximidades e o pai também a matou, este não foi preso porque a população não deixou, mas está respondendo em liberdade pelo mesmo crime. O que nos faz entender que isto acontece pelo fato, de não existir mais víveres para os animais silvestres, e nem mais florestas, e com tantas pistas que se cruzam, estes animais não teme mais os barulhos de carro, e arriscam a própria vida, porque tem que buscar alimentação seja lá o que e onde for. O que muito encontramos nas pistas são animais mortos. As auto-estradas cortam regiões inteiras, deparando as comunidades biodiversa, cujos membros estão condenados à morte na primeira ultrapassagem, e como atua ali a lei de proteção animal e defesa ambiental?

09/11/2006 quinta feira – Acordamos no acampamento trocamos algumas variedades de sementes, eles nos repassaram vários tipos de sementes de pimenta, quiabo, feijão, bucha de metro, mamão (carne vermelha e carne amarela) abóboras diversas e ipê roxo... Mas reclamaram a falta de pimenta cumari. Estávamos de saída para visitar um assentamento há uns 12 quilômetros dali, quando chegaram dois homens se dizendo ser da imprensa local, e nos entrevistaram, mostrando-se bastante curiosos... Saímos após o almoço e andamos 12 quilômetros de subidas e decidas enfrentando areal. Quando íamos vimos uma placa identificando um lote e contendo na placa que a principal atividade agrícola pimenta cumari. Depois que percorremos o assentamento, retornamos já ao anoitecer e passamos por reservas florestais do assentamento que ainda se mantinha bastante densa que nos fez arrepiar os cabelos e apressar o passo com medo das onças, empurrando as bicicletas por estar escuro com muitas subidas e areia. Ao passarmos pelo lote das pimentas cumari, pedimos umas mudas e sementes que levamos aos companheiros do acampamento, batendo a porta do barraco de Arivaldo e Lene a 11 horas da noite, repassamo-los as mudas de pimentas e ali dormimos mais uma noite.

10/11/2006 sexta feira – saímos de Campina Verde atravessando estradas de chão e o deserto do latifúndio rumo a Iturama, nesse ínterim encontramos um acampamento onde tomamos água, café, e tivemos boas conversas com o pessoal alem de escutar uma sanfona bem tocada ao estilo sulista, 3 quilômetros a frente encontramos o assentamento Peroba Sanharão. Dirigimo-nos ao mesmo e nos informaram onde morava o presidente. Lá encontramos o Carlito, sua companheira a Josefa, sua mãe dona Tereza, entre outros familiares e companheiros. Falamos da atividade do ciclovidas fomos acolhidos por todos aquele pessoal simples e alegre e a noite trocamos idéias e cantamos nossas musicas e ouvimos musicas locais cantadas por eles. Ficamos na casa do Carlito e família.

11/11/2006 sábado – visitamos varias famílias e nos informamos mais daquele assentamento.
Área: 3.974 ha; 123 assentados; atividade principal é a pecuária; 2 poços artesianos mais de 100 pequenas represas; nascentes diversas, além de duas rodas de água. O leite, principal produto, é vendido para industria de laticínio. À noite trocamos experiências, cantamos, recebemos o carinho das crianças do assentamento materializado nesta poesia/canto que eles no ofereceram:
EU VIM DE LONGE PARA ENCONTRAR O MEU CAMINHO
TINHA UM SORRISO, E UM SORRISO AINDA VALIA
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI
EU VIM DEPRESSA, MAS NÃO VIM DE CAMINHÃO;
EU VIM DE JATO NO ASFALTO DESSE CHÃO
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI.
EU VIM POR AQUILO QUE NÃO SE VER
VIM NU, DESCALÇO SEM DINHEIRO E NA PIOR...
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI!
EU TIVE AJUDA DE QUEM VOCÊ NÃO ACREDITA
TIVE A ESPERANÇA DE CHEGAR ATÉ AQUI
VIM CAMINHANDO PARA ESTÁ FELIZ AQUI
(crianças do Assentamento Peroba Sanharão, Campina Verde, Minas Gerais) após tudo isto, fomos todos dormir.

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