quinta-feira, 12 de abril de 2007

Notícias da estrada (12/03 a 18/03)

12/03/2007 (segunda-feira)

Levantamos cedo, merendamos, e fomos ver a plantação de arroz irrigado do Mauro. À tarde fomos ver a escola, filmamos, conversamos com alguns agricultores. À noite conversamos com Tobiano, um dos militantes que atuou em Eldorado dos Carajás no Pará e disse que só escapou do massacre porque tinha vindo para um encontro de trabalhadores no RS. Deu-nos algumas castanhas-do-pará que havia recebido de uma amiga do Pará.

13/03/2007 (terça-feira)

Acordamos cedo, merendamos e fomos conversar com a Cris, fizemos uma gravação do seu depoimento como militante mulher no movimento. À tarde fomos conversar com Dona Zulmira, que nos ofereceu um chimarrão. Voltamos pra casa e logo mais chegou o Mauro, com quem conversamos até umas horas da noite. Arrumamos as coisas para partir no dia seguinte. Ficamos um pouco com o Jalo e fomos dormir.

14/03/2007 (quarta-feira)

Acordamos bem cedo, gravamos entrevista com Marines, depois as crianças foram para a creche-escola, Marines e Jalo deram-nos arroz para a viagem: macarrão, biscoitos e pães, feijão e integrais. Despedimo-nos da Edna, e ficamos de encontrar com o Jalo e Marines na feira, estes ficaram de levar nossas coisas. Fomos à okupa, lá almoçamos e conversamos com a turma. Despedimo-nos inclusive do Grosseiro. Fomos para a feira, umas 4 horas da tarde, ficamos lá conversando com o prof. Anselmo, depois chegou o professor Protásio. Ficamos até a hora da gente sair. Jalo e Protásio arranjaram uma carona com um caminhão de feira, que nos levaria até Três Cachoeiras, há 200 km de Porto Alegre pelo litoral rumo a Santa Catarina, pela BR101. Na hora da partida veio o nó na garganta, mais uma vez a despedida é dolorosa. Fizemos todo esse trajeto em cima da carroceria do caminhão, no meio de uma grande carga de caixas de plástico vazias, quando descemos na cidade procuramos um local para colocar a barraca,mas já havia dois moradores de rua dormindo, então a pusemos na porta da Igreja e dormimos bem.

Dia 15/03/2007 – Quinta-feira

Saímos cedo, dividimos os pães que tínhamos com os moradores de rua e seguimos. Não havia acostamento, mas andamos boa parte da manhã ao lado de uma linda Lagoa, que inicia em Osório e vai até perto de Florianópolis, Há uns dez quilômetros paramos numa barraca de frutas para tomar água. O homem era alagoano, e tomei a coragem de saber se ele não podia nos dar um cafezinho e o cara-de-pau diz que não tem, “mas no posto dão”. Falou ainda que acha bom quando, vez por outra ver um nordestino passar, mata-lhe a saudade só em vê-lo. Uns dois quilômetros depois, encontramos uma caverna muito grande, parecia uma boca, merendamos lá, filmamos, tiramos fotos e seguimos. Pedalamos mais uns 15 km, e chegamos na cidade de Dom Pedro de Alcântara, que o prof. Anselmo de Porto Alegre havia falado que existia um Centro Ecológico, e nos aconselhou que procurássemos passar por lá, que podíamos encontrar algo interessante. Realmente encontramos o centro, e chegamos na hora certa: na hora do almoço, e também na hora que estava para sair uma caravana para conhecer as experiências acompanhadas por essa entidade. Contamos o objetivo da nossa viagem, fomos convidados para o almoço, ao mesmo tempo em que nos enturmamos com o pessoal da excursão (um grupo de mulheres vindas de Constantina e Passo Fundo, enviadas pela Federação dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais do Rio G. do Sul) que vieram conhecer formas de produção no sistema de agro floresta. Auto convidamo-nos para acompanhá-los, o que aceitaram. Deixamos as bicicletas e as bagagens no Centro e fomos no ônibus da caravana. Visitamos três experiências em dois municípios: Morrinhos do Sul e Três Cachoeiras de plantio agro florestal, onde se caracterizava como uma auto suficiência alimentar em pequenos extensões de terra.Voltamos a noite e pedimos para botar nossa barraca na garagem do Centro, o que foi aceito.

Dia 16/03/2007 – sexta-feira

Saímos do centro ecológico e entramos em Santa Catarina, e a estrada continuava sem acostamento. Em são João do sul pensamos em colocar as bicicletas no ônibus para atravessar os riscos. Procuramos internet e não encontramos. Passamos o dia comendo o pão integral que o Jalo e Marinêz nos deram, passamos em comboio por Sombrio – SC onde escrevemos e-mails e chegamos a tardinha em Maracajá – SC , onde nos permitiram botar a barraca no posto e fizemos comida de baixo dos eucaliptos.

Dia 17/03/2007 – sábado

Pedalamos a manha sobre chuva, meio dia o pneu da bicicleta do Inácio furou, encostamos num galpão abandonado para remendar a câmera o que foram umas duas horas de tentativas, almoçamos pão com banana, já eram 15:00 e seguimos
Continuamos ate o Km 37, quando um carro quase atropela Ivânia, a visibilidade estava difícil por conta da chuva, decidimos parar em Laguna, ouvimos o alto-falante de uma capela anunciando a missa para 19:00 quando rumamos para a capela e pedimos aos coordenadores da igreja para ficar aquela noite ali, os mesmo arranjaram uma casinha fechada do lado da igreja. O Sr. Ibrain que anda com dificuldade pois sofrera a anos atrás um acidente de carro, onde ficou lesionado seus pés, mesmo assim se dispôs prontamente a ir em sua casa sob chuva pesada buscar janta para nós. Choveu a noite toda. Dormimos bem.

18/03/2007

O Sr. Ibrain trouxe café, conversamos muito, ele dizia de sua vida de trabalho duro na roça, veio do campo mesmo assim mantém sua plantação na cidade, onde planta verduras, macaxeira, milho, cria galinha. Deixamos endereço e o cordel e o site do projeto e despedimos dos dois. Logo em seguida passamos por muita água, rios, lagos nas proximidades de Imaruí. Encontramos pessoas pescando, e falavam daquele rio que muitos pescadores viviam dali. Mas que hoje estava cada vez mais difícil de encontrar peixe. Seguimos mais 10Km, fomos encher o pneu e a câmara estourou, o que fez demorar um pouco mais. Seguimos. Ao meio dia passamos num local (Mirim e Vila Nova) encontramos uma casa de antigos pescadores numa pequena comunidade, e falavam que não dava mais para sobreviver da pesca e agricultura. Havia uma vila onde todos eram uma família, mas já estavam se desintegrando. Paramos 8 km depois em um posto e fomos telefonar para nossos filhos. Felizmente com eles estava tudo bem, mas tivemos a triste surpresa da morte de João Elias do Emaús e da madrinha da Ivânia, pessoas muito próximas e queridas.
Quanto ao João Elias era um companheiro que tínhamos amizade e uma relação nas atuações nos movimentos sociais, uns 18 anos de vivência juntos. A única notícia era que havia morrido, mas não sabíamos de que forma e já faziam uns 20 dias, segundo a pessoa nos informou. Buscamos nos comunicar com a família e não conseguimos. Com muita dificuldade ficamos sabendo que foi de infarto e ficamos sob choque. Mesmo desequilibrados com tamanho abalo decidimos pedalar pois havia ameaça de chuva para a tardinha, que veio uma duas horas depois. Passamos a chuva em outro posto e ficamos remoendo a dor de não poder partilhar com mais pessoas. Depois de andar mais uns 15 km vimos que tínhamos que parar, não dava mais pra continuar a pedalar com a carga negativa dos acontecimentos para os lados do Ceará. Paramos em frente a uma Igreja à beira da estrada onde havia uma área que dava para os fundos e dava pra nos proteger da chuva. Ali ficamos a digerir as notícias as perdas, não era fácil. Pensar em chegar no Ceará e não encontrar o João para partilhar essa viagem quem tanto se esforçou para contribuir com essa. E como estaria sua família e companheiros do Emaús Trapeiros de Fortaleza.
Decidimos apresar a viagem para ver como ajudar os companheiros da Emaús e filhos do João, estávamos a 30 km de Floripa, dormimos mal.

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