quarta-feira, 24 de outubro de 2007

terça-feira, 24 de julho de 2007

É COMPANHEIRADA!

ESTAMOS AQUI, CHEGAMOS DE UMA VIAGEM EM FORMA DE ATIVIDADE OU DE UMA ATIVIDADE EM FORMA DE VIAGEM. FECHAMOS ESTE PRIMEIRO GRANDE CICLO, QUE APESAR DE TANTOS RISCOS CONSEGUIMOS CHEGAR COM VIDA. HOUVE MOMENTO EM QUE AS PALAVRAS MAIS APROPRIADAS PARA NOS CONSOLAR ERA: “NÃO TEMOS A OBRIGAÇÃO DE CHEGARMOS VIVOS”.

Chegamos! Foram 12 meses de distâncias, angústias, alegrias, saudades e ansiedades, de encontros da caminhada e desencantos chorados solitários quando Inácio esperava a notícia de nascimento do primeiro neto Antônio Manoel, filho de Margarida, é-lhe comunicado que veio à óbito por negligência médica (deixar passar um dia após os 10 dias depois) de Redenção e Acarape (Ceará). Engolir a revolta no silencio da impotência, o silêncio da impotência engolido por dois dias e uma noite de chuvas na rodoviária de Prata, no Triângulo mineiro. Tendo que, ainda engasgado, engolir a dor da morte do companheiro João Elias (que nunca foi engolido por tantos), que abraçou com vida o projeto do Ciclovida, contribuindo no máximo que podia para que a atividade fosse realizada, e esperava também nossa chegada para realizarmos juntos a reimplantação das sementes. Estávamos para chegar em Santa Catarina, quando tivemos noticias da sua morte súbita, foi também numa noite de chuva. Ficamos inconformados por não ter como partilhar o João, como também com a Preta (companheira do nosso assentamento que faleceu de ‘eclampse’ durante o parto, 4 dias antes de nossa chegada). Temos também coisas boas para brindarmos, que nos motivam a continuar na luta pelo que acreditamos e ter certeza de que essa luta vencerá. Por isso, comecemos a brindar esta recepção feita por esta comunidade, este belo jantar com uma cachacinha, partilhando a alegria de estarmos juntos nesta luta, e se a Preta estivesse aqui estaria brindando este momento conosco; brindemos estas crianças da comunidade sem esperar que chegássemos continuaram mantendo o CARICULTURA, que vieram nos esperar, e de hoje por diante não vamos esperar mais por ninguem para fazermos algo, vamos fazer sempre, porque quem não está aqui está fazendo ali ou allá. Vamos brindar dois insurgentes que estão chegando em meio aos nossos desafios para nos darem força, dizendo-nos que não é hora de fraquejarmos, e vamos escutar suas mensagens e o que têm para nos dizer. Estes são os dois Bebês: o da Bartira (que deve estar nascendo agora em Brasília) e o da Margarida (filha do Inácio) que está no segundo mês de gestação.

Chegamos! Aliás, chegamos ou voltamos? Quem chegou? Quem foi? Para onde foi? Quem voltou? Várias pessoas simpatizaram com a idéia de fazer, juntos conosco este trajeto de bicicleta, inclusive nossos filhos. Acolhemos inicialmente todos os simpatizantes com idéia. Aprontávamos para sair, nunca sabíamos quantos seríamos na estrada, mas continuamos dizendo que o mundo é furado, e a ação de cada um tem a forma e o conteúdo da sua convicção.

Não foi de uma hora para outra que tomamos a decisão. Já fazíamos planos com nossos filhos e filhas, de dar uma volta por aí, de bicicleta, por um bom tempo, sem definir por onde e nem o que fazer precisamente, mas com um eixo central: A Nova Relação com a Terra. A partir deste eixo iríamos acrescentando á este eixo, elementos que encontraríamos na estrada. Por várias razões não foi possível implementarmos em tempo desejado, mas chegou o dia, o dia em até ali, ainda não sabíamos quantos seríamos na estrada. Preparamos 6 bicicletas e saímos 4 pessoas estavam realmente decididas: Bartira, Bruno, Inácio e Ivânia.

---- A Bartira é uma companheira com quem já temos há um bom tempo um diálogo, envolvendo um conjunto de idéias, discussões e práticas sócio-filosófica-política-ecológico e cultural. Foi de interesse mútuo atuarmos juntos esta atividade, a das sementes. Claro! Ela já tinha seus planos, inclusive de fazer também uma viagem com um projeto de intervenção cultural abordando temas interessantes e polêmicos, como a loucura enquanto algo de interesse mercantilista ou a industria da loucura terminamos unificando estas motivações e enfrentando juntos os desafios da estrada, nas atividades, tanto das sementes como abordando a temática que a Bartira já tratava na monografia para o término do seu curso de ciências sociais, e em estágios que fizera em manicômios, etc. Fomos nesta juntos até Goiânia. Sua animação nos fortaleceu neste trajeto, ora brincando com a juventude e a criançada das comunidades ou simplesmente procurando sementes diversas, ou mesmo na sua determinação de atuar na desconstrução da loucura, contrapondo-se a conceitos geradores de tratamentos preconceituosos tão comum na relações entre as diferenças sociais. Ela está concluindo conosco esta etapa do ciclovida com o seu companheiro, o Rhafa (Bruce) e seu filhinho que de está nascendo agora (filho do ciclovida), juntos com o índio, Pajé Santxiê e aquelas lindas crianças lá na comunidade Reserva Sagrada dos Pajés, perto do plano piloto de Brasília. Agradecemos ao Rodrigo Nacif pela grande consideração ao projeto ciclovida, de partilhar conosco este achado. Ali se faz também uma atividade de recuperação de sementes, onde Bartira e Bruce mantém uma atuação conjunta com o Santxiê, em Brasília.

Emaús de Pajuçara, em Maracanaú até Senador Pompeu (300 km). Decidiu fazer a viagem da noite para o dia, embora já conhecêssemos suas intervenções nas lutas sociais urbanas. Insistimos que deveríamos ter um pouco de mais de conversa entre nós, para melhor entrosamento com a atividade. O tempo que andamos juntos trouxe aprendizado mútuo. Com ele aprendemos lições de vida muito importantes, uma delas é a autenticidade: ser o que é em qualquer canto que esteja. Nós observamos fraternalmente que devemos levar em contas as diferenças, respeitá-las ou pelo menos tolerá-las, principalmente quando estamos apenas de passagem. O Bruno não continuou, ao nosso ver, pela sua formação cultural, de origem essencialmente urbana, que não permitiu de imediato seu encontro sem atritos ou traumas com a realidade adversa, a rural, com a qual se deparou. Faltando de sua parte uma preparação prévia para esse diálogo. Ele mesmo poderá fazer seu comentário a respeito. Assim falamos, com sinceridade e fraternalmente. Ele também faz o Ciclovida. Um abração dos que chegaram.

---- Diego – nos-divertiu e se divertiu com o Ciclovida, de Brasília até Goiânia. Ele registrou em sua câmera e está registrado no diário da nossa vida. Até o encontro com os compas de Goiânia. Busca fortalecer os movimentos sociais com suas habilidades em mídia independente.

---- Mateus – O primeiro a registrar em suas investigações libertárias, o conteúdo de A Nova Relação com a Terra (New Relation with the Earth), quando nos visitou no Acarape, num momento em que convergiam apoios para uma situação de confronto que enfrentávamos com o governo e o agronegócio. Quem nos animou a ir até Argentina, quando nos falava tão familiarmente do companheiros piqueteiros, dos MTDs (Movimento os Trabalhadores Desocupados) de Buenos Aires, sendo mais conhecidos: La Matanza; Solano e Guernica. Passamos quase um mês visitando esta companheirada com os quais muito nos identificamos. Mattheo Feinstein do coletivo do “A GoGo” fez conosco o trajeto de Foz do Iguaçu até Buenos Aires. Destes companheiros recebemos apoios em todos os sentidos, inclusive material, que possibilitou a realização da grande tarefa no combate ação criminosa do agronegócio, com sua revolução verde. Depois seguíamos de Montevidéu até Curitiba, onde encontrávamos o Jorge. Num comentário para o nosso Blog, alguém perguntava: é o Jorge Ota? Agora respondemos - ééé! O Jorge ficou sabendo desta atividade por ocasião de um encontro de mídia independente que participou em Goiania, quando conheceu o Diego, que lhe falou do projeto. Ele já entrava em contato conosco quando ainda estávamos no Rio Grande do Sul, oferecendo acolhida. Ao passarmos pela sua casa fomos bem acolhidos por ele, sua mãe Sueli e sua irmã Dome. O convidamos para a estrada e sem alteração (sem demonstrar empolgação), respondeu: “vou um pouco com vocês, até onde me sentir bem”. Não sabemos o que é para ele “um pouco” nem “se sentir bem”. Já iniciamos com o Jorge a plantação das hortas com as sementes naturais.

Em São Paulo, quando já estávamos de volta, encontramo-nos com a Lia, companheira que desde Fortaleza já nutria a vontade de adentrar na viagem e somar com a atividade, e por força dos acontecimentos entre outras viagem e vontades, ela acompanhou o Ciclovida até Varjao de Minas corajosamente entre trancos e barrancos, superou muitos desafios, visíveis para nos que já estávamos acostumados com as intempéries da estrada, num dado tempo (um mês) acabou pegando a estrada de ônibus voltando a São Paulo, dizendo que tinha coisas a vivenciar como a “vida” cultural da megalomica cidade e os estudos.

De volta, dias 28 e 29/07/2007, estaremos discutindo encaminhamentos futuros do Ciclovida. Se fôssemos fazer aqui um lista agradecimento aos apoios, os acolhimentos, as forças que recebemos, desde quando saímos até a volta, escreveríamos muitas páginas e ainda cometeríamos injustiças com tantas e tantos que foram tão amáveis com o Ciclovida na estrada... mas citamos grande parte no diário do site, site que não fosse o dedo do Philipe Ribeiro, que presenteou ao ciclovida, junto com muita força, fazendo campanha de ajuda sempre que precisávamos, além de ir contatando apoios nos roteiros que tomávamos. Gravando CDs e vendendo, foi apoio técnico, político e logístico... fez conosco esta atividade. Fazendo uma viagem como esta que fizemos, de bicicleta, em sua maior parte, desmascaramos a campanha da imprensa da classe dominante. A campanha do medo entre as pessoas. Criando uma ilha cercada de medo por todos lado servindo de muro. Quebremos os muros! Quebremos os medos! Libertemos a VIDA!

Aguardem os informes do encontro dos dias 28/07/2007 – sábado e domingo.

Relato 30/06/07

Dia 30/06/2007 - sábado, saímos para o assentamento da Barra do Leme, Pentecoste. Passamos ao anoitecer no assentamento da Vazante Grande, ficamos um pouco com o Assis, Carmem e filhos. Às 9 horas da noite chegamos na casa grande do assentamento, todos esperavam. Muita alegria na chegada, Inácio encontrou com suas três filhas, chegamos na casa de Diassis e Auri, estavam Lurdes, Nonato, mais algumas pessoas da comunidade e toda a criançada do Caricultura (Jovens, Crianças e Adultos brincalhões) depois fomos para a casa de Mundinha.

Relato 24 a 27/06/07

Dia 24/06/2007 – domingo – saímos cedo, chegamos quase meio dia na divisa do Piauí com o Ceará. Ali comemos umas furtas e logo mais fomos comer o almoço feito do dia anterior. Ao fim da tarde chegamos num pequeno agrupamento de casas, e como já estava quase de noite resolvemos pedir para armar as barracas nas proximidades da casa. Ficamos esperando a resposta do dono da casa que autorizou. Logo vieram muitas pessoas da família e ascenderam fogueira... Percebemos que no início as pessoas estavam com um pouco de medo de nós, mas aos poucos foram se chegando e mais tarde ganhamos a amizade dos adultos, das crianças e até janta! Fomos dormir.

Dia 25/06/2007 – segunda-feira – prosseguimos de bicicleta, chegamos meio dia em Tauá. Procuramos agora a rodoviária para saber de algum transporte no rumo de Quixadá. Encontramos um ônibus que estava saindo para Mombaça, chegando em Mombaça, pegamos outro que passava em Quixadá. Chegamos às 20 horas (8 da noite) na casa da Joana, ela não estava em casa, havia saído com André seu namorado, curtir o dia de seu aniversário. André e Joana são grandes companheir@s amig@s que temos no Ceará, ambos estão discutindo o encaminhamento do pós chegada do Ciclovida. Antes chegaram seu filho o Felipe e logo mais a Daiana. Só lá para as 10 da noite é que o casal chegou, foi um encontro indescritível! Imagine! Só tudo de bom. Passamos quase a noite comemorando o reencontro. Chegaram a Nívia (filha da Rita, uma das irmãs da Joana que iria morar no campo conosco, mas faleceu dias antes de ir) com o filho; depois vieram a Quílvia e o companheiro.

Dia 26/06/2007 - terça-feira – Saímos pela manhã, nós e o André. André está voltando para Fortaleza, e nós vamos pegar um carro até Aracoiaba, de lá pretendemos fazer o resto de bicicleta. Descendo em Aracoiaba, fizemos até o Acarape, onde passamos na casa de Alcir e família, mãe de João Paulo, namorado da Margarida (filha do Inácio). Foi surpresa para o pessoal, ficamos um pouco ali com eles e prosseguimos para a casa do Bosco (irmão do Inácio), companheiro que mora num assentamento ali no Acarape. Margarida e João Paulo não se encontravam ali na Alcir, estavam no assentamento da Barra do Leme – Pentecoste. Porque pensavam que iríamos chegar direto por lá, e terminamos vindo por aqui. Chegamos no Bosco também de surpresa, foi aquela alegria. Passamos ali a noite, conversamos bastante sobre a viagem e a realidade local, etc. Fomos dormir preparados para sair de manhã para Fortaleza (Conjunto Jereissate, Maracanaú).

Dia 27/06/2007 – quarta - acordamos todos, encontramos as crianças: João Carlos e Benário, mas a Zélia (companheira do Bosco) estava na casa de sua mãe. Tivemos a visita da Cássia antes de sairmos. Tomamos café juntos, nos despedimos e saímos rumo ao Jereissate. Chegando na comunidade de Riachão do Norte, passamos na casa de Tânia e Zé Chagas. Com quem deixamos as primeiras sementes, que eram de laranja. Isto quando estávamos passando aqui iniciando a viagem: Bartira Bruno, João Paulo, Margarida e Inácio. Segundo eles as sementes não nasceram. Conversamos um pouco e prosseguimos com nossas bicicletas, rumo ao encontro com o aniversariante, Sandino. Passamos em Água Verde e Inácio fez uma ligação telefônica para as filhas dizendo que ainda estava na Bahia, e não dava para chegar este mês, mas ouviu sua filha Maira lhe desmentir, “venha simbora home, que já telefonaram para cá, avisando que vocês já passaram no Acarape”. Paramos na casa do Raimundo da Viola e Zenilda, onde almoçamos dia 24 de maio de 2006, quando estávamos iniciando a viagem. Agora o pessoal parecia muito ocupado e nós muito vexados, o Raimundo ainda disse: “espere um pouco, que eu vou já!” A Zenilda falou: “esperem que vou chamar as meninas!” Tomamos apenas um pouco de água e já estamos há 8 km para Ivânia encontrar os filhos: Camilo (16 anos) e Sandino (completando hoje 15 anos de idade), que estão na casa de Dona Beatriz (sua mãe) e de Socorro (sua irmã); para Inácio ainda falta uns 78 km (para chegar no assentamento da Barra do Leme, onde estão suas três filhas: Irene Maira (17 anos), Magarida (20 anos) e Marta Maria (10 anos); Jorge é que está ficando cada vez mais distante da sua família biológica, em torno de 4.000 km em Curitiba. Umas 13 horas, estamos chegando no Conjunto Jereissate, aproximamo-nos da casa de Dona Beatriz... A surpresa não foi maior porque já estavam nos esperando nesta data, mas foi um momento de muita alegria por parte de sua mãe e de nós também, e como de praxes: abraços e beijos etc. Os meninos não estavam em casa. A Socorro estava andando com eles para fazer uma surpresa, quer dizer, inventaria uma estória: de que Ivânia teria telefonado dizendo que não dava para chegar agora, porque estaria viajando para os Estados Unidos. Enquanto isto estava vindo com eles para a casa de dona Beatriz, e estava feita a surpresa. Se não fosse o quase, teria dado certo. É que Inácio não sabia do combinado, e foi saindo fora do portão na hora que eles iam chegando, coincidindo ser o momento em que terminaram de escutar a estória da tia, iniciando a decepção da inútil espera. Levantado a vista, ficaram atônitos, mas perceberam logo as tentativas frustradas dos pobres adultos de incrementar ainda mais o momento da emoção. Realmente ficou incrementado! Encontramo-nos todos aqui: chegaram o Sandino, o Camilo e a tia Socorro (irmã da Ivânia) Houve choro de emoção por parte do Sandino, mas agora só de alegria. Logo mais chegaram a Dadá, depois Tibério e Tiago (filhos de Socorro), Valmira, chegou o Egberto e aí comemoramos o reencontro, que aqui deu-se com a família. Ficamos até sexta, 29/06/2007.

Relato 20 a 22/06/07

Dia 20/06/2007 – quarta-feira – continuamos na beira do rio esperando um barco de pescador que iria para Passagem há 12 km de Pilão Arcado, que sairia a noite ou dia seguinte dali. Não tinha mais como se adiantar de bicicleta na estrada, Boa Vista é uma espécie de apêndice, para continuar para frente, ou é de barco ou se retorna mais de 40 km para Xique-Xique e vai por Irecer. Então preferimos esperar por barco, enquanto isso, conhecendo um pouco mais daquela comunidade. Boa Vista é um distrito, pertencente ao município de Xique-Xique, é uma comunidade com aproximadamente 800 casas, sua população constitui-se em quase 100% de pescadores, os que não são pescadores são alguns poucos comerciantes, aposentados ou atravessadores do peixe (compra para revenda). Em conversa com os jovens como ante este lugar, eles lembravam que há poucos anos atras não havia energia elétrica. A vila era animada a noite com historias de pescadores do rio ao redor das fogueiras. A criançada de boa Vista anda brinca de cirandas brincamos muito a noite. Fizemos muita amizade com as companheiras que de manhãzinha vinham lavar louças e roupa no rio, mesmo tendo água encanada e pia em casa, elas dizem que não se acostumam, que aprenderam a fazer isto foi no rio. Pela manhã ou a tarde sempre aparecia presentes de peixe para nós, das companheiras. Apesar de ser uma região de muito peixe, o pescador é o sujeito mais sacrificado de Boa Vista, assim como em quase todas as regiões onde predomina esta atividade. Foi aqui convivendo com esta realidade que ficamos mais indignados. Já havíamos iniciado a expressar nossa indignação num supermercado em Itacarambí quando fomos procurar o preço do peixe, em tons propositadamente irônico entramos dizendo: “na terra do peixe tem peixe barato no mercado!” O preço não se diferenciava do convencional, mesmo sendo o peixe mais popular da região, custava no mínimo R$ 6,00 (seis reais), depois vimos de 7 reais assim por diante por diante. É comum para quem observa o rio, em todo o seu percurso, ver os pescadores tomarem conta do cenário: todo dia e o dia todo, é noite e dia no balanço das águas e das redes, esticando e despescando, subindo, descendo e recolhendo. É comum se ver também por muito tempo, muitos não pegarem nada. Perguntamos para alguns pela média diária em quilos de pescado, responderam que é uma atividade familiar, todos da casa se envolvem: é na pesca, no trato, fabricação e/ou conserto das redes, que no geral pegam em media 10kg variando as épocas e equipamentos, a maioria que são pobres vendem imediatamente, para os compradores que já estão à espreita. Os compradores, tem os meios para transportar (barcos ou caminhões). Perguntamos pelo preço que sai daqui o pescado. A resposta nos estarrece. Quando dizem que o super preço é R$ 1,00 (Um real) por quilo de peixe, mas o normal é 80 e 60, já chegando a casos de até 25 centavos, a maioria dos pescadores tem já seus compradores certos e a maioria dos compradores tem seu pescadores certos. Um exemplo que presenciamos, tivemos a impressão de uma relação medieval de amo e servo. Os pescadores que sofrem todos os riscos: tem que investir constantemente em redes de pesca, e essas redes podem ser estragadas de várias formas: as piranhas cortam as redes, roubos, enganchos, acidentes, poluição, concorrência entre outros. Na região há um canal de irrigação, procuramos nos informar do significado da obra monstruosa, na entrada da vila, disseram-nos que era uma estrutura de canalização de água para o projeto de irrigação do baixo Irecer, há em torno de 12 quilômetros de canal feito, mas segundo a população local, a obra está parada há mais 3 anos. Estão pensando em retomar agora. Um comerciante do lugar, disse que era caminhoneiro, abandonou a profissão e comprou uma casa aqui, porque é um lugar muito tranqüilo. Ele disse que só faz horário com passageiros, para a cidade mais próxima, que se as obras daquele projeto recomeçarem vai acabar a paz deste lugar. É que vem gente de todo canto para trabalhar aqui, muitos bebem, bebem muito, enchem a cara e os bares. A prostituição aumenta, porque é muita gente ganhando trocados e gastando; briga, roubos e muitas menininhas grávida, que o saldo final é AIDS, é vovós precoces, com mais gente para dar de comer e muitas vidas frustradas. Fizemos almoço ali perto da água do rio, e a noite fomos conversar com a família da Silvânia. Enquanto conversávamos ficamos sabendo que o barco estava partindo e nós estávamos perdendo o bonde, quer dizer, o barco. Ainda corremos até lá com o companheiro da Silvania, mas não deu mais para alcançar, Vamos esperar para o dia seguinte. Os pais de Silvania nos convidaram para colocar nossas barracas e as bicicletas dentro de casa, e lá dormimos.

Dia 21/06/2007 – Quinta-feira – acordamos mais atento aos barcos, mas enquanto dormíamos perdíamos mais um barco, foi a notícia que deram dia seguinte, mas agora vamos ficar direto na beira do Rio. Se um sair, tem que ficar outro. Acordo feito. Silvania nos convidou para fazermos o almoço em sua casa, “na beira do rio tem ventos fortes e cobre tudo de areia” – realmente! Concordamos. Tudo ocorreu às mil maravilhas, mas enquanto Inácio e Ivânia foram dar um telefonema o pessoal da vila nos procurava para dizer que se não aparecêssemos no cais o mais rápido possível perderíamos outro barco novamente. Encontraram-nos a tempo, pegamos as “bices” e saímos correndo, alcançamos o barco por benevolência do piloto e iniciativa da população. Saímos ás 13 horas, chegamos do outro lado em Passagem às sete e meia da noite, ainda andamos nessa noite 12 km para acabar de chegar em Pilão Arcado. Dormimos num posto de gasolina, um pessoal bem agradável.

Dia 22/06/2007 sexta-feira - manhã cedo pegamos um ônibus para Juazeiro da Bahia. Chegamos meio dia e fomos procurar uma entidade que ouvimos falar dela, desde quando ainda estávamos iniciando a viagem do Ciclovida, era o IRPAA (Instituto Regional de Pesquisa da Agricultura Apropriada) para nós, uma das maiores motivações que tivemos para passarmos por lá é o fato de estar se desenvolvendo estas experiências aqui no semi-árido nordestino. Conseguimos encontrar a sede na cidade de Juazeiro, Fomos bem recebidos por uma das pessoas que atuam no projeto. Pelo fato de estarmos apressados não quisemos visitar com pressa suas experiências, mas ficamos de acordo voltar em qualquer tempo de forma avisada para uma visita, e quem sabe com mais pessoas interessadas. Tudo bem! A noite fomos para a rodoviária, para pegarmos um ônibus para Picos, no Piauí, informaram que só teria, saindo de Petrolina, andamos ainda uns 5 km para a rodoviária de Petrolina, atravessando a ponte do São Francisco mais uma vez. Isto porque tínhamos de apressar a chegada em casa para dia 27 deste mês. Pegamos um ônibus às 11 da noite e descemos em Picos ás 4 da madrugada. Dia 23/06/2007 – sábado - amanheceu, montamos nas bicicletas e saímos no rumo de Tauá, estado do Ceará. Desde quando nos aproximávamos, e depois nos adentrávamos no Nordeste que já sentíamos aquele friozinho na barriga, que era a emoção e a alegria de estar chegando. A vegetação intermediária e as transições climáticas: de acordo com os relevos, modificam-se climas e vegetações, como também os hábitos dos seres: humanos e não humanos que convivem com cada biomas. Sentimos por um lado, próximo a matar as saudades dos filhos, companheiros e amigos. Ao mesmo tempo sentimos outras saudades: a da vida na estrada, das comunidades e das pessoas na estrada da vida, enfim estamos chegando... chegando? Quem nos espera ainda acha longe! Não sabemos definir com palavras, sabemos apenas sentir, mas dá vontade de ficar dizendo muita coisa para tentar explicar. Vamos por aqui sentindo e vocês imaginando... Acreditem, pensamos em cada pessoa que encontramos nesta caminhada, com quem nos relacionamos... Cada dia de pedaladas vamos nos aproximando de uns e nos distanciando de outros. São dois tipos de sensação: saudade e ansiedade. Um companheiro definia quando nos passou um e-mail, dizendo: “Necessidade de chegar e vontade de não apressar, não é?”. Ao meio dia ainda no Piauí, resolvemos pedir um pouco de feijão para complementarmos com arroz que ainda vamos fazer, conseguimos, com uns jovens bastante sensíveis. Fomos para frente e a bicicleta do Inácio furou o pneu, encontramos uma casa de farinha e resolvemos parar por lá para remendar a câmara e fazer o arroz. O companheiro que é dono da casa permitiu que chegássemos por ali, e quanto a comida, ele ofereceu o que ainda tinha lá dentro da cozinha. Misturamos com nosso feijão doado e comemos, ele nos deu 1 kg de farinha. Concertamos o pneu, tiramos algumas fotos, nos despedimos e partimos. À noite conseguimos dormida num posto de gasolina. Era noite de São João, festa para todo lado! Fizemos bastante comida para janta e para o dia seguinte.

Relato 14 a 19/06/07

Dia 14/06/2007 – quinta-feira – saímos as 5 horas da manhã e chegamos às 11 horas em Bom Jesus da Lapa. Passamos uma revista na feira e fomos em seguida ao STR, cujo presidente, com quem conversamos longamente, é um quilombola. Vive numa terra como um assentamento, mas com características diferente na forma da conquista. Para a terra ser desapropriada há uma comunidade quilombola que a reivindica, depois é feito uma espécie de levantamento de antecedentes, pesquisas e estudos antropológicos para serem apresentados pareceres em forma de laudo, onde são avaliados o indícios e sinais deixados pela comunidade quilombola que deu origem a atual comunidade. Essa comunidade vai provar sua descendência do antigo quilombo. Na comunidade que este companheiro faz parte há uma auto-suficiência alimentar, todos os plantios de lá são orgânicos e naturais não queimam e nem passam trator. Diz que se vive e produz na forma de antigamente. Não vamos visitar agora porque fica há mais de 70 km daqui. Mas ficamos de voltar um dia para uma visita. Saímos de lá para debaixo de uma ponte, onde fizemos comida e comemos, depois fomos filmar a igreja da lapa, dentro da gruta. A noite encontramos com os dois diretores do STR com os quais conversamos bastante, perto da praça. Nos convidaram para dormir no sindicato, mas queríamos mesmo dormir na rodoviária para pegar o primeiro carro para Barra, onde, segundo disseram, pegaríamos barco para Juazeiro da Bahia.

Dia 15/06/2007 – sexta-feira – saímos de ônibus às 5 da manhã, chegamos 11 horas na cidade da Barra, tentamos sair de ônibus, mas nenhum quis levar as bicicletas, então resolvemos andar um pouco mais de bicicleta, rumo á próxima cidade que é Xiquexique, Bahia, segundo dizem, é mais fácil barcos, pois na cidade de Barra não tinha. Saímos da rodoviária, fomos para a beira do rio, almoçamos a comida feita no dia anterior. Fomos observar um pouco a feira da cidade. Saímos as 16 horas da cidade, e quando atravessamos o rio de balsa para pegarmos a estrada para Xiquexique, aconselharam-nos a dormir ali, que se passava a noite em movimento, naquela travessia de balsas. Ali ficamos, mas lá pela madrugada, ficamos muito atento para conversas de alguns homens, contando um “montão” de atrocidades, que misturavam filmes aterrorizantes, vida real e realidade virtual, se praticaram ou não, não se pode ter certeza, mas falavam inclusive de violências sexuais e assaltos com vítimas violentadas. Isto foi de 0:00h até as 4 da manhã.

Dia 16/06/2007 – sábado – Saímos no rumo de Xique–Xique, chegamos numa pequena comunidade de pescadores, pelo meio dia, onde nos apresentamos e conversamos, escutamos eles falarem de suas experiências de pescadores nômades, e eles escutaram nós falarmos também do nosso tipo de nomadismo. Daí a pouco fizemos arroz e macarrão e fizemos uma partilha mútua, pois eles já tinham feijão cozido. Eles estão pretendendo morar mais tempo naquele lugar porque não dá mais para viver só de peixe, eles dizem que antes dava, mas agora... Ali eles estão criando bode e estão com uns projetos comunitários para plantar irrigado, na cidade tem uma casinha mas preferem morar no interior nem que seja para plantar pagando renda. Tiramos fotos, filmamos um pouco, nos despedimos e prosseguimos. Quando foi ficando quase no escuro da noite, chegamos noutra comunidade de pescadores, é que estávamos andando pelo vale do São Francisco, há uns 4 km do seu leito, esta comunidade chama-se Pedra Vermelha. Nos apresentamos numa das casas da comunidade, que depois de nos compreender, nos acolheu com alegria. Ali jantamos peixe na casa desta família. A noite armamos as barracas na área de um grupo escolar.

Dia 17/06/2007 – domingo – fomos visitar as outras famílias daquela comunidade, acompanhados por umas jovens que nos apresentaram a várias pessoas, e nos levaram até o rio. Almoçamos com os pescadores na beira d’água. A tarde saímos para Xique-Xique que está há uns 20 km dali. Chegamos a tardinha, e à tardinha mesmo, quando ficamos sabendo que não tinha barco dali nesses 3 dias. Saímos rumo ao assentamento Cerro Azul há mais de 30 km dali, próximo a o povoado de Boa Vista, o último ponto possível de se pegar barcos, pois lá já está próximo da represa de Sobradinho. A estrada era de terra, segundo dizem, que tem muita areia. E realmente foi difícil romper, mas chegamos às 3 da madrugada na comunidade, ainda tinha uma casa aberta porque estava acontecendo um ensaio de forró de teclado, e as pessoas aproveitaram para tomar um cachacinha e dançar. Não foi fácil para nos explicarmos porque muitos homens estavam quase alterados pela bebida, com muito trabalho conseguimos nos explicar, e fomos dormir quase o dia amanhecendo, com as barracas armadas dentro de uma casinha de taipa. Que funciona como uma despensa.

Dia 18/06/2007 – segunda-feira – passamos o dia conhecendo a realidade daquele assentamento, que fica à beira do rio São Francisco, mas está seco como qualquer outra parte do Nordeste. Há estrutura de água de poço para irrigação, como também espaço. A noite houve mais ensaios.

Dia 19/06/2007 – terça-feira – Saímos rumo a Boa Vista, para pegarmos o barco. Paramos em pequenas comunidades e ao meio dia estávamos chegando, nos surpreendeu uma grande estrutura de irrigação parecida com o Projeto Jaiba, tiramos algumas fotos por curiosidade, mas percebemos que era algo assombroso, feito e administrado pela CONDEVASF, parecido com um elefante branco. Terminamos de chegar, fizemos comida, e muita amizade com pessoal da vila, ganhamos peixe, e passamos o resto do dia conversado com a criançada do lugar. Conhecemos a Silvânia, @s filh@s: Ioglas, Cládio, Ivaci e Leonis; seu companheiro Nildo sua mãe Silvina e pai Delmiro. Tem também Elieza a sua irmã, com uma nenenzinha a Etiele, A noite passamos um tempinho conversando e depois fomos dormir na área de uma casa de farinha desativada momentaneamente.

Relato 10 a 13/06/07

Dia 10/06/2007 – domingo – demos mais uma volta no projeto e filmamos algumas coisas, voltamos para sua casa, nos despedimos dele e de suas filhas e filhos e voltamos pela vila, procuramos frutas nos supermercados vizinhos ao projeto, grande produtor de frutas e verduras, mas não encontramos nada da região, e as frutas que encontramos estavam mais caras do que noutras regiões mais distantes de projetos famosos. Voltamos para Itacarambí, depois que tivemos de merendar biscoitos. Andamos 8 km de estrada de terra até chegarmos na balsa, quando atravessamos o rio, andamos 1 km, e há 4 km da cidade, olhando para as vazantes na beira do rio, resolvemos parar numa delas, lá encontramos Seu Raimundo, de 83 anos de idade. Disse que a família mora na cidade, mas ele trabalha aqui, vem todos os dias e dorme na cidade, 4 km, ida e volta, porque o aconselham de não dormir sozinho aqui. Diz que hoje tem apego à este lugar e as atividades de plantar e colher na vazante, onde sempre fez o que comer aqui e criou toda a família com o que produz na beira do rio. Não atende aos conselhos conformistas de que a aposentadoria já basta para ele viver, que podia aproveitar para descansar em casa. Seu Raimundo e tantos outros vazanteiros do rio São Francisco nunca souberam o que é empréstimo agrícola nem orientação técnica e outras assessorias, dali mesmo supria suas necessidades. Vivendo da relação de troca mútua com a terra e os vizinhos, sem provocar os impactos sócio-ambientais que são causados para a implementação dos grandes projetos que só atendem os interesses dos grandes, cujos meios de alocação de recursos para sua implementação, são passivos de questionamentos. Por trás do financiamento destes projetos podem estar os interesses escusos travestidos de justificativa da contenção da situação de miséria do povo nordestino. Tecendo comentários e questionamentos com este conteúdo, seguimos “vagarinho” para acabar de chegar de volta a cidade de Itacarambi. Chegamos na casa de Josué ás 16 horas, onde jantamos e fomos telefonar para o assentamento Barra do Leme – Salgado, falamos com Maira, Margarida, e Martinha (filhas do Inacio); falamos também com Auri, Lurdes e Mundinha. Fomos alojados no prédio do Sindicato. Passamos até madrugada conversando com o pessoal da direção do STR e um rapaz do CIMI, (pastoral indígena da igreja), Biu . Fizemos comida para o dia seguinte.

Dia 11/06/2007 – segunda-feira – seguimos para São João das Missões. Dizem que a população dessa cidade é composta em sua maioria, de índios da nação Xa-Kriabá, inclusive o prefeito é um deles. Esses possuem por direito quase todas aquelas terras daqueles arredores de Itacarambí e São João das Missões, pegando inclusive o Vale do Rio Peruaçú, nas regiões ocupadas por posseiros, onde mora o Joventino Paixão, e onde o Ibama quer criar a reserva ecológica. Andamos 10 km na estrada um pouco estragada de buracos, paramos numa casa, na intenção de comprar ovos de galinha caipira, As pessoas que encontramos na casa nos deram três ovos que fritamos num foguinho à lenha, na beira da estrada, e enquanto comíamos o pessoal da casa estavam ali conversando conosco, nos informamos um pouco onde ficava uma ocupação indígena, antes de São João. Chegamos a tarde no acampamento indígena que eles chamam de “retomada”. Depois de muito tempo esperando fomos convidados para entrar e falar com o cacique. Este nos mostrou a situação em que vivem, sob ameaças dos fazendeiros, com suas terras nas mãos dos grileiros que são mais de 40.000 hectares. Aquela ação de ocupar a terra eles chamam de ‘retomada’, dizendo que é diferente dos sem terra que lutam para conquistar a terra, mas a terra já fora tomada dos índios, restando a esse fazerem a retomada. O cacique espera que os antropólogos da FUNAI revejam melhor seus pareceres; num desses relatório há pontos fracos que podem favorecer o inimigo, portanto apelamos aos companheiros de luta mais empenho. Fomos ver como o pessoal está resistindo, fazendo adobes para construir sua casinhas, a situação de água é um ponto crítico. O cacique nos contou o massacre realizado à mando do prefeito de Itacarambí que ocasionou a morte de Rosalino. O prefeito atual de São João das Missões é filho do Rosalino que foi morto no massacre, ele estava com 9 anos de idade na época, e foi obrigado a arrastar o pai para os assassinos verificarem se ele estava morto mesmo. Neste massacre morreram 4 pessoas e sua mãe foi baleada.

Dia 12 /06/2007 – terça-feira –Levantamos cedo, tomamos café com o cacique e demais índios, e partimos para São João das Missões, lá não encontramos o prefeito, estava viajando, não quisemos esperar, estamos contando os dias para chegar em casa, a situação aperta e o tempo urge. Falamos assim mesmo com alguns funcionários da administração, filmamos a igreja construída sobre o cemitério indígena, filmamos também a prefeitura e partimos. Andamos 20 km de estrada esburacada e muita areia, chegamos na cidade de Manga, a terra dos dois jovens que encontramos em Varjão de Minas: Júnior e David, há quase um mês, dia 15/05, querendo trabalhar com a cana ou café. Foram os primeiros a nos falarem do projeto Jaiba. Dissemos para eles que passaríamos em sua cidade e visitaríamos o projeto. Agora aqui estamos, 28 dias depois, já visitamos o Jaiba e já chegamos em sua cidade. Não sabemos portanto se eles estão trabalhando lá ou se voltaram para sua terras. Fomos acolhidos pelo STR daqui. Fizemos comida, lavamos roupas. Conhecemos uma terapeuta naturista, que deu R$ 50,00, contribuindo com a viagem e um material literário sobre dieta alimentar pelo grupo sangüíneo. Nesta região, norte de Minas Gerais. Observamos que freqüentemente encontra-se terapeutas naturistas fazendo acompanhamento médico nas sedes dos sindicatos de trabalhadores rurais.

Dia 13/06/2007 – quarta-feira – saiamos a procura de embarcação o que também não encontramos, desde Pirapora que dizem que era para termos encontrado, procuramos, e ainda não encontramos, dizem que podemos encontrar em Bom Jesus da lapa. Ao meio dia fomos para a rodoviária, agora temos que apresar, vamos chegar até o dia do aniversário do Sandino (filho de Ivânia), e o mesmo tem que fazer uma cirurgia, os médicos só estão esperando por ela, é o que se sabe. Vamos agora tentar um transporte para Malhada ou Montalvânia. Tentamos pela rodoviária, mas as bicicletas não couberam no gavetão. Avisaram-nos que tem transporte do outro lado do Rio para Malhada e sairia dentro de meia hora, quase isto era só para atravessar o rio de balsa. Corremos para lá, encontramos a balsa já saindo, colocamos as bicicletas com a balsa já se afastando da terra, quase não dando mais tempo. O mesmo acontecia com um senhor que ia pegar o mesmo transporte, ele falou que este carro só está esperando por ele. Por sorte chegamos ainda à tempo... Descemos a noitinha em Malhada depois de 4 horas de estrada de chão, muitos buracos e poeira. Pegamos outra balsa para Carinhanha, de onde sairia um ônibus ás 5 da manhã para Bom Jesus da Lapa, Bahia. Dormimos na rodoviária. Batemos um bom papo com o vigilante, que contou da aventura de um ciclista daquele lugar que viajou sozinho com poucos recursos. Foi por vários estados do Brasil inclusive São Paulo e tantos outros..

Relato 04 a 09/06/07

Dia 04/06/2007 - segunda-feira – Ivânia conseguiu ligar para o Sandino e ficou mais um pouco com a Juliana, colocou argila em sua cabeça, depois nos despedimos. Fomos também fazer uma gravação com o presidente do sindicato, senhor Afonso, que falou de seu empenho em benefício dos trabalhadores, como demonstração, estava a estrutura de alojamento do sindicato, que abriga a todos os trabalhadores que necessitem. Completa que o STR tem hoje uma das melhores estruturas para realização de eventos desta cidade. A tarde fomos saber de uma informação de um barco que sairia de Januária para Juazeiro da Bahia, carregado de cachaça de um certo armazém, e que poderia nos dar uma carona, mas ficamos sabendo que fazia poucos dias que ele havia partido de viagem, e só faz isto uma vez por mês, possibilidade descartada. Passamos e-mail já avisando que estamos apressando a viagem, queremos chegar até o final do mês por vários motivos: desde a necessidade de se fazer a reimplantação das sementes, discutir este assunto, como também questões de saúde dos filhos. É como disse um companheiro “necessidade de chegar e vontade de não apressar”.

Dia 05/06/2007 – terça-feira – Saímos enfim do STR para retomarmos o trajeto do Ciclovida. Tínhamos marcado para se encontrar com seu Antônio alfaiate, de uns 90 anos de idade na beira do cais, mas chegamos uns 15 minutos atrasados e não o encontramos. Este homem testemunhara muitos fatos na beira do São Francisco, e nos interessava conversar com ele. Mas encontramos outro senhor com quase a mesma idade, antigo pescador, que nos deu uma boa aula sobre aquela região. Pudemos observar que naquela região é muito comum encontrar oitetões e noventões andado de bicicleta pela rua. A noite anterior encontramos Seu Antônio em sua bicicleta, que nos chamou atenção, percebemos nesta região sinais significativos de longevidade com bastante lucidez. De lá fomos para a colônia de pescadores. Onde conversamos com os diretores da colônia, que também estão processando a Votorantim pele matança de peixes no rio. Lá falaram de outra pessoa, um diretor de escola filho de pescador, que seria bom que o procurássemos. Fomos para sua escola, ele não estava, fomos encontrá-lo no colégio agrícola, e lá encontramos mais outras pessoas com quem conversamos bastante. Dali saímos procurando algo para comer, pois todos já estavam saindo para o almoço, e nossa condição estava de insegurança. Fomos comprar pão com bananas para comer, lembramos do que ocorreu conosco numa escola agroecológica no Paraguai, passamos quase o dia conversando com uma diretora e não fomos convidados para comer, e tivemos ainda que ir fazer. Após isto saímos pela estrada rumo ao Fabião I, onde encontraríamos a Eterna e o Joventino Paixão. A vegetação cada vez mais parecida com a do Nordeste estamos cada vez mais nos aproximando da Bahia. Chegamos a tardinha no Fabião I, no posto do Ibama, de lá nos informamos sobre a casa da Eterna, que apesar de termos causado um pouco de espanto, fomos bem acolhidos pelas pessoas que encontramos: Eterna e suas filhas: Indira e Indiana. Conhecemos a Andreia e filh@s: Quetsal e Arandé. Gostamos de conhecer o pessoal, nos identificamos em muitas coisas. Lá almoçamos e jantamos tudo ao mesmo tempo e dormimos em nossas barracas armadas na área e terreiro da casa.

Dia 06/06/2007 – quarta-feira – saímos para a fazenda Quilombo onde mora o Joventino Paixão, chamado de Jovem Paixão ou simplesmente Jovem. Chegamos lá quase meio dia na casa de Socorro, sua irmã, que nos convidou para entrar em sua casa, depois fomos para a casa do Jovem, visitamos algumas grutas e a noite o Jovem disponibilizou suas duas motos, e fomos visitar algumas pessoas, entre elas , dona Novinha uma paraibana. Lá escutamos um dos vários ruídos e tremores de terra que ocorreram naquela região. Voltamos e fomos dormir.

Dia 07/06/2007 - quinta-feira - fomos visitar o rio Peruaçú, esta comunidade fica localizada no Vale do Peruaçú, onde está projetada a reserva ecoturística, Visitamos as comunidades centenárias, do vale em que estão ameaçadas de serem removidas caso saia o projeto. Passamos em Vagem Grande, Arassá e Quilombo, encontramos pessoas com cem anos de idade como o Seu João, esposo de Dona Edília. Visitamos mais outras famílias. Voltamos e fomos dormir no Jovem.

Dia 08/06/2007 – sexta-feira – Saímos da casa do Jovem após visitarmos a horta de suas irmãs e sua companheira. Chegamos a tarde na casa da Eterna. Fomos visitar as hortas da sogra de Andreia, depois voltamos, conversamos bastante e fomos dormir.

Dia 09/06/2007 – sábado – Despedimo-nos após o café e rumamos para São João das Missões, antes paramos em Itacarambi, onde se entra para o Projeto Jaiba. Chegando em Itacarambi, fomos ao STR (Sind. dos Trab. Rurais), não encontramos mais ninguém, indicaram-nos procurar o Josué do Sindicato, não acertamos e fomos até perto da casa do Nilton, e a vizinha falou que ele havia saído, para a roça (sua vazante) do outro lado rio. Ela nos ensinou como chegar na casa do Josué. Ficamos conversando com esta vizinha que se chama Elza de Sousa, mãe de Ítalo e Fabiele. Elza nos ofereceu arroz com feijão e peixe, almoçamos bem, agradecemos e depois que encontramos a casa do Josué, deixamos nossa bagagem e saímos rumo ao famoso Projeto Jaiba. Saímos 5 km da cidade para pegar a balsa, como era sábado, encontramos Seu Romeu que vinha da feira de Januária e estava esperando também a balsa para terminar de chegar em sua casa, na agrovila do projeto. Foi-nos oferecida uma carona no mesmo caminhão da feira que ele (Romeu) vinha, assim chegamos juntos á sua moradia no projeto, com as bicicletas na carroceria. Seu Romeu mora há 13 anos neste projeto com sua companheira e sete filhos. Ele denuncia outro fato interessante: que veio para cá, saindo de um acampamento de sem terra, porque o governo declarou que a terra ocupada não podia ser desapropriada, transferindo os acampados para cá. “Somos uma espécie de colonos menos favorecido” (de segunda categoria?). Diz também que quando esses acampados vieram para cá, o governo desapropriou a área, montado outro projeto, que, segundo ele, não favorece aos trabalhadores. Ele diz que em tese, o Jaiba seria para melhorar a vida dos pobres desta região do norte de Minas, que é também sofredora das intempéries climática do nordeste do Brasil, mas na pratica só tem favorecido aos grandes. Os pequenos ficam condicionados a uma forma de produzir orientada pela indústria do agronegócio. “Os gastos da produção aqui é muito caro. Você paga a água do canal, energia, aração de trator, fertilizantes e venenos e o financiamento que é um enforcamento, devo R$ 60.000,00, resultado de um resto de conta de menos de R$3.000,00, que vinha negociando, me faltaram condições e ela cresceu” e foi crescendo, desproporcional ao seu ritmo de produtividade, tornando-se incontrolável por conta da aceleração dos juros. Disse que vai deixar ver no que vai dar. O senhor Romeu ainda não teve condições se quer, de construir uma casa de padrão mínimo, mora ainda num espécie de barraco, numa mistura de tijolo e tábuas. Como ele, existem muitos outros. Este é também um projeto de transposição, embora de porte menor do que poderá ser a transposição do rio São Francisco, é uma comparável demonstração da tragédia que pode ocorrer com a transposição deste rio. Tivemos que nos acomodarmos fora, em nossas barracas, pois sua casa não nos cabia juntos com as pessoas da casa. A situação de miséria que ele e muitos outros atravessam neste projeto, é denunciada por ele mesmo. Ele fala sem tabus, da sua situação, diz que não tem o que esconder e nem mais o que perder, que há muito de aparências, mas muita gente ali vive do bolsa-família, programa social do governo federal. Ficamos impressionados ao visitarmos vários pontos do projeto. Terra boa, muita água, Seu Romeu ressaltou a eficiência infra-estrutural do projeto. Ele disse que enfrenta problemas com a família, que não consegue entender aquela situação de contraste , de muita estrutura e pouca fartura ou miséria mesmo! A culpa recai sobre ele, que termina também não entendendo, aliás, diz: “entendo mas não entendo”. Prescindimos, enquanto movimentos sociais, de discussões e debates destas questões, por haver uma grande lacuna de conteúdos políticos em nosso posicionamento frente a realidade agrária e a estratégia do capitalismo no campo hoje. para daí tirarmos encaminhamentos de atuação, conjunto ou não. Poderemos está corroborando, conscientes ou não, com o projeto da classe dominante. Com esse grilos entramos em nossas barracas: Ivânia Jorge e Inácio, intrigados, comentando aos sussurros, aquela situação.

Relato 30/05 a 03/06/07

Dia 30/05/2007 – quarta-feira - Tomamos o café, pegamos um pouco de feijão já cozido para misturar com arroz que faríamos na estrada. Prosseguimos rumo á Januária, onde pretendemos pegar um barco e descer pelo rio São Francisco, para conhecermos um pouco da sua realidade. Fomos almoçar no STR de Mirabela, onde foi-nos permitido fazer o arroz. Prosseguimos, passamos em Japonvar, onde filmamos um horta comunitária orgânica e falamos com o pessoal, que eram mulheres, homens e crianças... Fomos dormir em Lontra, num posto de gasolina, e Inácio estava pedalando com muita dor de dente.

Dia 31/05/2007 – quinta-feira – Saímos rumo a Januária, Inácio ainda com dor de dente, e o Jorge também queixava-se de dores no estômago. Fizemos um foguinho para fazer chá, perto da entrada de uma fazenda, chegou inclusive um motoqueiro até onde estávamos, não falou nada e foi embora. Chegamos à beira do grande rio, estamos em Pedras de Maria da Cruz, e, é só atravessar a ponte estaremos em Januária. Paramos ali um pouco, conversamos com um pescador antigo, senhor Cipriano, que admite que o rio está morrendo e necessita de ser recuperado, comemos umas bananas e partimos. Atravessamos a ponte e chegamos na cidade de Januária. O caminho é aparentemente bem arborizado, mas quem observa bem, é uma pequena cortina, só existem árvores sombreando as margens da estrada, ademais, é desmatado pelas fazendas de gado na beira do rio. Fomos para o sindicato, onde fomos acolhidos, lá iniciamos um tratamento de desinflamação dos dentes do Inacio, fizemos comida e dormimos em quarto com camas.

Dia 01/06/2007 – sexta-feira - Ivânia tentou ligar para o Sandino, não conseguiu. Ficamos no Sindicato, tinha uma reunião do Banco do Brasil com os presidentes das associações, com a EMATER, com a finalidade de apresentar o número alarmante de inadimplentes do PRONAF B, e com efeito cascata, pressionar as associações, para que essas pressionem os endividados sob ameaças de aplicação de penalidades cabíveis. Neste dia contatamos com trabalhadores de várias regiões e comunidades, muitos nos convidaram para irmos em suas localidades, entre eles estava o Joventino Paixão, que mora na comunidade Fazenda Quilombo, onde a via de acesso é pelo Fabião I, na estrada que vai de Januária para Itacarambi – MG, onde existem cavernas com pinturas rupestres, é uma região a beira de um conflito entre IBAMA, índios Xa-kriabá e antigos posseiros. O IBAMA pretende transformar a região em reserva ecológica com finalidade de incentivar o ecoturismo. A projeção é dividir a imensa área em duas partes, criando um parque nacional e uma APA (área de preservação ambiental), segundo as informações técnicas que obtivemos, conversando com técnicos, sindicato e moradores da região. Ali ficamos sabendo através do Edimar da EMATER/CONAB que próxima a região das cavernas mora uma mulher que é uma antropóloga, que optou morar ali pelo Fabião I com sua família (filhas), que se chama Sueli, mas escolheu ser chamada de Eterna. Inácio foi dormir com argila, resistindo tomar qualquer fármaco.

Dia 02/06/2007 – sábado - Colocamos mais argila no Inácio, Jorge já estava melhor e saímos para a feira de Januária, conversar com os feirantes, que são na maioria das vezes os próprios produtores das tantas coisas que tem na feira. As pessoas com quem conversamos, a maioria eram trabalhadores que plantavam para comer e a sobra traziam para a feira, como: legumes, verduras, mandioca, tapioca... Conversamos com uma família grande, de muitas pessoas que fazem isto há 15 anos. Conversamos com um senhor, Seu Romeu, que vem para a feira com os produtos do Projeto Jaíba. Ele mora e trabalha neste projeto, como um dos beneficiados. Contou-nos que é uma grande enrolada. Que este projeto não é destinado a beneficiar os pequenos, e sim os grandes. A propaganda de melhoria para os pobres, não é mais que fachada, exemplificando uma das injustiças, ele fala que os pequenos (colonos de menor posse de terra) só tiveram direito de fazer empréstimo para investimentos de apenas R$ 3.000,00, por hectare, enquanto que os grandes puderam fazer de R$ 15.000,00. Ele nos convidou para visitar o dito projeto, convite aceito! Vamos conhecer a propalada ‘mega’ estrutura de irrigação na bacia do São Francisco, do município de Jaíba (por isso leva seu nome) no norte de Minas Gerais.

Dia 03/06/2007 – domingo - passamos o dia descansando, fazendo comida, selecionando sementes, e a noite recebemos a visita do senhor Valdomiro (conhecido por Valdó) com a família: dona Teresa e a filha Juliana. Eles vieram ali por força da insistência de Juliana que queria conhecer as pessoas do Ciclovida. Teresa trabalha como cozinheira e zeladora do Sindicato e seu Valdó como vigilante da mesma entidade. Dona Teresa não está podendo trabalhar no momento porque tem que estar tomando conta de Juliana que está com uma perturbação (ao nosso ver) emocional. É uma confusão só, uns dizem que é mental, outros atribuem a questões espirituais... Pelo tanto que conversamos com ela, percebemos uma pessoa normal, jovem, adolescente de 15 anos de idade, e que nos fez um relato bem lúcido, de sua vida, dividindo-a em duas fases. Sua história é marcada por um divisor de águas: há um antes e um depois que a marca profundamente. Ela nos falou o seguinte: que ficou ansiosa para nos conhecer porque ficou encantada quando soube que existia pessoas assim, que pensam parecido com ela...; que também é amante da natureza, e pelo seu gosto estaria fazendo o mesmo que nós; que morava na zona rural e não esquece a boa vida que levava de garota sapeca com suas peripécias. Vivia o contato direto com a natureza: brincando na terra quente, colhendo frutos do roçado, banhos de rio, de córregos, de chuva; gostava do canto dos pássaros, das brincadeiras com a garotada, do caminho distante e tortuoso da escola, por isso mesmo mais emocionante; lembra com saudades dos amigos, das travessuras com a molecada da mesma faixa etária, da tia simples, da simples escolinha, das broncas dos mais velhos, etc. Ela fala dessa fase com muito brilho nos olhos.

Faz porém uma descrição do que significa, para ela, a vida na cidade. Quase transtornada desabafa que não se encontra nesse mundo de mentiras e aparências; de modismo e preconceitos; sem amizades sinceras; que ela sente-se uma extraterrestre, parece que ninguém está interessado no que ela pensa, no que ela fala, no que deseja; que a forma das pessoas se relacionarem não tem nada a ver com a dela; que é com relação a escola que tem mais traumas, pois foi retirada de uma sala de aula, onde estão os alunos considerados bem comportados e colocaram-na numa classe dos ‘maus’ comportados, onde ela não agüenta o barulho, não consegue assimilar bem as matérias. Diz não se empolgar com nada na cidade e nem tem também amigos. Enfim é nessa linhagem que ela fala da sua realidade atual. Os pais dela dizem que ela sente muita dor de cabeça, mas antes ela não era assim quando estava no interior, que a trouxe para estudar. Juliana também fala de um problema que tenta resolver, que acha um desafio quase impossível, que é levar sua mãe para o interior, e diz que acha que lá, vai se normalizar. Ela conta que tem duas mães (A tia que mora na roça e a mãe biológica que mora na cidade), que gosta muito das duas, o pior é que elas moram distantes uma da outra, uma está na roça e a outra está na cidade, ela fala que quer viver com as duas na roça. As medidas que são tomadas com relação a menina, são tratamentos psiquiátricos, que pode não bastar, e até ir contra ao que ela realmente necessita. Foi isto o que falamos para dona Teresa, que disse que vai pensar seriamente no caso, podendo até mesmo deixar o trabalho para salvar a filha. Façamos votos para que isto já tenha acontecido ou venha acontecer a tempo de salvá-la mesmo.

Relato 21 a 29/05/2007

Dia 21/05/2007 – Segunda-feira - Aniversário da Ivânia, não fizemos nada de mais, que não fosse apenas um dia de paz pela boa acolhida daquela família. Fizemos um pouco de relatório. Cantamos um pouco à noite.

Dia 22/05/2007 – Terça-feira - Ivânia esteve adoentada, mas o bom repouso a fez recuperar-se rápido. Pela noite fomos (Inácio e Jorge) ao colégio, onde Janda e Welington estudam falar do Ciclovida.

Dia 23/05/2007 – quarta-feira -– Fomos participar da manifestação do dia de lutas sociais e contra a transposição do Rio São Francisco, fomos com a família de Welington e Janda em Pirapora. Durante a manifestação ouvimos várias denúncias de crimes ecológicos. Entre ela a da poluição causada pelas indústria do grupo VOTORANTIM, situadas nos rumos da represa de Três Marias, que chegaram a matar mais de 200 toneladas de peixes, sendo o surubim, o mais atingido com os metais pesados derramados no leito do rio. Outra denúncia foi a mentira que é esta transposição: são 20 bilhões de dólares que estão para ser repassados para as empresas de construção civil, que os “lobies” estão a todo vapor pela transposição. Nós nos apresentamos na manifestação, dizendo que seríamos os supostamente beneficiados com a transposição, e no entanto somos contra porque temos a certeza de que é o agro e o hidro negócio os mais interessados e beneficiados nesta água. Falamos que existe no Ceará uma miniatura da transposição que é o Canal do Trabalhador (concebido e parido na gestão do governo de Ciro Gomes), que não serve senão para estes dois setores do poder dominante. A situação dos moradores e trabalhadores das represas que emprestaram suas águas arruinou irreversivelmente, tiveram que bater em retirada porque não dá para plantar na beira d’água por o nível destas, baixarem aceleradamente. Ao final da manifestação voltamos para casa deles (Welington e Janda) novamente. Pela tarde o Alemão da CPT e Arlete da Graal vieram lá, levando parte da nossa bagagem, diminuindo nosso peso até Montes Claros, onde pegaremos, ao passarmos por lá nesses 3 ou 4 dias. A tarde fomos para Pirapora novamente, já para irmos embora, Welington nos acompanharam até Pirapora para um encontro com uns jornalistas, com os quais marcamos de fazer, e fizemos, uma fotos na areia do rio São Francisco. Após isto fomos para um acampamento José Bandeira, do MST, que ficamos sabendo que existia em Pirapora, chegamos a noite na sede, depois de nos explicarmos para a portaria e a coordenação. Lá encontramos acolhida na casa de Ismael, sua companheira Edilene e o Léo que aperreava muito ela de pincunhenta e ela também o aperreava muito, isto era brincando, todos se gostam muito. Foi muito gostoso ficar com eles.

Dia 24/05/2007 – quinta-feira - Participamos de uma assembléia da comunidade que já está com 12 anos que estão ali, mas estão dentro da fazenda, e desenvolvem atividades diversas, tanto de forma coletiva como individual. A noite fomos brincar com o violão na casa de Solange, ouvindo musicas bregas cantadas por ela (que lembrava muito nosso assentamento da Barra do Leme, em Pentecoste, lembrando muito os Ló: Lurdes, Mundinha, Bia, Diassis, Antônio Ló e Zé Maria, com quem muitas vezes nos divertimos com violão e músicas bregas nas quebradas do sertão e até acampamentos, com repertório de músicas antigas).

Dia25/05/2007 –sexta-feira – Fomos visitar os roçados coletivos e individuais, mini-cooperativas de produção na beira do grande rio, o São Francisco. Ficamos o resto do dia com os demais companheiros, e a noite com o jovem casal de militante que nos abrigou. Informaram sobre a realidade daquela terra, que era uma fazenda que funcionava como um confinamento de gado, onde vários fazendeiros traziam seus gados para serem cuidados. Era muito estruturada, tinha a principal função cultivo de ração para bovinos, isto na beira do rio.

Dia26/052007 – sábado – Despedimo-nos, saímos rumo a Montes Claros, passamos por Guaicuí, onde passa o rio das Velhas, principal afluente do rio São Francisco, conversamos com pescadores, que nos falaram da tristeza que é o rio hoje, principalmente depois do desastre ecológico causado pelo grupo Votorantim, que matou mais de 200 toneladas de peixe. Fomos informados também da existência de uma antiga igreja feita pelos negros há mais de 200 anos atrás, cujo teto hoje, é um árvore de gameleira, que nasceu montada na parede da frente do prédio.

Dia27/05/2007 – domingo – Passamos o dia subindo, pegamos a estrada circuito Serra do Cabral, almoçamos pão na cidadezinha de Água Boa, chegamos em M. Claros às 3:40h, ficamos num posto de gasolina, que por ironia era de um português, que segundo os funcionários não aceitava viajantes se abrigarem naquele espaço, nem se quer tomar banho nos banheiros do posto. Resolvemos ficar, enfrentando a circunstância desafiadora, tomamos banho, e dormimos. Agradecemos aos funcionários que não foram coniventes com o dono e não nos incomodaram.

Dia 28/05/2007 – segunda-feira – dirigimo-nos para a CPT de Montes Claros, encontramos o Avilmar da Pastoral da Terra e o Valdir do MST, o último estava ferido a bala pelos jagunços de um fazenda, onde participara de uma resistência de Quilombolas, dia 17 deste, nas imediações de Verdelândia. Fizemos uma matéria filmada com os dois relatando a situação. Lá fizemos nossa comida e partimos para passar na CAA. Já saímos depois das 16 horas e dormimos debaixo de uma mangueira, numa comunidade de pequenos produtores.

Dia 29/05/2007 – terça-feira – os moradores ofereceram-nos café, tomamos e saímos, adiante resolvemos nos demorar um pouco numas casinhas na beira do asfalto, o pessoal tinha muitas plantas, cujas sementes eram de origem natural, pegamos com eles algumas sementes, descansamos um pouco e terminamos de chegar no CAA às 13h40min. Fomos recebidos pelo pessoal do beneficiamento dos frutos do cerrado, a maior quantidade de fruto que estava sendo beneficiada era de cajá-manga, e explicaram que são muitas, há uma riqueza de biodiversidade. Há plantas e animais, cada uma com suas funções na caatinga e no cerrado, e cada qual tem seu tempo. O jovem Isaías pontificou-se para nos apresentar o funcionamento da cooperativa em seus aspectos, desde o agro-industrial, ao agroflorestal, educativo e administrativo. Funciona com o envolvimento de várias comunidades de pequenos produtores. Almoçamos com o pessoal, e andamos conhecendo aquele ambiente sob suas orientações, e junto com Natalino, sua companheira o Raimundo e a Natália, filha do casal que mora e trabalha lá dentro. Foi-nos autorizado entrar no banco de sementes para escolhermos as que nos interessassem, assim fizemos. A noite teve uma reunião, discutindo organização da casa, da qual participamos. Dormimos.

Relato 18 a 20/05/2007

Dia 18/05/2007 – sexta-feira - seguinte, depois de escutá-los sobre a situação: problema da água, que ainda por cima, fizeram um curso para receber um kit água (caixa e encanamento de uma nascente), falam que não é fácil viver ali, com relação a produção, que na região é muito forte a cultura do carvão, ali quase à beira do rio São Francisco. Fomos visitar outros assentados, como o Orlando, com 10 filhos, lamentando também da má situação, que não tinha nem café para tomar e oferecer para as visitas. Chegamos enfim na casa de Zé Foguete, onde almoçamos, e recebemos algumas sementes dele e de seus familiares: Bia, sua cunhada e a sobrinha Vanessa. Lá percebemos que não podíamos honrar o compromisso com a Arlete, como marcamos, para nos encontrarmos ao meio dia, e ainda estávamos ali no assentamento, e remarcamos para dia seguinte à tarde. Fomos andar mais, passamos na casa do Carlinho, que não estava em casa, mas ainda falamos com sua filha, a Carla, que inclusive percebemos e ela confirmou, que tinha um problema idêntico ao do Sandino ( filho da Ivânia), e, como o Sandino, também já sofrera cirurgias e já estava corrigido seu problema. Pegamos umas sementes de pimenta e prosseguimos rumo a casa do Wilson, que tínhamos conhecido na estrada de vinda para o assentamento, que nos convidou para irmos em sua casa. Andamos uns 8 km de pés , quase a noite acertamos sua casa. Foi um bom encontro, passamos parte da noite conversando, ele denunciou sua situação de dívida com o Banco do Brasil pondo a responsabilidade na prefeitura de Buritizeiro, que passou o trator acima da estrada causando um assoreamento que cobriu de areia suas mandiocas e o plantio que estava destinado ao pagamento do empréstimo. Não está sendo levado em conta pela instituição financeira esse crime cuja culpa deveria estar sendo assumida pela prefeitura. Ele fala que já vendeu o gado e agora está sem nada, e continua devendo, morando com um filho. Lá jantamos, tomamos uma cachacinha com bunilha e fomos dormir.

Dia 19/05/2007 - sábado – Filmamos pela manhã a situação do seu roçado. Fomos visitar para frente, outras partes daquelas terras, que está divida em assentamento e uma parte que é ainda posse. Há grileiros com os olhos em cima. Existem deles que já receberam dinheiro do governo para deixar as terras, e ainda continuam nelas depois de 6 anos, e por cima ameaçando de retirar os moradores que vivem há anos no local, desde quando falira a empresa de plantio e corte de eucalipto, que mantinha empregado aquele pessoal, que tal empresa, além de não pagar direitos, ainda ficou devendo a muitos, sem falar de pagar. Estes injustiçados estão morando na terra desde esta propagandeada falência. Uma parte da fazenda foi desapropriada e hoje é assentamento e a outra parte está só em regime de apossamento. Foram estas as informações que colhemos nas andanças. Voltamos pelo Wilson, onde almoçamos e fomos para a casa do Chicão, lá fizemos uma gravações de áudio com ele , e partimos para a cidade de Buritizeiro, onde encontramos Arlete, e ela nos apresentou uma família muito especial, a de Welington e Janda com seus filhos e filhas: Máira, Jaqueline, Wesley, Walisson onde ficamos a partir de hoje.

Dia 20/05/2007 – Domingo – Acordamos na casa de Welington e Janda, era aniversario de uma das filhas do casal, a Máira. Fomos visitar a feira de Buritizeiro. A tarde fomos para uma reunião de mulheres, das comunidades chamadas Gerais dos Calistos, que pretendem criar uma associação, com vistas a criar melhores condições para o desenvolvimento de atividades produtivas e para a melhoria da comunidade sóciobiodiversa. A Arlete acompanha estas atividades com homens e mulheres, e faz juntamente com el@s, a Janda e Welington o aproveitamento dos frutos do cerrado, fazendo recheios de bombons de chocolate, valorizando as espécies nativas para também estimular o espirito de preservação e salvação deste biomas. Arlete também nos falou da existência do CAA (Cooperativa da Agricultura Alternativa), há uns 40 km depois de Montes Claros, que faz esta atividade de beneficiamento dos frutos do cerrado, em maior escala, com vários outros programas como educativo e de incentivo a preservação das sementes. Foi a partir daí que resolvemos ir por Montes Claros, para passarmos na CAA, antes pensávamos de descer o rio São Francisco direto, de Pirapora até Juazeiro da Bahia, se possível de barco em sua maior parte, visitando as comunidades ribeirinhas, e as ações de conservação e revitalização do rio, como também as lutas de resistências e anti-transposição. Na reunião das mulheres falamos de nossos objetivos e cantamos algumas músicas nossas. Foram-nos cedidos os computadores da associação, a serviço do Ciclovida, voltamos em seguida para casa de Janda e Welington e a noite fomos para apresentação de folias de reis. São momentos contagiantes. Welington e Janda são freqüentadores e dirigentes também dessas folias, bem como o avô da Janda e sua mãe. É uma tradição das pessoas ligadas a religiosidade campesina. Lá conhecemos: Salomão (mestre de guia); Arnaldo preto; Zulmira; Ana; Pelé; o senhor Júlio, (segundo mestre); e depois fomos todos partilhar do jantar da folia.

Relato 15 a 17/05/2007

Dia 15/05/2007 – Encontramos várias pessoas, muitos jovens, que vieram de várias regiões de Minas e da Bahia para cortar cana e apanhar café. Um desses jovens, de Montes Claros, norte de Minas, confessava que chega-se a desmaiar no trabalho, como aconteceu com ele mesmo, sendo levado desacordado de ambulância para um hospital, pediu que não divulgássemos seu nome para não comprometê-lo. Encontramos também o Júnior e o David, que diziam estar vindo de Manga, norte de Minas, em busca de trabalho, sendo os mais prováveis: o café e a cana-de-açúcar, maior exploração da região. Eles estavam com um problema para ficar ali, é que não havia mais vagas nos alojamentos, o que costuma ocorrer em tempo de colheita de cana e café. Eles estavam a ponto de voltarem para casa depois de andarem mais de 500 km para chegarem ali, e por cima estavam sem mais dinheiro. Chegavam de uma região rica de água, de propaganda de prosperidade e de grandes investimentos, estavam vindo da beira do Rio São Francisco - e o mais incrível - das proximidades do Projeto Jaiba, no norte do estado de Minas. Eles (David e Júnior) nos informaram (por cima) o que era este projeto, que despertou nosso interesse de conhecê-lo. Falaram que é uma gigantesca estrutura de irrigação. Que Jaiba é a segunda deste porte no mundo: e que a primeira fica na Califórnia, Estados Unidos. Convidamos os jovens manguenses para almoçar conosco, comemos o que havíamos feito ali. Após isto, nos despedimos, Lia pegou o ônibus voltando para São Paulo, levando sua bicicleta, e tendo que fazer uma baldeação em Patos de Minas, por não ter ônibus direto de Varjão para São Paulo. Ficamos agora na estrada; Jorge, Ivânia e Inácio, rumo a Buritizeiro e Pirapora, beira do Rio São Francisco, para onde nos dirigíamos desde Uberlândia, quando renunciamos a passagem por Brasília, onde haveria algum evento, reencontro com os companheiros e a busca das sementes que foram enviadas para lá. Paramos num trevo chamado JK, que liga Brasília a Belo Horizonte, ali nos aprontamos para fazer comida e dormir, encontramos um senhor de nome João Paraíba, que nos informou muito sobre a região quanto ao tráfego intensivo de carvão e a realidade dos transeuntes que chamam de trecheiros, falava também (muito mal) de uma mulher “trecheira”, que esta perturbava muito, que inclusive a polícia, e até ele mesmo, já havia expulso ela dali, para fora da vila, dizia que se ela chegasse por ali “botasse para sair”. Armamos nossa barraca debaixo de uma árvore pertinho do triângulo (ou trevo). Pela madrugada esta trecheira encostava perto de nossas barracas, ouvíamos seus lamentos, que diziam: “eu só queria comida, e eles me bateram! Por que? Eu estou com fome!” Como nós havíamos feito comida de sobra (sempre fazemos assim, que pode servir para o dia seguinte, ou para atender casos assim, de alguém faminto, como muitas vezes também fomos atendidos), abrimos nossa barraca e perguntamos seu nome, e se queria comer. É claro que quis! Respondeu-nos que se chamava Verinha, Mostrou-nos os hematomas do seu corpo. Ela nos contou que costuma ser espancada por muitos ali, temia aquela noite, e não sabia como ia dormir. Convidamos para dormir aquela noite conosco... e sem problemas dormimos bem o resto da noite, numa mesma barraca: Ivânia, Inácio e a “trecheira” Verinha. Ela falava que tinha um filho (Marquinhos) com o conselho tutelar de Buritizeiro, falou que queria ir para lá ou para qualquer lugar, ou seja queria sair dali.

Dia 16/05/2007 - Fizemos comida para levar para estrada , demos um pouco para um transeunte da região, que perguntamos seu nome, e disse que era Toni, perguntamos como tinha chegado ali, respondeu que foi de jato (sabe-se lá que tipo de jato!). Fomos tentar encaminhar a saída da Verinha, como preço de passagem que nos prontificamos pagar, temendo que ela fosse gastar com outras coisas e não ir, garantimos para ela que pagaríamos sua passagem pelo cartão mas não podíamos dar dinheiro. Nesse caso ela recusou a passagem, dizendo que ficaria ali mesmo. Conversamos com a população para entendermos um pouco sua situação, nos disseram que há muitos anos que sua vida era aquela, mas, segundo afirmam, ela tem ajuda das pessoas do lugar. Encontramos um outro viajante, que estava também de bicicleta, o Francisco, que estava indo para Piracicaba – SP, de bicicleta, e ficou lá com a Verinha, enquanto nós, o Ciclovida montamos em nossa bicicletas e prosseguimos na estrada rumo a Buritizeiro e Pirapora, ainda em Minas Gerais. A noite caiu, e a bicicleta do Inácio furou o pneu, então tivemos que arrumar uma clareira na beira estrada, arrumamos as barracas e dormimos.

Dia 17/05/2007 – levantamos, fizemos merenda, merendamos e saímos, vendo muito eucalipto e um pouco de vegetação nativa, já estávamos nas micro-bacias do vale do São Francisco. Acabamos de chegar em Buritizeiro, passamos no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, como algumas vezes fazemos para obter um mapa das comunidades de trabalhadores da região. Fomos informados sobre um assentamento naquelas proximidades, de uns 10 km. Fomos informados também que havia uma pessoa que atua na cidade realizando atividades ecológicas, chamada Arlete, ligamos e marcamos compromisso para dia seguinte. Partimos para o assentamento, tendo como referência o presidente, que não encontramos, e fomos parar na casa de Chicão e família que nos receberam prontamente. Tornamo-nos amigos de todos (Chicão e Fátima, com @s filh@s Liana, Irnanda, Josimar e dois pequeninos). Depois de muito conversarmos pela noite adentro, dormimos.

Relato 09 a 14/05/07

Dia 09/05/2007 – (Quarta – Feira)

Levantamos cedo, um motorista nos ofereceu chá, arrumamos a bagagem, Ivânia ligou para o Sandino e saímos, em seguida passamos no povoado Celso Boeme, comemos banana dada pelo pessoal que nos acercava como o José Pereira, e Léo, o dono da venda, etc. Um jovem do lugar pegou endereço do site (bloger). Prosseguimos, e adiante numa borracharia á frente, fomos informados de que entrando, dali (mostrando-nos uma estradinha de chão) há uns 3 km encontraríamos um pré-assentamento. Estávamos no município de Patrocínio, Minas Gerais. Fomos então. Chegando, nos deparamos para começar com uma cidade de carvoeiras, mais ou menos umas sessenta, queimando lenha e poluindo as casas dos moradores acampados, e crianças com problemas sérios de saúde, cujas causas mais visíveis são estas carvoeiras. As tais carvoeiras que queimam árvores nativas da fazenda de todo o coletivo, funcionam com umas 15 pessoas trabalhando em regime de diaristas, sem no entanto tais carvoarias pertencerem a comunidade, e sim, a um indivíduo, ex-arrendatário desta terra antes de ser ocupada, mora na casa-sede do assentamento, é cadastrado do INCRA. Segundo afirma o Nego, a terra já foi desapropriada, e o mais incrível alguém nos falou que o mesmo sujeito está com toda a papelada pronta para prorrogar por mais seis meses seu contrato com o fazenda, isto com autorização do IBAMA e tudo, para continuar destruindo a mata nativa para transformar em carvão. O ato da ocupação ocorrera em 08/12/2002, o que foi uma grande resistência e enfrentamento à classe dominante, seu latifúndio e sua repressão, bem representados pelo estado e seus diversos órgãos a seu serviço. Tivemos estas informações conversando com várias pessoas do pré-assentamento vítimas desta política de conivência, do INCRA e do IBAMA com a classe dominante, mentirosos que fingem não saber o que se passa debaixo do seus narigões. Conversamos com o Norival, mais conhecido como Nego. Foi muito boa a troca de conversas, e de experiências com os mesmos, para os quais expomos sobre nossas atividades, e eles nos repassaram um pouco sobre o realidade, inclusive a situação de algumas pessoas daquele acampamento que se encontram-se ameaçadas pelo INCRA/Estado, podem perder seus cadastros e sair da terra por estarem com seus nomes “sujos”, pelo fato de terem participado de uma ocupação de terra duramente reprimida, tendo sido assim indiciados pela polícia. Passamos no Sindicato dos trabalhadores de Patrocínio, para deixarmos nossa moção de apoio e solidariedade aos companheiros e não saímos de lá enquanto não ouvimos os diretores do STR de Patrocínio confirmarem seu empenho nesta questão na busca de uma resolução justa e satisfatória para estas famílias os injustiçadas.
Conseguimos várias receitas alternativas ao mercado com o Nego que de tudo já fez na vida para a sobrevivência da família, e que hoje encontra-se sozinho (sem a família) acampado, contribuindo para que ele e os outros consigam seu pedaço de terra. Este acampamento é mantido pelo Movimento Sindical. Dormimos na casa do Nego.

Dia 10/05/2007

Pela manhã demos uma pequena saída pela terra (Lia , Jorge e Inácio). Ivânia ficara conversando com o Nego e algumas mulheres, que curiosamente aproximavam-se daquela casa para nos conhecer. Curiosos também, os três (Lia Jorge e Inácio) procuravam uma pedra muito interessante, foi o que nos falaram, mas, mesmo sem encontrá-la, logo nos fartamos de procurar, por vermos tantas outras coisas, tão interessantes quanto a pedra procurada. Em seguida, estamos todos na casa do Nego, prontos para irmos embora, que, à convite, resolvemos passar na barraca/casa de Elcelene, onde almoçamos em sua companhia, de outras companheiras, de filh@s e de seu companheiro, com @s quais trocamos algumas sementes, falamos sobre a poluição das carvoeiras, tiramos fotos, nos despedimos e fomos embora. Chegamos dia seguinte (11/05) na cidade de Patrocínio, passamos no STR para deixar nossa moção de apoio aos trabalhadores prestes a serem prejudicados pelo INCRA. Ficamos conhecendo a realidade desta região, que aqui predomina a cultura do café, e há muita migração do norte de Minas, sudoeste baiano, etc. Saímos pela tarde, e fomos dormir no Posto Beira Rio, perto de uma cidadezinha chamada Guimarânia – MG.

Dia 12/05//2007

acordamos, fizemos merenda e almoço, a Ivânia ficou bastante preocupada porque ao telefonar para casa soube que o Sandino estava adoentado, mas tudo sob controle, a preocupação é muito com a distância. Ficamos conhecendo a família ecologista: o Geraldo, sua companheira e o filho Jaime, com uma bicicleta carregando uma carrocinha com equipamentos de som e imagem, entre outros para sua atuação nas tarefas ecológicas de defesa das nascentes de água da região. Passamos o dia com eles, que nos filmaram e também os filmamos, como também documentamos a situação do rio Espírito Santo, que recebe os dejetos das indústrias de asfalto em sua margens.

Dia 13/05/2007

Fizemos as filmagens do Rio Espírito Santo juntos com a família ecologista (Geraldo e seu filho Jaime), conversamos com moradores ribeirinhos e partimos. Pelos caminhos apanhamos muito feijão andu ou Cuandu, como alguns chamam, catamos também tomates que produziram pelas margens da estrada, vimos muita plantação de café, muito desmatamentos, passamos pela cidade de Patos de Minas, e brincamos dizendo: “vamos passar direto pela cidade patogênica”, enfim fomos dormir num posto de gasolina há uns 30 km de Varjão de Minas.

Dia 14/05/2007

Saímos ás 08 horas da manhã, há 13 km encontramos o Assentamento Santo Antônio, do movimento sindical, não foi possível maiores comunicação, as pessoas com quem conversamos não se interessaram pelo assunto ou não entenderam, portanto não restando outra que não fosse bater em retirada. Na frente paramos para fazermos o almoço, debaixo de uma árvore vizinha a uma casa com pouquíssima sombra. Almoçamos e seguimos em frente e chegamos a tardinha em varjão de Minas, e a noite fizemos a despedida da Lia, que deu por encerrado este momento com o Ciclovida, expirava seu tempo, segundo ela. Conversamos um pouco em tons de avaliação, então dormimos.

domingo, 17 de junho de 2007

CD do Ciclovida no Estúdio Livre

Todas as músicas do CD Ciclovida na Estrada estão no Estúdio Livre para download. Lá você encontrará, ainda, vídeos de músicas do projeto.

sábado, 9 de junho de 2007

Ciclovida nos EUA

Entre 1-6 de Maio no nordeste dos EUA, um grupo de 12 pessoas fizeram uma viagem Ciclovida. Foram para hortas naturais e projeitos de agricultura urbana com BONECOS, TEATRO, e MATERIAIS EDUCACÃONAIS sobre sementes, ecología e trangênicos. Chegaram em Boston onde tinha uma convenção grande de corporações de agroindustria, e a Ciclovida "Seed Sow Road Show" participou em manifestações e atividades em contra da convenção oficial e pelas alternativas.

Ivânia do Projeto Ciclovida foi convidada para participar nessa Ciclovida nos EUA, más a burocrâcia das fronteiras fez imposivel a viajem.

Ficaram numa casa coletiva "Coletivo A Go-Go" em Worcester, Massachusetts, EUA.












O reboque esta cheo de bonecos e materiais pelo teatro.




Na cidade de Worcester o ciclovida participou numa atividade com o grupo de jovems "Cooperativa Casa Toxicos" e fizeram testes de terra para toxicos onde pessoas queriam plantar:











Ajudaram numa horta urbana "YouthGROW":

terça-feira, 22 de maio de 2007

09/05/2007

Levantamos cedo e um caminhoneiro nos ofereceu um chá, muito doce por sinal, passamos numa cidadezinha para comprar algumas frutas e mantimentos, na verduraria um trabalhador chamado Jose Pereira pagou umas pencas de bananas pra gente, logo na frente da vendinha se juntaram outros curiosos da cidade para conversar, com os quais contamos sobre a viagem e nossas atividades, alguns se adimiravam outros escutavam apáticos, passamos o endereço do site para alguns e nos despedimos, logo a frente vimos uma casa que parecia de pequeno agricultor, apesar da chaminé fumegando ninguém nos atendeu, talvez estivessem na roça... numa outra casa com um cafezal na frente, paramos para conversar um jovem, filho de pequeno agricultor que não foi receptivo com gente, já adiante na vencida busca de um oásis de sombra e agua fresca cada curva e subida nos rendeu a fazer um lanche de banana com farinha numa borracharia, no conversa com o borracheiro inacio pergunta meio por acaso se ele não conhecia um acampamento ou assentamento, e por conhecidencia tinha um pré-assentamento logo perto, adentrando numa estadinha de terra a uns 6 km.
Na ruela poerenta, lia cai um tombo na descida mas nada grave, logo na entrada do pré-assentamento encontramos muitas carvoarias, e logo ns informaram a casa do cordenador do “Nego”, Que nos recebeu e fez um relato da situação da região, sendo acampamento de 2002 que veio resistindo com poucas pessoas as investidas do dono, através da truculência da policia e a demora do judiciário.
Dentro de um ano chegou a 94 famílias, mas quando resolveram entrar na fazenda esse número caiu muito, conseguiram a desapropriação e no dia 22 de março de 2007 mas falta algumas coisas como demarcação das terras e divisão dos lotes e recursos atuar no assentamento.
Enfrentam grandes problemas internos, tais como: convivência com o ex-gerente que beneficia-se de 60 carvoarias em atividade diária com carradas de 2 caminhões saindo por dia do lugar, derrubada e queimada da vegetação nativa que pertence ao coletivo de assentados. Outro problema é a fumaça que fica fumaçando no assentamento, outra preocupação e a de pessoas com pendência na justiça pelo fato de terem participado de lutas pela conquista da terra, e durante um despejo forçado onde 600 policiais despejaram 40 trabalhadores que ficaram marcados pela justiça dificultando a documentação para o titulo da terra. A noite conhecemos pessoalmente esses companheiros que estão enfrentando esses dificuldades, João Mauricio, José Odair e Jose Vicente.

08/05/2007 Saída de Uberlândia

Levantamos na casa do Lucas, passamos alguns cordéis para ele, recebemos um livro de poesias de Marilly, “Leros e Boleros”, arrumamos as coisas e atualizamos os últimos dia do blog, Lia resolveu continuar mais uma semana, só faltava decidir se iríamos por Brasília ou Pirapora, exatamente na hora de sair essa indecisão, mas a vontade de conhecer a realidade do rio são Francisco pesou mais forte.
Na despedida estava presente Lucas, Edson, Marilly e Luciano, fizemos algumas fotos e em seguimos boralá.
Já na estrada para Pirapora, a uns 4 Km a bicicleta do Jorge deu problema no pé de vela, resolvemos voltar pra cidade para arrumar, depois desse causo, tocamos estrada via a muitas subidas e buracos, o que era ariscoso quando as maquinas motorapocalipsadas tomavam de assalto o acostamento mesmo na contra mão, paramos em um posto e fizemos uma comida de arroz com ervilhas, conversamos um pouco e saímos umas 4 da tarde passando por Indianópolis, onde alem das crateras estradinas e os monstros motorizados a paisagem que predominava era vastos monocultivos de café, Algodão, pinos, pasto...
Anoiteceu e a nossa procura de algum cantinho pra armar as barracas se frustrava quando as entradas iluminadas que pensávamos ser um posto eram entradas fortificadas de grandes fazendas.
O cansaço estava nos vencendo e as divergência entre dormir no mato ao lado do acostamento eram os quereres de inácio e jorge, já lia e ivania mesmo pelejando no pedal e no escuro queriam achar um posto, sequimos pedalando noite adentro ate um posto no qual jantamos a flamigerada mistura de farinhas do jorge (macaxeira, milho,trigo,cana) e dormimos já exaustos.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Depoimento


A compra da bicicreta...
...O sufoco de atravessar SunPaulo...
O posto abandonado...mal-assombrado!
As subidas difíceis e o vento-contra!
...as sombras nas placas da estrada...
As tentativas frustradas de carona.
A incansável estória da Subta!
A casa do Seu Zezé...
"Desliga o rádio, Adriana!"
A linda Dona Francisca!
O Alex, Marquinhos, Márcia!
Os banhos de rio...as noites de frio...
"A Berlândia! Berlândia! Tamô chegando em Berlândia!"
O Feijão Andu e os tomates no pé da estrada.
As cachacinhas da região!
As sementes...muitas...muitas...
As horas...os dias...as noites...
A ocupação no albergue Castelinho!
As granolas e farinhas inacabáveis do Jorge!
As noites emburacadas...os arranhões!
As receitas e história do Nêgo... as cobras...as onças...beatas...
As lições do Aparecido, Tereza e Priscila.
..."Dinheiro" "Boa vontade"...as conversas do índio com o Inácio.
As abóboras do Xapori!
As chateações com internet!
As despedidas demoradas...
...os pneus furados!
"Cuizcuiz"...bananas-passa...uvas-passa...
"Passa...passa...É tranquilo!"
Rapadura! Passa!
...a sede...o cansaço...
as recompensas...os aprendizados...
...a amizade... o respeito....
A saudade!
A vontade que fica de voltar a ver todos...o mais breve possível!
As empresas...a ganância...o lucro...
...Os bichos mortos na pista...
...a fumaça...sujeira...desrespeito...
nuvens de venenos...exploração...
...inconsequêcias e a nossa indignação!
Depoimentos, fotos...gravação!
Os urubus, tucanos, asa-branca...
...os papagaios, vários...mortos no chão!
Tamanduá-bandeira, lobo-guará... atropelados!
Geraldo, Jaime e família e crianças na luta pela limpeza das minas de água!

A liberdade...Ah! A tão amada liberdade!
...ladeira abaixo, vento na cara...velocidade!
Infinita liberdade!!!

As queimadas, os carvões, as matas acabadas!
As vacas curiosas!
O campeonato de berrante!
As horas de relatórios!
Pintar com a luz!
Lua cheia na pista!
Cantorias com Wilson, Branca e João e a Nova Cachoeirinha!
As árvores...as flores!
As máquinas, tratores...anúncios... propagandas...Bebedeiras e acidentes de carro.
A kilometragem nas placas e as discordâncias do quanto já se andou e do quanto ainda falta...
As paradas para o almoço!
"Fazer um foguinho! Coloca um feijão rapidin pra cozinhar!"
Laranjas, melancias, acerolas, mamões
Suco de maracujá, chás!
A impotência dos sindicatos e a nossa insatisfação!
Buchas de metro!
O esforço das formigas!
A vontade de querer ser mil!
Cana-de-acúcar, café...
os ônibus rurais e a exploração!
O barulho dos motores!
Os agregados do sem nada no Zé Rocha!
Os fugitivos do ritmo no sarau do Zé Carlos!
O passe-livre a sopa do Tonhão!
A luta pela independência!
O intalado na garganta
O aperto no peito
O sol me matando
As incontáveis quedas e as mãos!
As coisas que ficaram pela estrada...
Os trens de Minas!
...O fazer de cada lugar o seu lugar...
As conversas furadas, babozeiras, brincadeiras, invenções...
E o não falar, o silêncio...a introspecção!
Os momentos...Únicos!
O pão branco com queijo e doce de goiaba.
Um pingado de café!
A realidade...a vontade...a admiração!
As piadas, palhaçadas...Risos frouxos!
Ednardos, Azevedos...
O difícil caixão do Inácio...
Estar sozinha na cidade patogênica e...
Como será que vocês estão?
É preciso estar aberto!
É preciso estar liberto!
Os pensamentos positivos, as figas, as discordâncias
As risadas!
Foi muito bom e no fundo da minha alma eu estou feliz!
Os céus limpos...nublados...Estados!
O nascer e o pôr do sol...
Os vôos rasantes das borboletas e das aves.
As descobertas!
As perspectivas!
Os ideais!
...Os planos de uma vida!
O mínimo de tudo e o máximo de nada!
Banhos de chuva!
O açúcar mascavo...-boas- de milho...
Ervilhas!
Horizontes...Montes!
Quantas palavras mais seriam preciso?
Saudade do pedal!
...Saudade!...
....Saudade!!!

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Dia 04/05/2007

acordamos às cinco horas da manhã e saímos de volta rumo ä Uberlândia, pois tínhamos um compromisso às quatro da tarde na UFU, articulado por Alex (Ateu) e Fabiana. Fomos informados que os compas Edson e Lucas oferecsram sua casa e computradores para ficarmos e atualizarmos o site, e da faculdade iríamos para lá. Chegamos meio dia e meia na casa de Paçoca e Taís, almoçamos e fomos para o compromisso, chegando às quatro e meia, encontrando uma galera que aos poucos foi encostando, onde ficamos até as nove da noite. Ali trocamos idéias, expusemos sobre a atividade do Ciclovida, catamos algumas músicas. Ao final conversamos muito com umas jovens, Jaqueline e Agnes que estão bem conectadas com os movimentos sociais no campo e na cidade, passamos contato e regressamos para casa dos compas Taís e Paçoca e deixamos a casa dos companheiros para dia seguinte.. Ali, uns foram e dormir mais cedo, e outr@s, caso do Inácio, Paçoca... ficaram conversando até tarde da noite. Uberlandi ate que e uma cidade pacata...

Dia 03/05/2007

quinta-feira continuou intenso, gravamos entrevista com o Wilson que falou de suas pretensões, como projeto de vida e atuação para um futuro relativamente próximo, após o loteamento da fazenda, falando do eixo filosófico do projeto a ser implementado, que se baseia em três princípios fundamentais: Naturalismo, Espiritualismo e Anarquia. O mesmo fala que se encontra sozinho nessa tarefa, e que busca ajuda de pessoas que se encontre na realização deste Projeto, cuja atuação prioriza os menores de rua. Seu e-mail é: naturalismonovaera@yahoo.com.br . disponível para contato e discussão com interessados, em seguida fizemos uma entrevista com o João Batista sobre suas experiência na terra pois, tanto a Branca, sua companheira quanto ele tem uma cultura essencialmente. Estes também pensam na terra dentro da perspectiva de uma mudança de relação com esta terra, pela via agroecológica. Mesmo sendo tratado de forma preconceituosa por ser ex- presidiário, fala de humilhações que passou frente as pessoas como torturas físicas que sofreu por parte da policia, que teve inclusive seu fígado estourado de espancamentos policiais por conta deste preconceito. A tarde fomos ao banho no Rio Tejuco ao lado do assentamento, na volta encontramos alguns ciganos, relembrando a passagem anterior, fomos visitar outros, e a noite trocamos mais umas baionadas de viola e em seguida entramos numa discussão, muito produtiva por sinal na casa do João Batista e Branca sobre a questão das sementes, o pateamento feito pelo agronegócio, sobre como deveria nossa ação a partir de ontem rumo a nova relação com a terra. Neste bate-papo fomos dormir bem tarde.

02/05/2007




Tínhamos combinado de ir para o assentamento Nova Cachoeirinha visitar uma companheirada que já conhecíamos quando passamos ali de ida sentido Nordeste Sul. Pessoas como o Wilson, o João, a Branca, o Paulo, entre outras, bem como também algumas famílias ciganas, etc. Fizemos para isto, um deslocamento de 50km, Sudeste oposto a nosso rumo, mas de grande compensação pela estreita relação afetiva e afinidades nos campos político, ecológico, entre outras, que criamos da vez passada. Foi o dia todo para chegarmos, lá partilhamos saudades, informes, músicas, dormimos tarde apesar do cansaço físico, o que não poderia ser diferente, mas com bom descanso mental.

Dia 01/05/2007

Foi um dia de descanso e muitas (hi)estórias, Paçoca e Tais nos contaram de suas estadias em Porto Alegre com os pessoais da okupa de lá e a paranóia entre os ”carecas e punks” alem de outras tretas. Tiramos o dia também para fazer um almoço bem regado e conhecer outros compas de Uberlandia e de passagem um pessoal de Goiania, que alais conhecia outros companheiros de lá, uma enorme conhecidencia foi quando a Lia e o Jorge perdidos quando tinham ido comprar umas paradas de comer, cruzarem pelo Ateu para pedirem informação... eita cidadezinha pequena so... a noite a conversa se animou ate de madruga.

Dia 30/04/2007

Pegamos a estrada vagarosamente. Ao cair da tarde fomos chegando em Uberlândia. Chegando, procuramos internet para verificar o retorno de um companheiro, do qual tínhamos referência, o Alex. Quando vimos o email descobrimos que ele agora estava morando em Uberaba, a cidade da qual já havíamos passado. Mandamos outro email para ele pedindo contatos de seus amigos. Um mototaxista parou para conversar com Lia e Ivânia, enquanto Jorge e Inácio estavam na Internet. Ele se ofereceu para levar-nos até o albergue da cidade e disse que estava a disposição. Seu nome é Eduardo. Nos levou até o albergue e lá jantamos, mas não ficamos para dormir. Fomos até perto da rodoviária e voltamos a ver os emails e o Alex tinha acabado de responder o nosso e passar o contato de Paçoca e Tais. Tentamos ligar e ninguém atendia, mandamos mensagens e como todos já estavam cansados resolvemos ficar numa pousada. Quando já estávamos na pousada o Paçoca liga e nos encontra na rodoviária, e seguimos para a sua casa. E lá dormimos.

COMPAS NA FRENTE DA CASA DO PAÇOCA

Dia 29/04/2007

Pegamos a carona e descemos em Uberaba. Continuamos andando, chegando num retorno onde ouvimos um barulho de batida de carro. Ao olharmos para a direção ainda pudemos ver o carro capotando. Nos aproximamos e o rapaz com o rosto ensangüentado já havia sido retirado do carro. Fizemos mais alguns telefonemas e saímos para fazer almoço numa ponte recém construída para a duplicação da via. Saímos à tardinha e fomos dormir à 30 km de Uberlândia num posto de gasolina localizado na via contrária.

Dia 28/04/2007

Levantamos e fomos procurar a casa dos pais de Márcia, do acampamento do MLST, em Ribeirão Preto. Por coincidência, ficava bem perto do albergue e lá chegando fomos convidados para o almoço. Ouvimos suas histórias de muita peleja como bóia-frias. Conheçemos o avô de Márcia que falava dos desastres de caminhões que tombavam com os trabalhadores. Nos despedimos e seguimos até o posto de gasolina no fim da cidade, onde conseguimos uma promessa de carona para o dia seguinte, às 5:00 da madrugada. Fomos dormir.

PAIS DE MÁRCIA, AVÔ E FILHA