quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Da estrada (16/11 a 20/11)

16/11/2006 quinta feira – juntamos no quintal da casa algumas sementes de jabuticaba e pitanga, nos despedimos do companheiro, e por um pequeno erro de percurso passamos pela vila Fátima Paulista, fazendo uma grande volta de 6 km por estradas de chão, retornamos quase ao mesmo lugar de partida e prosseguimos passando pelo trevo de Jales e fomos sair em Pontalinda, onde tivemos vontade de descansar, mas como achamos cedo ainda fomos até Auriflama, onde tivemos que nos adentrar 8 km fora da rota, e dormimos na rodoviária com permissão da vigilância.

17/11/2006 sexta feira – saímos cedo, e rompendo a estrada margeada por fazendas de cana e gado, avistamos uma pequena chácara e nos aproximamos para beber água, era de uma Nordestina que avia comprado com algumas dezenas de anos de trabalho duro, essa nos ofereceu café com macaxeira (mandioca) cozida, agradecemos e às 10 horas estávamos a beira do rio Tietê, fazendo comida, a 20 km de Araçatuba. Às 15 horas saímos, passamos em Araçatuba e fomos dormir em Bilac. Esta noite foi a primeira mais tensa de toda a viagem. É que na rodoviária, onde fomos dormir não tem vigilância, e quem é desconhecido ali se sente num inseguro esmo no deserto da cidade, e passamos ali à noite entre dormindo e acordado, temendo ser abordado, ora pela polícia, ora a galera da vida noturna.

18/11/2006 sábado – sem muita novidade, margeados pelas continuas fazendas, a diferença deu-se pelo fato de ser a estrada mais acidentalizada pela incidência de muitas ladeiras, chegamos em Rinópolis, onde encontramos um galpão, local onde os bóias-frias esperam os transportes para os canaviais, ali armamos a barraca e dormimos.

19/11/2006 domingo – enfrentando a mesma rotina de autos e baixos da estrada e canaviais chegamos à entrada da Vila Escócia, para onde resolvemos entrar para darmos uns telefonemas, mas como já estava anoitecendo decidimos por pernoitar ali, depois de tranqüilizados por algumas pessoas que ali moravam, de que era um lugar extremamente pacato. Quando tudo se “acalmara” armamos nossa barraca encostada à igreja católica. Mas logo percebemos um grupinho de vigilantes voluntários que curtia seus ópios de cada noite, na inércia da madrugada adentro. Percebemos que era inoportuna nossa presença ao ouvirmos os sussurros de insatisfação que iam se tornando cada vez mais freqüentes e ofensivos, chegando a nos xingar, então resolvemos nos aproximar do e esclarecer sobre nossa atividade.Um deles, o Danilo resolveu nos defender, tornando-se nosso escudo para qual se encaminhou à fúria dos outros. Percebendo nosso dilema, Danilo nos convidou para irmos com ele para a casa de seus pais onde lá podíamos dormir. Mas o problema, é que um dos xingadores era seu irmão e descordava da disponibilidade do Danilo. Mas o Danilo impunha-se decisivo, e insistentemente queria nos levar para sua casa sob os protestos do irmão.Em meio ao fogo cruzado entre irmãos, onde nenhum um dos dois sóbrios, nós tínhamos que tomarmos uma posição. Tentamos fazer com que o Danilo desistisse de nos levar para sua casa; dizíamos que não era fácil seus pais acolherem desconhecidos àquela hora da noite, mas fomos obrigado a concordar em ir com ele, pois ele desfazia nossos argumentos dizendo que seus pais eram bons e acolhedores. Dissemos então que íamos, mas voltaríamos para a praça. Acordo feito e aceito também pelo irmão rival. Realmente nos deparamos com duas pessoas maravilhosas que nos ofereceram o que estava em seu alcance... Bem não terminamos o bate papo o irmão rival chega já ameaçando botar para fora de sua casa, o que nos fez bater em retirada. O Danilo nos acompanhou até a praça onde dormiríamos, mas assim que ele voltou para sua casa resolvemos prosseguir estrada a fora pela madrugada, tivemos que sair para nos proteger e não sentindo segurança em pousar na beira da estrada percorremos 25 km rumo a Martinópolis. Uns 8 km antes de chegar a cidade já não agüentando o cansaço encontramos um grande espaço limpo que nos chamou atenção para armarmos a barraca e quando começamos desamarra-la percebemos pelo reflexo de um carro que tratava-se da entrada de um latifúndio, mais uma vez nos retiramos por precaução e temendo os cachorros que já avisava a presença de estranhos. Fomos parar na entrada da cidade de Martinópolis onde encontramos uma guarita de ônibus e dessa vez não armamos mais barraca, dormimos ali mesmo no banco já eram 3 da manhã.

20/11/2006 segunda feira – acordamos com sol alto, procurávamos um assentamento, mas nos informara que este estava a uns 10 ou 15 km fora da nossa rota, e que mais perto estava um acampamento, sendo para onde nos dirigíamos após darmos uma volta na cidade para resolvermos algumas questões tais como a revelação das fotos, quando tivemos a grande decepção: pois os filmes tinham sido mal colocados na máquina, não dando certo nenhuma foto desde Brasília. Ali colocamos outro filme, e agora esperamos que não estejam errados ou a máquina não dê problemas. Chegando no acampamento Barrinha nos identificamos e ali fomos acolhidos pelos companheiros acampados.Ficamos no barraco com Francisco e família e ali fomos tomando da realidade daqueles companheiros, de anos afio vivendo em barracos sob o descaso dos que governam em conivência com o latifúndio. Durante a tarde foi articulada uma reunião com os acampados onde partilhamos informes e preocupações cantamos musicas de animação da luta, quase todo o acampamento estava presente e animados se comprometeram de ver o que havia de sementes para partilhar no dia seguinte.

Da estrada (12/11 a 15/11)

12/11/2006 domingo – visitamos mais famílias e meio dia fomos para outra parte do assentamento, onde estava acontecendo um torneio de futebol, fomos de carona no gol de Jose Pereira, sua companheira Balduina, sua neta Anita Geovana e Josefa a companheira do Carlito. Lá encontramos mais pessoas entre a secretaria filha de Balduina ao final retornamos para a sede, casa do Carlito, que nos mostrou todo o processo de desapropriação daquela fazenda e o quanto tiveram que ser ágeis para não perder a terra. Denunciou também que houve incidências de morte de três companheiros na época do acampamento por contaminação pela água, por não poder usar água potável que estava na fazenda. Após tantas manifestações carinhosas daquele pessoal, que inclusive nos ofertaram fotos da resistência deles para levarmos como lembranças.fomos dormir já com saudades porque dia seguinte partiremos.

13/11/2006 segunda feira – Despedimo-nos de todos e saímos de carona no carro que leva o leite e descemos na casa de seu Tinoco e dona Maria, estávamos no outro assentamento a 20 quilômetros de Iturama - MG. Passamos o dia com a família, trocamos algumas sementes, conhecemos Dinamarquês (filha do casal) que nos mostrou “rodas de água” (essas rodas de é que faz bombeamento para abastecer as casa e irrigação). Observamos que atividade principal e também a pecuária, e a noite fomos presenteados com uma noitada de viola caipira oferecida por seu Tinoco.

14/11/2006 terça feira – saímos para fazer algumas visitas, percebemos as casas, um tanto isoladas por conta do loteamento da terra, cada casa se distancia da estrada imitando fazendas, onde o gado forma a principal povoação, andando sobre o tapete de capim, chegando vezes, uma assentado possuir ate mais de 100 cabeças, que para mantê-las tem que alugar o lotes de outros companheiros de assentamento, e outros que mantêm-se do aluguel de seus lotes. Fomos ate a noite em visitas, por fim paramos no lote de Conceição onde fomos convidados para esperar o jantar, nessa recebemos algumas sementes de pimentas, e nos informou que metade dos assentados já havia vendido seus lotes. Eles falaram da complicação que dá a venda de lotes: os que compram são pessoas descompromissadas com a causa dos sem terra, reproduzindo uma desigualdade social e causando o enfraquecimento da luta. Saímos de lá as 10 horas da noite temendo passar por uma pequena reserva onde se comentavam sobre aparecimentos de onças; atravessamos com a solidariedade de um companheiro em seu carro, que alumiava nossas bicicletas ate o final da travessia, e assim chegamos na casa de seu Tinoco para dormir.

15/11/2006 quarta feira – Acordamos cedo, arrumamos as cargas nas bicicletas e saímos. Lanchamos água de coco já em Iturama na barraca de um baiano, prosseguimos em frente, paramos a 2 km nuns restos de barracos que já havia sido antes acampamentos de sem terra, e que agora é moradia de sem tetos, que ate sugeriram que morássemos num desses, mas explicamos nosso projeto e que estávamos de passagem. Prosseguindo, paramos no posto de gasolina onde ficava a entrada de acesso ao estado de São Paulo, que já estávamos a 12 km da divisa MG/ SP. Há 2 km do posto fiscal da divisa paramos para tomar água numa casa na beira da pista de baixo de um mangueiral, encontramos uma jovem mulher, cujo marido trabalhava plantando vassoura e o mesmo as montavam para seu patrão. Ali chupamos mangas, bebemos água e conversamos com aquela companheira, que nos falou que se chama Luciana, que era casada pela segunda vez, que seu primeiro companheiro morrera em conseqüência de um raio de relâmpago em Mato Grosso, num acampamento de carvoaria, pois ele fazia carvão para um patrão, que ele havia chegado nessa região com 17 anos e ainda não tinha feito dinheiro para visitar a família, que sempre prometia para a companheira que a levaria para conhecer sua família no Nordeste, que ele era do Ceará e se chamava Antonio Ferreira Serafim, filho de Francisco Ferreira Campos e Ana Serafim Campos, nascido em 21 de janeiro de 1978, na localidade de Trussu, entre Acopiara, Catarina e Iguatu que ela havia tentado entrar em contato com a família e não tinha conseguido. Ele morreu em Cassilândia, Mato Grosso do Sul, enterrado em 20 de abril de 2005, na cidade de Chapadão do Sul, há 100 km de Cassilândia. Hoje a Luciana trabalha com seu segundo companheiro para o “Toinho”, seu patrão atual. Logo na frente encontramos a ponte do Rio Grande da mencionada divisa. Aqui estamos, há um passo à frente: São Paulo, e há um passo atrás: Minas Gerais. Nesse momento nos despertamos para bater umas fotos. Nossas bicicletas carregadas, nos fazia parecer com vendedores de peixe. Foi assim que uma senhora, mulher de um médico que estava em família a admirar aquelas paisagens. Essa companheira convidou seu companheiro para se aproximar dos peixeiros (que seríamos nós), mas ao se aproximarem de nós, viram que estávamos batendo fotos, logo lhe pairou o dilema: “nunca se viu vendedor de peixe batendo fotos!” Aproximaram-se, mas para se oferecerem para nos ajudar na “tiração” de nossas próprias fotos. Depois que se certificaram do que estávamos fazendo, o companheiro que se chamava Márcio, que era médico, que estava dando passeio por ali com a família: Leily sua comp., Ricardo seu cunhado, a filha Izabelle e o filho Cesare. Márcio disse que estávamos fazendo algo que ele sempre sonhava fazer, e perguntou se podia ajudar, respondemos que ficasse à vontade, ele então nos deu R$ 50,00 e sua camisa de torcedor do Juventus da Itália. Nos encheu de felicitações e foi embora, e nós também. Às 16 horas estávamos chegando na entrada de Turmalina – SP, onde nos com duas fileiras de mangueiral ás duas margens da estrada que dá acesso a pequena cidade, paramos ali observando os 3 km de mangas pelo chão que a margeava, e como não havíamos ainda almoçado, largamos das bicicletas e enchemos a barriga de manga, chamando a atenção de tantos quantos passassem por ali, logo seguimos para essa cidade e ao chegarmos não deixávamos de causar espantos àquela população, fomos a internet, depois que checamos e-mails ali mesmo nos informamos da existência de galpão de feira, que podíamos armar a barraca e dormir, sugeriram que antes comunicássemos a policia local, o que fizemos, e essa nos autorizou dormir no dito galpão, falando também que já havia recebido dois telefonemas dando conta da existência de dois estranhos na cidade. Após informar da nossa atividade e de onde vínhamos de bicicletas, o delegado ainda admirado nos pediu um favor: que quando voltássemos a Fortaleza tentasse localizar seu pai biológico que estava com 80 anos de idade e ele havia descoberto que o mesmo (seu pai) residia naquela cidade (Fortaleza). Ainda saímos para procurar um cartão telefônico para nos comunicarmos com nossos filhos, quando encontramos alguns jovens numa mesa de cerveja, e como nos observavam resolvemos nos aproximar e explicar o que fazíamos. Depois do dialogo, um deles ofereceu a chave de sua casa para dormirmos nela, que estava apenas com seus pertences, mas ele não dormia lá, o que aceitamos prontamente, ate porque tinha banheiro e a gente estava precisando.

Da estrada (08/11 a 11/11)

08/11/2006 – quarta-feira – Acordamos cedinho, Ivânia, meio adoentada, seguimos para Campina Verde, Paramos ao meio-dia na entrada de Monjolinho, há 20km de Campina Verde, Passamos a hora quente e seguimos, chegamos no Acampamento Terra Santa às 17 horas, onde encontramos Arivaldo e Lene. Nos explicaram que aquele local, é de costume montar-se acampamentos e no momento estava com pouquíssimas pessoas, embora tivessem bastantes barracas, “as pessoas querem ganhar terra, mas não querem acampar”, observam.
Falamos de nossa viagem, e seus objetivos e ali nos acolheram aquela noite. Conversamos bastante com Arivaldo e Lene, uma valente baiana e um companheiro (seu José), riograndense do norte, pessoas muito acolhedoras, otimistas e alegres, com quem partilhamos idéias e preocupações, e falamos como e onde dormimos na noite anterior, e eles falaram que havíamos dormido na boca da onça. Contaram-nos a história de uma criança que o pai deixou naquelas proximidades esperando o transporte escolar, e só meio dia é que se veio dar conta que a onça a havia comido. O pai saiu no rastro de sangue da filha, encontrando a onça, a matou e ainda hoje está preso há oito meses, enquadrado na lei de crime ambiental, contam. Nos falaram de outro exemplo, onde outra criança foi morta por um onça, nas mesmas proximidades e o pai também a matou, este não foi preso porque a população não deixou, mas está respondendo em liberdade pelo mesmo crime. O que nos faz entender que isto acontece pelo fato, de não existir mais víveres para os animais silvestres, e nem mais florestas, e com tantas pistas que se cruzam, estes animais não teme mais os barulhos de carro, e arriscam a própria vida, porque tem que buscar alimentação seja lá o que e onde for. O que muito encontramos nas pistas são animais mortos. As auto-estradas cortam regiões inteiras, deparando as comunidades biodiversa, cujos membros estão condenados à morte na primeira ultrapassagem, e como atua ali a lei de proteção animal e defesa ambiental?

09/11/2006 quinta feira – Acordamos no acampamento trocamos algumas variedades de sementes, eles nos repassaram vários tipos de sementes de pimenta, quiabo, feijão, bucha de metro, mamão (carne vermelha e carne amarela) abóboras diversas e ipê roxo... Mas reclamaram a falta de pimenta cumari. Estávamos de saída para visitar um assentamento há uns 12 quilômetros dali, quando chegaram dois homens se dizendo ser da imprensa local, e nos entrevistaram, mostrando-se bastante curiosos... Saímos após o almoço e andamos 12 quilômetros de subidas e decidas enfrentando areal. Quando íamos vimos uma placa identificando um lote e contendo na placa que a principal atividade agrícola pimenta cumari. Depois que percorremos o assentamento, retornamos já ao anoitecer e passamos por reservas florestais do assentamento que ainda se mantinha bastante densa que nos fez arrepiar os cabelos e apressar o passo com medo das onças, empurrando as bicicletas por estar escuro com muitas subidas e areia. Ao passarmos pelo lote das pimentas cumari, pedimos umas mudas e sementes que levamos aos companheiros do acampamento, batendo a porta do barraco de Arivaldo e Lene a 11 horas da noite, repassamo-los as mudas de pimentas e ali dormimos mais uma noite.

10/11/2006 sexta feira – saímos de Campina Verde atravessando estradas de chão e o deserto do latifúndio rumo a Iturama, nesse ínterim encontramos um acampamento onde tomamos água, café, e tivemos boas conversas com o pessoal alem de escutar uma sanfona bem tocada ao estilo sulista, 3 quilômetros a frente encontramos o assentamento Peroba Sanharão. Dirigimo-nos ao mesmo e nos informaram onde morava o presidente. Lá encontramos o Carlito, sua companheira a Josefa, sua mãe dona Tereza, entre outros familiares e companheiros. Falamos da atividade do ciclovidas fomos acolhidos por todos aquele pessoal simples e alegre e a noite trocamos idéias e cantamos nossas musicas e ouvimos musicas locais cantadas por eles. Ficamos na casa do Carlito e família.

11/11/2006 sábado – visitamos varias famílias e nos informamos mais daquele assentamento.
Área: 3.974 ha; 123 assentados; atividade principal é a pecuária; 2 poços artesianos mais de 100 pequenas represas; nascentes diversas, além de duas rodas de água. O leite, principal produto, é vendido para industria de laticínio. À noite trocamos experiências, cantamos, recebemos o carinho das crianças do assentamento materializado nesta poesia/canto que eles no ofereceram:
EU VIM DE LONGE PARA ENCONTRAR O MEU CAMINHO
TINHA UM SORRISO, E UM SORRISO AINDA VALIA
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI
EU VIM DEPRESSA, MAS NÃO VIM DE CAMINHÃO;
EU VIM DE JATO NO ASFALTO DESSE CHÃO
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI.
EU VIM POR AQUILO QUE NÃO SE VER
VIM NU, DESCALÇO SEM DINHEIRO E NA PIOR...
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI!
EU TIVE AJUDA DE QUEM VOCÊ NÃO ACREDITA
TIVE A ESPERANÇA DE CHEGAR ATÉ AQUI
VIM CAMINHANDO PARA ESTÁ FELIZ AQUI
(crianças do Assentamento Peroba Sanharão, Campina Verde, Minas Gerais) após tudo isto, fomos todos dormir.

Da estrada (01/11 a 07/11)

01/11/2006 quarta feira – despedimos da comunidade e partimos chegando em Centralina - MG, a 25 quilômetro pegamos uma carona de caminhão que nos deixou na cidade de Prata-MG, dirigimos para o STR que nos foi permitido pelo presidente daquele sindicato,Jose Heleno fazer o almoço onde nos informamos da existência de um assentamento rural em Nova Cachoeirinha no rumo de Uberlândia não dando para ir no mesmo dia por conta da chuva e já estava anoitecendo fomos checar e-mail e tivemos a triste noticia da morte do bebê de Margarida antes de nascer por negligência medica. Telefonamos para o Diassis avisando que estávamos enviando as sementes pelo pai do Sergio (de Brasília). Colocamos na internet uma carta de solidariedade de Oaxaca e apos isso procuramos a rodoviária onde armamos a barraca onde fomos dormir com a permissão do vigia que e pai do presidente do sindicato. Cenas intrigantes, nós presenciamos durante a noite na rodoviária: os chamados trecheiros que também partilhavam aquele espaço conosco, amargavam suas realidades de verdadeiros cães, quase que literalmente falando, ora eram espancados pelo vigia e até pelos bebuns que tinham uma situação mais privilegiada perante esse (vigia); ora comiam carnes cruas que conseguiam nos açougues, jogadas ao chão, que disputavam entre si enquanto os “normais” assistiam estarrecidas, as degradantes cenas.

02/11/2006 quinta feira – saímos para o assentamento Nova Cachoeirinha as 14 horas e de ônibus por que continuava chovendo.Chegamos no assentamento e localizamos Wilson um dos coordenadores que nos recebeu muito bem, nos apresentando a outras famílias como João e a Branca entre outras. Trocamos muitas com Wilson que nos falou de seus projetos a serem implantados após o loteamento da terra que já esperam a 2 anos apesar dê serem imitidos na posse.Aquelas famílias vivem ainda sob a lona a espera da liberação de recursos e o loteamento.Um dos projetos do Wilson é uma comunidade alternativa fundamentada em três princípios filosóficos: vegetarianismo, espiritualismo e anarquismo, onde se faria também recuperação de menores.Wilson espera que pessoas interessem-se por essa causa e forme parceria com ele. E após cantarmos algumas canções de movimentos fomos dormir em seu pequeno barraco.

03/11/2006 sexta feira – passamos o dia em bate-papo sobre aquela realidade.

04/11/2006 sábado – passamos o dia na casa de Branca e João Batista e conhecemos familiares seus que vieram de Uberlândia para passar o fim de semana ali.

05/11/2006 domingo – Participamos de uma assembléia ordinária onde falaram de novas promessas para o assentamento, mas sem merecer muitos créditos da parte daquela comunidade. E nos foi permitido expor os objetivos de nossa caminhada. A tarde encontramos dona Maria (uma cigana assentada) que nos deu informações interessantes como mortes que aconteceram no assentamento que daria para responsabilizar o governo desde de pessoas que morreram com problemas estomacais que podem serem decorrência de anos sobre a lona quente e ate acidentadas por estar na beira do asfalto morando nos barracos.A dona Maria também falou de produção agrícola que antes existia mais fartura, mas que acabou a partir da invenção das maquinas quando a terra deixou de fornecer os alimentos.Ela falou que o beneficiamento dos grãos era artesanal o arroz, por exemplo, era polido com monjolo aproveitando correnteza de água (ela nos foi mostrar um desativado).Fomos visitar os barracos dos ciganos assentados e conhecemos: Armando, Vanderlei ,Dolores , Maria Alice,Irene,Nilza , Dienes (14 anos) Jane (14 anos) foi lá que fizeram a denuncia dos três ciganos que morreram: Adimuro com diarréia e vomito em 17/04/2005 Eurípides Machado em 24/09/2004 e Valdenir Dias da Silva em 18/05/2005 com pneumonia filho de dona Derversina Dias da Silva. Nesse assentamento existem 11 famílias ciganas e apenas 9 assentadas. Nesse dia almoçamos com os ciganos, findamos a tarde brincando ciranda com as crianças ciganas.

06/11/2006 segunda feira –levantamos cedo e fomos para a Prata onde encontramos Wilson na Lan House, que nos ajudaria a por em dias o relatório do Ciclovida, que depois de 4 horas de digitação perdemos com uma pane no computador.

Dia 07/11/2006 – terça-feira – Fomos esperar Wilson retirar um dinheiro que a Bartira havia enviado pela sua conta corrente das contribuições resultadas da campanha do CMI. Feito isso, almoçamos na rodoviária (comida que fizemos no STR) conversamos mais com Wilson e partimos as 16 horas de bicicletas rumo a Campina Verde. No primeiro posto de gasolina que encontramos na estrada pedimos espaço para armar a barraca, como não permitiram, armamos numa parada de ônibus à 500 metros.

Da estrada (24/10 a 31/10)

24/10/2006 – Terça-feira – Este foi o ultimo dia em Goiânia. Inácio passou quase toda a manhã separando sementes para serem levadas em parte para o Nordeste. Estas sementes serão levadas por Bartira, que vai voltar até Brasília, é que ela resolveu ficar um mês na casa do Santxier, na Reserva Sagrada dos Pajés, na asa norte... Antes do almoço o Léo e Jerfeson foram conosco para a feira do troca ,onde Bartira e Ivânia trocaram suas bicicletas e fizemos de freios .voltamos para a Pricila e em seguida fomos deixar Bartira na rodoviária ,compramos a passagem mais deu uma confusão por que o ônibus não queria levar sua bicicleta por menos de 20reais a mais da viagem [30reais]e pedimos a devolução do dinheiro e ela partiu em um carro pequeno pagando só a passagem .logo mais Inácio Ivânia partiram dando procedimento a atividade da estrada e saímos as 17 horas de Goiânia rumo ao triangulo mineiro chegamos a noite em Aparecida de Goiás pedimos para pernoita no auto posto Aparecidão da rede marajó,que não permitiram que pernoitamos no cetro da cidade na área de bar noite de bastante chuva.

25/10/2006, quarta feira -saímos de aparecida passamos Hidrolandia terra das jabuticabas, lá encontramos a Maris e seu filho vendendo pequis e na beira da estrada a frente encontramos Raimundo vendendo jabuticabas e compramos 2 litros por 5 reais seguimos a rodovia Br 156 com dificuldades de transitar por estar em obras e fomos dormir 20 quilometro após a cidade de Professor Jamil na área de proteção do bar de seu Jose,onde fizemos comida que dividimos com um trecheiro que conhecemos na estrada.

26/10/2006 quinta feira -partimos nas mesmas dificuldades da estrada horas sem acostamento horas sem asfalto e chegamos em Rancho Alegre e pedimos para fazer comida no pátio do posto rodoviário federal. A essa altura a atividade das sementes estava triste por que apenas fazendas hotéis e posto de gasolina povoavam a região. Chegamos em Morrinhos cidade encima da serra, sentimos ate calafrios ao percebermos que era a morada dos latifundiários com tudo fomos acolhidos por um posto de gasolina que nos cedeu banho e local para pernoitarmos.

27/10/2006 sexta feira- decidimos pegar o ônibus para atravessar o deserto do latifúndio e ultrapassamos um trecho de 70 quilômetros e chegamos na ultima cidade de Goiás, Itumbiara onde fizemos checagem de e-mail , pesemos cartas no correio e fizemos almoço na beira do rio que divide Minas e Goiás, e em seguida fomos para o acampamento Celso Furtado a 5 quilometro voltando para Buriti Alegre onde encontramos varias pessoas entre elas Adão e Baiana que nos acolheram depois que falamos nosso objetivos aprendemos muito de estradas com seu Adão de 84 anos de idade que já fora caminhoneiro por 50 anos.

28/10/2006 sabado - fomos a cidade de carona com seu Adão e Baiana onde conhecemos Ângela filha do casal que trabalha no sindicato dos funcionários da saúda de Itumbiara,e conhecemos Salete presidente do STR que nos contou a emocionante historia da construção daquele sindicato:que veio um grupo de trabalhadores da Bahia no objetivo de fundar o sindicato e tiveram que se infiltrar como bóia frias para entrar em contato com os trabalhadores locais e convencê-los dessa necessidade,passando por duras provas de represarias por parte dos patrões.Após isso fizemos consertos nas bicicletas depois o Inácio passou e-mail para Margarida sua filha para ver como estava a espera do bebê que seria domingo 29/10/06 ultimo dia de prazo.

29/10/2006 domingo - dia da eleição segundo turno para presidente fomos com Adão e Baiana para a cidade onde justificamos o voto.

30/10/2006 segunda feira –passamos a manhã visitando as famílias do acampamento e a tarde fomos verificar e-mail e nos deparemos com a triste noticia do assassinato de Brad Will em Oaxaca no México ao dar cobertura de mídia independente a luta de resistência popular Indígena naquele país.

31/10/2006 terça feira-lavamos roupas, arrancamos argila na beira do rio, ribeirão de Santa Maria. E a noite convençamos sobre sementes trocamos Idea sobre as realidades e diferenças culturais observamos que a uma cultura campesina ainda bem acentuada nesses habitantes,com costumes de fabricar produtos caseiros tais como,sabão ,gorduras ,etc.evitando comprar de tudo.

Da estrada (17/10 a 23/10)

Terça-feira, dia 17 de outubro de 2006, chegamos em Goiânia pela noite. Chegamos, a partir Abadiânia, com as bicicletas no gavetão do ônibus, para nos apressar, por conta de que, o companheiro Diego, que vinha documentando com uma filmadora, só teria até quarta feira para estar conosco; por conta de expiração do seu tempo de folga no trabalho, teria que retornar à Brasília, e queríamos muito que chegássemos juntos à Goiânia, que assim nos apresentaria aos compas daquela Capital. Logo à noite encontramos com vários companheiros que já nos aguardavam. Passamos até meia noite conversando, nos inteirando reciprocamente e tomando pé na realidade. Fomos dormir na casa de Tiago e Eliza, do movimento libertário de Goiás, ligados a viabilização da comunicação.

Dia 18/10 – quarta-feira - foi mais de descanso e conversas descontraídas e de informações recíprocas.

Dia 19/10 – quinta-feira - montamos as bicicletas que estavam desmontadas desde que trouxemos há dois dias no ônibus, de Abadiânia a Goiânia, depois saímos nas tentativas de trocá-las nas bicicletarias, Ivânia e Bartira pretendiam outras que se adaptassem melhor aos seus gostos. Passamos o dia nessa tentativa, não deu certo fazer nenhuma troca, porque ofereceram muito pouco em valor pelas bicicletas, “nem mesmo o nosso apelo ao valor histórico dessas bicicletas, por terem resistido tanto, no percurso, Fortaleza/Goiânia, sensibilizava os donos de bicicletarias e negociadores”. Pela noite fomos para uma reunião no espaço da Igreja católica para ´programarmos o dia da democratização da comunicação`, e ao retornarmos, fomos para o apartamento de Pricila para dormir, e demos de cara com o porteiro, que, por ordens superiores não queria aceitar nossa entrada com as bicicletas, o que só seria permitido aos moradores do prédio. Não baixando a cabeça e falando mais alto, ela (Pricila) fez valer seu direito de ser solidária. É nessa circunstância que ficamos em seu apartamento por alguns dias com nossas três bicicletas.

Dia 20/10/2006 (sexta-feira) – Fomos para a UFG (Universidade Federal de Goiás), Onde teria dois sarais de poesia: um pela manhã e outro pela tarde, e teria uma reunião para debater a democratização da comunicação. Planejamento cumprido no transcorrer do dia, não acontecendo apenas o saral da manhã. Fomos (Ivânia, Bartira e Inácio) para UFG e voltamos para o apartamento de Pricila de bicicleta.

Dia 21/102006 (sábado) foi o primeiro dia da programação da rádio, que fizemos em conexão com as rádios comunitárias de Brasília. Nó participamos desta programação juntos com vários companheiros e coletivos, abordamos vários temas como: Passe Livre, Democracia, Eleições, Naturalismo e Saúde; catamos músicas variadas dos movimentos, etc. Foi um dia de encontro com muita gente lutadora do movimento libertário.

Dia 22/10 – Domingo – segundo dia de programação da rádio comunitária. Fizemos programa com Victor, companheiro estudioso da macrobiótica sobre: Alimentação, Saúde e Nova Relação com a terra. Lá encontramos também o Vinícius, que por sinal usa muito a bicicleta, e faz retratos das pessoas na hora H, isto é seu trabalho. Estávamos também com o Léo do CMI. Depois fomos para a casa da Pricila e encontramos também o Igor (o animal), encontramos também a Pilar. Conhecemos Jerfeson, um companheiro músico que é de Fortaleza, Ceará, que está morando em Goiânia, e que curte também uma bicicleta.

23/10/2006 – Segunda-feira - Convivemos com esses compas na casa de pricila

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Direto do pedal, via e-mail (11/12)

Ciclovida escreveu:

Passamos dois dias empenhados em fazer o relatório da viagem. Ainda bem que tivemos a ajuda do companheiro Lourival da secretaria do MST de Peabiru, aqui do Paraná. Olha cara, soubemos que as sementes já devem ter chegado no Ceará (...) Depois enviaremos o resto do relatório. Devemos sair amanhã daqui, rumo a Foz do Iguaçu.

Notícias da Estrada (21/11 a 22/11)

Ciclovida escreveu, um pouco atrasado :)

21/11/2006 terça feira – acordamos tarde para tirar o acumulo do cansaço de 25 kg de medo da noite anterior. Às 9 horas foi a troca de sementes, várias pessoas chegavam com sementes outras que não tinham vinham na busca de alguma para quando conquistar a terra plantar a sementes naturais. À tarde conversamos com alguns acampados e escutamos o relato de um atentado que sofreram há 4 dias atrás esse mesmo acampamento estava na fazenda Abrumados, dia 12/11/2006, domingo a noite, apareceu um fogo cercando todo o acampamento, todo o pessoal do acampamento saiu na tentativa de apagar, mas encontrando muita dificuldade, avisaram aos bombeiros que também não poderão vir pois estavam apagando um outro incêndio que apareceu misteriosamente o que leva a suspeitar da intenção criminosa desses incêndio. Quando os bombeiros vieram chegar já era madrugada e sem ter material para apagar o fogo e o povo tentava salvar o gado da fazenda. Esta fazenda estava em negociação com o Incra desde janeiro. Suspeita-se que alguém tenha soltado o gado propositadamente para serem atingido pelo fogo e a culpa recair sobre os acampados para facilitar a remoção ou despejo do acampamento e assim o povo foi despejado e hoje se encontra ali na Barrinha. Tornamo-nos ali, amigos de todos aqueles companheiros, que em nome de todos os outros, os citamos aqui estes: Francisco e Maria, e filhos e netos, que são: Amaurílio Moisés (faz curso de técnica agrícola na Escola Paulo de Sousa em Martinópolis), Yara Cristina, Grezielle Regina (também faz o mesmo curso junto com o pai), Francielle Jasmim e Drielle Francisca. Tem também a família do filho mais velho de Francisco e Maria: Lucas Emanuel, sua família: Elaine Cristina, Jéssica Eliza e André Francisco. Alem, tinhas os companheiros: Lega o coordenador, Cicinato e Rosecley com seus filhos Daniel, Miriam e Daniele; o Cicinato nos deu um facão e uma lanterna, nos deixando equipados para acampar. Pela tarde fomos tentar tirar argila medicinal e pegar bambus para fazermos barracas. Recebemos sementes de guandu branco grande, fava branca, milho pipoca branco, maracujá melão, de seu Valério e dona Enerdina. Recebemos de dona Maria dos Santos, uma castanha de indaiaçu e milho canjica.

22/11/2006 quarta feira – dali partimos sentido Mirante do Paraná Panema, passamos em Indiana, e Regente Feijó, logo parou um carro pampa e perguntou para onde íamos e após nosso ouvir nos ofereceu carona ate Anhumas (este homem era de uma pastoral social e assistência aos migrantes). Chegando, agradecemos a carona e paramos na frente para pedir água, ali tinha um caminhão carregando de tabuas, depois de saber de nosso destino, o motorista falou que nos daria uma carona se fosse a noite para driblar a policia rodoviária. Pedimos-lhe informação sobre um acampamento à frente e esse nos informou, agradecemos a boa intenção e prosseguimos. Antes de atravessarmos toda a cidade, o dito caminhão parou e nos deu a carona até o acampamento Vitória II, em frente ao Assentamento Santo Antonio II, entrada de Nova Pátria, município de Presidente Bernardes. Ali no acampamento nos identificamos para os companheiros e companheiras, falamos das referências de nomes que nos foram dados pelos acampados de Martinópolis, que era Moura e Frangão depois de um bom tempo nos convidaram para entrar, e logo sugerimos uma conversa com os acampados sobre a atividade que fazemos. Tivemos uma conversa rápida, mas dando para expor basicamente nossos objetivos. Conhecemos a companheira Fátima, mulher guerreira e forte, que encara de cabeça erguida os estigmas impostos aos portadores do vírus HIV (ela e seu companheiro são portadores há 20 anos), embora não tenha se desenvolvido os sintomas da AIDS. Estes estão acampados e não dão sinais de fraqueza ou desânimo.

Notícias da Estrada (16/11 a 20/11)

Ciclovida escreveu, com um pouco de atraso :)

16/11/2006 quinta feira – juntamos no quintal da casa algumas sementes de jabuticaba e pitanga, nos despedimos do companheiro, e por um pequeno erro de percurso passamos pela vila Fátima Paulista, fazendo uma grande volta de 6 km por estradas de chão, retornamos quase ao mesmo lugar de partida e prosseguimos passando pelo trevo de Jales e fomos sair em Pontalinda, onde tivemos vontade de descansar, mas como achamos cedo ainda fomos até Auriflama, onde tivemos que nos adentrar 8 km fora da rota, e dormimos na rodoviária com permissão da vigilância.

17/11/2006 sexta feira – saímos cedo, e rompendo a estrada margeada por fazendas de cana e gado, avistamos uma pequena chácara e nos aproximamos para beber água, era de uma Nordestina que avia comprado com algumas dezenas de anos de trabalho duro, essa nos ofereceu café com macaxeira (mandioca) cozida, agradecemos e às 10 horas estávamos a beira do rio Tietê, fazendo comida, a 20 km de Araçatuba. Às 15 horas saímos, passamos em Araçatuba e fomos dormir em Bilac. Esta noite foi a primeira mais tensa de toda a viagem. É que na rodoviária, onde fomos dormir não tem vigilância, e quem é desconhecido ali se sente num inseguro esmo no deserto da cidade, e passamos ali à noite entre dormindo e acordado, temendo ser abordado, ora pela polícia, ora a galera da vida noturna.

18/11/2006 sábado – sem muita novidade, margeados pelas continuas fazendas, a diferença deu-se pelo fato de ser a estrada mais acidentalizada pela incidência de muitas ladeiras, chegamos em Rinópolis, onde encontramos um galpão, local onde os bóias-frias esperam os transportes para os canaviais, ali armamos a barraca e dormimos.

19/11/2006 domingo – enfrentando a mesma rotina de autos e baixos da estrada e canaviais chegamos à entrada da Vila Escócia, para onde resolvemos entrar para darmos uns telefonemas, mas como já estava anoitecendo decidimos por pernoitar ali, depois de tranqüilizados por algumas pessoas que ali moravam, de que era um lugar extremamente pacato. Quando tudo se “acalmara” armamos nossa barraca encostada à igreja católica. Mas logo percebemos um grupinho de vigilantes voluntários que curtia seus ópios de cada noite, na inércia da madrugada adentro. Percebemos que era inoportuna nossa presença ao ouvirmos os sussurros de insatisfação que iam se tornando cada vez mais freqüentes e ofensivos, chegando a nos xingar, então resolvemos nos aproximar do e esclarecer sobre nossa atividade.Um deles, o Danilo resolveu nos defender, tornando-se nosso escudo para qual se encaminhou à fúria dos outros. Percebendo nosso dilema, Danilo nos convidou para irmos com ele para a casa de seus pais onde lá podíamos dormir. Mas o problema, é que um dos xingadores era seu irmão e descordava da disponibilidade do Danilo. Mas o Danilo impunha-se decisivo, e insistentemente queria nos levar para sua casa sob os protestos do irmão.Em meio ao fogo cruzado entre irmãos, onde nenhum um dos dois sóbrios, nós tínhamos que tomarmos uma posição. Tentamos fazer com que o Danilo desistisse de nos levar para sua casa; dizíamos que não era fácil seus pais acolherem desconhecidos àquela hora da noite, mas fomos obrigado a concordar em ir com ele, pois ele desfazia nossos argumentos dizendo que seus pais eram bons e acolhedores. Dissemos então que íamos, mas voltaríamos para a praça. Acordo feito e aceito também pelo irmão rival. Realmente nos deparamos com duas pessoas maravilhosas que nos ofereceram o que estava em seu alcance... Bem não terminamos o bate papo o irmão rival chega já ameaçando botar para fora de sua casa, o que nos fez bater em retirada. O Danilo nos acompanhou até a praça onde dormiríamos, mas assim que ele voltou para sua casa resolvemos prosseguir estrada a fora pela madrugada, tivemos que sair para nos proteger e não sentindo segurança em pousar na beira da estrada percorremos 25 km rumo a Martinópolis. Uns 8 km antes de chegar a cidade já não agüentando o cansaço encontramos um grande espaço limpo que nos chamou atenção para armarmos a barraca e quando começamos desamarra-la percebemos pelo reflexo de um carro que tratava-se da entrada de um latifúndio, mais uma vez nos retiramos por precaução e temendo os cachorros que já avisava a presença de estranhos. Fomos parar na entrada da cidade de Martinópolis onde encontramos uma guarita de ônibus e dessa vez não armamos mais barraca, dormimos ali mesmo no banco já eram 3 da manhã.

20/11/2006 segunda feira – acordamos com sol alto, procurávamos um assentamento, mas nos informara que este estava a uns 10 ou 15 km fora da nossa rota, e que mais perto estava um acampamento, sendo para onde nos dirigíamos após darmos uma volta na cidade para resolvermos algumas questões tais como a revelação das fotos, quando tivemos a grande decepção: pois os filmes tinham sido mal colocados na máquina, não dando certo nenhuma foto desde Brasília. Ali colocamos outro filme, e agora esperamos que não estejam errados ou a máquina não dê problemas. Chegando no acampamento Barrinha nos identificamos e ali fomos acolhidos pelos companheiros acampados.Ficamos no barraco com Francisco e família e ali fomos tomando da realidade daqueles companheiros, de anos afio vivendo em barracos sob o descaso dos que governam em conivência com o latifúndio. Durante a tarde foi articulada uma reunião com os acampados onde partilhamos informes e preocupações cantamos musicas de animação da luta, quase todo o acampamento estava presente e animados se comprometeram de ver o que havia de sementes para partilhar no dia seguinte.

Notícias da Estrada (12/11 a 15/11)

Ciclovida escreveu, um pouco atrasado:

12/11/2006 domingo – visitamos mais famílias e meio dia fomos para outra parte do assentamento, onde estava acontecendo um torneio de futebol, fomos de carona no gol de Jose Pereira, sua companheira Balduina, sua neta Anita Geovana e Josefa a companheira do Carlito. Lá encontramos mais pessoas entre a secretaria filha de Balduina ao final retornamos para a sede, casa do Carlito, que nos mostrou todo o processo de desapropriação daquela fazenda e o quanto tiveram que ser ágeis para não perder a terra. Denunciou também que houve incidências de morte de três companheiros na época do acampamento por contaminação pela água, por não poder usar água potável que estava na fazenda. Após tantas manifestações carinhosas daquele pessoal, que inclusive nos ofertaram fotos da resistência deles para levarmos como lembranças.fomos dormir já com saudades porque dia seguinte partiremos.

13/11/2006 segunda feira – Despedimo-nos de todos e saímos de carona no carro que leva o leite e descemos na casa de seu Tinoco e dona Maria, estávamos no outro assentamento a 20 quilômetros de Iturama - MG. Passamos o dia com a família, trocamos algumas sementes, conhecemos Dinamarquês (filha do casal) que nos mostrou “rodas de água” (essas rodas de é que faz bombeamento para abastecer as casa e irrigação). Observamos que atividade principal e também a pecuária, e a noite fomos presenteados com uma noitada de viola caipira oferecida por seu Tinoco.

14/11/2006 terça feira – saímos para fazer algumas visitas, percebemos as casas, um tanto isoladas por conta do loteamento da terra, cada casa se distancia da estrada imitando fazendas, onde o gado forma a principal povoação, andando sobre o tapete de capim, chegando vezes, uma assentado possuir ate mais de 100 cabeças, que para mantê-las tem que alugar o lotes de outros companheiros de assentamento, e outros que mantêm-se do aluguel de seus lotes. Fomos ate a noite em visitas, por fim paramos no lote de Conceição onde fomos convidados para esperar o jantar, nessa recebemos algumas sementes de pimentas, e nos informou que metade dos assentados já havia vendido seus lotes. Eles falaram da complicação que dá a venda de lotes: os que compram são pessoas descompromissadas com a causa dos sem terra, reproduzindo uma desigualdade social e causando o enfraquecimento da luta. Saímos de lá as 10 horas da noite temendo passar por uma pequena reserva onde se comentavam sobre aparecimentos de onças; atravessamos com a solidariedade de um companheiro em seu carro, que alumiava nossas bicicletas ate o final da travessia, e assim chegamos na casa de seu Tinoco para dormir.

15/11/2006 quarta feira – Acordamos cedo, arrumamos as cargas nas bicicletas e saímos. Lanchamos água de coco já em Iturama na barraca de um baiano, prosseguimos em frente, paramos a 2 km nuns restos de barracos que já havia sido antes acampamentos de sem terra, e que agora é moradia de sem tetos, que ate sugeriram que morássemos num desses, mas explicamos nosso projeto e que estávamos de passagem. Prosseguindo, paramos no posto de gasolina onde ficava a entrada de acesso ao estado de São Paulo, que já estávamos a 12 km da divisa MG/ SP. Há 2 km do posto fiscal da divisa paramos para tomar água numa casa na beira da pista de baixo de um mangueiral, encontramos uma jovem mulher, cujo marido trabalhava plantando vassoura e o mesmo as montavam para seu patrão. Ali chupamos mangas, bebemos água e conversamos com aquela companheira, que nos falou que se chama Luciana, que era casada pela segunda vez, que seu primeiro companheiro morrera em conseqüência de um raio de relâmpago em Mato Grosso, num acampamento de carvoaria, pois ele fazia carvão para um patrão, que ele havia chegado nessa região com 17 anos e ainda não tinha feito dinheiro para visitar a família, que sempre prometia para a companheira que a levaria para conhecer sua família no Nordeste, que ele era do Ceará e se chamava Antonio Ferreira Serafim, filho de Francisco Ferreira Campos e Ana Serafim Campos, nascido em 21 de janeiro de 1978, na localidade de Trussu, entre Acopiara, Catarina e Iguatu que ela havia tentado entrar em contato com a família e não tinha conseguido. Ele morreu em Cassilândia, Mato Grosso do Sul, enterrado em 20 de abril de 2005, na cidade de Chapadão do Sul, há 100 km de Cassilândia. Hoje a Luciana trabalha com seu segundo companheiro para o “Toinho”, seu patrão atual. Logo na frente encontramos a ponte do Rio Grande da mencionada divisa. Aqui estamos, há um passo à frente: São Paulo, e há um passo atrás: Minas Gerais. Nesse momento nos despertamos para bater umas fotos. Nossas bicicletas carregadas, nos fazia parecer com vendedores de peixe. Foi assim que uma senhora, mulher de um médico que estava em família a admirar aquelas paisagens. Essa companheira convidou seu companheiro para se aproximar dos peixeiros (que seríamos nós), mas ao se aproximarem de nós, viram que estávamos batendo fotos, logo lhe pairou o dilema: “nunca se viu vendedor de peixe batendo fotos!” Aproximaram-se, mas para se oferecerem para nos ajudar na “tiração” de nossas próprias fotos. Depois que se certificaram do que estávamos fazendo, o companheiro que se chamava Márcio, que era médico, que estava dando passeio por ali com a família: Leily sua comp., Ricardo seu cunhado, a filha Izabelle e o filho Cesare. Márcio disse que estávamos fazendo algo que ele sempre sonhava fazer, e perguntou se podia ajudar, respondemos que ficasse à vontade, ele então nos deu R$ 50,00 e sua camisa de torcedor do Juventus da Itália. Nos encheu de felicitações e foi embora, e nós também. Às 16 horas estávamos chegando na entrada de Turmalina – SP, onde nos com duas fileiras de mangueiral ás duas margens da estrada que dá acesso a pequena cidade, paramos ali observando os 3 km de mangas pelo chão que a margeava, e como não havíamos ainda almoçado, largamos das bicicletas e enchemos a barriga de manga, chamando a atenção de tantos quantos passassem por ali, logo seguimos para essa cidade e ao chegarmos não deixávamos de causar espantos àquela população, fomos a internet, depois que checamos e-mails ali mesmo nos informamos da existência de galpão de feira, que podíamos armar a barraca e dormir, sugeriram que antes comunicássemos a policia local, o que fizemos, e essa nos autorizou dormir no dito galpão, falando também que já havia recebido dois telefonemas dando conta da existência de dois estranhos na cidade. Após informar da nossa atividade e de onde vínhamos de bicicletas, o delegado ainda admirado nos pediu um favor: que quando voltássemos a Fortaleza tentasse localizar seu pai biológico que estava com 80 anos de idade e ele havia descoberto que o mesmo (seu pai) residia naquela cidade (Fortaleza). Ainda saímos para procurar um cartão telefônico para nos comunicarmos com nossos filhos, quando encontramos alguns jovens numa mesa de cerveja, e como nos observavam resolvemos nos aproximar e explicar o que fazíamos. Depois do dialogo, um deles ofereceu a chave de sua casa para dormirmos nela, que estava apenas com seus pertences, mas ele não dormia lá, o que aceitamos prontamente, ate porque tinha banheiro e a gente estava precisando.

Notícias da Estrada (06/11 a 11/11)

Ciclovida escreveu, um tanto com atraso :)

06/11/2006 segunda feira –levantamos cedo e fomos para a Prata onde encontramos Wilson na Lan House, que nos ajudaria a por em dias o relatório do Ciclovida, que depois de 4 horas de digitação perdemos com uma pane no computador.

Dia 07/11/2006 – terça-feira – Fomos esperar Wilson retirar um dinheiro que a Bartira havia enviado pela sua conta corrente das contribuições resultadas da campanha do CMI. Feito isso, almoçamos na rodoviária (comida que fizemos no STR) conversamos mais com Wilson e partimos as 16 horas de bicicletas rumo a Campina Verde. No primeiro posto de gasolina que encontramos na estrada pedimos espaço para armar a barraca, como não permitiram, armamos numa parada de ônibus à 500 metros.

08/11/2006 – quarta-feira – Acordamos cedinho, Ivânia, meio adoentada, seguimos para Campina Verde, Paramos ao meio-dia na entrada de Monjolinho, há 20km de Campina Verde, Passamos a hora quente e seguimos, chegamos no Acampamento Terra Santa às 17 horas, onde encontramos Arivaldo e Lene. Nos explicaram que aquele local, é de costume montar-se acampamentos e no momento estava com pouquíssimas pessoas, embora tivessem bastantes barracas, “as pessoas querem ganhar terra, mas não querem acampar”, observam.
Falamos de nossa viagem, e seus objetivos e ali nos acolheram aquela noite. Conversamos bastante com Arivaldo e Lene, uma valente baiana e um companheiro (seu José), riograndense do norte, pessoas muito acolhedoras, otimistas e alegres, com quem partilhamos idéias e preocupações, e falamos como e onde dormimos na noite anterior, e eles falaram que havíamos dormido na boca da onça. Contaram-nos a história de uma criança que o pai deixou naquelas proximidades esperando o transporte escolar, e só meio dia é que se veio dar conta que a onça a havia comido. O pai saiu no rastro de sangue da filha, encontrando a onça, a matou e ainda hoje está preso há oito meses, enquadrado na lei de crime ambiental, contam. Nos falaram de outro exemplo, onde outra criança foi morta por um onça, nas mesmas proximidades e o pai também a matou, este não foi preso porque a população não deixou, mas está respondendo em liberdade pelo mesmo crime. O que nos faz entender que isto acontece pelo fato, de não existir mais víveres para os animais silvestres, e nem mais florestas, e com tantas pistas que se cruzam, estes animais não teme mais os barulhos de carro, e arriscam a própria vida, porque tem que buscar alimentação seja lá o que e onde for. O que muito encontramos nas pistas são animais mortos. As auto-estradas cortam regiões inteiras, deparando as comunidades biodiversa, cujos membros estão condenados à morte na primeira ultrapassagem, e como atua ali a lei de proteção animal e defesa ambiental?

09/11/2006 quinta feira – Acordamos no acampamento trocamos algumas variedades de sementes, eles nos repassaram vários tipos de sementes de pimenta, quiabo, feijão, bucha de metro, mamão (carne vermelha e carne amarela) abóboras diversas e ipê roxo... Mas reclamaram a falta de pimenta cumari. Estávamos de saída para visitar um assentamento há uns 12 quilômetros dali, quando chegaram dois homens se dizendo ser da imprensa local, e nos entrevistaram, mostrando-se bastante curiosos... Saímos após o almoço e andamos 12 quilômetros de subidas e decidas enfrentando areal. Quando íamos vimos uma placa identificando um lote e contendo na placa que a principal atividade agrícola pimenta cumari. Depois que percorremos o assentamento, retornamos já ao anoitecer e passamos por reservas florestais do assentamento que ainda se mantinha bastante densa que nos fez arrepiar os cabelos e apressar o passo com medo das onças, empurrando as bicicletas por estar escuro com muitas subidas e areia. Ao passarmos pelo lote das pimentas cumari, pedimos umas mudas e sementes que levamos aos companheiros do acampamento, batendo a porta do barraco de Arivaldo e Lene a 11 horas da noite, repassamo-los as mudas de pimentas e ali dormimos mais uma noite.

10/11/2006 sexta feira – saímos de Campina Verde atravessando estradas de chão e o deserto do latifúndio rumo a Iturama, nesse ínterim encontramos um acampamento onde tomamos água, café, e tivemos boas conversas com o pessoal alem de escutar uma sanfona bem tocada ao estilo sulista, 3 quilômetros a frente encontramos o assentamento Peroba Sanharão. Dirigimo-nos ao mesmo e nos informaram onde morava o presidente. Lá encontramos o Carlito, sua companheira a Josefa, sua mãe dona Tereza, entre outros familiares e companheiros. Falamos da atividade do ciclovidas fomos acolhidos por todos aquele pessoal simples e alegre e a noite trocamos idéias e cantamos nossas musicas e ouvimos musicas locais cantadas por eles. Ficamos na casa do Carlito e família.

11/11/2006 sábado – visitamos varias famílias e nos informamos mais daquele assentamento.
Área: 3.974 ha; 123 assentados; atividade principal é a pecuária; 2 poços artesianos mais de 100 pequenas represas; nascentes diversas, além de duas rodas de água. O leite, principal produto, é vendido para industria de laticínio. À noite trocamos experiências, cantamos, recebemos o carinho das crianças do assentamento materializado nesta poesia/canto que eles no ofereceram:
EU VIM DE LONGE PARA ENCONTRAR O MEU CAMINHO
TINHA UM SORRISO, E UM SORRISO AINDA VALIA
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI
EU VIM DEPRESSA, MAS NÃO VIM DE CAMINHÃO;
EU VIM DE JATO NO ASFALTO DESSE CHÃO
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI.
EU VIM POR AQUILO QUE NÃO SE VER
VIM NU, DESCALÇO SEM DINHEIRO E NA PIOR...
ACHEI DIFÍCIL A VIAGEM ATÉ AQUI
MAS EU CHEGUEI, MAS EU CHEGUEI!
EU TIVE AJUDA DE QUEM VOCÊ NÃO ACREDITA
TIVE A ESPERANÇA DE CHEGAR ATÉ AQUI
VIM CAMINHANDO PARA ESTÁ FELIZ AQUI
(crianças do Assentamento Peroba Sanharão, Campina Verde, Minas Gerais) após tudo isto, fomos todos dormir.

Notícias da Estrada (02/11 a 05/11)

Ciclovida escreveu, meio atrasado:

02/11/2006 quinta feira – saímos para o assentamento Nova Cachoeirinha as 14 horas e de ônibus por que continuava chovendo.Chegamos no assentamento e localizamos Wilson um dos coordenadores que nos recebeu muito bem, nos apresentando a outras famílias como João e a Branca entre outras. Trocamos muitas com Wilson que nos falou de seus projetos a serem implantados após o loteamento da terra que já esperam a 2 anos apesar dê serem imitidos na posse.Aquelas famílias vivem ainda sob a lona a espera da liberação de recursos e o loteamento.Um dos projetos do Wilson é uma comunidade alternativa fundamentada em três princípios filosóficos: vegetarianismo, espiritualismo e anarquismo, onde se faria também recuperação de menores.Wilson espera que pessoas interessem-se por essa causa e forme parceria com ele. E após cantarmos algumas canções de movimentos fomos dormir em seu pequeno barraco.

03/11/2006 sexta feira – passamos o dia em bate-papo sobre aquela realidade.

04/11/2006 sábado – passamos o dia na casa de Branca e João Batista e conhecemos familiares seus que vieram de Uberlândia para passar o fim de semana ali.

05/11/2006 domingo – Participamos de uma assembléia ordinária onde falaram de novas promessas para o assentamento, mas sem merecer muitos créditos da parte daquela comunidade. E nos foi permitido expor os objetivos de nossa caminhada. A tarde encontramos dona Maria (uma cigana assentada) que nos deu informações interessantes como mortes que aconteceram no assentamento que daria para responsabilizar o governo desde de pessoas que morreram com problemas estomacais que podem serem decorrência de anos sobre a lona quente e ate acidentadas por estar na beira do asfalto morando nos barracos.A dona Maria também falou de produção agrícola que antes existia mais fartura, mas que acabou a partir da invenção das maquinas quando a terra deixou de fornecer os alimentos.Ela falou que o beneficiamento dos grãos era artesanal o arroz, por exemplo, era polido com monjolo aproveitando correnteza de água (ela nos foi mostrar um desativado).Fomos visitar os barracos dos ciganos assentados e conhecemos: Armando, Vanderlei ,Dolores , Maria Alice,Irene,Nilza , Dienes (14 anos) Jane (14 anos) foi lá que fizeram a denuncia dos três ciganos que morreram: Adimuro com diarréia e vomito em 17/04/2005 Eurípides Machado em 24/09/2004 e Valdenir Dias da Silva em 18/05/2005 com pneumonia filho de dona Derversina Dias da Silva. Nesse assentamento existem 11 famílias ciganas e apenas 9 assentadas. Nesse dia almoçamos com os ciganos, findamos a tarde brincando ciranda com as crianças ciganas.

Notícias da Estrada (27/10 a 01/11)

Umas notícias "retrô" que o Ciclovida escreveu:

27/10/2006 sexta feira- decidimos pegar o ônibus para atravessar o deserto do latifúndio e ultrapassamos um trecho de 70 quilômetros e chegamos na ultima cidade de Goiás, Itumbiara onde fizemos checagem de e-mail , pesemos cartas no correio e fizemos almoço na beira do rio que divide Minas e Goiás, e em seguida fomos para o acampamento Celso Furtado a 5 quilometro voltando para Buriti Alegre onde encontramos varias pessoas entre elas Adão e Baiana que nos acolheram depois que falamos nosso objetivos aprendemos muito de estradas com seu Adão de 84 anos de idade que já fora caminhoneiro por 50 anos.

28/10/2006 sabado - fomos a cidade de carona com seu Adão e Baiana onde conhecemos Ângela filha do casal que trabalha no sindicato dos funcionários da saúda de Itumbiara,e conhecemos Salete presidente do STR que nos contou a emocionante historia da construção daquele sindicato:que veio um grupo de trabalhadores da Bahia no objetivo de fundar o sindicato e tiveram que se infiltrar como bóia frias para entrar em contato com os trabalhadores locais e convencê-los dessa necessidade,passando por duras provas de represarias por parte dos patrões.Após isso fizemos consertos nas bicicletas depois o Inácio passou e-mail para Margarida sua filha para ver como estava a espera do bebê que seria domingo 29/10/06 ultimo dia de prazo.

29/10/2006 domingo - dia da eleição segundo turno para presidente fomos com Adão e Baiana para a cidade onde justificamos o voto.

30/10/2006 segunda feira –passamos a manhã visitando as famílias do acampamento e a tarde fomos verificar e-mail e nos deparemos com a triste noticia do assassinato de Brad Will em Oaxaca no México ao dar cobertura de mídia independente a luta de resistência popular Indígena naquele país.

31/10/2006 terça feira-lavamos roupas, arrancamos argila na beira do rio, ribeirão de Santa Maria. E a noite convençamos sobre sementes trocamos Idea sobre as realidades e diferenças culturais observamos que a uma cultura campesina ainda bem acentuada nesses habitantes,com costumes de fabricar produtos caseiros tais como,sabão ,gorduras ,etc.evitando comprar de tudo.

01/11/2006 quarta feira – despedimos da comunidade e partimos chegando em Centralina - MG, a 25 quilômetro pegamos uma carona de caminhão que nos deixou na cidade de Prata-MG, dirigimos para o STR que nos foi permitido pelo presidente daquele sindicato,Jose Heleno fazer o almoço onde nos informamos da existência de um assentamento rural em Nova Cachoeirinha no rumo de Uberlândia não dando para ir no mesmo dia por conta da chuva e já estava anoitecendo fomos checar e-mail e tivemos a triste noticia da morte do bebê de Margarida antes de nascer por negligência medica. Telefonamos para o Diassis avisando que estávamos enviando as sementes pelo pai do Sergio (de Brasília). Colocamos na internet uma carta de solidariedade de Oaxaca e apos isso procuramos a rodoviária onde armamos a barraca onde fomos dormir com a permissão do vigia que e pai do presidente do sindicato. Cenas intrigantes, nós presenciamos durante a noite na rodoviária: os chamados trecheiros que também partilhavam aquele espaço conosco, amargavam suas realidades de verdadeiros cães, quase que literalmente falando, ora eram espancados pelo vigia e até pelos bebuns que tinham uma situação mais privilegiada perante esse (vigia); ora comiam carnes cruas que conseguiam nos açougues, jogadas ao chão, que disputavam entre si enquanto os “normais” assistiam estarrecidas, as degradantes cenas.

Notícias da Estrada (22/10 a 26/10)

Ciclovida escreveu, meio retrô:

Dia 22/10 – Domingo – segundo dia de programação da rádio comunitária. Fizemos programa com Victor, companheiro estudioso da macrobiótica sobre: Alimentação, Saúde e Nova Relação com a terra. Lá encontramos também o Vinícius, que por sinal usa muito a bicicleta, e faz retratos das pessoas na hora H, isto é seu trabalho. Estávamos também com o Léo do CMI. Depois fomos para a casa da Pricila e encontramos também o Igor (o animal), encontramos também a Pilar. Conhecemos Jerfeson, um companheiro músico que é de Fortaleza, Ceará, que está morando em Goiânia, e que curte também uma bicicleta.

23/10/2006 – Segunda-feira - Convivemos com esses compas na casa de pricila

24/11/2006 – Terça-feira – Este foi o ultimo dia em Goiânia. Inácio passou quase toda a manhã separando sementes para serem levadas em parte para o Nordeste. Estas sementes serão levadas por Bartira, que vai voltar até Brasília, é que ela resolveu ficar um mês na casa do Santxier, na Reserva Sagrada dos Pajés, na asa norte... Antes do almoço o Léo e Jerfeson foram conosco para a feira do troca ,onde Bartira e Ivânia trocaram suas bicicletas e fizemos de freios .voltamos para a Pricila e em seguida fomos deixar Bartira na rodoviária ,compramos a passagem mais deu uma confusão por que o ônibus não queria levar sua bicicleta por menos de 20reais a mais da viagem [30reais]e pedimos a devolução do dinheiro e ela partiu em um carro pequeno pagando só a passagem .logo mais Inácio Ivânia partiram dando procedimento a atividade da estrada e saímos as 17 horas de Goiânia rumo ao triangulo mineiro chegamos a noite em Aparecida de Goiás pedimos para pernoita no auto posto Aparecidão da rede marajó,que não permitiram que pernoitamos no cetro da cidade na área de bar noite de bastante chuva.

25/10/2006, quarta feira -saímos de aparecida passamos Hidrolandia terra das jabuticabas, lá encontramos a Maris e seu filho vendendo pequis e na beira da estrada a frente encontramos Raimundo vendendo jabuticabas e compramos 2 litros por 5 reais seguimos a rodovia Br 156 com dificuldades de transitar por estar em obras e fomos dormir 20 quilometro após a cidade de Professor Jamil na área de proteção do bar de seu Jose,onde fizemos comida que dividimos com um trecheiro que conhecemos na estrada.

26/10/2006 quinta feira -partimos nas mesmas dificuldades da estrada horas sem acostamento horas sem asfalto e chegamos em Rancho Alegre e pedimos para fazer comida no pátio do posto rodoviário federal. A essa altura a atividade das sementes estava triste por que apenas fazendas hotéis e posto de gasolina povoavam a região. Chegamos em Morrinhos cidade encima da serra, sentimos ate calafrios ao percebermos que era a morada dos latifundiários com tudo fomos acolhidos por um posto de gasolina que nos cedeu banho e local para pernoitarmos.

Notícias da Estrada (17/10 a 21/10)

Umas notícias "retrô" que o Ciclovida escreveu:

Terça-feira, dia 17 de outubro de 2006, chegamos em Goiânia pela noite. Chegamos, a partir Abadiânia, com as bicicletas no gavetão do ônibus, para nos apressar, por conta de que, o companheiro Diego, que vinha documentando com uma filmadora, só teria até quarta feira para estar conosco; por conta de expiração do seu tempo de folga no trabalho, teria que retornar à Brasília, e queríamos muito que chegássemos juntos à Goiânia, que assim nos apresentaria aos compas daquela Capital. Logo à noite encontramos com vários companheiros que já nos aguardavam. Passamos até meia noite conversando, nos inteirando reciprocamente e tomando pé na realidade. Fomos dormir na casa de Tiago e Eliza, do movimento libertário de Goiás, ligados a viabilização da comunicação.

Dia 18/10 – quarta-feira - foi mais de descanso e conversas descontraídas e de informações recíprocas.

Dia 19/10 – quinta-feira - montamos as bicicletas que estavam desmontadas desde que trouxemos há dois dias no ônibus, de Abadiânia a Goiânia, depois saímos nas tentativas de trocá-las nas bicicletarias, Ivânia e Bartira pretendiam outras que se adaptassem melhor aos seus gostos. Passamos o dia nessa tentativa, não deu certo fazer nenhuma troca, porque ofereceram muito pouco em valor pelas bicicletas, “nem mesmo o nosso apelo ao valor histórico dessas bicicletas, por terem resistido tanto, no percurso, Fortaleza/Goiânia, sensibilizava os donos de bicicletarias e negociadores”. Pela noite fomos para uma reunião no espaço da Igreja católica para ´programarmos o dia da democratização da comunicação`, e ao retornarmos, fomos para o apartamento de Pricila para dormir, e demos de cara com o porteiro, que, por ordens superiores não queria aceitar nossa entrada com as bicicletas, o que só seria permitido aos moradores do prédio. Não baixando a cabeça e falando mais alto, ela (Pricila) fez valer seu direito de ser solidária. É nessa circunstância que ficamos em seu apartamento por alguns dias com nossas três bicicletas.

Dia 20/10/2006 (sexta-feira) – Fomos para a UFG (Universidade Federal de Goiás), Onde teria dois sarais de poesia: um pela manhã e outro pela tarde, e teria uma reunião para debater a democratização da comunicação. Planejamento cumprido no transcorrer do dia, não acontecendo apenas o saral da manhã. Fomos (Ivânia, Bartira e Inácio) para UFG e voltamos para o apartamento de Pricila de bicicleta.

Dia 21/102006 (sábado) foi o primeiro dia da programação da rádio, que fizemos em conexão com as rádios comunitárias de Brasília. Nó participamos desta programação juntos com vários companheiros e coletivos, abordamos vários temas como: Passe Livre, Democracia, Eleições, Naturalismo e Saúde; catamos músicas variadas dos movimentos, etc. Foi um dia de encontro com muita gente lutadora do movimento libertário.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Notícias da Estrada (05/12)

Ciclovida escreveu:

Nós chegamos ontem numa experiêcia do MST, é uma escola técnica em parceria com a UFPR (Universidade Fed. do Paraná) com prioridade para Agroecologia. Para cá vem muitos filhos de assentados de partes do Brasil, principalmente do Paraná. Encontramos até um paraibano aqui, de Sousa, é o Denilson. Vamos ficar aqui até amanhã. Estamos indo para Cascavel, há uns 400 km rumo a Argentina, lá veremos outras experiências interessantes, principalmente a escola agroecológica, na fazenda que era da Agroindústria Syngenta, esta fica em São Miguel do Iguaçu. Até agora vamos vendo duas experiências mais coletivas, que foi a Copavi, de onde saimos ontem e esta que estamos hoje. E o resto eram todas individuais. Visitamos toda a região de Pontal do Paranapanema e lá também predominam os lotes individuais com a predominância da criação de gado. Esta realidade vem desde Minas Gerais.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Notícias da Estrada (03/12)

Ciclovida me escreveu:

Estamos há uns 500 km de Foz (do Iguaçu). Estamos andando devagar por conta de muitas experiêcias que estamos visitando. Conversamos com uma porrada de pessoas envolvidas no racha do Pontal de Paranapanema. Visitamos o assentamento de Zé Rainha, O Assentamento "Che Guevara", e alguns acampamentos organizado por ele. Falamos com o Zé e com a Diolinda. (...) Agora achamos que vamos levar uns 10 dias para chegar em Foz de Iguaçu. Hoje estamos, desde sexta-feira, numa das experiências bem mais sucedidas do MST. O município é de Paranacity, no estado do Paraná, e devemos visitar bem mais que estão no rumo que seguimos. Dizem que há escolas e cursos diversos de agroecologia, quando chegarmos lá, informaremos mais. Queríamos que você colocasse informações sobre nós, é que agora não estamos conseguindo por o relatório em dias. Com a Bartira era mais fácil. Mas ela ainda está em Brasília.