sexta-feira, 7 de julho de 2006

Notícias da Estrada 08

Narrado pelo Ciclovida:

Olá companheiros! Quantas saudades!

Para nós, vocês são construtores deste projeto, mesmo não estando na estrada de bicicleta conosco, já vivem na estrada dos movimentos sociais em busca de uma sociedade libertária. Esta nossa atitude é apenas uma maneira, isto é, uma forma de buscar a transformação social.

Estamos na estrada resgatando as sementes de revolução! Seja bem vindo conosco, você e todos que estão na construção da estrada da vida destruindo a estrada da morte! Esta que não será uma obra de poucos, mas de milhões por esse imenso mundão de tantas estradas e de tantos caminhantes. Esta caminhada não tem sido fácil, é graças a força de tant@s que estamos conseguindo superar muitas forças contrárias.

O exemplo dessas dificuldades é o que tem atravessado a companheira Ivânia. Houve investimentos pesados negativamente por parte de seus familiares para ela desistir da viagem, mas como ela está segura do que quer, voltaram-se para os seus filhos (Camilo e Sandino), as inversões afim de chantageá-la.

Os meninos que são acostumados pegar estrada conosco (tantas vezes cumprindo trajetos de bicicleta para: Sertão central – 150km; Barra do Leme – 70km; Acarape – 50km; Rio Grande do Norte – 300km e etc.), hoje rechaçam tenazmente a idéia, decidindo-se não seguir conosco, rumo a Argentina nessa campanha de resgate das sementes crioulas.

Em reunião recente tiramos um encaminhamento consensual de que não é possível andar com alguém contra sua vontade. Já vamos com muito peso, com mais uma carga de constrangimento e desânimo torna-se insuportável e o nosso ciclo pode não resistir.

Difícil também ficou para nossa companheira, que procura encontrar meios para conciliar sua ida com uma resolução satisfatória para a questão dos filhos. Esta questão reduzia-se anteriormente ao problema do tratamento de Sandino, que diante deste, todos compreendemos. Depois de resolvido, apareceu um outro, o da desistência dos mesmos de pegar a estrada de bicicleta.

Dia 24 de maio de 2006, era ultimo prazo estabelecido para a viagem, como Ivânia não podia partir naquele dia, em função de questões relativas aos filhos: uma prótese na arcada dentária do Sandino, ademais, ele queria concluir o semestre letivo, nesse caso só viajaria em julho, e o Camilo começou demonstrar uma certa indisposição, mas tudo levava a crê que fosse pelo fato de não está bem recuperado de uma virose.

Assim mesmo resolvemos partir, apenas três pessoas: Bartira, Bruno e Inácio. Ivânia e Camilo acompanhariam o restante do grupo com uma semana depois, indo de ônibus, levando as bicicletas e voltaria à Fortaleza para buscar o Sandino só no final do semestre. Com esse encaminhamento partimos, como consta no relatório de viagem. Ivânia realmente foi de ônibus com o Camilo até a cidade de Senador Pompeu, à mais de 200km, levando as “bikes”, aonde já se encontravam os três e de onde se daria continuidade a atividade do Ciclovida na Estrada.

Tivemos que nos demorar em Senador Pompeu por uma razão justificável. Razão esta decorrente da ida de Bartira e Bruno que foram de Senador Pompeu até Natal, Rio Grande do Norte, para participar de uma discussão sobre questão de gênero. Quanto a questão da Ivânia e das crianças, ocorreu que: quando a Bartira voltou de Natal, o Camilo estava numa consternação depressiva, sem querer falar com ninguém e sem querer opinar sobre nada. Procuramos saber e não foi difícil entender que dizia respeito a viagem, que já estava em contagem regressiva para a primeira pedalada na estrada, isto para ele, porque para outras pessoas já haviam começado há dias.

O companheiro Danúbio que nos acompanhara desde Quixadá à Senador Pompeu, presenciou nossos momentos de angústia e de impotência para resolvermos sozinhos o problema, e ao voltar para Quixadá comunicou para Joana e o André que se prontificaram a ir até Senador Pompeu para discutir o assunto conosco, o que fizeram, indo dia 14 de maio e a noite nos reunimos. Ao final percebemos o quanto ele (Camilo) estava rejeitando a idéia da viagem, tiramos outro encaminhamento de convidá-lo para uma conversa com todos nós, para discutirmos com ele mesmo a solução para o seu próprio caso.

A conclusão é que, a decisão do mesmo é a de ficar. Mas onde? A Joana e o André prontificaram-se a ficar com ele. Simpática proposta, inclusive para ele que aceita ficar com ela (joana), o Felipe e a Daiana, que moram em Quixadá, com a visita constante do André que mora em Fortaleza.

No caso da Ivânia, a mesma teve que voltar para Fortaleza com o Camilo para encaminhar sua volta para a Joana. Ao chegar em Fortaleza se deparou com outra questão: Sandino também não estava mais disposto a viajar de bicicleta. Bombardeada por conselhos e apelações dos familiares e vizinhos, e até ameaças de acionar conselhos tutelares, posicionando-se contra a ida dos meninos e dela própria.

Ivânia, sentindo-se impotente para resolver sozinha esse dilema, pediu para o companheiro Inácio voltar (já tinha chegado na Paraíba com a Bartira) para lhe dar uma força nestes obstáculos rumo a uma resolução, podendo ser até mesmo, a não continuidade dela na viagem, o que veio preocupar o restante do grupo.

O Inácio voltou, chegando dia 24 de junho, com um mês exato de viagem e a Bartira foi ao Crato, onde fica com familiares enquanto se resolve as questões pedentes e o Bruno continua em Fortaleza resolvendo também seus problemas pessoais. Mais um caso a resolver, o do Sandino.

Conversamos com o mesmo sobre a solução do seu problema e surgiu a proposta de o mesmo ficar na casa de Auri (mãe das filhas do Inácio), no Assentamento Rural Barra do Leme, em Pentecoste, onde estávamos morando até viajarmos. Sandino concordou com a idéia, faltava agora consultá-los (Auri e De Assis), o que fizemos dia 03 de julho/2006. Fomos no assentamento e os mesmos nos deram a resposta positiva.

Temos agora que resolver questões pendentes dos dois meninos, como escola e consultas odontológicas, caso do Sandino. Esperamos que em uma ou duas semanas tenhamos resolvido toda estas questões e estejamos prontos para a retomada da estrada, pelo que já estamos bastante ansiosos.

O trajeto que fizemos até agora foi de 500km de Fortaleza até Cajazeiras, na Paraíba, e o que encontramos de sementes foram apenas 02 (dois pimentões). As pessoas que nos deram afirmam ser naturais e já repassamos para algumas pessoas (inclusive do Acarape) plantarem, para fazermos um teste. Tivemos notícias de que podemos encontrar sementes de tomates e de outras culturas numa comunidade em Icó, aqui no Ceará, devemos passar por lá quando formos retomar a estrada.

Abraços dos companheiros do Ciclovida!

Acreditamos que vamos superar os obstáculos que têm se atravessado em nosso caminho e que a síndrome do desenvolvimento e do sedentarismo burocrático da civilização não deve nos abalar ou se ocorrer, vamos relutar!

Ciclovida.

Um comentário:

Anônimo disse...

OI queridos amigos: Estou aqui no Santiago, Chile, sou amiga de Ivania e estou preocupada pela situacion dos mininos de Ivania, espero que estejam bem onde ficaron, nao debe ter sido facil pra elles partir de seus espacios e familias. Mando um abraco forte pra elles e para minha querida amiga Ivania. Muita sorte na estrada. Aqui no Chile voces ten uma amiga.
Josefina.