quinta-feira, 12 de abril de 2007

Notícias da estrada (01/03 a 06/03)

Dia 01/03/2007 (quinta-feira)

Nos despedimos do companheiros Telmo e Milânia, recebemos de contribuição deles alimentos como sucos e compotas e geléias produzidos por aquela cooperativa (Copava).Do Assentamento Conquista de Liberdade município de Piratini – RS.
Os mesmos ofereceram para assim nos alimentarmos melhor na estrada. Mas uma despedida a mecher com a gente. Saímos dali fortalecidos pela solidariedade pedalando 8 kilometros,encontramos em frente a um camping encontramos os companheiros Cleversom e Débora e sua cachorrinha Lara do projeto (PedalEco). Ficamos um pouco a matar saudades dos dias que convivemos no Instituto de permacultura em Bagé. Andamos 10 Km dali o pneu do Inácio furou, remendamos claro e andamos mais uns 10 km enquanto o sol esfria o pneu seca novamente e procuramos a frente da casa de um agricultor para remendar, enquanto ele nos ajudava falava de sua situação, hoje só cria gado vende leite para atravessadores a 34 centavos o litro, passamos a tarde a conversar e ajeitar o pneu. Saímos dali a tardinha e encontramos um povoado já a noite à 15 km de Pelotas – Rs , e com um temporal que se aproximava botamos a barraca ali mesmo abaixo de uma barraca que vendia frutas durante o dia na beira pista, como poucos minutos com a barraca armada veio o temporal, muito vento e chuva a barra não agüentou o temporal, desramamos e passamos a noite de cócoras debaixo da barraca de venda de frutas, assim passamos a noite entre ventos e chuvas.

Dia 02/03/2007 (sexta-feira)

Saímos muito cansados, chegamos em Pelotas para ver os e-mails e comprarmos a fita da filmadora, já as 12 horas se quimos pedalando sempre com o tempo preparado para chover, a tarde foi de chuva. Chegamos a um posto de gasolina a noite e eles indicaram na área de um posto de saúde. Mesmo com chuva o Inácio conseguiu fazer a janta de seu aniversário. Dormimos bem!

Dia 03/03/2007 (sábado)

Turuçu- Rio Grande do Sul - Saímos com chuva, passamos em Cristal. Fomos comprar pão e queijo. 100 gramas de queijo era 2,00, um litro de leite daquele agricultor que nós conversamos eram 0,34 passado para a industria de laticínio. Na hora de receber o queijo o Inácio disse que tinha o dinheiro pra pagar, mas que não ia ficar com o queijo pois dar uma dentada naquele queijo seria como dar uma dentada na perna de um agricultor. O dono da padaria ficou com a cara muito fechada e fizemos carrera! Ao lado da BR encontramos também uma casa de pimentas, geléia, doces, sucos, massa de pimenta, feito pelos agricultores da região. Ficamos só com vontade de provar o doce de pimenta, mas não pudemos...era muito caro! Continuamos à pedalar e a chuva também à cair. Pedalamos mais uns 15 Km e encontramos um ônibus parado. Pela primeira vez um motorista de ônibus, chamado Wanderlei nos oferece carona, dizendo que estava indo pra Porto Alegre. Aceitamos! Mas ficamos de decidir se queríamos ir até Porto Alegre ou até Camaquã, onde estavam guardadas nossas sementes levadas por um companheiro, de Bagé até depois de Camaquã, para diminuir nossa carga. O que não sabíamos era que o ônibus estava com problema e de 10 em 10 km, inicialmente, tínhamos que descer pra colocar água no radiador que pegava fogo. Que depois diminuiu para 5 km e depois passamos a empurrar o ônibus, que era mais pesado, claro!, que as bicicletas. O dia todo conseguimos andar “de ônibus” uns 60 km. Enfim, o companheiro motorista, cansado, desiste da viagem e deixou o ônibus na sucata do amigo dele, Sr. Gastão...Que recebeu o ônibus e nos acolheu muito bem em seu galpão. Ali dormimos

Dia 04/03/2007 (domingo)

Levantamos cedo e fomos botar um pouco do relatório em dia na casa do Sr. Gastão. Despedimos-nos e seguimos viagem. Lá na frente, almoçamos pão com banana, já eram 12 horas. Pedalamos mais uns 15 km, para a nossa alegria encontramos o acampamento ‘24 de Abril’, onde paramos para conhecer a companheirada e logo nos convidaram para entrar. Depois de conversar com a coordenação do acampamento fomos convidados para almoçar e depois nos convidamos pra ficar ali aquele resto de dia e dormir. Conhecemos o acampamento que passa por momentos difíceis de reestruturação, contudo resistem: uma horta coletiva, uma cozinha coletiva, uma escola itinerante. A companheirada passou a noite fazendo cuca, bolo e pão para a marcha do Dia Internacional da Mulher em Porto Alegre e o fora Bush. Discutimos a questão da recuperação das sementes e como enfrentar o agro-negócio, cantamos canções de ninar a burguesia. Dormimos no alojamento dos militantes.

Dia 05/03/2007 (segunda-feira)

Acordamos cedo, tomamos café juntos com os companheiros do acampamento: Marina, Maria, Leandro e tanto outros que cometemos a injustiça de não lembrar os nomes.
Nos despedimos do acampamento e pegamos a estrada rumo à fazenda do João Wolkmann, um agrônomo que tem uma agro-indústria de arroz biodinâmica( segundo ele explica: a agricultura biodinâmica é a forma da aplicação da homeopatia na terra. A dinamização de fertilizantes naturais e sua aplicação na terra). Pedalamos uns 20 km e chegamos em sua fazenda, onde fomos bem recebidos por seus dois filhos e sua mãe, dona Alda. À tarde visitamos o plantio de arroz. Caiu o maior temporal que já vimos no Rio Grande do Sul. A fazenda ficou sem energia elétrica e dormimos.

Dia 06/03/2007 (terça-feira)

De manhã fomos ver a preparação dos fertilizantes homeopáticos, que consiste em: encher chifres de vaca de esterco que são enterramos no chão e depois de um ano, retirados, para serem feitas umas bolinhas que vão passar mais uns 3 meses dentro de um quarto fechado para serem diluídas em água e pulverizada em forma de benzedura, expressas em cruz, nas terras que vai receber o arroz pré-germinado. Almoçamos e mais uma vez, nos despedimos do pessoal e pegamos a estrada. Lucas, seu filho, andou conosco ainda uns 20 km. Chegamos nas imediações de Sertão de Santana, e avistamos vários acampamentos com pontos de vendas de artesanatos indígenas. Já anoitecia e procuramos saber se poderíamos ficar ali com eles e os mesmos orientou-nos a ir à aldeia falar com o cacique. Assim fizemos! O cacique Santiago escutou nossa preocupação com as sementes e disse que, hoje, os índios também estão preocupados com essa situação. O agro-negócio toma conta das terras. Ali naquela aldeia, por exemplo, são 36 famílias indígenas que conseguiram uma terra de 200 hectares. Assim, não há lugar para sua agricultura. À noite, na casa do cacique, se reuniam muitas crianças e adolescentes, no entanto sentimos que os índios também são vítimas da televisão, que ali se assistia. Mesmo assim, sentimos muita resistência, pois as crianças e adolescentes ainda falam o Guarani. Devida a terra ser pouca eles complementam a alimentação vendendo artesanato na beira da estrada. Fomos dormir. Acordamos no meio da noite com fortes trovoadas e relâmpagos. Ficamos com medo de ter acontecido alguma coisa pois todos da casa do cacique saíram e faziam enorme barulho, mas não entendíamos porque falavam em Guarani. Fizeram uma fogueira e todos voltaram a dormir.

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