quarta-feira, 21 de junho de 2006

Notícias da Estrada 05

Narrado pelo Ciclovida:

Sétima parada - Dia 27/05/06, sexta-feira - Acampamento Uruanan, propriedade da agroindústria Cione em Chorozimho, imediações do Triângulo de Quixadá. Chegamos às 10 horas da manhã. Ali éramos aguardados pelos companheiros, principalmente por Rodrigo e Leidiane. Chegando, fomos apresentados ao acampados com quem trocamos idéias sobre a nossa atividade de ciclovida e o Bruno e a Bartira brincaram com “malabares”, atraindo a atenção de crianças, jovens e adultos e enfim falamos também de, além das sementes, de questões de gênero e sobre a loucura, que é um assunto abordado por Bartira na sua monografia na conclusão do seu curso de ciências sociais e a mesma pretende discutir esta questão pelos caminhos do Ciclovida, o que já iniciamos neste acampamento.

Falamos da loucura como uma produção sócio, política e cultural, onde alguém pode interditar alguém por contrariar seus interesses ou simplesmente para se beneficiar sócio, político ou economicamente. A loucura pode ser usada como forma de neutralizar pessoas/problemas que possam vir a causar empecilhos às pretensões ambiciosas de outrem. Alguns exemplos citados dão conta de que existem em manicômios pessoas marcadas por sofrimentos extremos, vitimadas por atos extremamente injustos, há pessoas traumatizadas por terem sido violentadas ou extorquidas por pessoas do seu próprio entorno: vizinhos ou familiares como maridos, filhos etc. e depois internadas como loucas. Assim estas pessoas perdem as forças de relutância e sua recuperação não é desejada pelos beneficiários de sua loucura e o sistema de tratamento mental torna-se apoio aos “vitimadores” e não para os vitimados.

Nós, os integrantes do Cilovida sofremos também discriminações e preconceitos muito parecidos, falam que estamos fazendo uma loucura, e xingam nossas atitudes de “porra-louquices”. A história dos movimentos sociais são também recheados desse tipo de tratamento dado pela ideologia da classe dominante e sua pedagogia com intuito de imprimir um preconceito sócio-cultural, arma camuflada de grande poder de combate a luta política dos oprimidos. Indo um pouco atrás na história, época do massacre de Canudos, Antonio Conselheiro teve sua cabeça aberta depois de morto, para se saber que tipo de anomalia podia existir na cabeça de um sujeito que inquietava tanto um sertão tão passivamente pacífico, a ponto de se armar contra o poder.

Este discurso do ciclovida é resultado de sua metodologia de ação, o de atuar unificando as afinidades na luta de resistência pela vida dentro de um mundo culturalmente biodiverso. A discussão sobre as sementes mexe com todo um mundo de diferenças, mas interligado pela vida.

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