quinta-feira, 12 de abril de 2007

Notícias da estrada (07/03 a 11/03)

Dia 07/03/2007 (quarta-feira)

Saímos de Cordilha da Cruz de manha cedo e o que víamos ao longo de toda a BR era acampamento de indígenas em baixo de lonas de plástico preto quente, a expor seus artesanatos de palha, crianças desnutridas, adolescentes esperando algum turista que compre. Achamos que uns dez a quinze grupos em uns 30 km de percurso, alguns a gente parava e ficávamos só a olhar para as crianças, as mesmas só entender guarani. Paramos em um e falamos com José, e ele disse que estão ali desde 80 e ate hoje não conseguiram regularizar a terra, não a onde caçar nem onde plantar por isso precisam vender artesanato,andamos mais uns 20km e chegamos a um assentamento em Eldorado do Sul a 3 km da cidade, o Assentamento Integração Gaúcha, por ter sido um assentamento constituído por trabalhadores de varias regiões do estado. Fomos recebidos por Rose e Alderi em sua casa que depois no levou a conhecer a horta agro-ecológica da cooperativa da cooperativa, premiada por seu nível de organização e funcionamento. Quando chegamos no assentamento fomos informados que as mulheres de vários acampamentos ( MST e Via Campesina) estavam numa ação de protesto e contra o agronegócio ocupando uma unidade de pesquisa e experimentos da Aracruz Celulose.
Essa ação tinha a função de demarcar o dia da mulher e a visita de Bush ao Brasil que se daria no dia seguinte.

Dia 08/03/2007 (quinta-feira)

Fomos de bicicleta pra Porto Alegre, onde estava se iniciando a marcha de protesto. Ao entrarmos na cidade já nos deparamos com a caminhada e acompanhamos ate o palácio do governo onde seria entregue uma torta a Senhora Governadora Yeda, oferecida pelas mulheres campesinas por ocasião do seu dia.
Estávamos já integrados a caminhada quando fomos reconhecidos por uma companheira libertaria de Porto Alegre, que nos apresentou para os demais deste movimento, que se incorporavam ao protesto. Chegamos em fim ao ponto culminante da manifestação, entrega da torta no palácio. A torta oferecida anfitriã compunha-se de ingredientes incomuns, de uma “especial” composição mas de duvidosas recomendações para o consumo humano, tratando-se de uma torta de eucalipto.
Este presente foi extensivo com igual regalia ao presidente norte americano Bush, que visitava o Brasil nesta data “coincidente” cujo sentido desta visita indesejada não deixa duvida que seja uma injeção de apoio moral (imoral) político e financeiro a expansão do agronegócio. Como também buscar força para combater os inimigos do império; fortalecer os transgênicos e imposta a colonização da civilização encaliptocrática da celulose.
Seguida deste momento ouve uma apresentação teatral que apresentou uma peça denominada “As Lagrimas da Aracruz” que caricaturou muito felizmente por dentro e por fora dos bastidores desta intragável realidade de dominação capitalista do agronegocio. Em seguida fomos com os compas libertários Anarco punks para a sua residência numa okupa no centro de Porto Alegre onde guardamos as bicicletas e as bagagens de viagem, e conhecemos o resto da galera. A tardinha fomos para o UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde reencontramos a caminhada de protesto, que ali era contra um convênio da universidade com os títeres do agro-negócio da celulose para pesquisas. Na UFRGS reencontramos companheiras que havíamos conhecido no acampamento de ‘24 de Abril- Camaquã RS’ que depois de participarmos da finalização da manifestação, que custou de uma exposição e distribuição de produtos agro-ecológicos simbolizando o que querem os trabalhadores. Dali voltamos pra Okupa, onde dormimos.

09/03/2007 (sexta-feira)

Conhecemos o funcionamento da Okupa, iniciando o dia com a coleta de alimentos, reciclando legumes e verduras que sobram do mercado e que são jogados fora pelos comerciantes. Depois conhecemos o funcionamento interno da casa em que consta de sala de leitura, sala de vídeo, sala de pintura, serigrafia, música, fitoterapia, e literatura naturista, salão de reuniões, cozinha e refeitório coletivos, dormitórios, o início de um pequeno herbário para verduras e fitoterápicos e uma oficina de bicicletas. Há dois anos que funciona, com projeção de se estender para o campo, adjacências da grande Porto Alegre.

10/03/2007 (sábado)

Fomos à feira agro-ecológica no Parque da Redenção, onde acentados e pequenos produtores de vários pontos do estado, expõem seus produtos integrais e orgânicos para uma população de consumidores específica. Ali trocam entre si por valores de uso e pelo que acham justo. Nesta feira encontra-se o maior sortimento e variedades de produtos na linha da alimentação saudável: verduras, frutas, legumes, cereais, como também integrais industrializados, pães, bolos, doces, compotas e bebidas. Entre as muitas trocas que ocorrem as não menos importantes são as conversas, interações, trocas de idéias, etc. “É uma grande universidade!” assim definem dois professores (Anselmo e Protásio) que se voluntariam nessas atividades ajudando nos despachamentos com os produtores do assentamento Integração Gaúcha. Estes dois professores estão sempre ali aos sábados (P. Redenção) e quartas no Pátio da Secretaria de Agricultura do Estado, “enriquecendo-se deste conteúdo e enriquecendo esse ambiente”, como afirma. Lá encontramos várias pessoas de quem bebemos desta valiosa fonte: Jalo; Marines; o agrônomo Ricardo despachando informações; Valdeci, o produtor de arroz agro-ecólogico e bio-dinâmico que nos concedeu a entrevista; e com vários outros que pedimos desculpa pela injustiça de não lembrar de seus nomes agora. Ao final da feira, pela tardinha, voltamos ao assentamento Integração Gaúcha com Marines e Jalo e passamos na Ilha das Flores, onde Marines deu uma oficina de como se fazer pães integrais para um grupo do MTD – Movimento dos Trabalhadores Desocupados. Filmamos um pouco aquele momento e partimos. Às 10 horas da noite chegamos na casa do casal e lá já nos esperavam seus filhos, Gabriel e Maria, 7 e 10 anos de idade, respectivamente. Como também a companheira Edna, ativa participante das atividades daquela comunidade, que ficara com os pequenos na casa de Marines. Logo mais chegaram o professor Protásio que se comprometera de preparar um jantar de arroz carreteiro, trazendo consigo duas amigas suas. Passamos ali uma noite festiva e conhecemos a essência da alma gaúcha contada e cantada pelo professor ao cabo de um violão romântico e crítico com músicas de sua autoria e de outros. Tomamos uns licores, bons vinhos, cantamos e contamos também nossa história de ciclovida. E perto do amanhecer fomos dormir.

11/03/2007 (domingo)

Acordamos cedo. Ivânia ansiosa para falar com Camilo, afinal era data de seu aniversário. Falou com Sandino, Socorro, Camilo que a aliviou, mas não desapertou seu coração de tanta saudade. Pensando na falta muito grande deles de vê-los crescer, de estar perto de sua formação. À tarde fomos organizar as sementes, chegando depois a irmã e o cunhado de Marines e também a irmã do Jalo. Conversamos o resto da tarde. À noite fomos ver Marinês e Edna trabalhando na padaria. Fomos também visitar Mauro e Cristina e voltando para casa o Jalo foi mostrar suas fotos, muitos álbuns e nos ofereceu algumas fotos. E Boa noite!

Nenhum comentário: