quarta-feira, 21 de junho de 2006

Notícias da Estrada 07

Narrado pelo Ciclovida:

Décima primeira parada – 29/05/06, Domingo - São Luiz de Ibaretama. Meio dia. Localizamos a casa de Izinha e Valdeneide através de um telefonema para Joana em Quixadá. Essas são companheiras de outras épocas e amigas de Joana, Inácio e Ivânia. Com elas falamos do Ciclovida. Izinha nos ofertou um pimentão maduro de sua própria lavra, dizendo ser natural, que havia recebido de um amigo da serra, que plantava desta semente há anos. Será esta a primeira semente natural? Vamos testá-la! Depois de almoçarmos rumamos à Quixadá, eram 14 horas do domingo, dia 29/05/2006.

Décima segunda parada – 29/05/06, Domingo - Quixadá, as cinco horas da tarde entramos em Quixadá e logo encontramos, na entrada da cidade, jovens perto do Liceu praticando pulos mortais e ciclismo numa bicicleta de causar admiração, esta tinha dobradiças sem travas que necessitava de muita habilidade para se andar nela, porque fica se jogando para os dois lados e hora os pneu estavam andando em paralelos, nos enturmamos um pouco com eles e partimos para acabar de chegar na casa da Joana.

Chegando na casa dela, encontramos além do pessoal de casa: Joana, Daiana, Felipe, Dona Maria, e o companheiro Danúbio e Ivânia e o Camilo que se juntarão ao ciclovida na estrada (que são também ciclovida), Margarida, filha de Inácio e seu namorado, o João Paulo, que fazem parte do Acarape também nos tem dado apoio significativo nesta jornada. Estas pessoas tem sido de grande importância para a construção do Ciclovida, articulando debates, nos acompanhando, e principalmente no envolvimento com suas realidades como eles fazem.

O pessoal de Quixadá: Joana e sua filha Daiana, o jovem companheiro Danúbio, as pessoas que compõem a diretoria do Sindicato dos Servidores Públicos (Graça, Luciene, Alexandre...) estiveram conosco sempre desde as primeiras vezes que estivemos em Quixadá falando do Ciclovida, programaram até campanha de finanças para viabilizar o projeto, juntamente com companheiros jovens estudantes da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central – FECLESC em Quixadá: Marquinhos e Marcondes e professores como o Edisom, entre outros. Os jovens Belchior e Rute e o companheiro Osvaldo deram apoio irrestrito, divulgando a atividade realizando com os integrantes do ciclovida: entrevistas, filmagens etc. O SINDSEP além do mais publicou o livreto de Literatura de Cordel, "O Processo de Cura Natural ou O Nascimento da Cura no Pacto com a Natureza", de autoria de Inácio do Ciclovida, nos oferecendo uma edição de 500 cordéis, que serão vendidos para dar suporte financeiro para a viagem. Nós, do Ciclovida, levamos no coração todos que estão solidários com esta caminhada e que só a Natureza, poderá agradecer a todos nós, quando perceber os efeitos das nossas ações se ainda chegarem a tempo.

Em Quixadá, o ciclovida reuniu-se mais uma vez para discutir encaminhamentos relacionados com nossa atuação política na estrada. Como havia entre nós companheiros que defendiam que o ciclovida deveria realizar ações de militante, como protestos, pichações, etc. tivemos que discutir o assunto, decidiu-se que:

1- o Ciclovida não tem centralismo e não é uma organização de militantes e sim uma atitude voluntária de pessoas que unificaram sua afinidades no objetivo de fazer um levantamento e resgate, das sementes naturais (crioulas ou caboclas) de bicicleta pelo Brasil e além fronteiras;

2- quaisquer decisões serão tomadas por consenso;

3- com relação as eleições o ciclovida vai ignorar total;

4- enquanto movimento social, no momento nos limitamos a discutir e a partilhar nossas preocupações com indivíduos e coletivos interessados e/ou que venham a se interessar pelo assunto, no campo e na cidade que é o levantamento das sementes, sua coleta e incentivo a sua distribuição através da troca entre plantadores, sua preservação e discussão sobre a Nova Relação com a Terra, numa campanha contra a modificação genética dos vegetais pela indústria do agro-negócio, o patenteamento dos seres, contra as sementes TERMINATOR (suicidas), por um mundo livre de queimadas e de transgênicos;

5- outra coisa é que, quem fizer ação isolada sem discussão interna não pode envolver o grupo.

Em Quixadá foram realizados dois debates: um pela manhã do dia 31/05/06, terça-feira, e outro pela noite do mesmo dia na FECLESC, sobre as atividades do ciclovida, enfocando temas diversos, além das sementes, mas imanentes à questão, como: reforma agrária, movimentos sociais, mercadoria e educação na reforma agrária. Dia 01/06/06, foi passado o documentário, A CARNE É FRACA na sede do Sindicato dos Servidores Públicos de Quixadá – SINDSEP, onde assistimos com a diretoria do Sindicato.

Décima primeira parada – 29/05/06. Às Uruquê, chegamos na Churrascaria de um senhora chamada Fátima, que a pedido de Bartira permitiu que fizéssemos um cuscuz de massa de milho, que logo após comermos feito farofa, saímos...

Notícias da Estrada 06

Narrado pelo Ciclovida:

Oitava parada – dia 28/05/06, sábado. Churrascaria na estrada de Quixadá, vizinho ao posto da polícia rodoviária, onde lanchamos mais ou menos 11 horas e o Bruno pediu dois pauzinhos que sustentava um estandarte de propaganda de preços, que serviria para brincar de “malabares”. A filha da dona (que era funcionária) não fez questão, mas quando o Bruno foi tirar, a mãe (dona do comércio) não deixou, irritando a filha, que se chama Vanusa, após a mãe dar as costas, rasgou o estandarte e entregou os pauzinhos para o Bruno, dizendo: “eu mostro como você os leva”. Agradecemos sua ação e partimos...

Nona parada – Às 13 horas paramos nas proximidades da Placa de Zé Pereira, encontramos uma banquinha de venda de produtos da roça: milho cozido, jerimum, castanhas assadas, café, entre outros. Comemos umas castanhas com milho e café e batemos um bom papo com as pessoas dali sobre sementes e sobre saúde com uma senhora de quase oitenta anos. Ela nos falava sobre seus problemas de saúde e os potentes medicamentos que tomava e de sua alimentação que era composta de muitos industrializados, enquanto mostrávamos a contradição: por ironia, a banca de produtos naturais (da roça) era do seu filho e ao entender tal contradição, a mesma senhora (dona Amélia) já preferiu para si aqueles alimentos expostos à venda para os transeuntes da estrada (turistas). E escutamos uma confusão para dentro da casa, que até parecia ser da família que certamente não tinha gostado nada da nossa interferência. A velhinha agradecida, nos deu milho verde, café e saímos amigos, menos da família.

Décima parada – Às 17 horas no Piranji, ali jantamos num pequeno restaurante, que nos cobrara três jantas por R$ 8,00, dormimos na calçada de um armazém de milho sobre nossos colchonetes saímos após o café, dia seguinte...

Notícias da Estrada 05

Narrado pelo Ciclovida:

Sétima parada - Dia 27/05/06, sexta-feira - Acampamento Uruanan, propriedade da agroindústria Cione em Chorozimho, imediações do Triângulo de Quixadá. Chegamos às 10 horas da manhã. Ali éramos aguardados pelos companheiros, principalmente por Rodrigo e Leidiane. Chegando, fomos apresentados ao acampados com quem trocamos idéias sobre a nossa atividade de ciclovida e o Bruno e a Bartira brincaram com “malabares”, atraindo a atenção de crianças, jovens e adultos e enfim falamos também de, além das sementes, de questões de gênero e sobre a loucura, que é um assunto abordado por Bartira na sua monografia na conclusão do seu curso de ciências sociais e a mesma pretende discutir esta questão pelos caminhos do Ciclovida, o que já iniciamos neste acampamento.

Falamos da loucura como uma produção sócio, política e cultural, onde alguém pode interditar alguém por contrariar seus interesses ou simplesmente para se beneficiar sócio, político ou economicamente. A loucura pode ser usada como forma de neutralizar pessoas/problemas que possam vir a causar empecilhos às pretensões ambiciosas de outrem. Alguns exemplos citados dão conta de que existem em manicômios pessoas marcadas por sofrimentos extremos, vitimadas por atos extremamente injustos, há pessoas traumatizadas por terem sido violentadas ou extorquidas por pessoas do seu próprio entorno: vizinhos ou familiares como maridos, filhos etc. e depois internadas como loucas. Assim estas pessoas perdem as forças de relutância e sua recuperação não é desejada pelos beneficiários de sua loucura e o sistema de tratamento mental torna-se apoio aos “vitimadores” e não para os vitimados.

Nós, os integrantes do Cilovida sofremos também discriminações e preconceitos muito parecidos, falam que estamos fazendo uma loucura, e xingam nossas atitudes de “porra-louquices”. A história dos movimentos sociais são também recheados desse tipo de tratamento dado pela ideologia da classe dominante e sua pedagogia com intuito de imprimir um preconceito sócio-cultural, arma camuflada de grande poder de combate a luta política dos oprimidos. Indo um pouco atrás na história, época do massacre de Canudos, Antonio Conselheiro teve sua cabeça aberta depois de morto, para se saber que tipo de anomalia podia existir na cabeça de um sujeito que inquietava tanto um sertão tão passivamente pacífico, a ponto de se armar contra o poder.

Este discurso do ciclovida é resultado de sua metodologia de ação, o de atuar unificando as afinidades na luta de resistência pela vida dentro de um mundo culturalmente biodiverso. A discussão sobre as sementes mexe com todo um mundo de diferenças, mas interligado pela vida.

Notícias da Estrada 04

Narrado pelo Ciclovida:

Quinta parada – Dia 25 de Maio, quinta-feira - Acarape. As 11 horas, encontramos com a presidenta do sindicato dos servidores públicos de Acarape e Barreira, que há um mês atrás havia se comprometido de contribuir com o Ciclovida na compra de 50 reais de literatura de cordel, justificando não ser possível por não ter como encontrar hoje a pessoa responsável pela liberação de recursos, despachando por sua conta uma mini cesta de alimentos no valor aproximado de 15 reais.

Encontramos em seguida com Fran derlan e Sandra num carro do ESPLAR que nos convidaram para passar na comunidade, precisamente na vila dos Guilherme, município de Chorozinho, onde estão construindo cisternas pelo programa “1 milhão de cisternas” para conversarmos sobre sementes. Os mesmos levaram nossas bagagens até a dita comunidade e nos esperariam a noite. Logo mais fomos convidados para um almoço oferecido por Margarida e João Paulo. Almoçamos juntos com a galera do Grupo Alternativo da Juventude de Acarape ( GAJA): Margarida, João Paulo e Francisco seu irmão, Cássia, Katiane e Sharlon. Este grupo desenvolve atividades libertárias junto a juventude do Acarape, além de apoiar a luta sócio-ecológica do Grupo Autônomo do Assentamento 24 de Abril, desse município e outras lutas como a do ciclovida. As duas horas da tarde caímos na estrada rumo ao Chorozinho.

Sexta parada – Lagoa dos Patos, às 5 horas do mesmo dia. Chegamos à Vila dos Guilherme, encontramos com o Fran e a Sandra, que nos apresentaram ao pessoal que construía as cisternas em forma de mutirão e confeccionava as bombas de puxar água das cisternas. Logo à noitinha fomos convidados a expor os objetivos da caminhada do Ciclovida, o que fizemos, colocando que buscamos realizar uma tarefa, a de fazer um levantamento sobre as sementes naturais, partilhando uma preocupação com os rumos que estas estão tomando sob a ofensiva da dominação da indústria do agro-negócio e suas metas de em pouco tempo controlar de todo o processo produtivo do setor agrícola a partir da apropriação das sementes.

Hoje ainda restam algumas sementes como o milho, feijão, arroz, entre outras que fazem parte do cotidiano dos plantadores. As sementes mais ameaçadas hoje são as das hortaliças, que já receberam um tratamento de enfraquecimento genético para que não se reproduzam nas mãos de quem as plantam. Falamos da contradição que pode ser uma Reforma Agrária, onde o agricultor toma posse da terra ao mesmo tempo em que perde a posse das sementes, que significa também a perda da autonomia frente ao processo produtivo no campo agrário. Falamos também que não é possível realizarmos ocupações de cunho econômico, mas de cunho sócio ecológico, travando discussões políticas de produção e apropriação, pois nosso produtivismo aumenta a força política com que a classe dominante nos massacra.

O desaparecimento das sementes das nossas mãos é uma situação que temos que contornar, do contrário, teremos no campo uma situação incompatível com a vida e com os próprios interesses históricos dos explorados, arriscando de ficarmos completamente impotentes (com risco de irreversibilidade do possesso) se não tomarmos desde já uma atitude com relação a tudo isso. Relutar para não perder a posse das sementes naturais e por uma nova relação social de produção e do ser humano com a terra é uma condição, “sine qua non” para buscarmos a reversibilidade do reequilíbrio da vida na terra. Conhecemos, entre outras pessoas, o Sr. Chico Rufino e o companheiro Bosco, este último escreve poesias ressaltando os lamentos da terra e da natureza, cantando em forma de música. Este pessoal é também muito sensível à questão das sementes. Depois que nos ofereceram um jantar, deram-nos uma casa para dormir, onde dormimos: Inácio, Bartira, Bruno, Fran e Sandra depois de conversarmos e cantarmos as músicas do Ciclovida até aproximadamente meia noite.

Notícias da estrada 03

Narrado pelo Ciclovida:

Dia 24/05/06, quarta-feira.

- Saída da Comunidade dos Trapeiros Movimento Emaús (quase 10 horas).

- Presentes na despedida: João Elias, Sabrina, Elizabeth, Decklé Renan.

- Acompanhantes: Ivânia (até a entrada de Acarape), João Paulo, Margarida (até o Acarape). Batemos fotos.

Primeira parada - 11 horas, na Monguba, há aproximadamente 10 quilômetros de caminhada. Casa de Zenilda e Raimundo da Viola e família, onde almoçamos, descansamos o sol do meio dia e partimos às 14 horas;

Segunda parada - 15 horas, há 2,5 km para chegar a Guaiuba, 20 quilômetros de caminhada, onde tomamos água, café e ganhamos 4 laranjas naturais que as levamos para tirar as sementes e repassar por aí;

Terceira parada - Riachão do Norte, 35 quilômetros de caminhada, casa de Zé Chagas e Tânia, onde tomamos café e conversamos muito sobre sementes e o mesmo (Zé...) falara de suas pretensões políticas de puxar um movimento de protestos às eleições, como greve de votos... Deixamos uma laranja com ele que se comprometeu plantar suas sementes;

Quarta parada - Assentamento 24 de Abril, Acarape, 45 quilômetros de caminhada, onde foi palco de muitas lutas e discussões sobre a nova relação com a terra, onde enfrentamos muita resistência contra as ações depredadoras do capital, representado pela cúpula da associação local do assentamento e técnicos do Estado (INCRA) e empresas locais como a Ypióca e Yamacon, surgindo o Grupo Autônomo, como forma de resistência aos desmatamentos e vendas das madeiras para estacas e da água do açude, isto defendido como meio de criar condição de sobrevivência na terra, respondendo compromissos de dívidas, inclusive bancárias e outras necessidades. Esta dar-se de 1999 até nossos dias.

Chegamos na casa de Bosco e Zélia onde jantamos, conversamos pouco porque o mesmo e seus dois filhos encontravam-se caídos de virose, repassamos três laranjas para o Bosco que se comprometeu em plantá-las. Dia seguinte pela manhã tivemos a visita de Cássia, Katiana e Sharlon do Grupo Alternativo da Juventude de Acarape (GAJA) e partimos para o Acarape (há 2 km) após um banho do açude do assentamento.

domingo, 11 de junho de 2006

Ciclovida no Mídia Tática

O boletim do Mídia Tática publicou em seu sítio a carta de apresentação do Projeto Ciclovida.

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Notícias da Estrada 02

O Ciclovida chegou em Senador Pompeu nos últimos dias e pretende ficar a semana por lá. Em breve mais detalhes da viagem e da chegada em Senador Pompeu. Percurso: Fortaleza - Acarape - Quixadá - Senador Pompeu.

domingo, 4 de junho de 2006

Foto do Título



Fotos da saída no Emaús

Saída, 24 de maio, de Fortaleza.
Do Emaús para a Argentina...
Já na estrada...

Trecho de "Passe Livre Sem Limite"


"Catraca só em bicicleta
O resto vai pra marreta
Vamos quebrar qualquer uma
Que em nossa frente se meta"

Manoel Inácio do Nascimento

(Cordel) Os Pacotes Econômicos no Brasil de Sarney à Fernando Henrique Cardoso e a Estratégia Burguesa desde o Consenso de Washington

Autor: Manoel Inácio do Nascimento

Desde trás, de muito sedo
Que engrossaram nossas peles
Com Saiad e com Dorneles
Que assumiria Tancredo
Vem antes de Figueiredo
A luta contra a inflação
O povo sem direção
Para uma via de fato
Sempre é quem pagou o pato
Iludido com eleição

Representatividade
Sempre pregaram as esquerdas
Foram inúmeras as perdas
Dessa retrógrada vaidade
Que teve sua validade
Vencida pela história
Volte um século na memória
Se encontre com Conselheiro
Está aí meu companheiro
Sem dar mão à palmatória

Uma Comissão se senta
Lá nos Estados Unidos
Foi mais ou menos nos idos
De oitenta e nove à noventa
E um grande pacote inventa
Pra oferecer diretrizes
Pra governos de países
Que dívidas internas e externas
Os amarram pelas pernas
Intensificando as crises

Chamam Consenso de Washington
Ou de acordo informal
Onde o Banco mundial
E o FMI apostam
Que aquilo que eles encostam
Servem pra o terceiro mundo
Propõem esse plano imundo
A união aduaneira
Onde eles metem a madeira
Pra arrebentar nosso fundo

Para nós pobre povão
Consenso de Washington é
Onde os grandes metem o pé
E você pensa que é a mão
Dizendo que a intenção
É melhorar o país
Mas daquilo que se diz
Para aquilo que se faz
Já temos provas demais
Desse consenso infeliz

Pois toda a América Latina
Levando assim a pior
Com a medida “Open door”
Foi grande a carnificina
No México e na Argentina
O clima ficou hostil
Pra o povo a situação vil
Fome e repressão pesada
O diabo é que esta charada
Chegou também no Brasil .

“Open door” é abrir portão
Para os mais desenvolvidos
Usam vários apelidos
Pra confundir o povão
Pois esta medida cão
Em pacote se desdobra
E muito caro nos cobra
O preço que a gente paga
E o peso dessa praga
Para as costas do pobre sobra

A união aduaneira
Com o Collor se inicia
Onde a “tecnologia”
Entra aqui sem ter barreiras
Atravessando fronteiras
Sem respeito à realidade
Sem pesar desigualdade
Que isto acarretaria
A Social Democracia
Deu-lhe essa autoridade.

Se alimentando de emprego
As máquinas sofisticadas
Logo em poucas mastigadas
Nos deixou no desemprego.
A massa em desassossego
Caminha léguas e léguas
E mais sem dias de tréguas
Dados pro Collor e PC
Ficamos eu e você
Sem nada assim feito uns éguas.

Sarney, o Plano Cruzado
Mandou na nova república
Foi grande a vergonha pública
Onde tudo é congelado.
Pra manter fiscalizado
Todo mundo se mexeu
Quando a panela ferveu
Esquentou inflação subiu
Ligeiro o plano caiu
E o povo foi quem perdeu.

Em oitenta e seis, mesmo ano
Lá vem o diabo de novo
Doido pra enganar o povo
Mas caiu no desengano
Pois no diabo deste plano
Ninguém creditou mais
Petróleo subiu demais
A classe média sobrou
Nesse ninguém se engajou
E o Plano ficou pra trás

O plano Bresser Pereira
No ano de oitenta e sete
Foi o plano canivete
Chegou passando rasteira
De forma vil traiçoeira
Corta em miúdo o salário
No slogan o ideário
Era o combate à inflação
Mas produziu recessão
Sacrificando o operário.

Parecendo uma avalanche
Lá vem o Plano Verão
Grande do tamanho do cão
Sem que em nada se enganche
Arrebatou nosso lanche
Saiu feito um furação
Levou três zeros na mão
Dolarizando o cruzado
Como um ente endiabrado
Subiu levando a inflação...

Plano de tudo resolve
Até a vida de Sarney
Pois do jeito que ele “vei”
Dele ninguém se comove
Veio tirar fora os nove
Subido a taxa de juro
Deixando ao povo um futuro
De custo de vida alto
A divida interna dá salto
Pra um amanhã obscuro.

Lá vem mosquito com tosse
Valei-me São Gavião
Ressacando com o verão
Lá vem um plano precoce
Ainda antes da posse
Receita do F.M.I.
O homem de Canapi
Do Estado das Alagoas
Trazendo “ novas e boas”
Medidas pra nós aqui.

O papocado então veio
Com a volta do cruzeiro
Pois quem guardava dinheiro
No banco perdeu foi feio
No outro dia o bloqueio
Com a cobertura da Globo
Com PC planejou o roubo
Até não poder com as rédeas
Derrubou a classe média
Fez todo mundo de bobo.

O Collor com o seu arranco
Culminou com o seu Impeachment
Tentando pousar de vitima
Escapuliu do barranco
Assumindo Itamar Franco
Continuísmo se vê
Depois de Collor e PC
Continua a mesma história
Com as medidas Provisórias
Do ministro F.H.C.

Venha cá se mesmo fique
Lembre-se de Itamar Franco
Quando com maior “arranco”
Chegou o Fernando Henrique
Criando com maior pique
A tal da URV
Que fez o F.H.C
Garantir sua eleição
Provocando recessão
Fazendo o real nascer.

Bem no final do cruzeiro
Foi o maior alvoroço
Lembro que botei no bolso
Uma porção de dinheiro
Esse fluxo foi ligeiro
Não deu nem um mês direito
Pra o engano ser desfeito
E o dinheiro foi sumindo
E a gente ficou sentindo
Na panela o seu efeito

O dinheiro eles levaram
Do bolso do cidadão
Pra tampar o buracão
Dos Bancos que eles quebraram
As estatais leiloaram
Acabando o que era doce
Só muita miséria trouxe
As medidas assassinas
Desde a venda da Usiminas
A Vale do Rio doce

Enquanto na Previdência
Do Brasil era um sufoco
Era fraude, era papoco
Escândalos sem precedência
Na Argentina a decadência
Econômica estava um rolo
Mas para o nosso consolo
Aproveitando o embalo
Lá o ministro era Cavallo
E o daqui era Cutolo.

Quando as bolsas de valores
Nas cidades principais
Onde estão os capitais
Dos grandes investidores
Causam espantos e horrores
Quando elas sofrem uma queda
O investidor se arreda
Pois o que temem é confisco
De economias de riscos
Na qual é presa á moeda .

Bolsas internacionais
De Hong Kong ao Japão
Passam por grande pregão
Em dois dias cruciais.
Oito bilhões de reais
O Brasil queimou num traque
Pra o real não ter um baque
Pegou reservas do saco
E pra tampar o burraco
Manda um Pacote de ataque.

Chamam Ancora Cambial
Esse saco, meu irmão,
É que dá sustentação
Pra manter vivo o Real
As verbas do Social
Têm uma finalidade:
Manter lucratividade
Dos que saboreiam o céu
E cobrem o real com o véu
Da própria fragilidade

A bolsa Internacional
Cai mas sobe de repente
Deixando muito doente
O “pobrezim” do real
Da reserva cambial
Comeu logo oito por cento
Os juros tiveram aumento
E a medida desumana
Produziu numa semana
Mil anos de sofrimento.

Montando em nosso cangote
Vem ai à revelia
Pois já tá chegando o dia
De a gente dar o pinote
O peso desse pacote
Quer nos deixar os destroços
Engole os empregos nossos
Quem já comeu nosso ouro
Nossa carne e nosso couro
Só falta roer os ossos.

Arrocho salarial
Aumento de desemprego
É o presente de Grego
Do governo federal.
Ao morrer este Real
Vai dar esperneação
Alimentando ilusão
Este governo de novo
Vai tentar ganhar o povo
Pra sua reeleição.

Plano inconstitucional
Que desrespeita o Brasil
Demite trinta e três mil
No Serviço Federal.
É um insulto frontal
Que se abre aos quatro ventos
Os números são violentos
Na demissão que haverá
Porem só no Ceará .
São quatro mil e seiscentos.

Reduzindo a passos largos
Os cargos comissionados
Muitos estão condenados
A não subir mais de cargos
Passam momentos amargos
Terão que apertar os cintos
Satisfazendo os instintos
Dos donos dos capitais
Cargos públicos federais
São setenta mil extintos.

Vão órgãos nacionais
Como o inss
Vai o F.N.S
Que tem servido demais
E vão-se os estaduais
É o Real mostrado a face.
Vão acabar com o IDACE
Junto com ele a IOCE
E um chamado SEPROCE
A CEDAP e a EPACE.

E um corte nas Estatais
De dois virgula um bilhões
Em Autarquias e Fundações
São empregos que não vem mais
E acelerando atrás
Vai a privatização
Em noventa e oito vão
Aumentar a nossa cruz
No telefone, água e luz
Subindo a tarifação

Para mais de dez por cento
Irá o imposto de renda
Com esta medida horrenda
Só o flagelo tem aumento
Quem tem pensão ou aposento
Estão cento e cinqüenta mil
Na mira da foice hostil
Do Fernando Henrique Morte
Que quer acabar de um corte
Com o aposento no Brasil.

Vem descendo uma tragédia
Para um bem próximo futuro
Pra fazer cair do muro
O resto da classe média.
O governo tem a rédea
Forçando sua decisão
Desde impostos á extinção
Dos seus cargos ocupados
Resta pra um dos dois lados
Ela fazer opção.

F.H.C. fez um jogo
Seu pacote foi enfático
Quer fazer um recuo tático
Ao se ver brincar com fogo
Populista e demagogo
Disse que vai abrir mão
No numero de demissão
Disse um governista a esmo
Que o resto do plano mesmo
Vem depois da eleição.

Porém o capitalismo
Hoje entra em contradição
As forças de produção
Dobram -se ao mercantilismo
A fase do Imperialismo
Já é coisa do passado
O que está sendo pregado
É a globalização
E o bode de expiação
É o peso do Estado.

Dezembro/1997

(Cordel) O Processo da Cura Natural ou o Nascimento da Cura no Pacto com a Natureza

AUTOR: Manual Inácio do Nascimento

Há uma prática elitista
Na medicina em geral
Inclusive a naturista
É um ramo comercial
Interesse nesse tema
Há em função do problema
Dos empregos, hoje em falta
Com bom retomo aos que usam
Muitos no ramo se cruzam
Com seus produtos em alta

Não está fora da política
A questão do naturismo
Em si ela é uma critica
De morte ao capitalismo
O fato de ser negado
O industrializado
Como algo que faz mal
O caráter de renúncia
Implica numa denúncia
Que condena o capital

Nada de bom se espera
De um sistema doentio
Se tudo que ele gera
Não desenvolve sadio
Qual será nossa saída
Pra reconquistar a vida
Se é o desenvolvimento
Que causa o Caos social?
Pela vida natural
Tem que surgir movimento

Num sistema naturista
Cada um é o seu doutor
Seu próprio especialista
É de se conhecedor
Conhecendo a anatomia
Buscando sua autonomia
Liberta-se do capital
Pros ares manda o chavão:
Que automedicação
É-lhe prejudicial

É necessária uma pausa
No vício do consumismo
Que da doença é uma causa
Assim como o egoísmo
Onde você seu lema
Em ninguém mais vê problema
Pois todos você os têm
Só você que fala e pensa
Só você que tem doença
Melhor nem pior ninguém

Hipócrates foi incisivo
Disse: quando alguém deseja
Sua saúde de é preciso
Ter certeza que ele esteja
Pronto a suprimir as causas
Daí podermos sem pausas
Contribuir pra curá-lo
E disse sem arrogância:
È só nessa circunstância
Que a gente pode ajudá-lo.

Pra conquistar a saúde
Tem que haver boa vontade
Que do egoísmo mude
Pra solidariedade
E que também o prazer
Não se reduza a comer
Coisas boas no lugar
Ponha na sua cabeça
E não somente obedeça
Aos vícios do paladar

Se você está ocioso
Tudo o que quer é comer
Só pensa em prato gostoso
Não enxerga outro afazer
Que pra preencher o tempo
Usa como passatempo
Programações de TV
Se o que mais tempo lhe traga
É Ana Maria Braga
Com receitas de “Bifê”

Tome logo uma atitude
Meu amigo e minha amiga
Porque da sua saúde
Ana Braga é inimiga
Pois o seu sedentarismo
Provoca-lhe um consumismo
Que o faz adoecer
Levante suas defesas
Integre-se à natureza
E busca nela prazer

Somos vitimas de um processo
Em meio ao fogo cruzado
De bomba é feito o progresso
È guerra pra todo lado
O lucro tem seu suporte
Na fabricação da morte
Com armas, desde as diretas
De destruição em massas
Até as que estão nas massas
Que fazem as nossas dietas

Há uma massa que alimenta
E outra que é alimentada
Com relação violenta
Entre ambas camuflada
Uma exposta em mercantis
Outra nos trabalhos vis
Uma está pra ser vendida
E a outra pra se vender
Uma precisa comer
E a outra de ser comida

Somos um povo doente
Porém hipnotizado
Compulsivo e dependente
Dos produtos do mercado
E consumidor em dias
De suas mercadorias
E por elas se consome
Desregulando a pressão
E trocando o coração
Pelos produtos que come

Puxa-se o tostão do bolso
Pra comprar refrigerante
E na hora do almoço
Toma-se líquido bastante
Come produto animal
Fazer isto se dá mal
Embora tenha certeza
Que está pondo em risco a vida
Fuma e se excede em bebida
Enfraquecendo a defesas

Se você quer viver bem
Deixe produto animal
É bom se lembrar também
De ingerir pouco sal
Menos cozido, não quente
Perceba o meio ambiente
Deixe o mau-humor e o medo
Quem só preza os próprios vícios
E não gosta de exercícios
Vive mal e morre cedo

A pessoa enfurecida
Com a menor contrariedade
Vive sempre aborrecida
Fúria é sua qualidade
Só se maldiz de penúrias
Sobre enfezamento e fúrias
Há no naturismo teses
Que dizem que raiva se herda
Do corpo cheio de merda
Pois se enfezar vem de fezes

No naturismo há uma frase
Que é digna de crença
“Que o sangue sujo é a base
De toda e qualquer doença”
Pois não terão eficácia
Nem remédios de farmácia
Nem do naturismo a cura
A alimentação errada
Com déficit e demasiada
Leva rápido à sepultura

Para a gente ter saúde
Tem que enfrentar desafios
O mercado nos ilude
Vendendo como sadios
Frango, carne e açúcar branco.
Precisamos lhe ser franco
Para que não adoeça
Enlatados, margarina...
Bolo e pão de massa fina
É melhor que a gente esqueça

Nosso intestino é comprido
Não cai bem sermos carnívoros
Ele é bem mais parecido
Com os dos animais frugívoros
Leite na alimentação
Só o da amamentação
Um ano, no máximo dois
Mas levedo de cerveja
Sempre que possível seja
Fibras de trigo e de arroz

É difícil a cura então
Sem que haja uma dieta
É só com alimentação
Que a terapia é completa
Frutas, legumes, verduras
Influem tanto nas curas
Mais que qualquer tratamento
Hipócrates porém dizia:
Que alimento é terapia
E terapia é alimento

Disse-nos Padre Renato
Que para curar pessoas
No mundo inteiro de fato
Não nos faltam plantas boas
Ele faz as divisões
E especifica funções
Na cura bioenergética
Pra um chá: uma antibiótica
( que ele chama pró-biótica)
Uma digestiva e uma diurética

Sua cura natural
Não pode deixar de ser
Uma opção pessoal
Por um modo de viver
Mas com a vivência ativa
De interação coletiva
Na ação de todos os dias
Num pacto com a natureza
Vai curar-se com certeza
Com as mais simples terapias:

Antibióticas são as planas:
O Confrei e a Bananeira,
Goiaba e a Espinheira Santa
Crista-de-galo e Mangueira
Também folha de Babosa,
Eucalipto e Cancerosa,
Sete Copas, Cipó Suma
Avelós, Penicilina,
Tem também Terramicina
E de Juá: folha e espuma.

Pro sistema digestivo
Em geral ervas amargas
Contra parasita vivo
Elas dão fortes descargas
Cordão-de-frade lhe ajuda
Mastruz, Artemísia, Arruda
Fedegoso, Quina e Boldo,
Marcela, Gervão. Guiné
Losna e Erva Macaé
È como passar um rodo

Para os rins: Abacateiro
Desta planta não se afaste
De Quebra-pedra rasteiro
E Quebra-pedra de haste
Chapéu-de-couro é papoco,
Lixeira e Fibra de côco,
Cana do Brejo, meu filho!
Carambola e Douradinha,
Vargem de Jucá, Cavalinha,
Salsa e Cabelo-de-milho,

Mororó, Pata-de-vaca,
Também Cana-de-macaco
Se a dor de urina ataca
Ponha no fogão um caco,
Ponha no caco semente
De melancia e esquente
Depois de torrá-las, pise
Cem sementes para um litro
De água, estando em grito
Vai resolver sua crise

Pra pressão alta; Alfavaca,
Cana-de-açúcar (calmantes),
Mulungu também “aplaca”,
Araticum e semelhantes,
Sabugueiro, Mil-em-rama
O chá de Alecrim tem fama
Cavalinha é especial
Guaraná em folha é uma
Como Pitanga e Guaxuma
Pra pressão arterial

Se sua pressão é baixa
Tome Alfafa e tome Arnica
Canela também se encaixa
Padre Renato é quem indica
Bolsa-de-pastor, Bardana
Figo Caseiro é bacana
Salvia, Salsa, Casca-de-anta
Tem planta que não se acaba!
Com Pita e Serralha Braba
A sua pressão levanta

Pra coração : Coloral
Cactos ou Mandacaru
Se seu coração vai mal
Chá das folhas do Chuchu,
Guaçatonga e Flor-da-noite
Alecrim é de açoite!
Oliveira e Girassol,
Cidreira e Chapéu-de-couro
Crista-de-galo é um estouro!
E Anis pra colesterol!

Pra ataque de epilepsia
Botar barro na cabeça
Á noite por quinze dias
Da Coronha não esqueça
Ou da Mucunã o pó
Da semente uma grama só
Num litro de água fervida
Salsa Parrilha e Limão,
Cebola, Alface, Agrião,
Alfavaca é garantida!

Água fresca pr’alegria,
Calêndula também acaba!
Olhos de Santa Luzia,
Chamada Trapoeraba´!
Faça a cura do limão
Coma melão e mamão
Pra levantar as defesas
O chá de cordão-de-frade
Catuaba meu compadre
Cipó milhomem é beleza!

Depurativas são plantas
Pata-de-vaca e bambu
Algodão caseiro homem!
Cavalinha é bom pra tu
Diuréticas em geral
Cipó-de-escada não é mal
Pé-de-galinha e Picão
Malvão também é beleza
Sete Sangrias certeza
Cipó-suma e Jalapão

Asma: Alfazema, Agrião...
Alho, Guaco e Hortelã.
Alfavaca e o Limão
(suco e folhas de manhã)
Sabugueiro e Capim -santo
O Gengibre e o Cardo-santo
Eucalipto se aconselha
E para pneumonia:
Laranja três vezes ao dia
Suco com mel de abelha

A vida surge da terra
Da terra compõe-se a vida
A vida no chão se enterra
Enterra-se o sêmen suicida
Do suicida sêmen surge
Surge do chão, chão que urge,
Urge em torná-lo embrião,
Embrião que se anima
Anima-se e rasga por cima
Por cima ha vida no chão

A terra é um alimento
Pra vida que dela vem
É um bom medicamento
É mãe de todos também
Vidas nela não se esgotam
É dela que as plantas brotam
Nela todos ser se cria
Seu uso medicinal
Para curar qualquer mal
Chama-se geoterapia

Para a geoterapia
A terra que se aconselha
É o barro de olaria
Que se faz tijolo ou telha
Ou ponha um pouco de força
Arranque o barro de louça
Pise com pó de carvão
E coloque no local
Ponha no lombo ventral
Pros males que seguirão.

Pra afta, amigdalite,
Pra asma e pra alergia,
Colite, azia e artrite,
Pra broncopneumonia,
Febre e ulcera estomacal,
Pra problema menstrual,
Urticária e verminose,
Pra fígado e pra coração,
Suor no pé e na mão,
Pra gengivite e artrose

Hemorragia uterina,
Mulher de idade ou garota
Para arrancar toxina
Estresse, flebite e gota...
Intestino intoxicado
Ou gasoduto tampado
Corrimento vaginal
Menstruação empancada
Barro e cebola ralada
Compressa lombo ventral

Difteria e enterite
Barro no lombo ventral
Pra estomatite e bronquite
No mesmo lombo, é igual...
Também para diabete
Argila no lombo mete
Juntado cebola com ela
Tome num copo de vidro
Um barrinho diluído
Com suco de berinjela

Pra abscessos se aconselha
No local, malva com argila,
Babosa com mel de abelha,
Acrescenta camomila
Se estiver conjuntivite
Barro morno pra nefrite
Nos rins com cebola. Enfim,
Barro morno no pulmão
Com linhaça e no coração
Barro morno com alecrim

Acne, doenças de pele:
Banho de argila com arnica
Também a eczema expele
E limpa sua pele fica
Eucalipto e linhaça,
O óleo desses se passa
Com argila todo dia
Serve pra asma sair
Nas estrofes a seguir
Trato da hidroterapia

Há na hidroterapia
O escalda-pés alternado
Água quente e água fria
Fique num banco sentado
Com água fria num balde,
Noutro a quente (que não escalde)
Ponha e tire os pés,então,
Quatro minutos na quente
Na fria um é suficiente
Três vezes para circulação

Tomar água fresca e pura
Vale como medicina
Existe também a cura
Com a ingestão da urina
É por muito conhecida
Como a água da vida
Em muitos interiores
Pra ferimento e barriga
Seu uso é uma prática antiga
De muitos trabalhadores

A urinoterapia
É porém um meio a mais
Que o seu próprio corpo cria
Para as curas naturais
Do pâncreas sai a insulina
Dos rins, sua prima a urina
Com uma função parecida
Ambas não podem ser ruins
Tanto o pâncreas como os rins
Produzem o líquido da vida

A urinoterapia
Serve pra qualquer problema
Pra AIDS tem serventia
Pra ulcera, câncer eczema
Pra asma e tuberculoses
Pneumonia e micoses,
Baço, pâncreas, sinusite
Vesícula. fígado, intestino
Tanto o grosso como o fino
Cérebro, ouvido e nefrite

A urina é afrodisíaca
Toda vez que você bebe
Sensação paradisíaca
Logo a pessoa percebe
Desde que naquela ação
Tenha dose de paixão
Mas tomar de má vontade
Como se toma um remédio
Dominado pelo tédio
É uma infelicidade

Quando a gente se acostuma
Com a urina sendo bebida
Inquieta-se ao dar uma
Urinadinha perdida
Esta água preciosa
Que alguns acham sebosa
Você pode achar tão boa
Ela cura qualquer dor
É como um caso de amor
Com sua própria pessoa

A urinoterapia
Não tem contra indicação
Seja noite ou seja dia
Antes de uma refeição
Pode ser também depois
Até mesmo um copo ou dois
Quem manda é sua consciência
Naquele exato momento
Não precisa acanhamento
Nem amarras de prudência

A saúde é pra doença
Antagônica e relativa
Onde uma marca presença
A outra é fugitiva
Cada ser é obrigado
A estar sempre num estado
Onde uma ou outra é presente
Nos escritos destas folhas
Há uma entre duas escolhas
Ser sadio ou ser doente

Acarape, março/2003

Fotos do Ciclovida III

Seguindo viagem..
A foto da capa.
Longa pedalada.
Morte nas estradas.

Fotos do Ciclovida II

Cartão postal.
Mar-doce-mar.
Em cada curva, um desafio.
Como uma onda no mar...

Fotos do Ciclovida

Do entardecer...

José, para onde?

Doce infância.

Em família.

sábado, 3 de junho de 2006

Notícias da Estrada

O Ciclovida partiu dia 24 de maio de Fortaleza e chegou em Quixadá dia 28, domingo. Ficou lá até o dia 2 de junho. Nesta cidade foram realizados debates na universidade e houve uma boa relação com o pessoal do Instituto de Convivência do Semi-árido.

Na estrada aconteceram muitos debates sobre as sementes nativas e teve boa receptividade das comunidades; muitas pessoas ficaram tocadas das mesmas preocupações do grupo com relação às sementes.

Ciclovida no CMI - partida

Ciclovida na estrada

"Na manhã desta quarta-feira, 24 de maio, uma família de trabalhadores rurais saiu de Fortaleza/CE numa caravana que estará discutindo as questões referentes às sementes crioulas (naturais, de comunidade), realizando uma campanha de resgate e reapropriação (das sementes) por parte das comunidades rurais que foram expropriadas ao longo da tirania capitalista.

A caravana estará percorrendo, de bicicleta, os assentamentos rurais e cidades que estiverem no caminho até a Argentina, onde pretende discutir as questões sócio-ecológicas, políticas e culturais com os grupos e indivíduos que se organizam de forma autônoma. A Argentina é, por enquanto, o ponto final da viagem do Projeto Ciclovida, que tem como bandeira principal "a preservação das sementes naturais e uma nova relação com a terra".

Os indivíduos e grupos que quiserem marcar debates, mini-cursos, oficinas e discussões em geral, basta entrar no sítio do Projeto Ciclovida e articular. Todos/as estão convidados/as para esta construção de uma outra sociedade, que busca retirar do meio ambiente apenas o necessário, sem comprometer a qualidade ambiental."

Retirado do Centro de Mídia Independente. Publicado em 25/05/2006 [ editorial | fotos ]

CD do Ciclovida

As músicas deste CD começaram a ser gravadas em 2002, nos assentamentos Barra do Leme (Pentecoste/CE) e 24 de Abril (Acarape/CE). Não havia nenhuma pretensão de compilar e reproduzir o material em CD. Com o surgimento do Projeto Ciclovida, houve a necessidade de contar a luta de duas décadas pela terra e o instrumento usado foi a música - veículo que possibilita a socialização do conhecimento a um número grande de pessoas, independente da idade.

Ficha técnica:
Título: No campo e na cidade
Autor: Ciclovida
Tempo total: 76:31
Gravadora: Bode Ioiô Records
Ano: 2006

O CD custa 10 reais e entregamos em todo o Brasil. Maiores informações: philipe [at] riseup.net

As músicas estão no Estúdio Livre. Para baixá-las, clique aqui.

Projeto

Fortaleza, julho de 2005

Apresentação

O projeto Ciclo Vida já não é mais um recém-nascido. Na verdade, ele é um adolescente, pois com os mesmos objetivos que se seguem nós já realizamos alguns vôos rasantes de bicicleta pelas estradas das áridas terras de Fortaleza à região do Sertão Central do Estado do Ceará e de Fortaleza ao Estado do Rio Grande do Norte. Além dos não raros trajetos de 50 e 80 quilômetros que distam, respectivamente, o Assentamento 24 de Abril – Acarape e o Assentamento Mandu Ladino/ Barra do Leme – Pentecoste de Fortaleza. As pessoas que se dispõe a implementar o Projeto já estão, portanto, em plena forma psicofísica e, sobretudo, política. No entanto, não podemos dizer o mesmo dos meios de transportes que escolhemos para realizar esta tarefa: as bicicletas.

Escolhemos bicicletas pelo menor custo econômico da viagem e pelo fator ecológico, já que elas são bem mais ecológicas do que os carros e bem mais velozes do que os pés. É por isso que, desde já, agradecemos a entidade apelada (a qual acreditamos que estará sensibilizada com esta causa que, felizmente, não é única nossa).

Justificativa

Da semente brota a vida, a qual passa a existir em ciclo, e no ciclo está a existência dos seres. Os vivos nascem, crescem, reproduzem e morrem. Este movimento é tão antigo quanto a vida. Nos primórdios, os ciclos eram maiores, pois a terra era potente antes de sofrer as ações destrutivas das sociedades humanas. Tal referência aos primórdios só confirmam a elástica longevidade dos seres antigos, como por exemplo, os dinossauros. Há referências feitas pela Bíblia à longevidade dos homens no Antigo Testamento e até os indígenas da tribo Janduí, da Nação Canindé, viviam até 200 anos, segundo Olavo de Medeiros (historiador do Rio Grande do Norte).

O ser humano não soube se beneficiar do presente (ou conquista) que a Natureza lhe deu – a racionalidade – e terminou tornando suas ações altamente irracionais. Isto implicou em drásticas conseqüências para si e para os demais seres, sobre os quais se estabeleceu uma ditadura considerando-se a supremacia da civilização e submetendo tudo e todos aos caprichos e necessidades consumistas. Tudo isto para atender a fome de lucros em um sistema mercantilista, concentrando para si o poder de destruir ou poupar o futuro da vida, inclusive a sua própria.

Não temos a ilusão de que as soluções venham de uma deliberação humana uníssona, mas sim que seja resultado de um processo decorrido de embates com interesses antagônicos nesta sociedade, nos quais estariam concorrendo os que querem uma sociedade justa e ecologicamente equilibrada contra os que só enxergam lucros acima da vida (mesmo que seja a sua e a da sua posteridade).

Infelizmente, mesmo assistindo ao esgotamento dos elementos naturais (sem os quais não se vive), o lucro é o maior anseio da maioria esmagadora hoje. As fontes de lucro estão cada vez menores e, ao invés de rever os equívocos e recuar em benefício da vida, acelera-se cada vez mais a corrida desenvolvimentista, revolucionando e sofisticando-se as indústrias da morte, as quais são impiedosamente alimentadas de vida. A avidez de lucro parece insaciável e o avanço diminui drasticamente as perspectivas vitais dos seres – animados ou inanimados – tornando-lhes obsoletos em plenas condições de exercer funções.

A revolução da microeletrônica produz aparelhos cada vez menores e mais poderosos, eficazes no sentido de convencer as pessoas da sua necessidade básica. O mercado é como um ferro de passar roupas: tem de estar sempre aquecido, cuja energia é o modismo difundido pelos meios de comunicação em massa, a qual está estampada no cotidiano de cada família, onde cada qual vale pelo que consome e mais valor tem quem está na moda.

As revoluções cor de cinza da indústria fumacenta provocando crises econômicas e ecológicas tiveram que arrastar nos seus reboques as (revoluções) convulsões sociais, provocadas pelo abismo entre as classes entre os que produzem e os que se apropriam. A grande quantidade de indivíduos fora do processo produtivo e do mercado de trabalho vivendo na informalidade contrastando com o rigor burocrático.

Até hoje a burguesia continua sendo a mesma, desde os burgos de Londres, Manchester ou Paris. Esta burguesia surge com o fim do feudalismo e, por incrível que pareça, tudo muda de figura quando suas revoluções descem para a realidade rural. Como na Revolução Verde, a qual consistiu na vontade burguesa de apropriação da liberdade de reprodução dos seres vivos, tornando-a fonte de lucro, expropriando a liberdade dos artesãos da terra (os agricultores) de plantar e colher o que quiserem e quando quiserem.

Os transgênicos já são uma realidade aterrorizante e estamos prestes a sermos solapados por esta epidemia. Portanto, achamos que é necessário intensificar uma campanha por terra, já que os movimentos neste sentido ainda são aéreos e/ou nas salas da academia universitária. Estamos certos de que devemos valorizar o que já existe em progresso quanto a isso e queremos nos somar às experiências agroecológicas existentes pelo mundo afora. Gostaríamos de trazer os que estão no alto para o chão, exatamente onde se encontram os perigos dos transgênicos.

É, então, pelo chão que pretendemos ir, utilizando bicicletas para facilitar nossa locomoção pelos campos brasileiros, levando sementes naturais e fazendo trocas para levar adiante a outras comunidades e/ou indivíduos.

Não somos os donos da verdade e não pretendemos levar lições em tons professorais, queremos levar, na verdade, a preocupação para ser partilhada com os demais que trabalham na terra assim como nós, no sertão cearense. A preocupação é a do desaparecimento das sementes originai, as quais estão em sua maioria extintas. Nossa pretensão é a de fazer um levantamento das variedades ainda existentes, incentivar a conservação destas e a distribuição para o maior número de pessoas, fazendo com que se garanta a regeneração do patrimônio natural ameaçado e, por conseguinte, toda a biodiversidade que depende deste patrimônio.

Objetivos

Objetivos gerais:

1. Partilhar com as demais pessoas, no campo e na cidade, as preocupações sobre a Reforma Agrária e o meio-ambiente, no intuito de incentivar uma campanha por uma nova relação com a terra; pela preservação das sementes originais (crioulas) e contra os organismos geneticamente modificados (OGM’s).

2. Através das bicicletas, questionar na prática nossa dependência do motor e do dinheiro e tentando nos libertar da escravidão em que nos encontramos de forma ecológica e autônoma.

Objetivos específicos:

a)Trocar sementes entre comunidades e indivíduos;
b)Fazer levantamento e distribuir a maior quantidade de variedades possíveis de sementes;
c)Participar e contribuir para a realização de estudos, palestras e debates sobre os pontos constantes nos objetivos gerais;
d)Conhecer práticas agroecológicas para aprendizado mútuo em todo o Brasil de bicicleta;
e)Trazer as experiências para serem partilhadas em nosso meio, nos sertões nordestinos.

Um pouco sobre o grupo

Somos um grupo que está nas realidades urbanas e rurais com opção clara pela causa sócio-eclógica, com presença mais constante nas realidades rurais e, mais especificamente, nas áreas de reforma agrária (Assentamento 24 de Abril e Assentamento Mandu Ladino/ Barra do Leme – Pentecoste). Estamos há mais tempo no Estado do Ceará, nordeste do Brasil. Acompanhamos as lutas sociais do campo e as ocupações de terra até formarem-se assentamentos legalizados. É daí que parte a nossa preocupação e para reafirmá-la sempre, resolvemos perambular com ela, partilhando-a com o mundo e seu universo de diversidade.

A primeira preocupação é o fato de termos mudado a terra de dono e não termos mudado as relações de produção, mantendo a mesma lógica produtivista com queimadas, agrotóxicos, herbicidas, etc (sem uma discussão política de produção e apropriação, permanecendo o trabalho alienado e com fins comerciais), e sem uma discussão sobre como devemos nos comportar frente ao esgotamento dos recursos naturais, inclusive da terra.

A segunda preocupação é com o desaparecimento das sementes originais, as quais nós plantávamos, colhíamos e da nossa colheita plantaríamos novamente. A maioria das sementes passou por um processo de hibridação que nos fez perder o controle das nossas lavouras, pois temos que comprar todas as vezes que quisermos plantar as hortaliças, principalmente.

A liberação dos transgênicos nos foi a gota d’água, a qual nos fez decidir arribar mundo afora para travar debates sobre esta realidade. Ao voltarmos para nossa terra, queremos trazer dados concretos sobre as questões levantadas.

(Cordel) Canudos e Antônio Conselheiro

(Fundação, Massacre e Centenário)

Autor: Manoel Inácio do Nascimento

Trabalhadores amigos
Da cultura e companheiros
Nos CEM ANOS DE CANUDOS
Dou-lhes em versos os roteiros
Convidado todo mundo
Para um mergulho profundo
Pelos sertões conselheiros.

Num ato de obediência
A inspiração que me vem
Desobedeço ao cansaço
E fascinado também
Pela pesquisa importante
De Raimundo Cavalcante
Eu embarquei nesse trem.

Sobre Marx disse Lênin
Num de seus brilhantes livros:
Que a burguesia odeia
Os heróis do povo vivos
Depois que elimina os tais
Os fazem heróis nacionais
Ou mitos inofensivos.

Antônio Vicente Mendes
Maciel o Conselheiro
Filho em Quixeramobim
De pequeno fazendeiro
Lutou contra os poderosos
Tornou-se um dos mais famosos
Por este Brasil inteiro

Foi em mil e oitocentos
E trinta que ele nasceu
Sendo Quixeramobim
Que primeiro conheceu
Esse presente divino
No formato de menino
Que o sertão recebeu.

Junto aos pais, enfrenta secas
Na dura sobrevivência
De criação e plantio
Tiravam a subsistência
Sensível ao penar do povo
Conselheiro ainda novo
Adquiriu sapiência.

De aguçada inteligência
Talvez um superdotado
Com cinco anos apenas
Já era capacitado
Sobre temas do momento
Travava conhecimento
Com Doutor e Magistrado.

Sobre a política da época
Antônio Conselheiro opina
Até escravidão de paz
Foi trabalho de rotina
Com José Antônio Pereira
Doutor que deixa à carreira
Pra ser padre, O IBIAPINA.

Conviveu com Ibiapina
Tendo então sua influência
Como escrivão do Juiz
Deparou com violência
Pelos grandes, cometida
Preocupa-se com medida
À ser tomada de urgência

Porém os seus afazeres
Lá pelo Judiciário
Aproxima-o aos massacrados
Pelos latifundiários
Nessa base Antônio Vicente
Prepara tão combatente
Seu valente itinerário.

Pelo século dezenove
Em toda a nação reflete
À fama do Conselheiro
Que pelos sertões se mete
E nas caatingas se embrenha
Durante a seca ferrenha
Do ano setenta e sete.

Ceará e Paraíba
Percorre fazendo plano
Já denunciando a seca
Contra o sistema tirano
Sonhando a tão libertária
A CIDADE IQUALITÁRIA
Partiu pros sertões baianos.

No ano mil e oitocentos
E oitenta e nove ele agita
Junto às massas camponesas
Contra a “nova” ordem grita
Prega pra todo o Brasil
Desobediência civil
Contra a República maldita.

Ao casamento civil
Novos pesos e medidas
Com o povo protesta àquelas
Ordens estabelecidas
Em Bom Conselho – Bahia
Muita gente lhe seguia
Buscando novas saídas.

Com o povo promove a queima
Da tabua do Edital
Cobrando novos impostos
Que era Lei Municipal
Preso por ser insurgente
Continua a insuflar gente
Contra o Governo Central

Perambulava nas ruas
Nas feiras livres e praças
Não ligava pra prisão
E nem temia ameaças
Arregaçava os sertões
Temido pelos patrões
Acompanhado das massas.

Revira os sertões baianos
Buscando o sonho feliz
À CIDADE IGUALITÁRIA
Lugar que pro povo quis.
Depois de muitas paragens
Agrada-se então das margens
Do rio Vaza Barris.

As margens daquele rio
Tinha uma velha fazenda
Já sem dono abandonada
Quem Sade alguma contentada
Antes de Antônio e seu povo
Que sonhando um mundo novo
Armavam ali sua tenda.

Foi em mil e oitocentos
Do ano noventa e três
Este ano, um CENTENÁRIO
Completa a primeira vez.
Um dos exemplos mais vivos
De trabalhos coletivos
Que no Brasil já se fez.

Bom Jesus do Belo Monte
Registra assim sem papéis
Pra fundar o Arraial
Todo mundo mete os pés
Ex-escravos proletários
E pequenos proprietários
Expulsos por coronéis.

Arraial do Bom Jesus
Do Belo Monte chamado
Nome que Antônio Conselheiro
Ao Arraial tinha dado.
Com trinta mil habitantes
Um dos maiores montantes
No nordeste aglomerado.

De base coletivista
Era sua economia
De rebanhos pastoris
E agricultura vivia
Peles na época era “ouro”
Na exportação desse couro
Era o maior da Bahia.

No livro “Guerra dos Bárbaros”
Onde a antropóloga Idalina
Trata a resistência indígena
Na região nordestina
Num apanhado de ouro
Descreve o ciclo do ouro
No Brasil como uma “mina”

“De couro eram as portas
Da cabana de peão
Era a cama de dormir
Aplicada ao duro chão
Cama pra mulher ter filho
E corda para amarrilho
Borracha pra aguação.

Alforje pra levar comida
Bornal pra milhar cavalo
Faz-se couro a pêa
Pra prender ou peá-lo
Mala pra roupas, bruacas
Faz-se bainha de facas
Faz-se surrão para embalo.

Roupas pra entrar no mato
Bangüês pra curtir com sal
Para aterro de alicerce
De açude, e material
Levado à força de touro
Pisava-se fumo em couro
Pra por na via nasal...”

Sendo coletivizada
Toda a sua produção
Aonde cada família
Recebia o seu quinhão
Ninguém nem ouvia o nome
Da tão conhecida fome
Que hoje devasta o sertão

Foram açudes construídos
No rio Vaza Barris
Para fins de irrigações
E criações pastoris
Sem haver propriedade
Vivia a comunidade
Bela nutrida e feliz.

Lá não havia ladrões
E muita menos cadeia
Não precisava policia
Por não haver coisa alheia.
Se houvesse alguma desordem
Seguia-se a própria ordem
Judicial da aldeia.

Nos artesãos de CANUDOS
Não faltava habilidade
Consertavam e fabricavam
Ferramentas à vontade.
Dispunha de mestres bons
Fazendo armas munições
Pra enfrentar a rivalidade.

Da espiritualidade
Antônio Conselheiro é guia
As responsabilidades
Passa ao povo em que confia
Já havia homens de sobra
Que continuassem a obra
Com esforço e valentia.

Entre os lideres camponeses
De CANUDOS João Abade
Tem um papel de destaque
Grande personalidade.
Um comandante de rua
Que junto com o povo atua
Com responsabilidade

Mostrou sua autoridade
Quando o bispo D. Luis
Pra tentar a rendição
Daquele povo feliz
Mandou lá missionário
E como achou necessário
Agiu como o povo quis.

Pajeú estrategista
Capacidade suprema
Comanda operações bélicas
E o valente Chico Ema
Tinha o comando de espia
Perto do inimigo agia
Para furar seu esquema.

Chiquinho e João da Mota
Irmãos aos quais era entregue
O comando dos piquetes.
Que na beira - estrada segue
De Cocorobó à Uauá
Onde quer que o exército vá
Este comando o persegue.

Tem Pedrão e Vila Nova
São dois “sossega-leão”
Velho Macambira e o filho
Joaquim Macambira, são
Um par de guerreiro esperto
Que se juntando ao Noberto
São pior que furação.

São também Lalau e Estevão
Pros inimigos cruéis
José Venâncio atirando
Contra os homens dos quartéis
Eram fábricas de defuntos
Principalmente eles juntos
Com o Joaquim Tranca-pés.

Os Missionários a mando
Do Arcebispo da Bahia
A serviço do estado
De fanatismo e heresia
Acusavam a cidadela
Mas a população dela
Reagiu com energia.

Os argumentos usados
Pela igreja de então
Diziam que o Conselheiro
Infringia a Religião
Que os ensinamentos seus
Ferem os preceitos de Deus
Mas o povo disse: NÃO.

Daquele povo valente
Os padres recebem não
Dizia o poro: se Deus
Quer nos dar a salvação
Com a volta do cativeiro
Preferimos Conselheiros
A aceitar a religião.

Desde a visita sem êxito
Da igreja àquele local
Que a mesma igual a Pilatos
Lava as mãos com o Arraial
Deixando livre o Estado
Que já havia decretado
O seu juízo final.

Mil oitocentos e noventa e sete
É Prudente de Morais
Presidente da República
Juntamente aos Generais
Apoiado nos patrões
Manda quatro expedições
Das forças oficiais.

A primeira expedição
Em Uauá sofre a derrota
Cem soldados foram mortos
E se existisse Zé Frota
Para botar os doentes
Seria como as enchentes
Do rio quando esbarrota

O Governo então mandou
A segunda expedição
Que diante de CANUDOS
Sofre outra.decepção
Uns trezentos debandaram
E uns duzentos ficaram
Sem vida rolando ao chão.

No ano mil e oitocentos,
Noventa e sete a terceira
Expedição do Governo
Novamente se rendera
Sentindo-se impotente
Pra enfrentar aquela gente
Da CANUDOS guerrilheira.

Vendo-se então derrotadas
Suas três expedições
Prepara o estado a quarta
Com muito mais munições
Com o apoio das elites
Muniu-se com dinamites
Muitas armas e canhões

São de cinco mil soldados
Composta esta expedição
General Artur Oscar
Comanda a operação
Pra ver que efeito surte
O Ministro Bittencurt
Deslocou-se pro sertão.

Só os povos de CANUDOS
Sabiamente compreendiam
Com quanto esforço lutavam
Muitos de fora assistiam
Confusos indiferentes
Esperavam displicentes
Se os milagres repetiam.

Está CANUDOS sabendo
Que é chegada a sua vez
De longe o exército dispara
Com tamanha estupidez
Dinamites e canhões
Contra espingardas, facões...
Do reduto camponês.

Poucos dias pra CANUDOS
Ser para o “céu” elevada
Antõnio Conselheiro atende
De Deus a última chamada
Foi preparar pro seu povo
Do céu um cantinho novo
Pra aquela sertanejada.

Dia cinco de outubro
Do ano noventa e sete
Do século próximo passado
O fogo tudo derrete
O povo caiu sem vida
CANUDOS foi destruída
Milagre não se repete

Para os atemorizados
Por canudos as festanças
Restam alguns prisioneiros
Velhos, mulheres, crianças...
Que levam em suas memórias
Bons e maus tempos da história
Para sempre como heranças.

Pra Capital Salvador
Levaram os prisioneiros
Expostos aos curiosos
Depois pro Rio de Janeiro
São levados de navio
E das favelas do Rio
Dizem que foram os primeiros.

Subiu à Cidade Santa
Para os céus junto à fumaça
Céus que o imperialismo
Quer transformar em carcaça
Mas para o povo que luta
CANUDOS vira uma gruta
De inspiração e de Graça.

Foi assim nossa CANUDOS
Varrida a golpes funéreos
Digna de ser estudada
Seus fenômenos seus mistérios
Sem revanchismo ou retórica
Mas como verdade histórica
Do tempo dos Falanstérios.

Na Europa os Falanstérios
Prática da Filosofia
Do socialismo utópico
Que em Inglaterra e França havia
Chamada de pré-marxismo
Que deu base ao socialismo
Que Karl Marx fundaria.

O SOCIALISMO utópico
Não teve bom resultado
Faltou base cientifica
Para ser fundamentado
Derrubando esta utopia
Karl Marx & Engels cria
Um estudo aprofundado.

A burguesia destrói
As CANUDOS de hoje em dia
Pois toda a América Latina
Levanta-se em Rebeldia
Contra o Imperialismo
Buscando o Socialismo
Que CANUDOS conhecia.

É CANUDOS, CALDEIRÃO
É CONTESTADO, é PALMARES
Experiências vividas
Garantindo seus lugares
(sendo ou não Messianismo)
Na história do Socialismo
Já em altos Palmares.

Da nossa luta no mundo
Estas são fortes escudos
A crise no Movimento
Tem seus momentos agudos
Já estamos confirmados
Que fomos ultrapassados
Um século atrás por CANUDOS.

Com a história de CANUDOS
Fidel Castro se fascina
Sobre esta experiência
Na região Nordestina
Falou com empolgação
“Primeira livre nação
De toda a América Latina”

“A epopéia de CANUDOS
Ficará em nossa história
È patrimônio das massas
Camponesas e uma glória
Que alcançou o movimento
Revolucionário” a contento
Fez Rui Facó a memória.

Zé de Oliveira Falcon
Cantou sábio qual Guru:
“CANUDOS! Pra te cantar
Só Noberto ou Pajeú...
Vencida não te rendeste
Sob o massacre – te ergueste
Sobre a surucucu”!

fim

Escrito em março de 1993

Correções feitas pelo autor em março de 1995

Republicada com as correções em março de 1997

Carta de Apresentação

A Ciclovida não se define por número, idade, gênero, raça, nacionalidade, credo político ou religioso, cultural; funciona pela vontade e decisão de indivíduos que se reúnem por afinidades, encaminham e realizam atividades autônomas sócio-ecológicas e culturais, de formas itinerantes, preferencialmente a pé ou de bicicleta, por curto, longo ou por indeterminado período de duração.

A atividade pretendida no momento trata-se de uma incursão de bicicleta pelas veias abertas dos biomas do Brasil e além fronteiras, fazendo levantamentos sobre as sementes crioulas ou naturais, realizando uma campanha de resgate e reapropriação (das sementes) por parte das comunidades rurais que foram expropriadas ao longo da tirania capitalista, dos direitos de plantar, colher e plantá-las novamente com reprodução garantida das várias espécies vegetais: legumes, cereais, hortaliças entre outras raridades da nossa flora sob ameaça de extinção e que ainda não tenham sofrido modificação genética artificial que possam ter comprometido sua livre produção e reprodução. Deparando-nos com seus redutos, isto é, com indivíduos e/ou comunidades que ainda possam tê-las sob suas posses, dispor-nos-emos de contactá-l@s com finalidade de partilhas de preocupações e trocas de sementes, resgatando velhos hábitos de conservação e incentivando novas práticas para a preservação das mesmas, afim de que se garanta a continuidade das espécies pelas gerações vindouras. Trocaremos experiências: culturais e artísticas; práticas agroecológicas de cultivo (sem queimadas,sem agrotóxicos e sem fertilizantes químicos); práticas de plantio na curva de nível com cobertura morta, permancultura; realizaremos, incentivaremos e contribuiremos para acontecimentos de reuniões, seminários, debates, atos culturais, cirandas e folguedos infanto-juvenis e outros que venham se constituir em momentos coletivos propícios à partilha de idéias, preocupações e solidariedades, que sirvam de fortalecimento da luta pela recuperação da natureza com restabelecimento das espécies ameaçadas de desaparecimento, atingindo assim o cerne da nossa busca: PRESERVAÇÃO DAS SEMENTES NATURAIS E A NOVA RELAÇÂO COM A TERRA.

Mais que uma simples atividade, a CICLOVIDA é a ativação de um processo de busca de respostas para questões que levantamos em torno da relação homem / terra. Este binômio vem dando motivo de preocupações e debates rumo a soluções para a coexistência num mesmo plano (terrestre), da Civilização Humana e a Natureza Biodiversa. A título de ilustração, citamos um, entre os vários exemplos deste debate, um duelo exibido em 22/01/2006 pela tv globo através do fantástico, entre dois destes acadêmicos burgueses de renomes na mídia internacional. O primeiro deles: o inglês James Loveloc alarma que nas condições em que se encontra o planeta não há como evitar catástrofes, maiores que as tsunamis que sacudiram vários paises da costa asiática, e, o mesmo aponta como medida urgente de salvação do planeta o abandono do automóvel e das queimadas. As soluções apontadas parecem não agradar, desde os que comandam aos que pretendem comandar a alavanca do desenvolvimento desta civilização. O segundo deles: o brasileiro Carlos Nobre admite que as coisas não vão bem mas o Brasil ainda tem muitos recursos em potencial e poderemos ser ainda líderes do desenvolvimento. Debates são necessários e embates inevitáveis, interesses se chocam. Vejamos tratados e convenções de Kioto, Canadá e outros do tipo e seus acordos sobre emissão de gases poluentes na atmosfera, muito insignificantes para um planeta num acelerado processo de esgotamento de seus recursos naturais!! De onde vai sair para cada ser humano (quase seis bilhões) do mais simples o seu “mínimo”, o seu “básico”, ao mais sofisticado, que não tem máximo? Vai-se aos limites do poder de alcance, nesse caso, vamos a plutão se ainda der tempo. Conversa para boi dormir! Para desviar o conteúdo dos debates e as atenções para a gravidade da situação, a mídia dominante atravessa-se com soluções virtuais para problemas reais: “debandada dos humanos para os planetas vizinhos” ótimo tema para filme norte-americano ganhador de “oscars.” Que roubada! Que tal fecharmos os olhos para esse ilusionismo e cuidarmos do nosso planeta e do que ainda nos resta: vegetação, água, ar e clima favorável para a vida? Que tal, preferirmos recuperar o habitat natural do nosso “planeta tudo” a fugir para outro, cujo habitat favorável à vida, se acaso existiu, já fora destruído por seres inteligentíssimos como nós? A Natureza ainda benevolente, nos dá a chance de escolher uma entre duas saídas opostas: 1 - revisão de nosso trajeto de humanos, autocrítica na prática para a reversibilidade: 2- ignorar a situação apressar o fim da vida no planeta.

A atitude que estamos tomando., não nos ocorreu num passe de mágica, nem de lampejo poético mas através de penosas décadas de vivências e observações juntos a tant@s que também interagiram com a realidade social do campo, dentro e fora da Reforma Agrária. A interação com os movimentos sociais, surgidos a partir do enfrentamento da miséria cujas causas são atribuídas aos fenômenos naturais ou efeitos climáticos (caso Nordeste do Brasil), podemos transferir essas causas para os efeitos climáticos das políticas eleitorais e seu casamento com o capitalismo latifundiário.

Com este discurso e prática chegamos realizar pequenas incursões com nossas bicicletas, num entorno de 200 quilômetro do nosso ponto de morada, o Assentamento Mandu Ladino município de Pentecoste. somos em torno de seis a oito pessoas que estarão implementando o Ciclovida na estrada, alem de uma família: pai,mãe e filhos, há também jovens em finais de cursos médios e universitários que sinalizam com a possibilidade de se integrarem à caravana bicicletária do Ciclovida.

Partiríamos dia 26 de dezembro /2005, uma segunda-feira do Assentamento Mandu Ladino – Barra do Leme, localidade de Salgado, município de pentecoste, Ceara – Brasil. Não foi possível na data indicada por duas razões: primeira, é que nossos filhos ficaram para recuperação dos colégios e a segunda foi um problema no tratamento odontológico enfrentado por um dos nossos filhos, o mesmo já passara por várias cirurgias plásticas para recomposição de lábio leporino e goela de lobos. Os médicos que acompanham o caso, descobriram recentemente o surgimento de uma anomalia na arcada dentária que o submeterá a mais uma cirurgia, que está marcada para dia 9 de fevereiro e a previsão de repouso pós-operatório são de aproximadamente 20 a 30 dias. Nossa maior convicção no momento, é que partiremos, a nova data prevista será dia 15 de março de 2006 ou logo após a autorização médica. Viajaremos com qualquer número de ciclista. O mundo é furado, o caminho está aberto, a decisão e a ação de cada um obedecem a força da sua convicção.

Sentimo-nos fortalecidos com as manifestações de apoio de uma infinidade de indivíduos e coletivos em níveis locais, nacionais e internacionais. Todos constroem conosco esta jornada de luta pelo reequilíbrio da vida neste resto de planeta. Todas as galeras, em seus diversos locais: de atuação, moradia, atividades diversas, desde que queiram, podem estar conosco, discutindo a implementação e os desdobramentos desta e de outras atividades pela vida. Queremos manter e nos manter informados através dos meios que dispormos: correios, e-mails, sites, telefones etc. para que possamos construir juntos, a resistência de todos os seres, contra sua transformação em objetos mortos para dar vida ao moribundo sistema de morte, o capitalismo.

Não fazem parte da nossa bagagem, densos fardos de teorias políticas e econômicas prontas para serem aplicadas nas diversas realidades com as quais vamos nos deparar, outrossim, modestas preocupações a serem partilhadas. Portamos também vagões e lacunas para serem preenchidos com ricos acúmulos, resultantes das trocas de vivências que sem duvida irão acontecer em nosso encontro com um mundo de práticas e culturas diversas, cujos acúmulos serão usados como matéria-prima para a recuperação do habitat natural deste planeta para o reflorescimento da vida.

Desejamos a todos a paz que só a natureza recuperada será capaz de nos oferecer!

CICLOVIDA